Quando Machado de Assis fundou a Academia Brasileira de Letras, nos moldes da Academia Francesa, o lema adotado foi "Ad immortalitatem" daí que seus membros começaram a ser chamados de "imortais". Perguntaram a Olavo Bilac a razão da classificação, meio cabotina. O poeta que ouvia estrelas foi rápido na resposta: "É porque não temos onde cair mortos".
Anos depois, na gestão de Austregésilo de Athayde, foi construído o mausoléu num dos cemitérios da cidade, para guardar os ossos imortais do próprio Machado, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e pasmem do próprio Olavo Bilac.
Em pouco menos de um mês, morreram três imortais que não deviam morrer; Ivan Junqueira, João Ubaldo e Ariano Suassuna. Um dia, talvez próximo, meus desolados ossos irão para lá.
O pior momento da imortalidade é justamente essa ida ao mausoléu. Já disse que a Academia é uma espécie de jardim de infância às avessas, onde todos têm um futuro. Na Academia, todos têm um passado. O remédio é seguir Horácio: "Carpe diem, quam minimum credula postero".
De repente, o telefone toca, muitas vezes de madrugada: um imortal morreu. É duro enfrentar a poltrona vazia, onde durante anos sentava um amigo que todos gostavam e que gostava de todos. Sentimos que perdemos alguma coisa importante e querida. A mídia procura os sobreviventes para declarações. Umas pela outras são mais ou menos iguais, louvamos a obra do colega, mas não dizemos tudo.
Junqueira traduziu T.S. Eliot, foi presidente e, durante o seu mandato, nenhuma poltrona ficou desocupada. João Ubaldo tinha uma voz de trovão, quando falava parecia um "Berta", aquele formidável canhão da Alemanha da Primeira Guerra Mundial que fazia os aliados se borrarem.
Sobre Suassuna, escrevi sobre ele no último domingo. Era meu irmão.
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