quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Cúpula do PT acha que Pacheco não agrega no governo e prefere acordo com Lira para ter Centrão, Vera Rosa OESP

 A cúpula do PT está preocupada com a desidratação do partido na reforma ministerial a ser promovida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirigentes petistas dizem, nos bastidores, que não veem sentido em uma possível entrada do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), no primeiro escalão do governo nem em afagos a quem traiu Lula no painel de votações do Congresso. Com esse diagnóstico, acham que quem deveria perder lugar na dança das cadeiras é o União Brasil.

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O argumento é de que o partido, hoje no comando de três ministérios com orçamentos vistosos (Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional), virou um “saco de gatos”: está sempre dividido e não entrega os votos correspondentes a seu tamanho na Esplanada.

Em dezembro do ano passado, por exemplo, a votação do primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que integrou o pacote de ajuste fiscal escancarou o racha: 23 deputados do União Brasil foram contra as medidas apresentadas pela equipe econômica e 36, a favor. Mesmo no PT, porém, houve três votos contrários ao governo.

Lula com Pacheco e Lira: mudanças no Congresso e dúvidas sobre como fazer novo arranjo no governo.
Lula com Pacheco e Lira: mudanças no Congresso e dúvidas sobre como fazer novo arranjo no governo. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na avaliação de interlocutores de Lula, é preferível fazer um acordo político com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira – que dá sinais de afastamento do bolsonarismo raiz – a manter o espaço do União Brasil na segunda metade do governo. O problema é que, embora tenha diminuído o tom dos ataques, Ciro continua criticando o inquilino do Palácio do Planalto.

A largada da reforma ministerial foi dada nesta terça-feira, 14, com a posse do publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha petista de 2022, na Secretaria de Comunicação Social (Secom). Sidônio substituiu Paulo Pimenta (PT) com a difícil missão de tirar projetos da prateleira e “salvar” o governo.

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O PT administra 11 ministérios e tudo indica que passará por uma lipoaspiração. Toda a estratégia leva em conta as eleições de 2026.

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Expoente do Centrão, o PP é também a sigla do presidente da Câmara, Arthur Lira, que está de saída do cargo. O partido tem o Ministério do Esporte e a presidência da Caixa, além de postos regionais.

Como mostrou o Estadão, há petistas – a exemplo do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha – que defendem o ingresso de Lira no governo. Nessa lista está também o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Os dois avaliam que Lira pode ajudar a levar parte do Centrão para a campanha de 2026, quando Lula pretende concorrer a novo mandato.

Uma ala da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, diz agora que o presidente da Câmara tem perfil para chefiar a Agricultura, hoje nas mãos de Carlos Fávaro (PSD), alvo de reclamações da bancada de seu próprio partido.

O objeto do desejo do grupo de Lira é o Ministério da Saúde, mas essa pasta dificilmente sairá da órbita do petismo, mesmo que Nísia Trindade, a atual titular, seja substituída.

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As eleições que renovarão os comandos da Câmara e do Senado estão marcadas para 1.° de fevereiro. Indicado por Lira, o deputado Hugo Motta (Republicanos) é o favorito para ocupar sua cadeira. No Senado, Rodrigo Pacheco deverá passar o bastão para Davi Alcolumbre (União Brasil).

A possibilidade de Pacheco integrar a equipe de Lula, no entanto, não agrada ao PT, nem mesmo se ele mudar para o MDB. Pacheco já foi das fileiras emedebistas e, antes do recesso parlamentar, vinha conversando sobre eventual migração para o partido.

Dirigentes do PT observam, em conversas reservadas, que não veem Pacheco como alguém capaz de fortalecer a articulação do governo com o Congresso em um ambiente marcado por sucessivas crises.

O relacionamento azedou de vez, no fim do ano passado, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino bloqueou parte das emendas parlamentares.

Lula quer que Pacheco seja candidato ao governo de Minas Gerais, em 2026, e dê palanque para o PT. É com essa perspectiva que ele precisaria ficar sob os holofotes após deixar o comando do Senado. Pacheco, porém, resiste à ideia de disputar o Edifício Tiradentes.

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Apesar da bolsa de apostas, o presidente ainda não decidiu o desenho da reforma ministerial. Sabe-se, contudo, que a mudança será bem menor do que o Centrão espera.

Sidônio e Lula: parceria desde a campanha eleitoral de 2022.
Sidônio e Lula: parceria desde a campanha eleitoral de 2022. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Se não precisasse mexer no time para fazer novos arranjos políticos, Lula não gostaria nem mesmo de promover mais trocas. O ideal, para ele, é que quem entrasse na equipe agora fosse como Sidônio Palmeira e não tivesse pretensão de disputar as próximas eleições.

Mas a realidade se impõe e no ano que vem haverá uma debandada: dos 38 ministros, aproximadamente 20 (52,6%) são pré-candidatos a cargos eletivos – de governador a senador, passando por deputado federal. Com isso, pela Lei Eleitoral, terão de deixar a equipe em abril de 2026.

Ao tomar posse nesta terça-feira, Sidônio se referiu a um “faroeste digital” nos dias de hoje, que pavimenta a cultura do ódio nas redes sociais. “Para fazer frente a esse movimento macabro, não basta apenas chamar um marqueteiro”, avisou.

Ele tem razão. Na prática, de nada adianta levar a comunicação para o divã se o governo não tiver um rumo. E, ainda, se não deixar de bater cabeça na Praça dos Três Poderes.

Eles têm milhões em ativos e alta renda, mas planejam morrer sem ter nada no banco; entenda, OESP

 Por Eleanor Pringle (Fortune)

Bilionários como Warren Buffett e Steve Jobs deixaram claro que suas enormes fortunas não serão passadas para seus filhos. Em vez disso, muitos, incluindo Bill Gates, escolheram gastar seu dinheiro em filantropia durante suas vidas.

Mas integrantes de todos os espectros de riqueza estão adotando cada vez mais a mesma ideia — muitos tentam gastar ou doar todo o seu dinheiro antes de morrer, em vez de deixá-lo para que filhos, familiares ou amigos herdem. O plano deles é “morrer com zero” — ter absolutamente nada em suas contas bancárias quando estiverem em seu leito de morte.

Ideia do 'Die with Zero' ganha força nos EUA
Ideia do 'Die with Zero' ganha força nos EUA Foto: S.../Adobe Stock

É uma ideia que ganhou força nos últimos anos, impulsionada pelo lançamento de Die with Zero, um best-seller do Wall Street Journal escrito por Bill Perkins. Para alguns, morrer com zero não está apenas mudando suas vidas, mas também a das pessoas para quem estão doando seus bens. Para outros, é uma ideia em princípio interessante que se torna impossível na velhice.

‘Faça o bem agora — não espere até estar morto’

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Elena Nuñez Cooper planeja doar milhões de dólares ao longo de sua vida para causas beneficentes — e ensinar qualquer filho que venha a ter no futuro a fazer o mesmo.

A fundadora de 32 anos da Ascend PR, empresa com sede em Chicago que também atua como assessoria para escritórios de família, disse que viu muitos conflitos familiares surgirem de negociações sobre dinheiro através de seu trabalho. É uma dinâmica da qual ela está ansiosa para se manter afastada.

“Isso me perturba”, disse. “É triste quando você tem segmentos inteiros da família que não se falam por causa de dinheiro. Quero eliminar qualquer animosidade à medida que (meu marido e eu) gastamos.”

“Meus avós nos contaram quanto vamos herdar, mas no fundo da sua mente você pensa: ‘Eu não preciso disso, não me importo com isso’. Sou uma pessoa relacional e me importo muito com meus relacionamentos.”

Uma abordagem de morrer com zero ou gastar significa que Nuñez Cooper e seu marido — que compartilham US$ 4 milhões em patrimônio pessoal — podem estabelecer um conjunto mais “flexível” de metas financeiras, desde presentear amigos recém-casados com uma bela lua de mel até planejar tirar um ano de folga quando tiverem filhos.

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Embora atualmente Nuñez Cooper doe milhares de dólares através de seu fundo beneficente, ela planeja aumentar isso para sete dígitos em seus 40, 50 e 60 anos.

“Acredito que a quem muito é dado, muito é esperado”, adicionou Nuñez Cooper — que escolheu não receber um salário do seu próprio escritório de família. “Preferiria criar meus filhos, e talvez netos, com a ideia de que temos um dever de fazer o bem no mundo, e que esse bem deve ser feito agora. Planejar para o futuro é ótimo, mas, se você tem dinheiro agora, faça o bem agora — não espere até estar morta.”

O casal também planeja ensinar a seus possíveis filhos o valor do trabalho desde jovens e encorajá-los a doar uma parte de cada salário aos seus próprios fundos beneficentes.

“Você pode morrer com zero — você só tem de ser inteligente sobre isso”, disse Nuñez Cooper. “Você deveria ter treinado seus netos, filhos, sobrinhos e sobrinhas a usar o dinheiro com sabedoria para que não dependam de um pagamento.”

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‘Por que dedicar sua vida ao trabalho das 9 às 17?’

Não há uma ciência exata para morrer com zero, admitiu James Beckett, coach de finanças pessoais do Reino Unido, mas ele está mais preocupado em “desperdiçar sua vida” do que em ficar sem dinheiro.

Beckett estima que morrerá por volta dos 88 anos e planeja ter apenas dinheiro suficiente para manter um teto sobre sua cabeça e comida na mesa até então.

Embora o jovem de 32 anos possua uma casa, Beckett e sua parceira estão abertos a vender a propriedade e morar de aluguel se isso significar obter mais de seu dinheiro na velhice.

Beckett — que ganha perto de seis dígitos no Reino Unido — disse que não conseguia pensar em nenhuma desvantagem em seu plano, que permitiu ao casal viajar para os EUA anualmente nos últimos três anos, além de férias no México, na Espanha e na Irlanda e viagens para festivais de música como o Glastonbury.

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Essa crença é chave para a liberdade de morrer com zero, disse Beckett, pois as pessoas precisam estar “investidas nas vantagens” da ideia ao invés de temer as desvantagens.

“É uma pena ver as pessoas morrendo com tanto dinheiro em um emprego de que não gostam, ou com pessoas de quem não gostam. Elas entram no piloto automático acumulando riqueza, e não pensando para que serve”, afirmou.

“Não é uma crença de que você gasta cada centavo em coisas materialistas todo mês. É ser muito consciente sobre o que você quer alcançar e quando.”

O casal planeja não ter filhos, mas adora seus sobrinhos e sobrinhas, pelos quais já estão planejando financeiramente com contas poupança que abriu quando eles eram ainda pequenos.

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“Ainda estou na fase de acumular riqueza”, disse Beckett. “Não sei quantos sobrinhos e sobrinhas eu posso ter. É só sobre dar esse dinheiro enquanto estou vivo — isso me traz muita alegria. Tive ajuda na compra de uma casa e com minhas taxas universitárias, então sei o quanto isso significa.”

Como você planeja quando morrer?

Claro, uma grande falha no plano de morrer com zero é que as pessoas raramente sabem quando não precisarão mais de seu dinheiro.

“Você pode morrer amanhã, você pode morrer aos 105”, disse Eliana Sydes, chefe de Estratégia de Vida Financeira nos assessores financeiros Y Tree. “Não sabemos onde uma pessoa pode cair, então pelo que planejamos?”

Ficar sem dinheiro também se torna mais perigoso quanto mais velho você fica, ela apontou, com os últimos anos da vida de uma pessoa muitas vezes provando ser os mais caros devido à inflação e ao cuidado invariavelmente necessário na velhice extrema.

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Esse medo de “ficar sem” é o que leva muitas pessoas mais velhas a continuar acumulando riqueza quando deveriam estar desacelerando suas economias. “Pessoas com 90 anos agora têm memórias muito fortes da guerra”, explicou Sydes. “Elas trazem consigo muita bagagem de legado em torno do medo de ficar sem. Estamos pedindo às pessoas para levar uma mensagem de: ‘Morra sem nada no banco, você não sabe quando isso vai acontecer, e a propósito, você cresceu com racionamento, o que faz você se sentir muito inseguro’.”

Esse medo pode ser parte da razão pela qual os baby boomers (geração nascida ente 1945 e 1964) têm um patrimônio líquido médio situado aproximadamente entre US$ 970 mil e US$ 1,2 milhão, de acordo com a Pesquisa de Finanças do Consumidor de 2019 do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Enquanto isso, o patrimônio líquido médio dos Gen Zers (os da Geração Z) está em US$ 76 mil, o millennial médio com mais de 35 anos está em mais de US$ 400 mil, e aqueles da Geraçã X têm patrimônios líquidos médios entre US$ 400 mil e US$ 833 mil (embora faça sentido esses patrimônios líquidos serem menores do que os dos boomers, já que as gerações mais jovens não tiveram tanto tempo para acumular riqueza).

Sydes acrescentou que a decisão sobre morrer com zero precisa ser feita quando uma pessoa é mais jovem para colocar seu plano em prática — mas poucos gostam de ser confrontados com a realidade de seu falecimento. “Há apenas uma pequena janela na vida em que você pode fazer isso com segurança e ativamente com uma chance razoável de que isso dê certo”, disse.

(Morrer com zero) é um ótimo gancho para abrir essas conversas sobre ‘O que eu quero fazer enquanto estou vivo para tomar essas decisões sobre meu dinheiro?’ Mas também pode ser uma barreira, porque pode ser assustador para muitas pessoas. Então, eu acho que a conversa é realmente: ‘Como eu morro com zero acima das minhas necessidades pessoais?’”

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Se você está procurando morrer com zero ou doar somas em herança para entes queridos, Sydes disse que havia uma lição para lembrar: propósito.

“É muito difícil mudar da acumulação para a desacumulação, é realmente emocionalmente difícil”, Sydes disse. “É uma decisão consciente que você quer ajudar os outros. Não é suficiente dar coisas que você tem, tem de haver um propósito para o que você está fazendo, caso contrário você desistirá.”

“Se você tem um motivo definitivo: você está obtendo bons sentimentos disso, é mais provável que você continue. Você vai se sentir conectado com sua decisão, e isso é algo realmente grande.”

c.2025 Fortune Media IP Limited

O prematuro rumor de morte do MDMA como remédio, Marcelo Leite, FSP

 

Ilustração de Raphael Egel
Ilustração de Raphael Egel - @liveenlightenment

Mark Twain escreveu um telegrama certa vez dizendo que eram muito exageradas as notícias sobre sua morte, após a publicação equivocada de um obituário. Lembrei-me da tirada agora ao saber que a combalida Lykos Therapeutics entrou na alça de mira de um investidor amigo de Elon Musk com muita bala na agulha.

Antonio Gracias, do fundo Valor Equity Partners, organiza oferta de US$ 100 milhões (R$ 607 milhões) pelo controle da Lykos, noticiou o Financial Times. Ele administra bilhões de outros investidores, mas o desembolso para assumir a empresa sairia de sua fundação familiar, segundo o boletim Psychedelic Alpha.

A Lykos, que teve rejeitado pela FDA (agência de fármacos dos EUA) seu pedido de licença para aplicar MDMA (ecstasy) em psicoterapia para tratar transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), em agosto, precisa com urgência de mais recursos. Os atuais controladores, do grupo Helena, se dispõem a fazer aporte de US$ 20-30 milhões para custear o terceiro teste clínico de fase 3 exigido pela FDA.

A decisão da agência e a demissão de 75% do pessoal da Lykos após a negativa devem atrasar em ao menos cinco anos a entrada da terapia promissora no mercado. A bóia salva-vidas lançada por Gracias poderia abreviar isso, sobretudo agora que Donald Trump assume a Presidência dos EUA e entroniza no governo um Musk favorável a psicodélicos, assim como Robert Kennedy Jr.

Gracias é próximo de Musk. Foi investidor precoce na Tesla, enriquecendo com isso, e participa do conselho da Space X. Conta com o apoio de Rick Doblin, que iniciou os estudos com MDMA e fundou em 1986 a Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (Maps, em inglês), cujo braço empresarial (Maps PBC) deu origem à Lykos com a chegada de outro socorro de US$ 100 milhões pelo Helena.

Doblin, um ex-hippie visionário e carismático, já vinha colecionando atritos com os gestores da Lykos, capitalistas profissionais com visão tradicional do setor farmacêutico e seu modelo baseado em patentes, regulamentação biomédica e lucros. Após a invertida da FDA, Doblin deixou o conselho da empresa.

Seu objetivo e dos filantropos que o ajudaram a criar a Maps e a financiar os primeiros testes clínicos de MDMA, ao longo de quatro décadas, nunca foi gerar lucros. Seu propósito era reabilitar a substância como medicamento empatógeno facilitador de psicoterapia, como já era usada antes da proibição em 1985.

A virada de casaca de Doblin não dá garantia de sobrevivência à Lykos, nem de que Gracias também não acabe se estranhando com Doblin e sua turma. Se assumir o controle, o investidor deve chamar para gerir a empresa Jeff Aronin, da empresa de biotecnologia Paragon Biosciences, pivô de uma controvérsia sobre preço exorbitante (US$ 90 mil por ano) fixado para um novo medicamento contra distrofia muscular.

A reunião do conselho da Lykos para debater a investida de Garcia, semana passada, nem chegou a se realizar. Em vez disso ocorreu a renúncia de três membros, como informa Josh Hardman do Psychedelic Alpha: Jeff George, Scott Giacobello e Jason Pyle.

O paciente em coma se agita no leito, mas ainda não despertou.