quinta-feira, 30 de junho de 2022

Ruy Castro Te cuida, dom Pedro, FSP

 Alguém no Brasil teve a ideia de pedir emprestado a Portugal o coração de dom Pedro 1º para as supostas comemorações do Bicentenário da Independência, em 7 de setembro. Portugal, temerariamente, concordou, embora deva saber que há tempos o Brasil não tem se destacado no quesito coração. Seu presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, não parece ter um. Já debochou dos brasileiros mortos pela Covid, não está nem aí para os flagelados pelas chuvas e, entre um criminoso e a vítima, é coerente: opta sempre pelo criminoso. Fez isso há pouco, no assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips na Amazônia, e logo voltará a fazê-lo. O que leva no peito é um carregador de AR-15.

O coração de D. Pedro 1°, guardado em um recipiente de vidro desde 1837 na igreja Nossa Senhora da Lapa, em Porto (Portugal), tem o líquido que o preserva, à base de formol, trocado a cada 10 anos. - Venerável Irmandade Ordem da Lapa/Divulgação


O coração de dom Pedro, aconchegado há 188 anos num recipiente de vidro dentro, sucessivamente, de um vaso de prata, um estojo e uma urna, atrás de uma grade e de uma porta revestida com cobre, e tudo isso dentro de uma capela a cinco chaves na Igreja da Lapa, no Porto, será retirado de lá e trazido a saracotear pelo Brasil. Foi o que fizeram em 1972 com os ossos de dom Pedro, vindos de Portugal para o oba-oba dos 150 anos da independência, patriotada sob os auspícios do ditador Médici em meio a outros ágapes ufanistas.


Naquele ano, os ossos de dom Pedro foram chacoalhados pelas capitais do país —cada escala, uma apoteose à ditadura—, até seu destino final, o Museu do Ipiranga, em São Paulo. Não é improvável que, nesta nova excursão, seu coração seja levado a participar de motociatas, rodeios e shows de sertanejos, redutos favoritos de Bolsonaro.


Como sabemos, o patriota Bolsonaro está pouco ligando para o bicentenário. Já anunciou que fará de seu 7 de setembro uma arruaça contra as instituições, numa prévia do golpe contra sua derrota na eleição.

Esperam-se tumultos, invasões, quebra-quebras, tiros.

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