terça-feira, 23 de abril de 2024

Por que sujar suas mãos com um pouco de terra pode fazer bem à saúde. NYT FSP

 Holly Burns

THE NEW YORK TIMES

Vá em frente, pegue um punhado de terra ou faça uma trilha lamacenta: isso pode beneficiar desde o seu humor até a sua microbiota.

Especialistas já descobriram há muito tempo que um pouco de sujeira pode ser bom para você. Pesquisas sugerem que pessoas que crescem em fazendas, por exemplo, têm taxas mais baixas de doença de Crohnasma alergias, provavelmente devido à exposição a uma variedade diversificada de micróbios.

Especialistas recomendam mexer na terra para melhorar a imunidade - Caroline Tompkins/The New York Times

Na década de 1970, os pesquisadores descobriram uma bactéria que vive no solo, Mycobacterium vaccae, que tem um efeito anti-inflamatório em nossos cérebros, possivelmente reduzindo o estresse e melhorando nossa resposta imunológica a ele.

Mais recentemente, houve uma explosão de interesse nos micróbios que vivem no nosso organismo —com pessoas tomando probióticos, buscando alimentos com culturas vivas e "reintroduzindo" sua flora intestinal. Ao mesmo tempo, os cientistas têm descoberto o amplo papel que os micróbios do solo podem desempenhar em nossa saúde mental e física.

Quando tocamos o solo ou estamos simplesmente ao ar livre, "respiramos uma quantidade elevada de diversos microrganismos", afirma Christopher Lowry, professor de fisiologia integrativa na Universidade Boulder do Colorado.

Um experimento recente na Finlândia descobriu que crianças que frequentavam creches urbanas onde havia um "piso de floresta nativa" plantado possuíam um sistema imunológico mais forte e uma microbiota mais saudável do que aquelas que frequentavam creches com pátios de cascalho —e continuavam a ter bactérias benéficas no intestino e na pele dois anos depois.

Não é bom apenas para crianças; adultos também podem se beneficiar da exposição a micróbios do solo, diz Lowry.

SE JOGUE NA SUJEIRA ENQUANTO VOCÊ SE MOVE

Atividades como mountain bike, acampamento e caminhadas são jeitos fáceis de entrar em contato com um ecossistema microbiano diversificado, explica Lowry. "Acho que subestimamos quanto de exposição recebemos simplesmente estando ao ar livre."

Você pode ser voluntário de um parque, por exemplo, ou então experimentar um pouco de trilha ecológica —uma maneira consciente e sensorial de caminhar na natureza— e aproveitar para tocar um punhado de terra.

"Passe um tempo olhando para ela e inalando os aromas", afirma Amos Clifford, fundador da Associação de Guias e Programas de Terapia de Natureza e Floresta e autor de "Seu Guia para Banhos de Floresta". "Peneire entre os dedos, depois leve as mãos ao rosto."

Para ele, caso se deparar com um riacho enquanto guia uma caminhada, ele convida as pessoas a tirarem os sapatos e pisarem no "fundo lamacento e mole" do corpo d'água, sentindo suas texturas.

Se sujar as mãos e os pés não for suficiente, faça uma corrida de trilha, onde os participantes correm pela lama e enfrentam obstáculos pelo caminho.

PLANTE OU COLHA ALGO

jardinagem sempre foi associada à redução da depressão, ansiedade e estresse, e exige muito tempo trabalhando na terra.

Se a sua dúvida é quando começar, Leigh Johnstone, jardineiro e defensor da saúde mental em Southampton, Inglaterra, conhecido como "The Beardy Gardener" para seus 21 mil seguidores no Instagram, diz: "bem, o que você gosta de comer?"

Tomates são uma das coisas mais fáceis de cultivar, explica ele, porque precisam de pouca atenção e podem ser plantados em um vaso ou cesto suspenso em uma sacada. Ele também sugeriu morangos e hortaliças como manjericão, hortelã ou cebolinha.

Ou crie um jardim de habitat, que usa plantas nativas para atrair e alimentar a vida selvagem, sugere Mary Phillips, que lidera programas de habitat de jardinagem para a Federação Nacional da Vida Selvagem americana.

Se você não tem acesso a um espaço ao ar livre, encontre um local para colher seus próprios produtos, aconselha Ginny Yurich, fundadora do 1000 Hours Outside, uma plataforma que desafia os jovens a passar mais tempo ao ar livre. Ela também sugere ser voluntário para trabalhar em uma fazenda.

FAÇA COMO AS CRIANÇAS FAZEM

Jill Dreves, fundadora do Centro Natural do Urso Selvagem em Nederland, Colorado, tem uma receita simples para se sujar: faça uma torta de lama.

Ela sugeriu algo semelhante a um evento de pintura e degustação: peça a todos que tragam uma forma de bolo antiga e sejam criativos com a lama.

"Traga algumas pedras e contas para decorá-la, colete algumas folhas bonitas, pressione suas mãos ou pés", afirma Dreves, que organizou festas de torta de lama com sua equipe. "Guardamos esse tipo de coisa para as crianças pequenas, mas realmente, como adultos, precisamos fazer mais disso."

Se você tem crianças para entreter, construa um jardim de fadas, recomenda Yurich. Reúna folhas e musgo para criar uma paisagem mágica em miniatura, usando gravetos para construir cabanas, cascas para o chão e pedras para assentos.

Johnstone e sua filha de 2 anos gostam de fazer hotéis de insetos para que os artrópodes encontrem abrigo. Eles também fazem bombas de sementes, que você pode montar a qualquer momento do ano, e depois guardar até a primavera ou outono para jogar pelo quintal, relata Johnstone.

"Muitas pessoas ainda têm essa ansiedade em tocar no solo", diz, mas "isso me faz feliz".

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Veny Santos Os pais encolhem com o tempo?. FSP

 Olho para o seu olhar. Busco perceber para onde mira. Confiro se sua passada está firme o bastante para não tropeçar na travessia. Não confio nos seus joelhos. Empresto os meus. Dou o braço, finco as solas no asfalto e caminho com ela, que antes era gigante, enorme, com a cabeça sempre nublada no alto das ideias e das preocupações.

Agora, pequena, frágil, assim como o seu companheiro de décadas —ontem uma tempestade, hoje garoa fina acompanhada pelo som do rádio FM. São ambos estações transitórias; ela primavera, ele outono. Os pais encolhem com o tempo.

"Cada vez mais eles estão parecendo crianças", lê-se, ouve-se, vê-se por aí e por aqui tal comentário. Há quem o justifique com relatos concretos, ora, afinal já esquecem, os pais, de apagar a luz, de como manejar alguma ferramenta básica, de algumas palavras e seus significados, de manter o equilíbrio do corpo e a velocidade dos pensamentos, de aprender o novo que a cada dia se faz por meio de tecnologias, linguagem, imagens e afins.

O comportamento começa a ser sempre infantilizado quando se apontam limitações e falta de preparo para viver com segurança no presente impaciente. Tudo sempre ligado ao corpo —e não à memória, lembrança, história—, como se ele, em absoluto, definisse a identidade social dos mais antigos. São corpos cansados, logo as mentes, os sentimentos e o saber também, pensam as crias, como se a corporalidade emoldurasse a grandeza da obra de uma vida toda, ainda vívida, importante ressaltar. Há quem veja por outra perspectiva menos limitante e mais constante o envelhecer dos seus e suas. O tempo cresce com os pais.

Quando estudava sobre as concepções de pessoa e bases das identidades sociais de povos africanos pré-coloniais, deparei com a noção de senioridade dos iorubás. Em suma, o respeito às mais velhas não é fruto somente do cuidado com fragilidades físicas, em solidariedade —para não dizer piedade— com o corpo, a partir do corpo, como é frequentemente visto no ocidente. Esse respeito, que pode ser conhecido por meio de leituras não europeizadas a respeito das sociedades iorubanas, vem justamente da noção de que existe ancestralidade, sabedoria, liderança e que tais elementos não se resumem à visão ocidental de "poder, comando, governo, privilégio".

Muito pelo contrário, trata-se de responsabilidade com seu povo, um papel fundamental para a sobrevivência das gerações. Por essa razão —e tantas outras ligadas à senioridade— o respeito às antigas e aos antigos reflete a reverência à ancestralidade e à própria comunidade em que se vive. É um respeito que está para além do corpo "debilitado". Trata-se de um respeito intangível, logo, indestrutível e atemporal.

Cerimônia iorubá em Mongaguá (SP) - Karime Xavier/Folhapress

Sinto-me, por vezes, pai dos meus pais. Sou cada vez mais responsável por manter sua segurança, garantir que consigam se sustentar. E sinto-me bem, ainda que autopressionado pela necessidade de renda, moradia, acesso à saúde, qualidade de vida que tanto falta. A realidade de quem é filho cuja herança foi o "Silva Santos" em muito é essa e a felicidade não poderia revelar-se de outra maneira senão quando conseguimos dar aos nossos "velhos" algo de que precisam ou, mais do que isso, algo que eles querem.

Mãe, vó, pai, vô, se a cada ano se tornam mais "crianças", o que nós, os ditos adultos —para eles eternos pivetes—, enxergamos diante de tal impressão? Prefiro eu o olhar de aprendizado perante quem do mundo sabe o essencial e não se curva diante das falsas complexidades impostas pela contemporaneidade.

Se por "infantil" se limita apenas a percepção quanto a funções físicas de um corpo que está constantemente se transformando, perde-se a oportunidade única de compreender a passagem do tempo em seres que encolhem sem perder a grandeza. Seres que fazem do tempo o paradoxo de encolher para crescer definitivamente.

Toda vez que dou meu braço para que mãe se apoie enquanto atravessamos a rua, também sou eu a me sentir seguro. De repente, duas crianças, em tempos diferentes, se arriscando a viver.

Ilhabela terá usina de dessalinização da Sabesp, FSP

 A Sabesp publicou edital para a busca de interessados em construir uma usina de dessalinização em Ilhabela (SP) para resolver de vez o problema de falta de água que afeta a cidade, um dos mais procurados balneários de São Paulo.

Segundo o prefeito, Toninho Colucci (PL), a obra, primeira do gênero na região Sudeste, custará R$ 60 milhões e, quando estiver pronta, destinará 15 metros cúbicos de água por dia dentro de 18 meses, prazo para a conclusão.

Fila da balsa entre Ilhabela e São Sebastião na semana após a virada do ano - 17.jan.2024-Adriano Vizoni/Folhapress

"Será preciso ainda fazer um novo reservatório", disse ao Painel S.A.. "O nosso hoje está defasado e não dá conta de atender, especialmente no verão, quando a ilha está cheia de turistas."

O reservatório, no entanto, não consta no edital que a Sabesp publicou. Colucci informa que deverá ser lançado outro edital cerca de três meses após a definição do projeto de dessalinização.

Com Diego Felix