domingo, 11 de maio de 2025

Estamos menos miseráveis, e a Bolsa sobe, Marcos de Vasconcellos, FSP


Seis milhões de pessoas saíram da miséria no Brasil nos últimos dois anos, anunciou um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV Social). Se esse dado não te deixa mais feliz, é melhor marcar um raio-X para ver se o coração está no lugar certo. É para celebrar e vigiar. Outros 14,7 milhões de brasileiros seguem na chamada "pobreza extrema".

O mercado de trabalho aquecido, somado a programas sociais de distribuição de renda, fez a renda média por pessoa das famílias entre as 5% mais pobres do Brasil subir 17,6% em 2024. Pelos dados coletados pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), 3 a cada 4 vagas de emprego criadas no ano passado foram ocupadas por gente que recebe o Bolsa Família, explica o professor Marcelo Neri, da FGV Social.

Cabe lembrar que, após esse aumento percentualmente chamativo, o rendimento médio por pessoa nessa faixa da população chegou a R$ 154 por mês. É o preço de quatro combos do Big Mac. Ressalto: por mês.

A imagem mostra uma rua com várias pessoas. No primeiro plano, há um homem de camiseta branca e outro de blazer escuro, ambos olhando para cima. Uma mulher com roupas escuras caminha em direção a eles. Ao fundo, há uma grande entrada com arcos e grades, e um segurança está posicionado à esquerda. O ambiente parece ser urbano, com um piso de pedras e uma fachada arquitetônica detalhada.
Pessoa caminha à frente da Bolsa de São Paulo, a B3, na capital paulista, em abril - Amanda Perobelli/Reuters

Para o conjunto total da população, o aumento da renda foi de 4,7% entre 2023 e 2024, já descontada a inflação oficial, medida pelo IPCA, que foi de 4,83% no período. Nos últimos 12 meses, a mordida foi de 5,53%. A sustentabilidade desse movimento de ganho real precisa nortear a tomada de decisão tanto dos governantes quanto dos investidores.

A melhora na vida de quem está na base da pirâmide é verdadeira, mas sustentada por um mercado de trabalho que está mais generoso e programas sociais. Se não houver um ambiente macroeconômico estável, com controle da inflação que permita juros mais baixos, esse avanço pode encontrar barreiras em alguns trimestres. A geração e manutenção dos empregos depende de um bom ambiente para empreender.

O nível da inflação atual permitiu ao Copom sinalizar, na semana passada, o fim do ciclo de aperto monetário. Uma pausa nos aumentos não é um corte. Ainda assim, a Bolsa atingiu sua máxima intradiária, impulsionada por todo o noticiário internacional, mas também por uma mudança de ventos.

Analistas apontam que vivemos uma chamada rotação dos investimentos: os grandes players estão saindo do setor de commodities e apostando na economia doméstica. Como a Selic a 14,75% ao ano mantém o custo do dinheiro altíssimo, quem sabe fazer o básico sai ganhando.

Bradesco, banco tido como popular, serve de exemplo. Há poucos meses, o bancão foi alvo de vídeos virais, apócrifos, pregando seu iminente fim. Agora, apresentou melhoras na oferta de crédito e na inadimplência. Suas ações dispararam mais de 15% no dia seguinte à divulgação dos resultados.

O mesmo movimento apareceu no balanço trimestral do Itaú. Em um mundo onde todos querem ser fintech, quem sabe fazer o arroz com feijão de um banco, que é emprestar dinheiro e controlar gastos, sai premiado.

Mas convém lembrar que o mercado se antecipa. A Bolsa sobe não porque a economia esteja voando agora, mas porque investidores apostam que ela vai melhorar ou, pelo menos, não vai mais piorar.

Os grandes investidores estão mostrando um bom momento para encontrar empresas expostas ao consumo interno, mas com combustível para atravessar um cenário ainda caro e volátil. A melhora na base da pirâmide aponta para novas demandas, mas isso só deve virar bom resultado para quem puder esperar a mudança da maré nos juros.

 

sábado, 10 de maio de 2025

Serendipidade, por Steven Jonhson


Na linguagem de Poincaré, o mergulho profundo, como a longa cami-nhada, desprende os átomos das paredes e os põe em movimento. A maio-ria de nós não pode se dar ao luxo de tirar férias sabáticas para mergulhar na leitura; e nem todo mundo acha que ler alguns milhares de páginas corresponde à ideia de férias divertidas. Mas não há razão para que as organizações não reconhecam o valor de períodos sabáticos destinados à leitura, assim como muitas estimulam os empregados a se afastar do tra-balho para aprender novas habilidades. Se o Google dá a seus engenheiros um dia por semana para trabalhar no que bem entenderem, sem dúvida outras organizações podem descobrir uma maneira de dar a seus empre-gados um tempo exclusivo para mergulhar numa rede de novas ideias.

A SERENDIPIDADE PRIVADA pode ser cultivada também por meio da tecпо-logia. Há mais de uma década, venho organizando um arquivo digital de citações que me pareceram intrigantes, minha versão do século XXI do livro de citações. Algumas dessas passagens envolvem pesquisa muito focada num projeto específico; outras são descobertas mais aleatórias, in-tuições à espera de uma conexão. Algumas são passagens que transcrevi de livros ou artigos; outras foram pinçadas diretamente de páginas da web. (Nos últimos anos, graças ao Google Books e ao Kindle, copiar e arma-zenar citações interessantes de um livro tornou-se muito mais simples.) Mantenho todas essas citações num banco de dados usando um programa chamado DEVONthink, onde guardo também meus próprios escritos: capítulos, ensaios, posts publicados em blogs, anotações. Pela combinação de minhas próprias palavras com passagens de outras fontes, a coleção se torna algo mais que um mero sistema de armazenagem de arquivos. Passa a ser uma extensão digital de minha memória imperfeita, um arquivo de todas as minhas velhas ideias e das ideias que me influenciaram. Hoje há mais de 5 mil entradas diferentes nesse banco de dados e mais de 3 milhões

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Alvaro Costa e Silva - Câmara prefere salvar golpistas a regular as redes, FSP

 Surpreender um amigo jogando-lhe água fervendo na cabeça. Mergulhar em águas geladas. Incendiar o próprio corpo. Engolir uma colher. Inalar objetos pelo nariz tirando-os pela boca. Dois jovens que se estrangulam ao mesmo tempo reduzindo os níveis de oxigênio do cérebro até o desmaio. Andar em cima de um carro ou trem em movimento.

Os desafios online tornaram-se uma praga. Em março, Brenda Sophia, 11 anos, morreu em Bom Jardim (PE), vítima do desafio do desodorante. Em abril, Sarah Raíssa, 8 anos, de Ceilândia (DF), morreu ao inalar desodorante em spray após assistir a um vídeo.

Segundo psicólogos que estudam o fenômeno, a pressão e a aceitação sociais, o desejo de atenção e o efeito de contágio, além da internet sem controle dos pais ou responsáveis e sobretudo sem regulamentação, são os fatores que têm levado crianças e adolescentes à morte.

A prática é utilizada para aliciar jovens, que passam a disseminar pedofilia e conteúdos violentos e a cometer automutilação, crimes de ódio e ações terroristas. Em abril, a Polícia Civil do Rio prendeu três homens e apreendeu um menor de idade. Eles planejavam atacar um morador de rua. O homicídio seria transmitido pela internet como forma de entretenimento e em troca de dinheiro.

O maior desafio até agora estava reservado para as areias de Copacabana. Recrutados na plataforma Discord, adolescentes iriam explodir coquetéis molotov durante o show de Lady Gaga. O alvo preferencial era o público LGBTQIA+. A ação preventiva da Polícia Civil e do Ministério da Justiça salvou centenas de vidas.

Enquanto os EUA e a Europa tentam impor disciplina ao poder sem limite das big techs, nossos parlamentares deixam-se seduzir pelo lobby das plataformas e desprezam o problema.

Na Câmara, o desafio é diferente: elevar o número de deputados para 531 —18 vagas a mais, resultando num aumento estimado de R$ 68 milhões por ano aos cofres públicos—, arranjar novas maneiras de liberar emendas sem detalhar a aplicação da verba e salvar os golpistas.

A imagem é uma nota de pesar em fundo preto, com uma foto em preto e branco de uma menina sorridente. O texto inclui o nome 'Sarah Raissa Pereira de Castro' e menciona que Deus convidou a menina para 'bater asas e voar para o Céu'. As datas de nascimento e falecimento estão indicadas como 28/03/2016 e 12/04/2025, respectivamente. Também há informações sobre o velório e sepultamento, com horários e local.
Nota de pesar sobre Sarah Raíssa, que morreu após um 'desafio' na internet - Reprodução/Instagram