Leio nos jornais que aliados de Jair Bolsonaro estão preocupados com a fugaz prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, porque ela tira do presidente seu discurso anticorrupção. Bolsonaristas são definitivamente fãs de "fake news". No mundo dos fatos objetivos, o capitão reformado já havia traído todas as principais bandeiras da sua vitoriosa campanha de 2018 e a primeira a cair foi justamente a de combate à corrupção.
Ainda antes da eleição, a Folha mostrou que a famosa Wal do Açaí era funcionária-fantasma do então deputado Bolsonaro. A menos que se considere que é correto usar dinheiro público para pagar gente que presta serviços particulares a autoridades, o caso entra no rol dos delitos que o senso comum classifica como de corrupção (tecnicamente, é um peculato).
E a Wal foi só o começo. Logo depois vieram as "rachadinhas" de Flávio e Carlos Bolsonaro. Apareceram cheques milionários do faz-tudo da família, Fabricio Queiroz, até na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. E há o vídeo da reunião ministerial em que o próprio presidente, em seu linguajar cultivado, dá a entender que mexeria na Polícia Federal, pois não iria esperá-la "foder minha família toda". Difícil não vislumbrar aí uma tentativa de interferência com fins não republicanos, o que também é crime.
No mundo extrafamiliar, para citar só os dois casos mais graves, tivemos a tentativa de vender vacinas superfaturadas para o governo, da qual o presidente foi avisado, mas preferiu não tomar providências, e este caso dos pastores com acesso facilitado às verbas do Ministério da Educação, que o próprio ex-ministro atribuiu à ligação dos religiosos com Bolsonaro.
É preciso ter passado os últimos três anos e meio em transe para achar que foi só agora que Bolsonaro se enrolou com o tema da corrupção. Mas isso, é claro, só vale no mundo dos fatos objetivos, que não tem sido muito visitado.
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