Sem segurança privada e circulando em carros usados, o engenheiro e empresário Antônio Ermírio de Moraes (1928-2014) percorria São Paulo como um cidadão comum sem preocupação em parecer o bilionário que era. Passou décadas dirigindo até o Centro, onde então ficava a sede de sua empresa, a Votorantim. Localizava-se num prédio histórico, do antigo hotel Esplanada, na praça Ramos de Azevedo.
Ermírio nasceu e cresceu em São Paulo, onde estudou no colégio Rio Branco, um dos mais tradicionais da cidade. Casou-se em 1953 com Maria Regina e teve nove filhos. Foi um gigante da indústria brasileira, mas jamais se deixou levar pela arrogância. Tratava as pessoas com cordialidade e levava uma vida relativamente simples. Nunca se colocou numa redoma. Amava a cidade e usufruía dela.
O empresário vestia-se de maneira despojada e gostava de caminhar despreocupadamente. Nas suas andanças entrava em igrejas vazias onde encontrava paz no isolamento. Era um homem profundamente religioso, que doou um terreno para o padre Marcelo Rossi erguer seu santuário em Santo Amaro, na região sul.
Quando questionado por andar com tranquilidade pelas ruas ou dispensar o trabalho de vigilantes na sua rotina diária, dizia que a "minha segurança é Deus".
Como conta o professor de Economia da USP José Pastore, autor da biografia "Antônio Ermírio de Moraes – Memórias de um Diário Confidencial" (ed. Planeta), o empresário guiou seu próprio carro a vida toda sem ostentação. Certa vez trocou uma Caravan por um Santana usado por considerá-lo mais simples e econômico.
Um dos lugares de referência do empresário, além do antigo hotel Esplanada, era o hospital Beneficência Portuguesa, que presidiu por quase 40 anos. Tinha uma rotina rígida e era dedicado às causas humanitárias.
Segundo Pastore, ele chegava pontualmente ao seu escritório às 7h, mas antes passava meia hora na Beneficência, para onde voltava depois de deixar o trabalho na Votorantim, às 19h. Ficava mais duas horas cuidando de assuntos da administração do hospital. A mesma determinação que tinha para expandir seus negócios, mostrava para cuidar dos necessitados.
Pastore diz que fazia parte da sua rotina diária passar 30 ou 40 minutos nas enfermarias da Beneficência para conversar com os doentes, transmitir seu carinho e frequentar a capela. Nos fins de semana fazia o mesmo. À tarde, costumava levar uma orquestra para animá-los. Também participava do conselho curador e da rede voluntária do Hospital A.C. Camargo e era um dos maiores doadores da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
Sua forte atuação social o motivou, em 1986, a lançar-se candidato ao Governo do Estado de São Paulo pela União Liberal Trabalhista Social (PTB, PL e PSC). Foi, porém, derrotado por Orestes Quércia (PMDB),
Outro lugar que eventualmente frequentava era a Academia Paulista de Letras, no largo do Arouche, de onde se tornou membro em 1999, ocupando a cadeira 23. Escreveu três peças teatrais, tratando de problemas brasileiros: "Brasil S.A.", sobre o mundo empresarial, "SOS Brasil", sobre saúde pública, e "Acorda Brasil", sobre educação. Durante 17 anos, escreveu uma coluna dominical na Folha.
Mais um traço distintivo de Antônio Ermírio era ser corintiano. Foi conselheiro vitalício do Corinthians. Há um busto em sua homenagem no parque São Jorge, antigo estádio do clube.
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