Em 7 de junho de 1977, três mil jornalistas brasileiros assinaram um manifesto pedindo o fim imediato da censura que havia se instaurado no fim de 68, com o AI-5. Hoje é, por causa desse documento, o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa.
Neste exato momento, o repórter inglês Dom Phillips e o indigenista da Funai Bruno Araújo Pereira estão desaparecidos em algum lugar do Vale do Javari, na Amazônia. No domingo, os dois partiram da comunidade de São Rafael em direção a Atalia. A viagem deveria durar duas horas — nunca chegaram. Pereira vinha sendo ameaçado por garimpeiros e madeireiros clandestinos. Até o fechamento desta edição, o Comando Militar da Amazônia não havia ainda se mexido para ajudar nas buscas. Por quê? Porque ainda espera ordens de Brasília que nunca chegam.
O presidente Jair Bolsonaro cria, no país, um ambiente de constante ameaça à imprensa. Ele legitima lobos solitários, que se sentem autorizados à prática de violência contra jornalistas no exercício de sua profissão. Mas as ameaças não vêm apenas do bolsonarismo. Neste exato momento, o repórter Rubens Valente faz uma vaquinha online para conseguir pagar as centenas de milhares de reais que a Justiça lhe cobra. Por quê? Por ter mencionado informações públicas sobre Gilmar Mendes, ministro do Supremo, num livro que não era a respeito de Gilmar.
A condenação de Rubens não tem pé nem cabeça e deveria ser, para todos os colegas de Gilmar no STF, um constrangimento profundo. Também assim se ameaça a liberdade à imprensa, quando gente poderosa impõe a jornalistas na pessoa física a ameaça de completa falência pessoal para poder trabalhar.
Enquanto isso, o líder nas pesquisas eleitorais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vem repetindo que pretende regular a imprensa. O máximo que diz é que gostaria de fazê-lo no ‘modelo britânico’. Ocorre que, no Reino Unido, o que impera é a autorregulação. Os veículos escolhem se participam ou não do programa. Não há qualquer problema regular qualquer espaço da economia — incluindo a indústria jornalística. Mas Lula é candidato à presidência. Se quer regular, deveria ser claro e colocar em debate, em cima da mesa, exatamente o que deseja fazer.
Para podermos conversar abertamente, com franqueza, sobre as qualidades ou defeitos de seu plano. Regulação pode ser boa e ampliar liberdade. Pode ser ruim e impor controle governamental. Temos, como sociedade, o direito de conhecer o plano no qual podemos votar ou não.
É que vivemos um tempo em que a desinformação impera. A prática do jornalismo está mais difícil. Mas é o jornalismo profissional que, todos os dias, traz aos brasileiros informação sobre a sociedade, sobre o governo, informação sem a qual democracias não existem. Democracias, para funcionarem bem, precisam de estruturas independentes do Estado, de fora do poder, sempre desconfiadas de quaisquer governos, investigando, analisando, informando.
O voto nasce de opinião construída a partir de informação de qualidade. Políticas públicas nascem do debate informado no centro da sociedade. A imprensa, a livre imprensa, atua nessas duas pontas.
Uma imprensa livre, diversificada, e exposta ao público. Quem deve avaliar que imprensa é boa e qual é ruim é o público, que escolhe o que lê, assiste, ouve. Neste dia Nacional da Liberdade de Imprensa, nós cá do Meio aguardamos aflitos por notícias de Dom e Bruno. O ambiente lá fora está tóxico. E perigoso.
— Os editores.
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