quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Multa da Enel pela demora em ligar luz pode chegar a R$ 370 milhões, FSP

 Alexa Salomão

BRASÍLIA

As penalidades financeiras pela demora em religar a luz após o temporal de sexta-feira (3) podem chegar a 2% da receita operacional líquida da empresa —a medida só é aplicada se forem constatados procedimentos falhos ou indevidos.

No total, sete concessionárias estão sob análise: Enel SP, ESS, Elektro, EDP SP, CPFL Paulista, Piratininga e Santa Cruz.

A multa está prevista em resolução de 2019 da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), explica Sandoval Feitosa, diretor-geral do órgão.

Funcionários da Enel fazem reparos da fiação em Moema, zona oeste de São Paulo; cerca de 600 semáforos ficaram fora do ar com o temporal - Rubens Cavallari/Folhapress

No caso da Enel SP, que sofre as maiores críticas, o valor poderia ficar na casa de R$ 370 milhões, segundo estimativas de quem conhece o balanço da empresa.

A previsão de penalidades é citada em nota divulgada nesta terça-feira (7) pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). O texto foi lido em reunião pública do órgão por Feitosa.

Segundo o diretor-geral, serão avaliados fatores como subdimensionamento de equipes, falta de preparação para restituir o serviço, falha no recebimento de reclamações pelo call center, limitação ou fadiga de canais de comunicação.

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Analistas do setor afirmam que a aplicação de penalidade máxima é rara.

Pela regra, o valor toma como base o resultado referente aos 12 meses anteriores à lavra do auto de Infração e só vale se a distribuidora "provocar, dar causa ou permitir a propagação de distúrbio que ocasione o desligamento de consumidores ou usuários em decorrência de falha de planejamento ou de execução da manutenção ou operação de suas instalações, ou retardar o restabelecimento do sistema."

A nota da Aneel apresenta um balanço das primeiras conclusões e procedimentos após a falta de energia em São Paulo. O diretor da agência destacou que é prioridade fazer valer punições previstas nos contratos de concessão e nas normas do setor elétrico, bem como garantir o ressarcimento rápido dos prejuízos que consumidores sofreram com a demora no reestabelecimento

"Sabemos que a origem foi um forte e grave evento climáticos, no entanto, o cidadão precisa ter o serviço recomposto com a maior brevidade possível", afirmou Feitosa.

O texto também traz um balanço sobre procedimentos punitivos já feito pelo órgão. Nos últimos cinco anos, foram instalados 17 processos de fiscalização nas distribuidoras no estado de São Paulo, e aplicadas R$ 211 milhões em penalidades.

"A Aneel alterou recentemente as regras de compensação aos consumidores que tiveram o seu fornecimento de energia elétrica interrompido", diz Feitosa.

"Essas regras foram aprimoradas no sentido de aumentar o pagamento de compensações por falta de luz.

Neste ano de 2023, os ressarcimentos somam R$ 130 milhões para consumidores afetados por falta de energia, sem contar o evento de 3 de novembro.

A agência também já determinou que as distribuidoras priorizem a análise de prejuízos aos clientes para agilizar o ressarcimento por danos elétricos provocados pela queda de luz com a tempestade.

As empresas se comprometeram a dar agilidade nessa análise durante a reunião sobre o tema que ocorreu em São Paulo nesta segunda-feira (6).

Por determinação legal, a Aneel trata exclusivamente do ressarcimento para equipamentos eletroeletrônicos. Outras prejuízos relacionados à perda de mantimentos ou medicamentos são tratadas em órgãos de defesa do consumidor, como Procon e Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério da Justiça, que inclusive já notificou a Enel, por exemplo.

Segundo Feitosa, os custos adicionais que as distribuidoras tiveram para restituir a energia após a tempestade não podem ser repassados para a conta de luz.

O temporal na sexta atingiu todo o estado de São Paulo, levando a suspensão do fornecimento de energia em 4,2 milhões de unidades consumidores, de 23 municípios, atendidos por sete distribuidoras.

Distribuidoras que estão sob análise das agência

  • Enel SP
  • EDP SP
  • Elektro
  • CPFL Paulista
  • CPFL Santa Cruz
  • CPFL Piratininga
  • ESS

Wallace rejeita acordo e deve virar réu em processo, FSP

 O campeão olímpico de vôlei Wallace Leandro de Souza não aceitou a transação penal proposta pelo Ministério Público Federal no inquérito policial em que é acusado de incitação ao crime contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A rejeição da proposta, nesta terça-feira (7), transforma a possibilidade de acordo em oferecimento de denúncia. O MPF deverá decidir se pretende ouvir Lula na condição de ofendido.

Na audiência preliminar, o MPF propôs ao jogador o pagamento de R$ 10 mil, em até dez parcelas, valor que seria destinado a uma entidade de assistência social a ser definida.

A Advocacia Geral da União discordou do valor oferecido, por considerá-lo insuficiente.

Assistido pelo escritório Décio Freire Advogados, de Minas Gerais, Wallace recusou o acordo, sob o argumento de que há uma investigação na justiça estadual sobre os mesmos fatos.

O juiz federal Jorge Gustavo Serra de Macêdo Costa, da 2ª Vara Federal Criminal de Belo Horizonte, marcou audiência de instrução e julgamento para o próximo dia 14. Na ocasião serão ouvidas as testemunhas e haverá o interrogatório do réu.

Atleta acusado de incitar crime contra Lula pode responder ação penal
Wallace, campeão olímpico de vôlei, em jogo com a camisa do Sada Cruzeiro, de Minas Gerais - Sada Cruzeiro/Divulgação

Em janeiro deste ano, o atleta do Sada Cruzeiro publicou no perfil pessoal do Instagram fotos com uma arma na mão, sugerindo uma enquete, em que pergunta: "Daria uma tiro na cara de Lula com essa 12? Alguém faria isso?" Com alternativas de resposta: "Sim" e "Não".

Diante da forte reação negativa, Wallace retirou a postagem.

A aceitação da transação encerraria o inquérito. Com o recebimento da denúncia, o processo criminal será instaurado. Se Wallace for condenado, deixará de ser primário.

A defesa do jogador havia requerido ao juiz o cancelamento da audiência desta terça-feira para evitar a incidência de bis in idem, até que houvesse decisão sobre a arguição de incompetência do juízo federal para o caso.

O MPF opinou pela continuidade do inquérito.

Os advogados de Wallace entendem que a competência para processamento de crime contra a ordem pública é da Justiça Comum. O expediente na Justiça Comum, com objeto idêntico, tramita desde fevereiro de 2022.

A defesa sustenta que o presidente da República não é vítima do delito de incitação à prática de crime.

Em junho, a Justiça Federal recebeu a segunda representação do presidente da República, visando a apuração do possível cometimento de crimes de ameaça contra a sua pessoa no mesmo contexto dos fatos.

O MPF reiterou o parecer anterior, por entender que a incitação ao crime é o tipo penal que melhor se amolda aos fatos narrados.


A ofensiva do Tet assombra Netanyahu, Elio Gaspari - FSP

 Diplomatas israelenses compararam o ataque terrorista do Hamas ao 11 de setembro de 2001, quando aviões sequestrados por militantes suicidas da Al Qaeda destruíram as torres gêmeas de Nova York, matando cerca de 3.000 pessoas. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu evitou essa comparação. Fez muito bem, porque se há uma semelhança original entre os dois episódios, o paralelo mais próximo é outro, com a ofensiva do Vietnã do Norte e do Vietcongue, durante os festejos do Tet, em janeiro de 1968.

A ofensiva do Tet fracassou militarmente, mas quebrou a espinha dorsal do apoio popular à intervenção americana no Vietnã e custou a ruína política ao presidente Lyndon Johnson. Em março, ele anunciou que não disputaria a reeleição, foi para seu rancho, deixou o cabelo crescer e morreu em 1973. Foram necessários mais de 30 anos para que ele fosse defendido como um grande presidente, noves fora o Vietnã.

Soldado ferido do Vietnã do Sul é carregado durante a ofensiva do Tet, em março de 1968 - AFP

Até a semana passada, os generais israelenses e seu famoso serviço de informações estavam tranquilos. Os egípcios teriam avisado que alguma "coisa grande" estava a caminho. Se esse aviso chegou a Tel Aviv, não se sabe, mas a "coisa grande" aconteceu. Em dezembro de 1967, os generais americanos estavam seguros de si.

No final de janeiro, mais de 50 mil soldados do Vietnã do Norte e cerca de 250 mil vietcongues atacaram bases americanas e dezenas de cidades do Sul. O impensável aconteceu. (Impensável, mas vários avisos foram ignorados.)

Apesar dessa semelhança militar, o paralelo não deve ir muito longe. Mesmo tendo praticado atrocidades, sobretudo na cidade de Hue, os vietnamitas do Norte e os vietcongues não agiam como terroristas, sequestrando inocentes para usá-los como escudos humanos. O Vietcongue atacou a embaixada americana, o Hamas matou 260 pessoas num festival de jovens. (Em 1968, dois generais americanos e um almirante cogitaram usar armas nucleares táticas para defender uma base militar sitiada. Johnson vetou a ideia.)

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Em 2014, quando a tropa israelense entrou na Faixa de Gaza, 1.462 civis morreram. Pelo menos 142 famílias palestinas perderam três ou mais membros, 18 mil casas foram destruídas e 108 mil pessoas ficaram sem teto. Israel perdeu 67 soldados e seis civis.

O Hamas fez do assassinato de civis e dos sequestros de cerca de 150 civis, inclusive mulheres e crianças, o coração de sua ofensiva. Um episódio teve características militares, o outro, características terroristas.

O uso de civis como escudos humanos é uma violência velha como as guerras. Na guerra civil da falecida Iugoslávia, ela custou pesadas condenações a chefes militares, saídas do Tribunal Internacional de Haia. Na batalha pela posse da cidade de Mosul, em 2016, o grupo islamita Isis valeu-se de escudos humanos para mover seus combatentes. O primeiro-ministro Netanyahu comparou os sequestros do Hamas às práticas do Isis. De certa maneira, o que o Hamas fez foi mais radical: os escudos humanos de Mosul eram civis que viviam na cidade. As vítimas do Hamas foram sequestradas em território israelense.

Os pilares da política de Netanyahu caíram na frigideira que fritou Lyndon Johnson. Ao contrário dos regimes árabes do Oriente Médio, Israel tem um regime democrático e liberdade de imprensa.