terça-feira, 23 de julho de 2024
Em "Ele Está de Volta" o século XXI recebe Hitler de braços abertos, Cinegnose
PSDB diz apoiar Datena e responde: 'Não somos golpistas ou sacanas', diz Perillo, FSP
O presidente do PSDB, Marconi Perillo, reagiu à entrevista do apresentador José Luiz Datena, pré-candidato tucano em São Paulo, em que ele lista condições ao partido para continuar com a pré-campanha e se compara a Joe Biden, presidente dos EUA que desistiu de disputar a eleição.
"O Datena sabe que o PSDB não é um partido dirigido por golpistas ou sacanas", disse Perillo à Folha.
"Eu tenho conversado com ele praticamente todos os dias, e ele está ciente de que, da nossa parte, jamais haverá qualquer motivação que o deixe inseguro. Jamais haverá, da parte de quem dirige o partido no país, no estado de São Paulo e na cidade de São Paulo, qualquer possibilidade de sacanagem com ele", completou o dirigente tucano.
Perillo afirmou ainda que o PSDB não discute a eventual desistência de Datena, mas sim sua eventual vitória. "O que está em jogo não é desistência, o que está em jogo é a possibilidade grande que ele tem de ganhar e fazer um grande governo na cidade de São Paulo, que é a cidade dele."
"Todas as conversas que temos tido têm sido assertivas, e todo o apoio tem sido dado à pré-candidatura dele por todos nós do partido. Ele tem toda a segurança para poder se candidatar a prefeito, apresentar o plano de governo dele, vencer as eleições e fazer um grande governo", completou Perillo.
Datena, que já se filiou a 11 partidos e desistiu de concorrer quatro vezes, afirmou que precisa de respaldo do partido para confirmar sua candidatura e voltou a dizer que, se houver sacanagem ou confusão, ele sequer irá à convenção marcada para sábado (27).
Dirigentes tucanos procurados pela reportagem, no nível municipal, estadual e nacional, afirmaram manter a expectativa de que ele seja, sim, candidato –apesar das portas de saída elencadas na entrevista. O discurso foi o de que o partido colabora e dá todas as condições para que ele concorra.
Já opositores de Datena dentro do PSDB, que integram a ala que apoia o prefeito Ricardo Nunes (MDB), demonstraram irritação com o apresentador pelas falas acusatórias em relação ao partido e pelo que enxergaram como falta de disposição em reconstruir a legenda.
segunda-feira, 22 de julho de 2024
Muniz Sodré - Política de vexame, FSP
Ainda circula nas redes a cena em que Bolsonaro entrega a Milei sua medalha de "imorrível, imbrochável e incomível", com um dos filhos tentando traduzir os termos para o espanhol. Pode-se perguntar por que reportar uma baixaria dessas, quando a memória coletiva já está saturada dos episódios repugnantes a cargo de ambos. Mas o ato recente ocorre num quadro de estresse de variáveis essenciais da vida política, levado além do que seria normal chamar de zona crítica, e pelo visto peça de uma estratégia.
Antecedentes: Milei trocou a cúpula do Mercosul pelo festival em Camboriú, numa provocativa violação dos protocolos de Estado. Isso soa irrelevante na Argentina de hoje, onde se normalizou um hiato entre a atividade de uma camarilha de estrategistas políticos e a obsessão presidencial em transformar a economia num laboratório de ciência própria, supostamente para tirar o país da crise. Nada a ver com resgatar da miséria o povo, que nela mergulha cada vez mais, e sim assegurar a continuidade do sistema à hegemônica correlação de forças financeiras.
Nas crises, o ecossistema capitalista admite uma "fascioesfera", um buraco negro da moral, que oscila entre a violência e o grotesco. Daí o cambalacho de dar corda à alucinação protofascista de um presidente com boa ressonância popular, desde que fixado em seu real interesse: a experiência de uma economia neoliberal extremista, vigiada de perto pelo FMI. A principal estrategista política, além de um jovem conselheiro, é sua irmã, mediadora do diálogo com Conan, o cachorro já falecido. Os estrategistas econômicos fingem de cachorro morto.
O problema da armação publicitária é a fadiga do recurso, que transborda da zona crítica da política, inteligível no âmbito de relações diplomáticas, para ofensas pessoais a autoridades de países como Brasil, Bolívia, Colômbia e Espanha. Milei adora xingar. Mas a vinda ao Brasil, além de mostrar que existe uma política do vexame, sinalizou que a exportação da palhaçada já não obtém a repercussão esperada.
O que resta é o vazio da mobilização, pontuado por eventos horripilantes como a entrega da medalha. O vídeo deixa evidente que o argentino apenas fingiu entender o significado da inscrição. A pobreza do espanhol falado teria levado um dos presentes a abaixar as calças e gesticular com o dedo para traduzir "incomível". Uma variante do "golden shower". Mas de nada importa qualquer entendimento racional, porque na fascioesfera o grotesco escatológico afirma-se sozinho. Incompreensível mesmo a olhos públicos é que governadores de estado acolham, pagando, a patuscada, e que uma parcela da população vibre contente.