domingo, 14 de dezembro de 2025

SBT News foge do escopo do canal aberto de olho no prestígio das classes A e B, FSP

 Eduardo Moura

São Paulo

ex-ministro Fábio Faria, marido de Patrícia Abravanel, andava de um lado para o outro, sorrindo de orelha a orelha, no estúdio oito do Sistema Brasileiro de Televisão, o SBT, em Osasco. Ia a passo rápido, o topete tremulando, para dar tempo de fazer a social com aquele tanto de gente importante que chegava de helicóptero. A pomada capilar devia ser das boas, e o penteado terminou a noite de sexta-feira intacto.

Dois homens de terno apertam as mãos em cumprimento durante evento formal. Um deles tem cabelo grisalho e barba branca, o outro tem cabelo escuro e barba curta. Ao fundo, fotógrafos registram o momento, e há outras pessoas em trajes formais.
O presidente Lula (PT), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e o governador do estado Tarcísio de Freitas (Republicanos), em evento de lançamento do canal SBT News, em Osasco - Danilo Verpa/Folhapress

O evento de lançamento do SBT News, projeto do qual Faria é o maior entusiasta, conseguiu reunir um line-up de peso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), o ministro do STF Alexandre de Moraes, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), todos sentados na fileira da frente, ao lado do clã Abravanel, em frente ao palco onde depois discursaram.

O canal estreia na TV fechada, no YouTube e na plataforma +SBT na segunda (15), às 18h, prometendo mais de 20 horas de programação ao vivo.

Para além dos convidados, a diversidade de espectros políticos também se revelou entre os patrocinadores da empreitada. Estão desde a Havan de Luciano Hang à JBS dos irmãos Batista, além da EMS, Gerdau, Tim, Amil, BYD, BTG Pactual e Cedro.

Talvez nenhuma emissora encarne tanto o espírito mambembe do brasileiro quanto a fundada por Silvio Santos, entre slogans, marcas, frases de efeito e atrações —Jequiti, Baú da Felicidade, banheira do Gugu, "Roda a Roda" e o bordão "má ôe" são patrimônios guardados na memória afetiva.

O ex-ministro Fábio Faria, em lançamento do canal SBT News - Danilo Verpa/Folhapress

Todas as autoridades que discursaram no palanque, de Lula a Nunes, fizeram alguma menção bem-humorada a algum programa de entretenimento da emissora, sem menções ao jornalismo do SBT —um setor da casa, aliás, marcado por polêmicas históricas.

Morto no ano passado e "ressuscitado" no evento com inteligência artificial, Silvio defendia que o noticiário deveria ser favorável ao governo —desde o período da ditadura à redemocratização. Numa polêmica há cinco anos, vetou uma edição do SBT Brasil, o principal do canal aberto, após o destaque a um vídeo vazado da infame reunião de Jair Bolsonaro, de quem era próximo, com seus ministros, em maio de 2020.

Mas todo esse conjunto, talvez o maior ativo da emissora, por outro lado, pode representar um obstáculo para o que o SBT News se propõe a ser —um sofisticado produto de prestígio entre as classes A e B.

Pessoas de dentro do novo canal afirmam, sob condição de anonimato, que estão mais que cientes desse desafio no campo simbólico e que o time de marketing está concentrado nesse desafio.

Nos "switchers" do SBT News, o monitoramento de audiência só terá olhos para a GloboNews e para a CNN, com quem o novo canal pretende disputar público. O foco, dizem, será todo voltado aos bastidores de Brasília e ao mercado financeiro.

Segundo essas fontes, o lançamento do canal jornalístico vem após o Grupo Silvio Santos entender que não chegava às classes A e B, muito menos ao chamado "triple A" —a camada mais ao topo da cadeia alimentar brasileira. E é com esse público, os tomadores de decisão, que o SBT News quer falar.

Sobre o desafio de acessar essa camada da população, a equipe diz que o conteúdo vai falar por si.

Para isso, Faria foi atrás de nomes tarimbados do jornalismo, conhecidos pela cobertura quente e por furos jornalísticos. Da sucursal de Brasília da Folha vieram cinco jornalistas, dentre os quais a diretora de Redação, Camila Mattoso.

Outra figura importante é Leandro Cipoloni, que foi um dos responsáveis pela criação da CNN Brasil, após passar anos na Record. Em frente às câmeras haverá jornalistas como Celso FreitasAmanda Klein, Raquel Landim e comentaristas, como a médica Ludhmila Hajjar e o ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo.

Fábio Faria é filiado ao Progressistas. Líder de implantação do SBT News, além de genro de Silvio Santos, tem pedigree e currículo. Foi ministro das Comunicações do governo Jair Bolsonaro (PL) entre 2020 e 2022. Antes, foi deputado federal por quatro mandatos, tendo passado pelo PMN e pelo PSD, para então ir para o PP, em 2022. Ocupa ainda o cargo de gerente sênior de relacionamento do BTG Pactual há dois anos —o banco é um dos patrocinadores do canal.

Ele é filho de Robinson Faria, que foi governador do Rio Grande do Norte entre 2015 e 2019, então no PSD, mas que não se reelegeu. Hoje é deputado federal pelo PL.

"O jornalismo não pode apenas ser arma política", disse Faria, no evento de sexta. "Espero que tenhamos muito bom senso, muito discernimento para que a gente possa ajudar no bom jornalismo."

"O SBT não tem partido, o SBT não tem lado. Eu acho que a presença de todos vocês aqui hoje, de todas as autoridades aqui presentes, mostra muito o que é o SBT", disse. "E o lado do SBT News vai ser o lado do SBT, que é o Brasil."

O capitalismo abandona o PowerPoint, Alvaro Machado Dias, FSP

 A história do capitalismo moderno é a das consultorias que ajudaram a moldá-lo. Considere "Tempos Modernos" (1936). O que Chaplin mira é a gestão científica de Frederick Taylor, que saltou do papel para as fábricas por meio das primeiras firmas consultivas, como a de Arthur D. Little, pioneiro na disciplina de tratar funcionários como peças de máquina.

A posição de força dos Estados Unidos no pós-guerra levou à explosão dos conglomerados, que se espalharam pelo Ocidente. O fator estruturante foi a ideia de estratégia empresarial separada da operação, que consultorias como McKinsey e BCG ensinaram às corporações.

Charlie Chaplin em cena de "Tempos Modernos", de 1936, filme que escreveu, protagonizou e dirigiu - KINO INTERNATIONAL/NYT

O sucesso foi tão grande que começaram a faltar executivos experientes para contratar. A solução veio da McKinsey, que passou a recrutar jovens de universidades de elite e a moldá-los internamente. Foi esse movimento que deu forma à indústria das escolas de negócios e MBAs que hoje abastece o LinkedIn e os cofres acadêmicos.

Também foram as consultorias que inventaram que big data é importante, transformaram governança corporativa em dogma e converteram DEI em agenda. E ainda inovaram na engenharia da má-fé.

Os tipos ordinários incluem a recomendação de produtos desnecessários para gerar comissão e o uso de ex-autoridades para forjar relações privilegiadas com o Estado. Já os mais sofisticados vão na linha dos conluios para maquiar balanços bilionários e da atuação da McKinsey junto à Purdue Pharma para a promoção do opiáceo OxyContin, enquanto aconselhava o governo americano no combate à epidemia com a qual contribuía.

O foco atual é a implantação de projetos de IA, o que tem produzido altas taxas de insucesso em função das soluções genéricas e orientações superficiais. Mas há um ponto mais profundo: as próprias consultorias estão sendo subvertidas por essa tecnologia, porque os princípios capitalistas sobre os quais se estruturaram estão ficando para trás.

O capitalismo das consultorias é o da intermediação da inteligência por meio de diagnósticos e recomendações. Ele separa análise e ação, transformando compreensão em autoridade. Em contraste, a IA reavalia continuamente os planos de ação enquanto eles se desenvolvem e oferece capacidades analíticas ao toque de um botão, o que favorece a migração do regime do planejamento para o dos ajustes contínuos sob incerteza.

O resultado é um novo capitalismo de dispositivo, em que o poder é deslocado do argumento para o mecanismo. Isso coloca em jogo a própria ideia de compreender para controlar, que estrutura o saber moderno desde Weber e que legitima as consultorias, conselhos gestores e outras instâncias orientativas voltadas à produtividade.

Saber é descrever corretamente ou, dito de outro modo, comprimir a complexidade do real em representações mentais estáveis. A IA funciona de maneira oposta: quanto maior a sua eficiência cognitiva e prática, maior a opacidade de seus processos internos.

Vai chegar um momento em que a sensação será como se estivéssemos lidando com uma outra espécie, que gera suas principais contribuições tateando o mundo em busca do melhor acoplamento. Esse deslocamento deve rebaixar os rituais de orientação e validação típicos do capitalismo de conselho, tornando o sistema econômico mais pragmático do que jamais se ousou pensar.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Combate à crise hídrica será uma das prioridades do GAEMA PCJ-Piracicaba em 2026, MPSP

 11 dez 25

Crise hídrica, impactos das mudanças climáticas, combate aos incêndios florestais e a necessidade de avanços no saneamento básico foram alguns dos desafios enfrentados pelo Núcleo PCJ-Piracicaba do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (GAEMA) em 2025, representando prioridades para a atuação em 2026. O balanço das demandas do ano que termina e as metas estratégias para o ciclo que começa em janeiro estiveram na pauta da reunião regional anual ocorrida de forma virtual nesta quarta-feira (10/12). 

O encontro, conduzido pelos promotores Alexandra Facciolli Martins e Ivan Carneiro, tratou ainda da deterioração da qualidade da água das bacias dos Rios Piracicaba e Corumbataí; da urgência de transição para a economia circular e da importância da coleta seletiva, incluindo aí questões sobre logística reversa, destinação adequada dos materiais recicláveis e inclusão das cooperativas de catadores.

Os 150 participantes, representantes de órgãos públicos, entidades ambientais, universidades e da sociedade civil da região, acompanharam a definição de outras prioridades para o trabalho a ser desenvolvido em 2026. Entre elas estão as medidas a serem adotadas objetivando o adequado ordenamento territorial e a regularização fundiária, com a continuidade do combate aos núcleos urbanos informais situados em zona rural, que segundo o GAEMA deturpam a vocação rural e causam contaminação de cursos d'água e erosão (exemplos citados em Piracicaba e Limeira).

Para o enfrentamento desses pontos sensíveis, foram apresentadas diversas contribuições pelos participantes e mencionada a necessidade de projetos estratégicos, bem como o fortalecimento da governança e de estruturas regionais, como a instituição de um consórcio intermunicipal para os resíduos e outras questões ambientais no âmbito da Região Metropolitana de Piracicaba.

Mereceu atenção também o projeto Geopark Corumbataí, que envolve nove municípios e é considerado de grande relevância como alternativa para o desenvolvimento socioambiental e o turismo sustentável na região. A iniciativa já se encontra em fase avançada, com previsão de encaminhamento à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2027.

Houve consenso no sentido de que os desafios de 2026 exigirão planejamento, gestão de risco e governança antecipada. 

A reunião contou com a presença e contribuição dos promotores de Justiça e da equipe do GAEMA PCJ-Piracicaba, incluindo oficiais, analistas jurídicos e o assistente técnico-científico.

Além das cidades da área do GAEMA PCJ-Piracicaba, participaram da reunião representantes da Secretaria de Estado de Habitação e Desenvolvimento Urbano; de entidades reguladoras (Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo); dos Comitês PCJ, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar Ambiental, da Defesa Civil, da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, da SP Águas, da Ordem dos Advogados do Brasil, de universidades (UNESP, UNICAMP, USP), das Cooperativas de Catadores, da Associação Nacional dos Catadores, dos Conselhos Municipais de Defesa do Meio Ambiente de Piracicaba e outros municípios; do Consórcio Intermunicipal das Bacias PCJ, da Comissão Municipal de Mudanças Climáticas, do Instituto Aymara, Corredor Caipira, Movimento de Apoio ao Corumbataí e de representantes de pescadores, proprietários rurais e dos setores de saneamento, silvicultor e usineiro, além de outros interessados.

O GAEMA PCJ-Piracicaba abrange os municípios de Águas de São Pedro, Americana, Analândia, Capivari, Charqueada, Cordeirópolis, Corumbataí, Ipeúna, Iracemápolis, Itirapina, Limeira, Mombuca, Piracicaba, Rafard, Rio Claro, Rio das Pedras, Saltinho, Santa Bárbara d’Oeste, Santa Gertrudes, Santa Maria da Serra e São Pedro.