terça-feira, 23 de julho de 2024

A tentativa cínica de Trump de colocar imigrantes contra negros para obter votos, Paul Krugman - FSP

 Obviamente, as principais notícias políticas dos Estados Unidos nos últimos dias vieram do Partido Democrata. Mas antes que a Convenção Nacional Republicana da semana passada desapareça de vista, deixe-me focar em um assunto do lado do Partido Republicano que pode, dado tudo o que tem acontecido, ter passado despercebido: a retórica MAGA (Make America Great Again —Vamos Fazer a América Grande Novamente—, slogan dos trumpistas) sobre imigração, que já era feia, ficou ainda mais feia.

Até agora, a maioria dos slogans anti-imigração vindos de Donald Trump e sua campanha envolvia alegações falsas de que estamos vivenciando uma onda de crimes cometidos por migrantes.

Cada vez mais, no entanto, Trump e seus apoiadores começaram a argumentar que os imigrantes estão roubando empregos dos norte-americanos —especificamente, a acusação de que os imigrantes estão causando danos terríveis aos meios de subsistência dos trabalhadores negros.

A imagem mostra Donald Trump, homem com cabelo loiro, usando um terno escuro e uma gravata vermelha. Ele está sorrindo levemente e parece estar em um evento, com balões coloridos ao fundo, incluindo um grande balão vermelho.
Donald Trump participa de convenção do Partido Republicano nos Estados Unidos - Jeenah Moon/Reuters

Claro, a ideia de que os imigrantes estão tirando empregos das pessoas nascidas nos EUA, incluindo os negros, não é nova. Tem sido, em particular, uma obsessão para JD Vance, completada com análises estatísticas enganosas, então a escolha de Trump para que Vance fosse seu companheiro de chapa e candidato a vice-presidente sinaliza um novo foco no suposto dano econômico causado pelos imigrantes.

Assim também foi o discurso de aceitação de Trump na quinta-feira (18), que continha várias afirmações sobre a economia da imigração, entre elas, a noção de que dos empregos criados sob o governo Biden, "107% desses empregos são ocupados por imigrantes ilegais" —um número estranhamente específico considerando que é claramente falso, porque o emprego de nativos aumentou em milhões de empregos desde que Biden assumiu o cargo.

O que parece relativamente novo, no entanto, é a tentativa de colocar imigrantes contra norte-americanos negros. É verdade que Trump expôs essa linha de ataque durante seu debate de junho com Biden, quando declarou que os imigrantes estão "tirando empregos dos negros", levando alguns a questionar sarcasticamente quais empregos, exatamente, contam como "negros".

Mas a repercussão dessa tese aumentou consideravelmente.

Na convenção republicana, o ex-assessor de Trump Peter Navarro, que provavelmente terá algum cargo na administração Trump em caso de vitória, falou de "um exército inteiro de imigrantes ilegais analfabetos roubando os empregos dos americanos negros, pardos e da classe trabalhadora".

Em entrevista à Bloomberg Businessweek publicada na semana passada, Trump foi ainda mais longe, declarando que "Os negros serão dizimados pelos milhões de pessoas que estão entrando no país." Ele continuou, "Seus salários caíram muito. Seus empregos estão sendo tomados pelos migrantes que entram ilegalmente no país." Ele prosseguiu dizendo que "a população negra neste país vai morrer por causa do que aconteceu, do que vai acontecer com seus empregos —seus empregos, suas moradias, tudo."

O diatribe de Trump forçou a Bloomberg a realizar uma verificação de fatos e informar no texto: "De acordo com o Bureau de Estatísticas do Trabalho dos EUA, a maioria dos ganhos de emprego desde 2018 tem sido para cidadãos naturalizados dos EUA e residentes legais —não migrantes."

Houve um tempo em que um discurso como esse sinalizaria que um político carecia da estabilidade emocional e da capacidade intelectual para ocupar o mais alto cargo do país. Infelizmente.

Além disso, é difícil exagerar o cinismo aqui. Trump tem um histórico de associação com supremacistas brancos, sem mencionar sua obsessão de longa data com o crime em áreas urbanas, muitas vezes predominantemente negras. Ainda assim, ele claramente percebe uma oportunidade de obter alguns eleitores negros jogando-os contra os imigrantes.

Mas, novamente, mesmo se ignorarmos o cinismo, essa nova linha de ataque à imigração está simplesmente errada nos fatos.

Se os imigrantes estão tirando todos os "empregos dos negros", você não pode ver isso nos dados, que mostram o desemprego negro em níveis historicamente baixos. Se os salários dos negros, como Trump afirma, caíram muito, alguém deveria avisar o Bureau de Estatísticas do Trabalho, que diz que a média salarial dos negros, ajustada pela inflação, é bem mais alta do que era no final do mandato de Trump. (Você deve ignorar o aumento espúrio durante a pandemia, que refletiu efeitos de composição em vez de ganhos salariais genuínos.)

Você pode perguntar por que, dado que de fato vimos um aumento na imigração, não estamos vendo sinais de um impacto adverso, quanto mais catastrófico, nos salários ou no emprego dos negros. Afinal, muitos imigrantes recentes, especialmente imigrantes sem documentos, não têm diploma universitário e talvez nem mesmo ensino médio. Então, eles não estão competindo com americanos nativos que também não têm diploma universitário ou ensino médio?

A resposta, que conhecemos desde os anos 1990, é que os trabalhadores imigrantes trazem um conjunto diferente de habilidades para a mesa do que os nascidos nos EUA, mesmo quando esses trabalhadores têm níveis semelhantes de educação formal. E sim, quero dizer habilidades: se você pensa em trabalhadores sem diploma universitário como "não qualificados", tente consertar seu próprio encanamento ou fazer sua própria carpintaria.

Não deveria ser necessário dizer, mas muito trabalho braçal é altamente qualificado e altamente especializado. Como resultado, os imigrantes tendem a ocupar uma mistura muito diferente de empregos do que os trabalhadores nativos —o que significa que há muito menos competição direta entre trabalhadores imigrantes e nativos do que você poderia pensar, ou do que Trump e Vance querem que você pense.

A conclusão é que a tentativa de retratar a imigração como uma ameaça apocalíptica para os americanos negros é refutada pelos fatos. Isso funcionará politicamente? Eu não faço ideia.

Odebrecht reforça atuação com obras nos EUA, FSP

 

BRASÍLIA

Primeira empresa brasileira a realizar uma obra pública nos EUA, a construtora OEC (Odebrecht Engenharia e Construção) entregou mais dois na Flórida, carro-chefe de sua atuação no país.

A primeira delas é a interconexão do sistema de manuseio de bagagens do aeroporto internacional de Miami. A intervenção conectou o sistema de triagem de bagagens dos terminais sul e central.

Terminal Sul do Aeroporto Internacional de Miami, construído pela OEC (Odebrecht Engenharia e Construção)
Terminal Sul do Aeroporto Internacional de Miami, construído pela OEC (Odebrecht Engenharia e Construção) - Divulgação

A reforma dos balcões de check-in do terminal central foi a segunda encomenda.

O aeroporto de Miami é o principal motor econômico do condado de Miami-Dade, gerando receitas de mais de US$ 32 bilhões. É o mais movimentado das Américas em transporte de cargas e o segundo em número de passageiros internacionais, atingindo um recorde de 52,3 milhões de usuários em 2023.

O projeto com a OEC faz parte de um amplo esforço para aumentar a eficiência operacional com um investimento de mais de US$ 7 bilhões.

A companhia também finalizou um pacote de obras contratadas pela multinacional de logística DHL no aeroporto e no seu escritório central na cidade.

A construtora disputa uma concorrência para a expansão do terminal sul, cuja obra deverá ser concluída em quatro anos com um investimento de cerca de US$ 621 milhões.

Após a obra, o terminal poderá receber até seis aeronaves de fuselagem estreita ou três de fuselagem larga.

Também prevê a integração dos sistemas existentes, inclusive de cruzamento e manuseio de bagagens; um conjunto abrangente de sistemas de informação; e a instalação de pontes de embarque de passageiros com paredes de vidro, aprimorando a experiência dos usuários.

A OEC atua nos EUA há 33 anos. A companhia também executou obras do entorno do aeroporto, como o Metromover e o MIA Mover, sistemas de transporte que conectam o aeroporto ao restante da cidade.

Desde que chegou aos EUA, já são mais de 75 empreendimentos executados. A atuação tem largo histórico na Flórida, estado onde fica cerca de metade das obras executadas no país, em especial na região de Miami.

A empresa foi responsável pela construção de alguns ícones da arquitetura da cidade, como o Centro de Artes Adrienne Arsht, a arena do time de basquete Miami Heat, o elevado Golden Glades Interchange, o Estádio da Florida International University, entre outros projetos.

Nos últimos cinco anos, a empresa conquistou mais de R$ 20 bilhões em novos contratos. Desde 2021, é certificada com a ISO 37001, que atesta práticas antissuborno e de integridade em nível internacional, medida que busca blindar a companhia, que foi um dos epicentros dos casos de corrupção investigados pela Lava Jato.

Em 2022, recebeu o selo Infra+ Integridade, oferecido pelo Ministério da Infraestrutura, e, em 2023, obteve o Selo Pró-Ética, iniciativa da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Instituto Ethos que visa a promoção de um ambiente corporativo mais ético, íntegro e transparente.

Atualmente, emprega mais de 15 mil pessoas de diferentes nacionalidades em mais de 30 obras espalhadas por países das Américas e da África.

Com Diego Felix


Deirdre Nansen McCloskey, Ela vencerá em novembro, FSP

 

Pode apostar. Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos e a recomendação do presidente Joe Biden ao anunciar sua saída de cena na semana passada, será candidata pelo Partido Democrata e liquidará Donald Trump na eleição em novembro.

Graças a Deus.

Trump já foi condenado por diversos crimes, o que ele interpreta como perseguição política. Não é. Ele é um criminoso, nem tanto na linha em que Lula é ou como Jair Bolsonaro queria ser. O pior crime de Trump foi tentar derrubar uma eleição usando violência. É a principal tática no manual fascista ou comunista — 6 de janeiro no meu país, 8 de janeiro no seu.

A vice-presidente dos EUA e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, fala na sede de sua campanha em Wilmington, Delaware - Erin Schaff/Pool/AFP

Mas Trump perderá para Harris por vários motivos. Um dele é a questão da idade, que levou Biden a desistir e agora pesa do outro lado. Trump tem 78 anos, 20 a mais que Harris, e mostra isso a cada discurso que faz —divagando, choramingando, enchendo de mentiras incríveis, como a Grande Mentira (no estilo Hitler) de que ele venceu a eleição em 2020.

Além disso, Trump não ampliou sua base de eleitores desde 2020. Depois que um lunático atirou contra ele e arrancou sua orelha direita, ele poderia ter ampliado. Mas na convenção republicana, uma semana depois, ele divagou, choramingou e mentiu no mais longo discurso de aceitação de candidatura na história do partido. Se ele tivesse moderado o tom e falado como um adulto, talvez tivesse chegado a novembro com uma vantagem esmagadora. Só que Donald é Donald, e ele é burro. Se fosse inteligente como Erdogan ou Orbán, Putin ou Xi, teríamos sérios problemas.

Graças a Deus.

E tem mais um, Trump vai ficar cada vez mais burro conforme se aproxima a terça-feira, 5 de novembro. Harris é o que nós chamamos em inglês de "biscoito duro" (em português, um osso duro de roer), como promotora e como advogada.

Se houver debate, ela vai fazer dele gato e sapato. Da última vez que debateu com uma mulher (Hillary Clinton, em 2016), Donald começou a vagar pelo cenário na TV de forma tão bizarra e ameaçadora que Hillary ficou atônita e não disse, como Kamala certamente diria: "Pelo amor de Deus, Donald, pare de agir como criança e volte para o seu lugar!"

Pode apostar. E graças a Deus.