quinta-feira, 10 de abril de 2025

Cuidado: chatbots, Ruy Castro, FSP

 Um amigo veio me falar dos chatbots: "Cuidado! São um perigo! Se conversar com um deles, não diga nada que possa te comprometer! Não faça confidências, não peça conselhos e não acredite em tudo o que ele diz!". Envergonhado por não saber direito o que era um chatbot —nem como conversar com ele, se nunca lhe fui apresentado e não tenho ideia de onde vive—, apenas escutei e concordei enfaticamente. Assim descrito, o chatbot parecia ser tão desagradável quanto um bolsonarista, só que inteligente —o que o tornaria, aí, sim, perigoso.

Pela terminação do nome em bot, como em "robot", intuí brilhantemente que um chatbot seria um robô que fala. Algo como a linda robota de "Metrópolis" (1927), o Robbie de "Planeta Proibido" (1956) ou o C-3PO de "Guerra nas Estrelas" (1977). Mas, pelo que li no Google, esses avós da robótica não chegam nem ao chinelo de um chatbot —um programa de computador, baseado em inteligência artificial, que simula conversas com falantes em qualquer língua, nível intelectual e tipo de conteúdo. Se você tentar tapeá-lo falando na língua do P, ele te respespondeperapá no apatopó.

Pelo grau de evolução da coisa, ouvi que os cientistas estão alarmados, porque muitos chatbots, controlados por uma facção de algoritmos fora da lei, aprenderam a se passar por humanos. Se for verdade, isso comprometerá todas as relações pessoais e sociais. Em quem poderemos confiar? Chatbots "humanos" terão acesso aos centros de decisões mundiais, induzindo os poderosos a fazer coisas.

Um exemplo. Um chatbot disseminará uma fake news capaz de abalar um país. Um segundo chatbot o "denunciará" como um farsante, com o que se tornará digno de confiança, e disseminará outra fake news ainda mais grave —e nesta todos acreditarão—, iniciando talvez uma guerra. Você perguntará: por que eles fariam isso? Por causa da velha (e tão humana) ambição de dominar o mundo, curvando-o a um controle planetário.

Só uma coisa preocupa um chatbot: alguém arrancar seu fio da tomada da parede.

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Para produzir conteúdo é preciso ter algum?, Sergio Rodrigues, FSP

 A palavra "conteúdo" ganhou conteúdo à beça desde que nasceu, do latim vulgar "contenutus", lá na infância do português. A princípio queria dizer só o que estava contido num continente, como o líquido numa garrafa.

Não deve ter demorado muito —as metáforas nunca demoram— a ganhar o sentido figurado de assunto, tema, conjunto de dados.

Conteúdo ainda era o que está contido em algo, mas agora carregava também um sentido mais ideal do que físico: era saber. Passamos a falar do conteúdo de livros, cursos —e, por metonímia, de pessoas.

Sinônimo de substância, informação tratada com seriedade, logo a palavra se apresentou na expressão "ter conteúdo", que fez bastante sucesso no século passado. Elogiosa, significava ter algo a dizer.

"O livro (ou filme etc.) diverte, mas não tem conteúdo", repetia-se muito esse clichê crítico. Ou seja, o produto em questão era bonitinho mas ordinário. Faltava-lhe certa gravidade, "gravitas". O conteúdo tinha peso.

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Ainda tem, claro, em certas acepções. Os sentidos históricos das palavras quase nunca somem, ficam vagando por aí e se acumulam em camadas geológicas na língua.

Seja como for, em fins do século 20 o conteúdo começou a mudar outra vez. Surgiu no mercado de comunicação o "profissional de conteúdo" —expressão sem nenhuma conotação elogiosa, apenas descritiva.

Era como se chamava a pessoa encarregada da criação de uma mensagem capaz de ser veiculada, com o mínimo de adaptações, em qualquer meio —da internet à TV, passando por jornais, revistas, mensagens de celular, sinais de fumaça.

montagem de fundo listrado com balões de fala recortados em papel
Gerd Altmann / Reprodução

Saía mais barato para quem pagava o salário do tal escriba —que assim, e sem ganhar aumento, via seu trabalho se espalhar pelas tantas possibilidades midiáticas abertas naquele início de revolução digital.

Ou pelo menos era o que rezava o evangelho da época. Nunca se escreveu tanto lixo em nome de uma doutrina. Chegou um momento curioso: se a pessoa falava muito em conteúdo, você ia ver e era batata —não tinha conteúdo nenhum.

A revolução digital precisou dar mais voltas no parafuso para que o conteúdo atingisse um novo patamar em sua trajetória de palavra-fetiche.

Saiu o "profissional" —palavra associada a um mundo tão velho quanto o de "Mad Men", com suas carteiras de trabalho e suas grandes empresas de comunicação— e entrou o "produtor de conteúdo", que pode trabalhar no seu quarto.

E que conteúdo produz o produtor de conteúdo? Qualquer um que tenha saída na imensurável feira digital em que vagamos todos, comprando e vendendo.

Os artefatos simbólicos que cabem na definição têm linguagens variadas, com predominância de vídeo. Em comum, o fato de nos entreterem por alguns minutos ou segundos antes do próximo shot.

Entretenimento, informação, pregão de venda, educação, propaganda, fake news —todos os gêneros se misturam, as fronteiras vão ficando borradas.

Em sua versão digital de hoje, o antigo particípio do verbo conter tende à pasta. Quando o continente tem as dimensões do nosso vício mórbido em distração, o conteúdo pode se dar ao luxo de dispensar o menor traço de conteúdo.

Empresa chilena de celulose lança pedra fundamental de nova fábrica em MS com investimento de US$ 4,6 bi, FSP

 

Curitiba

A fabricante chilena de celulose e painéis de madeira Arauco lançou nesta quarta-feira (9) a pedra fundamental de uma nova fábrica no Brasil, na cidade de Inocência, em Mato Grosso do Sul. A unidade está recebendo um investimento de US$ 4,6 bilhões (R$ 25 bilhões).

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, participou do lançamento, na função de presidente em exercício. Lula está em Honduras, onde participa da IX Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).

Na segunda-feira (7), Lula esteve no anúncio da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, que vai investir R$ 6,4 bilhões na expansão da sua unidade em Montes Claros (MG). No mesmo dia, também participou do anúncio do Mercado Livre, que investirá R$ 34 bilhões no Brasil neste ano.

"Nós tivemos só nessa semana, nesses três dias, segunda, terça e quarta, R$ 65,4 bilhões de investimentos confirmados no Brasil. Porque o país tem estabilidade, previsibilidade e, com a reforma tributária, eficiência econômica, que impulsiona investimento", disse Alckmin, durante entrevista a jornalistas nesta quarta.

Em seu discurso na Arauco, Alckmin citou programas do governo federal, como o Nova Indústria Brasil, e das possibilidades de financiamento com taxas de juros especiais.

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"Em 2022, o Brasil estava em 70º lugar no mundo na indústria. O ano passado, 25º lugar. Nós ganhamos 45 posições no ranking da indústria do mundo. Só a indústria automobilística cresceu no mundo 2% e, no Brasil, cresceu 9,7%", discursou o ministro.

Questionado por jornalistas sobre as tarifas globais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o ministro afirmou que o governo vai trabalhar para tentar reduzir a alíquota anunciada para o Brasil, de 10%.

"O Brasil ficou com a menor tarifa, mas nós entendemos que não deveria ter. O caminho é o diálogo, da negociação", disse Alckmin.

Floresta de eucalipto da empresa Arauco, em Mato Grosso do Sul - Divulgação/Arauco

A Arauco já está presente no Brasil, com cinco unidades industriais no Paraná e no Rio Grande do Sul, duas unidades florestais no Mato Grosso do Sul e três unidades corporativas, em São Paulo e em Curitiba. A empresa tem unidades em outros dez países.

A etapa de terraplanagem da nova fábrica no Mato Grosso do Sul começou em 2024 e a previsão é que ela entre em operação no final de 2027. De acordo com a Arauco, trata-se do maior investimento da história da companhia.

O investimento, chamado Projeto Sucuriú, inclui a construção de uma planta com capacidade de produção de 3,5 milhões de toneladas de fibra curta de celulose ao ano. A finlandesa Valmet será a parceira tecnológica e de equipamentos para a instalação da fábrica.

O projeto prevê ainda a produção de eletricidade em um ciclo completo, com capacidade de geração superior a 400 megawatts. Metade da produção deve atender à demanda de consumo interno. O excedente será fornecido ao sistema de comercialização de energia elétrica nacional.

A fábrica ficará em uma área de 3.500 hectares, a 50 quilômetros do centro da cidade de Inocência, e na margem esquerda do Rio Sucuriú. Ela ficará próxima do Rio Paraná, da rodovia (MS-377) e da malha ferroviária, o que facilita o escoamento da celulose para exportação e mercado interno.

A Arauco também destaca que o Mato Grosso do Sul tem clima favorável à plantação de eucalipto. Segundo a empresa, a árvore nesta região demora cerca de sete anos para crescer e atingir o ponto ideal de corte, contra 12 anos no Chile, por exemplo.

A empresa diz ainda que vai oferecer capacitação e gerar até 14 mil vagas de trabalho ao longo da obra. Depois da construção, o Projeto Sucuriú prevê cerca de 6 mil empregos.