No momento em que escrevo, esvaiu-se a esperança de que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips sejam encontrados com vida. A família do cidadão britânico teria recebido o aviso de que dois corpos foram localizados num dos pontos de busca do Vale do Javari, na imensidão da floresta amazônica, que eles tanto amaram.
Quem os matou? Bruno e Dom foram mortos por todos os que incentivam o crime contra os povos indígenas, suas terras, a floresta, suas águas, bichos e plantas. Por aqueles que enfraqueceram os órgãos de fiscalização nos últimos anos, tirando-lhes verba e equipamentos, perseguindo e coagindo os servidores públicos. Como fizeram com Bruno, afastado da Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados, em 2019.
Bruno e Dom foram assassinados pelos que reduziram à míngua a presença do Estado na região, deixando o caminho livre para traficantes de drogas, madeireiros, garimpeiros, desmatadores, pescadores e caçadores que atuam atrelados a organizações criminosas. Foram assassinados pelo vazio deixado nas nossas fronteiras pelas Forças Armadas, muito mais ocupadas em atrapalhar as eleições.
Também são assassinos todos os que ignoraram os apelos por segurança feitos pelos indígenas do Vale do Javari; aqueles que, no comando de órgãos públicos, poderiam ter tomado alguma providência e mantiveram-se inertes. Os indígenas mandaram ofícios em abril e maio para Polícia Federal, Força Nacional de Segurança e Funai. Os algozes de Bruno e Dom são também os que atacam o jornalismo e agridem jornalistas.
A Amazônia sempre foi um pedaço abandonado do Brasil, é verdade. Mas nunca, como agora, o crime encontrou condições tão favoráveis para agir impunemente e com total desenvoltura. Com seu discurso de ódio contra os indígenas e contra quem os defende, Bolsonaro funciona como anabolizante das milícias da floresta. Ele e todos os que o sustentam no poder têm as mãos manchadas com o sangue de Bruno e Dom.
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