É inegável que boa parte de nossas relações com o mundo são, hoje, mediadas pelas tecnologias digitais — do acesso a serviços básicos, como a emissão de documentos, à possibilidade de obter informações sobre os mais diferentes assuntos e participar dos debates públicos. Com as tecnologias cada vez mais imbricadas em nossa rotina, é preciso encarar a conectividade como direito de toda a população.
Nesse sentido, o Brasil tem caminhado na direção certa, ainda que a passos lentos e de forma desigual. Quando olhamos para a disponibilidade de internet nas escolas do país, por exemplo, o quadro vem melhorando nos últimos anos: 92% das escolas de ensino fundamental e médio no país contam com acesso à rede, segundo a pesquisa TIC Educação 2023, divulgada no início deste mês. Trata-se de um aumento de 10 pontos percentuais em relação a 2020. Mesmo em regiões historicamente menos favorecidas, houve avanços. Em escolas de áreas rurais, a proporção subiu de 52% para 81% no mesmo período.
O levantamento, realizado desde 2010 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), mostrou ainda que 90% das escolas (ensino fundamental e médio) têm pelo menos um computador (tablet, notebook ou desktop). O percentual chega a 99% nas instituições de áreas urbanas, enquanto as situadas em zonas rurais o índice é de 75%.
Obviamente, é preciso avançar mais. E é preciso também olhar com atenção para o que está além do acesso — como podemos garantir que a sociedade faça um uso mais qualificado, crítico, responsável e seguro do amplo universo que a internet disponibiliza? Desde muito cedo, os jovens podem começar a construir as habilidades necessárias para isso, aprendendo a pesquisar e avaliar informações, refletindo sobre seu comportamento em redes sociais, engajando-se em diálogos respeitosos que fogem do discurso de ódio, responsabilizando-se pelas mensagens que criam ou compartilham, entre tantas outras práticas.
A meta é garantir a conectividade significativa, que olha a internet em múltiplas dimensões: infraestrutura, velocidade e banda larga adequadas, produtos e serviços financeiramente acessíveis, proteção e segurança e o desenvolvimento de habilidades para entender e refletir sobre as dinâmicas sociais, políticas, econômicas e culturais relacionadas às tecnologias.
"É preciso fazer mais para conectar os desconectados e para que os marcos referenciais políticos evoluam a partir da simples suposição de que, se a infraestrutura for construída, as pessoas se conectarão", escrevem Sonia Jorge e Onica Makwakwa, diretoras da Global Digital Inclusion Partnership (GDIP), em publicação do Cetic.br lançada em abril para discutir as condições de conectividade significativa no Brasil. "Pedimos aos formuladores de políticas públicas que sejam mais ousados do que foram em outros momentos ao conectar os desconectados e construir um ambiente social de apoio para um mundo online vibrante e inclusivo."
A conectividade significativa, no sentido mais amplo, precisa estar na agenda de prioridades do país. Para isso, o debate sobre o uso das tecnologias digitais por crianças e adolescentes deve ser aprofundado, em camadas bem mais complexas que o mero dualismo entre permitir ou proibir celulares nas escolas.