terça-feira, 16 de julho de 2024

Projeto mostra a verdadeira face de Trump, NYT Paul Krugman - FSP

Não vou especular sobre o efeito da tentativa de assassinato de Donald Trump no sábado (13) na corrida presidencial de 2024. No entanto, vou fazer uma observação: alguns na direita política estão usando o ataque para insinuar que a crítica aos esforços passados de Trump para reverter os resultados da última eleição, ou qualquer sugestão de que ele represente uma ameaça à democracia, agora está fora dos limites.

Mas duas coisas são verdadeiras ao mesmo tempo: violência política é inaceitável, ponto final. E os esforços de Trump e de seus apoiadores mais radicais para minar a democracia americana continuam sendo inaceitáveis.

Com a convenção republicana desta semana, é importante entender as possíveis ramificações tanto de sua plataforma oficial quanto de suas aspirações não oficiais, incorporadas pelo Project 2025.

O candidato republicano Donald Trump, 78, é visto com sangue no rosto cercado por agentes do serviço secreto ao ser retirado do palco em comício de campanha na Pensilvânia - Brendan McDermid - 13.jul.2024/Reuters

Para quem é novo nisso, o Project 2025 é um plano feito por e para alguns dos aliados próximos de Trump, elaborado pela Heritage Foundation, para garantir que, se Trump vencer em novembro, o movimento Maga [Make America Great Again, slogan do ex-presidente] começará a agir imediatamente.

Ele busca fornecer "tanto uma agenda governamental quanto as pessoas certas no lugar certo, prontas para executar essa agenda no primeiro dia do próximo governo conservador".

Os detalhes estão descritos em um documento de aproximadamente 900 páginas, "Mandate for Leadership" [Mandato para a Liderança], com planos de ação específicos para muitas partes do governo federal.

Quão radical é a agenda do Project 2025? No início deste mês, Kevin Roberts, presidente da Heritage, afirmou que o país está no meio de uma "segunda Revolução Americana" que ocorrerá sem derramamento de sangue "se a esquerda permitir".

Os republicanos parecem, no entanto, ter percebido tardiamente que grande parte do que está no Project 2025, especialmente seu ataque em várias frentes aos direitos reprodutivos, é profundamente impopular.

Trump tentou se distanciar do projeto, afirmando na semana passada que não sabe "nada" sobre ele, embora muitas das pessoas que trabalharam nele sejam ex-funcionários e assessores de Trump, e embora em 2022 Trump tenha dito em uma conferência da Heritage que seus apoiadores "iriam lançar as bases e detalhar planos para exatamente o que nosso movimento fará".

De forma mais geral, uma vez que Trump nunca se mostrou um especialista em políticas, há todas as razões para acreditar que, se ele vencer, ele deixará, como fez em seu primeiro mandato, grande parte da formulação de políticas detalhadas para pessoas que se preocupam com os detalhes —então é mais do que razoável pensar no Project 2025 como um guia do que poderia acontecer em um segundo mandato de Trump.

O que isso significaria? Há muitas coisas para se opor no Project 2025, mas eu argumentaria que a coisa mais importante está na seção intitulada "Taking the Reins of Government" [Assumindo as Rédeas do Governo].

Há muito nesta seção, mas basicamente ela pede a substituição de grande parte do serviço público federal, que consiste principalmente de servidores públicos de carreira um tanto isolados de pressões partidárias, por nomeados políticos que podem ser contratados ou demitidos a qualquer momento.

Na verdade, Trump deu um passo significativo nessa direção perto do final de seu mandato, emitindo uma ordem executiva que criou uma categoria de indicado político, o Schedule F, que teria permitido a substituição de muitos funcionários de carreira por leais partidários.

O presidente Biden revogou essa ordem, mas o Project 2025 a traria de volta de alguma forma —provavelmente em uma escala muito maior.

De certa forma, isso representaria um grande passo ao passado. Durante grande parte do século 19, o governo federal operava no "sistema de espólios", no qual os novos governos demitiam muitos funcionários e os substituíam por apoiadores políticos.

Esse sistema tinha grandes problemas: muitos indicados careciam da experiência e competência necessárias para desempenhar suas funções, e a rotatividade constante era um convite aberto ao compadrio e à corrupção.

Em 1883, menos de dois anos depois que o presidente James Garfield foi assassinado por um homem desequilibrado e descontente em busca de um cargo político, o Congresso aprovou a Lei Pendleton, que criou um serviço civil profissional no qual a maioria dos funcionários não pode ser demitida ou rebaixada por motivos políticos.

Havia razões muito boas para essa reforma na época, mas o argumento para isolar a maioria dos funcionários do governo da pressão partidária é muito mais forte agora.

Veja bem, em 1883 o governo federal tinha uma presença muito menor na vida americana; os gastos federais eram apenas um pouco mais de 2% da economia. O governo federal de hoje é cerca de 10 vezes maior e também tem um grande impacto por meio de sua regulação de tudo, desde poluição até aplicação de leis antitruste.

Agora, imagine politizar as grandes partes de nosso governo que atualmente são relativamente apolíticas. É muito fácil imaginar um presidente sem escrúpulos usando o poder que isso lhe daria para recompensar amigos e punir oponentes em todo o país.

Lembre-se, durante as fases iniciais da pandemia de Covid-19, Trump sugeriu abertamente que talvez não ajudasse os estados cujos governadores não o apoiassem: "É uma rua de mão dupla. Eles também têm que nos tratar bem."

Se ele vencer e o Project 2025 entrar em vigor, ele estará em posição de se envolver nesse tipo de pressão em grande escala.

Há muitas outras coisas no Project 2025, sobre as quais falarei em futuras colunas. Por enquanto, vamos apenas dizer que é tão ameaçador quanto os críticos relatam. E, apesar das tentativas desonestas de Trump de se distanciar do projeto, nos dá uma boa ideia de como poderia ser um segundo mandato dele. 

Tigrinho liberado, investidor compra R$ 10 milhões em ações da Americanas e o que importa no mercado, FSP

 

TIGRINHO LIBERADO

O governo Lula decidiu regulamentar os jogos de azar online, como o Fortune Tiger, mais conhecido por "jogo do tigrinho". A decisão deverá acabar com incertezas sobre as plataformas no Brasil.

Legais ou não? Apesar de os jogos de azar serem proibidos desde 1946, os caça-níqueis online se aproveitam de um brecha no projeto que regulamenta as apostas esportivas —apenas elas—, mas menciona "jogos eletrônicos aleatórios".

Agora, o Ministério da Fazenda decidiu submeter os jogos de azar às mesmas regras das "bets". A decisão será publicada nos próximos dias, e a regulamentação começa a valer em 1º de janeiro de 2025.

Quais são as novas regras:

  • Jogos de apostas online deverão ser certificados por laboratórios credenciados para garantir que o jogo não tem algoritmo "viciado";
  • Sites terão de ser hospedados no Brasil, sob o domínio ".bet.br";
  • A publicidade do jogo deverá indicar que ele é para maiores de idade;
  • Será proibida a participação de pessoas famosas em anúncios.

Entenda: os jogos de azar online são parecidos com os tradicionais cassinos e caça-níqueis, em que se depende totalmente da sorte. São apontados como viciantes por especialistas.

↳ Investigações da Polícia Civil a que a Folha teve acesso mostram casos de prejuízos de até R$ 200 mil.

Tigrinho x bets. As apostas esportivas não são consideradas jogos de azar. A diferença é que o apostador sabe o quanto pode ganhar com base no risco de perder.

Terra sem lei. Levantamento da Folha encontrou 616 bets que distribuem o jogo do tigrinho no mês de junho. Nenhum tinha domínio ".br", que indica hospedagem em servidor brasileiro.

Há também uma enxurrada de anúncios nas redes sociais. Nas últimas semanas, usuários no Instagram têm reportado assédio de perfis falsos que fazem abordagens sobre o tigrinho.

↳ O governo proibirá publicidade de sites sem cadastro no Ministério da Fazenda e vai atuar junto ao Banco Central para impedir a saída de recursos financeiros por sites irregulares.

O saldo da conta. As bets movimentam R$ 110 bilhões ao ano no Brasil. O valor inclui apostas esportivas, caça-níqueis e até transmissão ao vivo de roleta, segundo dados da ANJL (Associação Nacional de Jogos e Loterias).

Com a regulamentação, a estimativa da Fazenda é arrecadar até R$ 12 bilhões ao ano.

Biden pede aos EUA para ‘baixar a temperatura’., MEIO

 “É hora de baixar a temperatura.” Essa foi a tônica do pronunciamento de seis minutos à nação (íntegra no YouTube) que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez na noite de domingo sobre o atentado sofrido na véspera pelo ex-presidente Donald Trump. Biden reconheceu que a paixão está alta em ambos os lados da disputa e que há questões fundamentais em jogo na eleição. “Mas não podemos jamais decair para a violência”, afirmou, conclamando a população a se unir contra a radicalização. “Nós debatemos e discordamos, comparamos... mas na América nós resolvemos nossas diferenças nas urnas”, afirmou. “A política não deve jamais ser literalmente um campo de batalha.” Biden voltou a pedir que não sejam feitas especulações antes de se saberem os motivos do atentado e, com um certo tom de campanha, listou no rol da violência política a invasão do Capitólio por apoiadores de Trump e outros ataques a políticos democratas. Mais cedo, Biden anunciou uma “revisão independente” da segurança do ex-presidente. (AP)

Trump chegou na noite de domingo a Milwaukee, no estado de Wisconsin, onde começa hoje a convenção que deve confirmá-lo como candidato republicano à Casa Branca. O comando de campanha do ex-presidente fez circular um memorando à equipe que novas medidas de segurança estão sendo implementadas. Segundo Brian Schimming, presidente do diretório republicano no estado, o Fiserv Forum, palco da convenção, é “provavelmente uma das áreas mais seguras do planeta” no momento. (Politico)

Novas informações sobre Thomas Mathew Crooks, suspeito de ser o atirador, começaram a circular, embora ainda não haja indicação dos motivos do crime. O FBI acredita que Crooks agiu sozinho e o tiroteio estava sendo investigado como um potencial ato de terrorismo doméstico. O jovem de 20 anos, morto pelos agentes de segurança, vivia com os pais em Bethel Park, foi um aluno premiado no Ensino Médio, mas era considerado solitário por colegas. Frequentava um clube de tiro e trabalhava em um centro de reabilitação na cidade. Também não dava sinais de ser violento. Já o espectador morto no comício foi identificado como Corey Comperatore, um ex-chefe do corpo bombeiros de 50 anos. Segundo o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, Comperatore usou o próprio corpo para proteger a família quando os tiros começaram. (NBC News e CNN)

Inicialmente elogiado, o Serviço Secreto dos EUA está agora recebendo críticas por sua atuação. A principal é sobre como Crooks conseguiu chegar armado ao telhado de um prédio a apenas 140 metros de onde Trump discursava. A alegação de que o edifício estava fora do perímetro de segurança não agradou, uma vez que um fuzil do tipo AR tem alcance de grande precisão a até 400 metros. (CNN)

Então... O atentado contra Donald Trump é mais um na longa lista de ataques contra presidentes e candidatos à Casa Branca — e cinco deles foram fatais. (Estadão)

David Frum: “O desprezível atentado contra Trump assegura agora a sua posição imerecida como aliado nos rituais de proteção da democracia que ele despreza. As expressões apropriadas de consternação e condenação de todas as vozes proeminentes na vida americana têm o efeito adicional de habituar os americanos à legitimidade de Trump. Perante tal indignação, a prática familiar e adequada é sublinhar a unidade, proclamar que os americanos têm mais coisas em comum do que aquilo que os divide. Essas palavras reconfortantes, verdadeiras no passado, são menos verdadeiras agora.” (The Atlantic)

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A pesquisa “A Cara da Democracia” mostra que o apoio de Lula a candidatos nas eleições municipais ajuda mais e atrapalha menos do que o de Bolsonaro. Foram 40% dos entrevistados que rechaçaram votar em um aliado do petista, enquanto 53% ao menos consideram essa possibilidade. Já no caso de Bolsonaro, 49% rejeitam votar em um candidato que receba seu apoio. Os que ao menos consideram votar em um aliado dele são 46%, mas apenas dois em cada dez eleitores dizem que o apoio garantiria seu voto. O levantamento foi feito entre os dias 26 de junho e 3 de julho pelo Instituto da Democracia, que reúne pesquisadores da UFMG, Unicamp, UnB e Uerj. Os dados apontam também que PT e PL concentram os brasileiros que têm simpatia por algum partido: entre os 23% dos entrevistados que dizem simpatizar com alguma legenda, 52% optam pelo PT e 23% pelo PL. (Globo)

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Agentes da Polícia Federal que participam das investigações sobre o esquema de espionagem ilegal feito durante o governo de Jair Bolsonaro acreditam que o ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem, hoje deputado pelo PL-RJ, possa ter outras gravações comprometedoras do ex-presidente, conta Bela Megale. A PF está fazendo uma busca no computador de Ramagem, apreendido em janeiro durante operação sobre a “Abin paralela”, que teria espionado ilegalmente ministros do STF, políticos e jornalistas. Os policiais já descobriram a gravação de uma reunião na qual Ramagem e Bolsonaro discutiram formas de blindar o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), então investigado por prática de “rachadinha”. Segundo aliados, o ex-presidente está furioso por ter sido gravado e por Ramagem ter preservado o arquivo comprometedor, o que pode abortar a candidatura do ex-diretor da Abin à prefeitura do Rio. (Globo)

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Meio em vídeo. No Diálogos com a Inteligência desta semana, Christian Lynch recebe Luiz Augusto Campos, doutor em Sociologia e professor de Ciências Políticas do IESP-UERJ. Ele fala sobre a cara da nova esquerda no Brasil, as mudanças em relação à esquerda tradicional e o identitarismo. Diálogos com a Inteligência é uma parceria do Meio com a revista Insight Inteligência. (YouTube)