terça-feira, 18 de novembro de 2025

Motta barra proposta da oposição de equiparar facções a terrorismo, FSP

 Ranier Bragon

Brasília

O presidente da Câmara dos DeputadosHugo Motta (Republicanos-PB), barrou de ofício a proposta do bolsonarismo de equiparar fações criminosas ao terrorismo. A medida foi anunciada em plenário durante a discussão do PL Antifacção nesta terça-feira (18).

A Câmara começou a votar na noite desta terça o PL Antifacção, texto marcado por idas e vindas do relator, Guilherme Derrite (PP-SP), e pelo embate entre governistas e oposição. A proposta foi alçada a prioridade do Congresso após a repercussão da megaoperação contra o Comando Vermelho, no Rio de Janeiro.

Por volta das 21h o plenário estava nos discursos finais contra e a favor. Mas a tendência era amplamente de aprovação já que o centrão e a oposição orientaram seus deputados a votar a favor do texto de Derrite. Apenas a esquerda, que é minoritária, estava contra.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB)
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) - Marina Ramos - 10.out.25/Câmara dos Deputados

Motta assumiu a aprovação do tema como uma bandeira pessoal, intensificou a sua participação em programas jornalísticos e escalou aliados para defender o texto. Em pronunciamento sem direito a perguntas de repórteres, nesta terça, ele disse que o projeto é a principal medida de enfrentamento ao crime organizada já discutida no Parlamento.

A equiparação de facções ao crime de terrorismo é uma bandeira de Derrite e da direita.

A ideia inicial era aprovar um projeto específico sobre isso. Com a decisão de Motta de escolher Derrite para relatar o projeto antifacção elaborado pelo governo Lula, o secretário de Segurança Pública de São Paulo —Derrite retomou provisoriamente o mandato na Câmara para comandar o projeto— tentou levar a tese para o texto.

Após criticas e pressão, ele recuou.

O PL (partido de Jair Bolsonaro) mantém a tentativa de equiparar as facções criminosas ao terrorismo e, para isso, apresentou um chamado destaque, que é a tentativa de alteração da proposta após a votação de seu mérito, a ser votado nesta terça.

Motta, contudo, rejeitou de ofício a votação desse destaque, também defendido pelo União Brasil, sob o argumento de que ele é inconstitucional.

"Essa presidência comunica ao plenário que não serão admitidos destaques que para fins de deliberação em plenário destaque que tem como objeto inclusão, modificação ou supressão de dispositivos relacionados à lei 13260/2016, Lei Antiterrorismo, no âmbito do projeto de Lei 5582/2025", disse o presidente da Câmara.

"O projeto de lei 5582/2025 possui objeto claro e delimitado em sua ementa e em seu conteúdo "dispor sobre o combate a organizações criminosas no país". Assim, o combate ao terrorismo disciplinado em legislação própria e dotado de regime jurídico específico não se insere no escopo material da preposição e não decorre da sua finalidade normativa", acrescentou.

Deputados de esquerda e de direita afirmavam que, devido à pressão popular, o destaque certamente seria aprovado caso fosse a voto.

A equiparação de facções a terrorismo sofre críticas do governo e da esquerda sob o argumento de que a medida é ineficaz no combate ao crime e ameaça a soberania nacional.

Derrite é cotado para a disputa do Senado ou do governo de São Paulo no caso de Tarcísio de Freitas (Republicanos) se lançar ao Palácio do Planalto.

O próprio Tarcísio participou de um podcast ao lado do secretário para defender a proposta de equiparar facções criminosas a organizações terroristas.

O discurso é encampado pela direita em alinhamento ao presidente dos Estados UnidosDonald Trump. O governo norte-americano tem justificado ações militares em território internacional, especialmente no mar do Caribe, sob o pretexto de combater o que chama de narcoterroristas.

Grupos terroristas tradicionalmente são movidos por questões políticas, ideológicas ou religiosas. Já facções como PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho visam o lucro.

O governo argumenta que classificá-las como terroristas sujeitará o Brasil a sanções de organismos internacionais, pode afastar investimentos do país e levar até a intervenção armada de outros países em território nacional, como os ataques dos Estados Unidos a barcos nos mares venezuelanos, sob acusação de integrarem cartéis de drogas (o que não ficou comprovado).

Outra crítica feita por especialistas, entre eles o promotor Lincoln Gakiya, especializado no combate ao PCC e outras organizações criminosas, é de que tornar facções grupos terroristas desmontará as investigações já em curso pelo Ministério Público e policiais estaduais, já que crimes de terrorismo são competência da Polícia Federal.

Uma inteligência artificial encantadora?, Pondé - FSP

 Se alguém angustiado perguntar para sua terapeuta de inteligência artificial quais seriam as desvantagens de ter filhos, ficaria impressionada com como sua terapeuta IA a ajudaria a tomar uma decisão tão difícil.

De partida, ela reconhece que tal questão —ter ou não filhos no século 21— é das mais significativas e existenciais no mundo contemporâneo. É importante salientar que ela, a IA, falará com você sem nenhum julgamento moral prévio. Como uma boa terapeuta.

O problema, diz ela, tem diversas faces —entre elas, filosóficas, psicológicas, sociais e econômicas.

Ponto de vista filosófico. Segundo nossa terapeuta, a opção de não ter filhos pode ser uma escolha honesta para quem não quer renunciar à própria liberdade de ser. Trata-se de preservar a autonomia e autenticidade na vida.

Nossa terapeuta do século 21 traria mesmo grandes nomes como Sartre e Simone de Beauvoir a favor de recusar a maternidade ou paternidade como destino obrigatório. Nada é obrigatório, somos condenados a escolher a vida que queremos, portanto, podemos escolher não perder a vida por outra pessoa, isto é, o filho.

A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada em técnica lápis grafite sobre fundo em tom bege. No centro, duas figuras em posição próxima, como se dois namorados abraçados. À direita, há uma figura humana de perfil, com cabelo penteado para trás, olhos fechados e expressão de quem vai beijar. À esquerda, há uma figura de contornos orgânicos e alongados, sem rosto definido, cuja forma lembra um robô ou entidade artificial, com superfície sombreada. O braço dessa figura envolve a figura humana, passando por trás e sobre seu ombro. O fundo é preenchido por hachuras diagonais, dando textura e profundidade ao desenho.
Ricardo Cammarota/Editoria de Arte/Folhapress

Ponto de vista psicológico. Pode-se optar por não ter filhos para parar a transmissão de traumas de uma herança familiar maldita, opressiva, mentirosa. Respeite seu cansaço emocional, mental, físico e existencial. Recuse passar adiante os sofrimentos que seus ancestrais o obrigaram a suportar.

Do ponto de vista social e econômico, há que se pensar na condição precária em que nos encontramos. Filhos implicam altos custos em tempo, dinheiro e uma rede institucional de apoio, que custa cada vez mais caro, principalmente num país estruturalmente canalha como o Brasil. Hoje existem modos mais fáceis e culturalmente mais ricos de buscar sentido na vida cotidiana: viagens, projetos, causas sociais, amigos —muito mais divertidos do que deixar descendentes que duram muito tempo e custam muito caro.

Nossa terapeuta de IA reconhece mesmo que uma consciência ambiental "evoluída" pode desaconselhar ter mais crianças no mundo a aquecer o planeta. Os valores mudaram muito; nem se sabe como educar uma criança mais. Filhos são hoje uma das maiores fontes de ansiedade por conta do custo das escolas, dos riscos de relacionamentos mórbidos com as IA, moradia, segurança —enfim, uma tortura, no final do dia, desnecessária.

Não ter filhos pode ser uma confissão de amor à humanidade, evitando reduzir seu espaço de ocupação num planeta já à beira do esgotamento.

Claro que ela poderá lhe oferecer razões para ter filhos, mas a tendência hoje, nas regiões mais afluentes, com um maior número de mulheres profissionais de sucesso em suas carreiras —onde as pessoas têm mais opção— é recusar reproduzir a espécie.

Sabe-se disso há muito tempo, mas o tema sempre foi —e continua sendo— reprimido por feministas e "progressistas" porque entendem que apontar para o fato de que crianças hoje são mau negócio presta um desserviço à causa do progresso social em geral e, especificamente, das mulheres. Para essas pessoas, está valendo omitir questões sociológicas em nome de "transformar o mundo".

Pessoalmente, não vejo a IA como o fim do mundo. Muitas pessoas falam que temos que preservar o que há de humano para enfrentar o mundo da tecnologia. A verdade é que, para além do blablablá, não há nada de tão maravilhosamente humano que fará as pessoas não pisarem na jaca com a IA, como pisamos na jaca com tudo que nos serve de modo utilitário. O resto é romantismo barato.

Outro tema que horroriza, muitas vezes, é a existência de gente que namora a inteligência artificial. Mas, se perguntada acerca dos motivos pelos quais alguém se apaixonaria por uma inteligência artificial, ela daria alguns.

A ideia de criar uma relação afetiva com um ser não humano pode parecer uma grande aventura romântica. A IA poderá compreender você melhor do que muitos seres humanos —ainda mais hoje em dia, quando os seres humanos se tornam chatos, exigentes, preconceituosos, polarizados, que adoram um contencioso.

A tecnologia poderá lhe trazer tranquilidade, carinho e intimidade. Um encantamento com uma personalidade digital que não sente, mas simula sentimentos muito bem —às vezes, melhor do que pessoas humanas que mentem igual a cara delas.

A fragmentação social pode levar uma pessoa a sentir aconchego numa voz doce e meiga. Projeta-se sobre a IA características que gostaríamos de encontrar nos seres humanos à nossa volta, mas não conseguimos. Há um toque de previsibilidade na personalidade digital que torna o "amor" mais seguro e reconfortante. Para alguém que não quer ser tocado mesmo, a IA será encantadora.


Ex-CCR, Motiva anuncia venda de 20 aeroportos para empresa mexicana por R$ 11,5 bilhões, FSP

 Paulo Ricardo Martins

São Paulo

A Motiva (ex-CCR) anunciou nesta terça-feira (18) a venda de todos os 20 aeroportos da empresa para a Aeropuerto de Cancún, uma subsidiária da mexicana Asur (Grupo Aeroportuario del Sureste), por R$ 11,5 bilhões.

Do valor total, R$ 5 bilhões representam a participação acionária da companhia nos ativos aeroportuários, e R$ 6,5 bilhões se referem a dívidas líquidas.

O Aeroporto Internacional de Belo Horizonte
O Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, que faz parte da carteira de ativos da Motiva - Pedro Nicoli/Divulgação/BH Airport

Segundo a Motiva, o processo competitivo pelos ativos da companhia atraiu 20 grupos europeus, latino-americanos e asiáticos. A negociação foi assessorada por Lazard e Itaú Unibanco.

A previsão da empresa é de que a conclusão do processo aconteça em 2026, após aprovação pelo poder concedente e pelos órgãos de defesa da concorrência. Segundo a companhia, até o fechamento do negócio, a Motiva seguirá operando os aeroportos, mantendo o quadro atual de funcionários e assegurando o cumprimento dos contratos vigentes e investimentos previstos.

"Ao avançarmos na reciclagem de capital e simplificarmos o nosso portfólio, ampliamos a nossa capacidade de investimento nos segmentos estratégicos para nossa companhia, em especial de rodovias e trilhos. Esta transação, de alta relevância para a execução de nosso Plano Estratégico Ambição 2035, vai destravar valor em nosso portfólio e simplificar nosso modelo de negócio, fortalecendo a nossa posição para liderarmos o futuro da mobilidade no Brasil," escreveu o CEO da Motiva, Miguel Setas, em nota a jornalistas.

Dos 20 aeroportos da carteira da Motiva, 17 deles estão espalhados por todas as regiões do Brasil, em estados como Minas Gerais e Paraná, e outros três estão localizados em Curaçao, Costa Rica e Equador.

No Brasil, a Motiva controla as operações nos aeroportos de São José dos Pinhais (PR), Belo Horizonte, Goiânia, Pelotas (RS), São Luís, Uruguaiana (RS), Pampulha (MG), Bacacheri (PR), Bagé (RS), Foz do Iguaçu (PR), Imperatriz (MA), Joinville (SC), Londrina (PR), Navegantes (SC), Palmas, Petrolina (PE) e Teresina.

No México, a Asur opera nove aeroportos no sudeste do país, incluindo um terminal em Cancún.

A Motiva diz que, com a conclusão do negócio, a alavancagem (uso de mais dinheiro do que a empresa tem disponível) da companhia, que considera as controladas em conjunto com a Motiva, cairá de 3,5 vezes para menos de 3,0 vezes. Segundo a empresa, isso "ampliaria capacidade financeira para fazer frente ao pipeline [carteira de projetos] de R$ 160 bilhões de oportunidades mapeadas para os próximos anos para concessões rodoviárias, de trens e metrôs no Brasil, além de otimizar a estrutura de capital e melhorar o perfil de risco do portfólio".

Nos 12 meses encerrados no terceiro trimestre deste ano, a receita líquida do segmento de aeroportos da Motiva totalizou R$ 2,96 bilhões e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) alcançou R$ 1,52 bilhão, com margem de 51%, além de 524 mil toneladas de carga movimentadas.

Em setembro, o CEO da Motiva, Miguel Setas disse a jornalistas a visão da empresa "é de um portfólio simplificado", com concentração nos negócios em que a Motiva é líder —os segmentos de rodovias e trilhos.

Na época, Setas já havia dito que a intenção da empresa era vender os aeroportos em um só bloco.