"O passado nunca está morto. Nem sequer passou", escreveu Faulkner. Para entender o presente é preciso voltar à reunião ministerial de 22 de abril de 2020, que é a mais sincera caricatura dos maus bofes e dos verdadeiros interesses de Bolsonaro.
Com a assistência num misto de entusiasmo e medo, ele espumava: "Eu não vou esperar foder a minha família toda, ou amigos, porque não posso trocar alguém na ponta da linha. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele? Troca o ministro".
Vem daí a cisão de Bolsonaro com Sergio Moro (que logo fez as pazes, o assessorou no pleito de 2022 e hoje não vê crime nas joias surrupiadas). Escorraçado do Ministério da Justiça, Moro acusou o capitão do óbvio: intervenção na Polícia Federal. Em setembro de 2022 a vice-procuradora da República Lindôra Araújo defendeu o fim da investigação. Enquanto isso, o ex-presidente tentou indicar Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da PF, mas o ministro Alexandre Moraes, do STF, suspendeu a nomeação.
Em sua decisão, Moraes afirmou que a PF não é "órgão de inteligência da Presidência da República". Bolsonaro dobrou a aposta, fazendo de Ramagem o chefe da Abin. Na reunião de 2020, ele já havia revelado ter um sistema particular de informação. A Abin paralela tornou-se oficial, encarregada de agir contra o Judiciário (as conversas referem-se a atirar na cabeça de Alexandre de Moraes), o Congresso e o sistema eleitoral, num ensaio para a instalação do regime autocrata que viria com o segundo mandato ou com o golpe.
O verniz ideológico camuflou o objetivo maior: que a família continuasse com seus negócios. Não à toa o senador Flávio conseguiu quitar de forma antecipada a mansão que custou mais de R$ 6 milhões. "Todos os recursos são fruto do suor do meu trabalho", disse o filho 01, que deve transpirar num único dia cataratas inteiras.
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