O governador de um importante estado quer transformar 728 das 3.400 unidades de sua rede escolar em "escolas cívico-militares". Com seu salivante servilismo a certos poderosos, sugere plantar homens fardados em sala de aula para aplicar conceitos dúbios como "mediação de conflitos, desenvolvimento de atividades preventivas e promoção de valores como respeito, disciplina e responsabilidade".
É a volta da velha Educação Moral e Cívica, matéria de estimação da ditadura, imposta em 1969 por Costa e Silva e só revogada em 1993, por Itamar Franco. A EMC constava de "aperfeiçoamento do caráter e da moral do aluno", o "culto à pátria e aos seus símbolos, tradições e instituições" e a mesma "promoção de respeito, disciplina e responsabilidade". Se isso lhe soa como "Deus, pátria e família", acenda uma vela para Mussolini e outra para Bolsonaro.
Currículos cívico-militares se destinam a educar civis sobre heróis militares, como o duque de Caxias. É justo. Mas seria mais justo se os das escolas militares também educassem seus alunos sobre heróis civis, como Joaquim Nabuco. Afinal, se a diplomacia é a guerra por outros meios, por que Nabuco não seria tão importante para a história do Brasil quanto Caxias? Mas quantos aspirantes ouvem falar de Nabuco no Colégio Militar?
E quem garante que a visão militar da história seja tão objetiva quanto a dos paisanos? Não faltam textos nas nossas universidades sobre a identificação do ditador Getulio Vargas com os regimes totalitários da Europa na 2ª Guerra e sua aproximação com a Alemanha nazista, antes de se decidir pela adesão aos Aliados. Haverá textos equivalentes nas escolas militares quanto à convivência ainda mais íntima de figuras como os generais Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra de Getulio, e Pedro Aurélio de Goes Monteiro, seu chefe de Estado Maior, com a mesma Alemanha nazista?
O dito governador deve ter sido dispensado do serviço militar por ter pé chato. Agora quer obrigar os garotos de seu estado a marchar.
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