segunda-feira, 15 de julho de 2024

Planta piloto em Itaipu transforma biogás em óleo sintético, FSP (muito importante)

 Catarina Scortecci

CURITIBA

Com recursos do governo alemão, o CIBiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis) instalou uma planta piloto na Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR), que é capaz de transformar biogás em óleo sintético, também conhecido como bio-syncrude ou petróleo verde. O investimento do Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ) foi de 1,8 milhão de euros.

A unidade inaugurada em junho é de pequeno porte –tem capacidade para gerar até 6 litros por dia—, mas o plano é encontrar parceiros comerciais para ampliar a planta, o que permitiria o refino do óleo sintético em produtos como SAF (Sustainable Aviation Fuel) ou metanol verde, por exemplo.

máquinas de conversão de biogás
Inaugurada em junho na área da Itaipu Binacional, planta piloto transforma biogás em óleo sintético. Capacidade é de 6 litros por dia - Divulgação/Itaipu Binacional

"Está caminhando bem [a busca por parceiros comerciais] porque combustível de origem renovável é uma discussão mundial, uma corrida contra o tempo. Quem se credencia para conhecer este cenário todo, antes de outros, acaba ganhando mais tração", diz o diretor-presidente do CIBiogás, Rafael Gonzalez, sem revelar os nomes dos possíveis investidores. Segundo ele, trata-se da primeira planta piloto do país para produção de óleo sintético a partir do biogás.

"Com a planta piloto, queremos conhecer qual a escala possível de chegar a partir desta tecnologia para daí poder ter a comercialização de um produto final, que pode ser SAF ou metanol verde", antecipa ele, ao lembrar que o metanol hoje utilizado pela indústria brasileira é importado.

"A produção de SAF no Brasil também está começando agora e entendo que a gente tem um mercado interno bastante robusto antes de pensar no mercado externo", continua. Gonzalez diz que o setor aposta na aprovação do projeto de lei em trâmite no Congresso Nacional que obrigaria companhias aéreas a atingir uma utilização mínima de combustível verde (SAF) até 2030.

"Vamos continuar investindo nesta planta por muitos anos ainda, porque é um ativo. Mas o produto em si, a produção comercial, seria daqui 3 anos para frente", estima ele, que prefere não falar em valores ainda.

"Toda ruptura de conhecimento tem risco do ponto de vista de investimento. Por isso a gente está trabalhando numa escala piloto, para administrar os riscos, e ter uma condição de planejar uma escala com visão comercial", resume Gonzalez.

unidade física que abriga catalisadores
Inaugurada em junho na área da Itaipu Binacional, planta piloto transforma biogás em óleo sintético. Capacidade é de 6 litros por dia - Divulgação/Itaipu Binacional

Criado pela Itaipu em 2013, o CIBiogás é uma associação privada, sem fins lucrativos, de desenvolvimento tecnológico com foco no mercado de biogás e de biometano. Além do CIBiogás, que captou os recursos junto ao governo alemão por intermédio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, outros parceiros atuaram na implantação da planta piloto, como a UFPR (Universidade Federal do Paraná), a Fundação Araucária e a própria Itaipu.

O lixo orgânico transformado em biogás pelo CIBiogás, por exemplo, vem dos restaurantes da usina hidrelétrica, e eventualmente de cargas apreendidas pela Receita Federal em operações de fiscalização na região.

"São cerca de 150 kg de resíduos diários que são tratados nesta unidade de demonstração de biogás e biometano, que já funciona há sete anos. São sobras nos pratos dos restaurantes e o que sobra da preparação dos alimentos também", explica Rogério Meneghetti, superintendente de Energias Renováveis da Itaipu.

"E como é uma região que tem muita apreensão de cargas, a gente tem uma parceria com a Receita Federal, para que os produtos não sigam para o aterro. Então é tudo triturado e colocado no biodigestor, que gera o biogás", continua ele.

Um processo de purificação do biogás para chegar ao biometano (biogás sem o CO2, análogo renovável ao gás natural), também feito pelo CIBiogás, já é aproveitado hoje na Itaipu. "Temos frota de veículos com biometano. Agora estamos trabalhando para que o ônibus de turismo rode com biometano também", revela Meneghetti.

UFPR DESENVOLVEU CATALISADORES

A conversão do biogás no chamado gás de síntese e, depois, no óleo sintético, envolvem dois catalisadores, construídos no laboratório do professor Helton José Alves, da UFPR em Palotina, conforme explica o professor Luiz Pereira Ramos, que também participou da criação da planta piloto em Foz.

"Resíduos orgânicos das mais diversas origens são fermentados, gerando biogás. Esse biogás é impuro, tem uma série de contaminantes, e o que nos interessa no biogás é apenas o CO2 e o metano. Então esse biogás é refinado", inicia o professor, ao lembrar que tanto a produção do biogás quanto a purificação dele já são tecnologias operadas pelo CIBiogás antes mesmo da instalação da planta piloto no mês passado.

"Agora, a planta piloto pega este biogás refinado para submetê-lo a uma reforma catalítica. O primeiro catalisador serve para converter o CO2 e o metano em CO (monóxido de carbono) e hidrogênio. Essa mistura de CO com hidrogênio é chamada de gás de síntese", continua ele. "Ou seja, é uma estratégia de produção de hidrogênio a partir do resíduo orgânico. Lixo gerando o combustível de maior sustentabilidade que se conhece, que é o hidrogênio", explica Ramos.

O gás de síntese, continua o professor, segue para uma segunda etapa, que se chama síntese de Fischer-Tropsch. "Desse processo, que também é catalítico, é produzido o óleo bruto, o óleo sintético, que é uma mistura que pode ser fracionada. E essas frações teriam que ter suas propriedades ajustadas para atender as especificações do mercado", explica ele, em referência ao desenvolvimento de combustíveis verdes, como o SAF, por exemplo.

"Essas etapas de fracionamento e beneficiamento ainda não chegaram", completa o professor.

Alvaro Costa e Silva - Bolsonaro fez da Abin um puxadinho da família, FSP

 "O passado nunca está morto. Nem sequer passou", escreveu Faulkner. Para entender o presente é preciso voltar à reunião ministerial de 22 de abril de 2020, que é a mais sincera caricatura dos maus bofes e dos verdadeiros interesses de Bolsonaro.

Com a assistência num misto de entusiasmo e medo, ele espumava: "Eu não vou esperar foder a minha família toda, ou amigos, porque não posso trocar alguém na ponta da linha. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele? Troca o ministro".

Vem daí a cisão de Bolsonaro com Sergio Moro (que logo fez as pazes, o assessorou no pleito de 2022 e hoje não vê crime nas joias surrupiadas). Escorraçado do Ministério da Justiça, Moro acusou o capitão do óbvio: intervenção na Polícia Federal. Em setembro de 2022 a vice-procuradora da República Lindôra Araújo defendeu o fim da investigação. Enquanto isso, o ex-presidente tentou indicar Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da PF, mas o ministro Alexandre Moraes, do STF, suspendeu a nomeação.

Em sua decisão, Moraes afirmou que a PF não é "órgão de inteligência da Presidência da República". Bolsonaro dobrou a aposta, fazendo de Ramagem o chefe da Abin. Na reunião de 2020, ele já havia revelado ter um sistema particular de informação. A Abin paralela tornou-se oficial, encarregada de agir contra o Judiciário (as conversas referem-se a atirar na cabeça de Alexandre de Moraes), o Congresso e o sistema eleitoral, num ensaio para a instalação do regime autocrata que viria com o segundo mandato ou com o golpe.

O verniz ideológico camuflou o objetivo maior: que a família continuasse com seus negócios. Não à toa o senador Flávio conseguiu quitar de forma antecipada a mansão que custou mais de R$ 6 milhões. "Todos os recursos são fruto do suor do meu trabalho", disse o filho 01, que deve transpirar num único dia cataratas inteiras.

'Here' inaugura nova era da inteligência artificial no cinema, Becky S. Korich FSP

 O maior paradoxo do mundo moderno é a nossa relação com a IA: a criação ganhou vida própria, não dá mais para engaiolar o bicho. Corremos o risco da criatura se voltar contra os seus criadores.

filme "Here", de Robert Zemeckis, vencedor do Oscar por "Forrest Gump - O Contador de Histórias", que tem a IA tem um papel central, só estreia em novembro e já está dividindo a torcida: uns o aguardam ansiosamente, outros o rejeitam preliminarmente.

O trailer oficial, lançado recentemente, mostra os atores Tom Hanks e Robin Wright digitalmente rejuvenescidos para viver seus personagens nas fases jovens do drama familiar. O filme foi baseado na obra-prima de Richard McGuire, uma graphic novel, publicada no Brasil com o mesmo nome, "Aqui". A pequena amostra do longa é bonita, a escolha da música (banda Yes) combina, o filme parece irresistível, mas me causou sensações mistas e visões confusas, obviamente influenciadas pelos sentimentos igualmente mistos que tenho sobre o limite do uso da IA no cinema e nas artes.

Homem branco de cabelos escuros abraça mulher branca e loira; eles estão na sala de uma residência; é possível ver uma lareira, sofás, um abajur aceso e outros objetos de decoração ao fundo
Tecnologia rejuvenesceu Tom Hanks e Robin Wrigh no filme "Here", do diretor de Forrest Gump, Robert Zemeckis - Sony Pictures

Parece que colocaram os atores no FaceApp e transportado para o filme. Vi na tela os personagens de Hanks dos seus filmes dos anos 1980 e 1990, mas não consegui enxergar o personagem do próprio filme "Here" mais jovem. Sua expressão, uma mistura heterogênea de Hanks de hoje e do passado, não me soou precisamente real. Wright também não convenceu, o brilho dos olhos estava desbotado, o olhar longe.

Implicância minha? Provavelmente.

Zemeckis, considerado o pioneiro em efeitos visuais e computação gráfica nos seus filmes, como "De Volta para o Futuro Parte II", "Uma Cilada para Roger Rabbit" e o próprio "Forrest Gump", se superou. Os truques digitais usados no seu novo filme são muito mais sofisticados do que os já vistos até hoje e representam um novo marco no cinema.

Um enorme conjunto de dados com base nos arquivos dos atores acumulados por décadas, fez o modelo de IA "entender" como uma versão mais jovem deles se expressaria em cada situação. Depois de gravarem as cenas, camadas de versões mais jovens foram sobrepostas a eles, partindo das suas expressões atuais. Parece genial, mas é exatamente esse o problema: nenhuma pessoa (real) pode ter a mesma expressão durante trinta anos.

Não se trata apenas de feição e pele; a história de vida molda a pessoa, sua personalidade e a maneira de se expressar, coisa que nenhuma IA pode compreender.

Diferentes atores mais jovens poderiam representar, com mais alma, os personagens nas várias fases da vida dos personagens. A grande, e crucial, diferença é que a IA imita, enquanto os atores interpretam.

Quando se assume que outros atores estão vivendo os personagens, e não reproduzindo padrões, ficamos relaxados para mergulhar no filme e nas viagens que ele nos leva. Diferente da IA, quando tem a pretensão de "ser", o que provoca uma tensão e rouba a emoção que o filme poderia transmitir.

A IA é um ponto sensível da indústria do entretenimento, embora as questões éticas e regulamentares ainda estão longe de ser resolvidas. Alguns amam, como Zemeckis, outros odeiam e a consideram "um insulto à própria vida", como pensa o diretor de animação Hayao Miyazaki.

Por mais perfeita que seja a IA, é difícil escapar do vale misterioso, a estranheza que as reproduções humanas causam no nosso cérebro. Há um ano, Elis Regina foi ressuscitada em uma propaganda de gosto duvidoso, cantando ao lado de sua filha Maria Rita. Meu cérebro foi um dos que se recusou a processar as imagens.

Uma antítese ao novo mundo pós IA é a trilogia "Antes do Amanhecer", "Antes do Pôr-do-sol" e "Antes da Meia-Noite", umas das histórias de amor mais lindas do cinema, que conta o relacionamento de Jesse (Ethan Hawke) e Céline (Julie Delpy) em diferentes fases, nos anos 1994, 2003 e 2013. São os mesmos personagens e os mesmos atores: todosam adureceram juntos. Será que se na época tivesse a IA de hoje, essa história de amor teria acontecido?

A inevitabilidade da IA em nossas vidas, tanto para aspectos positivos quanto negativos, é inquestionável e não seria diferente no cinema. É essencial que os artistas se adaptem às mudanças tecnológicas, não só aceitando, mas aproveitando as novas possibilidades que a IA oferece. Mas, para continuar a ser arte, é ainda mais essencial que seja preservada a singularidade e o toque humano nas criações. O bicho tem que ser domado.

Se o diretor de "De Volta para o Futuro" levou Tom Hanks de volta para o passado em "Here", só vamos poder conferir em novembro.