sexta-feira, 9 de maio de 2025

Gustavo Alonso - Filme louva trajetória de Ney Matogrosso de forma laudatória, FSP

 Há quase 10 anos o STF (Supremo Tribunal Federal) bateu o martelo sobre a possibilidade de se escrever e filmar as vidas dos nossos artistas. Na época vários grandes nomes da MPB lutavam contra os biógrafos, querendo controlar o que poderia ser dito sobre suas trajetórias. Através da decisão do STF, ficou sacramentado que qualquer um pode contar a história de uma figura pública, desde que lastreado em verdades e fatos.

Naquela época ficou parecendo que necessariamente todo livro ou filme autorizado é ruim e toda obra independente é boa. Mas nem sempre é assim. O recente filme biográfico sobre o cantor Ney Matogrosso é exemplo de obra que, mesmo autorizada pelo homenageado, ainda assim se mostra esteticamente interessante.

Cena do filme Homem com H com Jesuita Barbosa - Divulgação

Contar uma vida em duas horas é tarefa quase impossível. Mas "Homem Com H" se sai bem em apostar na ousadia libertária do cantor, que desde a infância na tradicional Campo Grande (MS) já dava sinais de ser um espírito livre.

A vida de Ney é mostrada de forma muitíssimo inspirada pelo diretor Esmir Filho e um exuberante Jesuíta Barbosa na pele do cantor multifacetado.

Chama a atenção a utilização de canções marcantes de Ney, sempre bem costuradas ao roteiro. Cenas de rara beleza, takes inteligentes, enquadramentos instigantes, além da cenografia e fotografia bem feitas, levam o filme de roteiro um tanto linear, que vai da infância à velhice, a um grande prazer sensorial e estético.

Muito acima do recente "Meu Nome É Gal", sobre a baiana Gal Costa, "Homem Com H" encontra-se bem próximo aos melhores do gênero. Está ao lado dos filmes de Breno Silveira ("2 Filhos de Francisco" e "Gonzaga: de Pai para Filho") e "Cazuza: O Tempo Não Pára", de Sandra Werneck e Walter Carvalho.

O pecado (perdoável) de "Homem Com H" é não ter uma conclusão mais objetiva. O final se esfarela numa homenagem um tanto pueril. Não precisava ser assim, visto que o esmero e dedicação visíveis na película já eram uma homenagem em si. O término do filme com uma performance do próprio cantor e a dedicatória explícita empobrecem a obra ao romper com a boa narrativa contada até então, que pulava anos sem dar sobressaltos no espectador.

Ao não ter um final mais condizente com o espírito revolucionário de Ney, o filme acaba se tornando uma hagiografia do cantor. Não que ele não mereça. Mas um olhar mais independente sobre Ney Matogrosso se interessaria também pelas tensões existentes entre diferentes gerações de artistas LGBT+ com a qual Ney conviveu.

Em 2017 o cantor Johnny Hooker se mostrou incomodado com o fato de Ney recusar rótulos numa entrevista à Folha: "Me enquadrar como 'o gay' seria muito confortável para o sistema", disse Ney à época. E continuou: "Que gay o caralho. Eu sou um ser humano, uma pessoa. O que eu faço com a minha sexualidade não é a coisa mais importante na minha vida. Isso é um aspecto, de terceiro lugar."

Indignado, Hooker elevou o tom: "É inconcebível ler a frase 'Que gay o caralho' [...] vinda de um artista cuja carreira em grande parcela se apoiou na bandeira da luta dessa comunidade, de seu próprio público. Um artista genial que perdeu o andar que o mundo tomou, ficou cristalizado, um cânone. O que um dia foi uma das maiores forças libertárias do país hoje se reduz a reproduzir o senso comum."

Ao fugir de polêmicas desse tipo, o filme "Homem Com H" busca valorizar o espírito libertário de Ney de forma simples. As polêmicas dentro do movimento LGBT+ são evitadas e os adversários são apenas os reacionários de sempre. Dava para ir além da louvação ao libertarismo e cutucar mais as sensibilidades atuais. Esse é o limite de "Homem Com H". Como todo filme autorizadíssimo, quer mais homenagear do que polemizar. Mesmo assim, "Homem Com H" encanta.

O baile que o jovem paraibano deu no governo Lula adulando Bolsonaro e desafiando o STF, Francisco Leali, OESP

 O baile que o jovem paraibano deu no governo Lula adulando Bolsonaro e desafiando o STF

Capa do video - O baile que o jovem paraibano deu no governo Lula adulando Bolsonaro e desafiando o STF

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A política brasiliense não poupa amadores, nem neófitos. Para sobreviver e até dar as cartas no Planalto Central tem que ser profissional

Quando ele nasceu, o petista Lula disputava pela primeira vez a Presidência da República, em 1989. No ano em que o ex-sindicalista conseguiu ser eleito, era um adolescente de 13 anos. Três décadas depois, o jovem paraibano Hugo Motta Wanderley da Nóbrega comanda a Câmara dos Deputados. Na última semana, deu um baile em governistas, desafiou o Supremo Tribunal Federal por duas vezes e ainda adulou os bolsonaristas.

Motta chegou em Brasília como deputado federal em 2011. Na época ainda era estudante de medicina. Transferiu o curso para a capital federal onde se formaria dois anos depois, com a proeza de conseguir atuar como congressista e, ao mesmo tempo, frequentar aulas para virar médico.

O deputado Hugo Motta, presidente da Câmara, durante sessão da Casa Legislativa
O deputado Hugo Motta, presidente da Câmara, durante sessão da Casa Legislativa Foto: Kayo Magalhães/Agência Câmara

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A política brasiliense não poupa amadores. Muito menos neófitos. Para sobreviver e até dar as cartas no Planalto Central tem que ser profissional. O presidente da Câmara acaba de entrar neste clube. No comando da Mesa da Casa Legislativa na noite de quarta-feira, 7, levou para o plenário o projeto que susta o processo penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) e, de quebra, também livra o ex-presidente Jair Bolsonaro da ação que tramita no STF.

A decisão é vista no mundo jurídico como um exemplo clássico de ato que não se sustenta. É irregular do começo ao fim. Seja porque a Constituição só autoriza o Congresso a suspender processos de parlamentares, seja porque parte dos crimes atribuídos a Ramagem no caso da tentativa de golpe ocorreu antes de o deputado ser diplomado em 2022. Ou seja, não teria como a Câmara forçar a mão e aprovar um projeto que o STF não vai cumprir.

Mas isso não importou muito. Motta comandou o levante dos bolsonaristas com o apoio maciço do chamado Centrão. Angariar 315 votos, como foi o placar a favor do projeto pró-Ramagem, não é simples. O Republicanos, partido do presidente da Câmara, aderiu em bloco à proposta que tenta liberar o deputado do PL do Rio de Janeiro, Bolsonaro e outros 32 réus no STF.

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A onda também foi seguida pelo União Brasil, legenda de ministros de Lula e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP). Idem com o PP, do ex-presidente da Câmara Arthur Lira. Todos unidos foram votar no libera Ramagem e Bolsonaro da caneta do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

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Um dia antes, com uma adesão um pouco menor (270 votos), a Câmara de Motta aprovou projeto que amplia o número de deputados. A lógica matemática que imperou também não segue o que decisão do Supremo havia determinado. Criaram mais 18 vagas de deputados, desequilibrando a representatividade proporcional entre as bancadas estaduais.

Mais uma vez foi às favas o risco de a decisão dos deputados não prevalecer por falha jurídica. Seguir ou não ao pé da letra o que diz a lei não é bem o forte dos políticos. O que pesa são os interesses. Sejam eles quais forem. No caso de Motta e o bloco do Centrão é de se duvidar que querem apenas agradar bolsonaristas.

A fidelidade dos ditos centristas sempre se mostrou como biruta mudando ao sabor do vento. Ainda não se sabe ao certo qual fatura está na mesa. Mas já está escancarada a força que o grupo tem e pode embaçar os desejos da gestão de Lula se novamente marchar junto com os bolsonaristas em outros projetos.

Quanto ao STF, a Câmara, nos últimos dias, demarcou seu território, mesmo sabendo que a conquista pode não durar muito. Mas fica transferido ao Supremo o ônus de desfazer tudo. Tanto o projeto que susta ação penal contra Bolsonaro, quanto a proposta de dar ao País uma Câmara com 531 deputados.

30 milhões de audiência ou 10 pontos no Ibope?, The News

 

(Imagem: Globo | Reprodução)

Sabe aquele "ponto de Ibope" que sempre apareceu nas manchetes? A Globo está querendo aposentar esse modelo — e começar a falar em números reais.

O que está acontecendo? Pela primeira vez, a Globo fez críticas públicas à Kantar Ibope, empresa que detém o monopólio de medição de audiência na TV brasileira. A emissora questiona a eficácia do modelo atual , que segundo ela, não acompanha as novas formas de consumo de conteúdo.

Atualmente, o Ibope mede audiência com base em 6.310 domicílios distribuídos por 15 regiões metropolitanas. Esses dados geram projeções para cerca de 69 milhões de pessoas — um terço da população.

O problema: a medição não considera o consumo fora de casa , nem os milhões que acompanham novelas e reality por streamings, YouTube e até TikTok.

O diretor-executivo da Globo, Amauri Soares, afirma que a novela das nove chega a 30 milhões de espectadores por noite , mas os números do Ibope não mostram isso. Segundo ele, “a medição é insuficiente”.

A discussão ocorre em meio a uma queda de audiência da principal emissora do país, que, em dezembro do ano passado, registrou a pior média mensal da sua história : 9,9 pontos na Grande São Paulo .

O mercado começa, enfim, a encarar a pergunta que já estava no ar: qual é a verdadeira audiência da TV brasileira hoje?