sexta-feira, 12 de maio de 2023

Startup cria colar que 'traduz' estado das vacas de leite para elevar produtividade, FSP

 

SANTA CRUZ DO SUL (RS)

Coleiras que avisam quando as vacas estão ofegantes ou no cio e registram quantas vezes e por quanto tempo elas comeram são o ponto de partida de uma tecnologia criada para elevar a produção de leite em fazendas no Brasil e outros cinco países.

Criada em 2010 dentro da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pelos irmãos Leonardo Guedes, 37, engenheiro eletricista, e Thiago Martins, 35, engenheiro mecânico, a startup Cowmed saiu da incubadora e entrou no mercado em 2016. Com sede na cidade gaúcha, a empresa ajuda a monitorar mais de 40 mil animais em 444 fazendas de todas as regiões do país.

"Em um rebanho com aproximadamente 200 vacas, você não consegue monitorar uma por uma a olho nu. Agora, de manhã cedo, eu já olho os animais que o sistema alertou de um possível comportamento diversificado", diz Marjori Ghellar, 33, que implantou o sistema em sua propriedade para acompanhar os ciclos reprodutivos dos animais.

Capturadas pelo colar, as informações são enviadas para a nuvem e analisadas pelo VIC (interpretador virtual de vacas, na sigla em inglês), uma ferramenta de inteligência artificial.

"O sistema ajuda a identificar o cio desse animal, ajuda a saber que horas o produtor tem que dar banho nas vacas, porque a coleira sabe os horários que as vacas estão mais ofegantes, se elas estão comendo, e a coleira consegue identificar que horas e o número de vezes que elas comem", diz Guedes.

Vacas leiteiras se alimentam, com colares da Cowmed nos pescoços. Gadget monitora saúde e período fértil dos animais. A vaca é mocha, e o calar é preto com detalhe vermelho
Vacas leiteiras se alimentam, com colares da Cowmed nos pescoços. Gadget monitora saúde e período fértil dos animais - Divulgação/Cowmed

A utilização dos colares pode aumentar a produtividade de leite de 15% a 20%. Contudo, os resultados dependem da situação sanitária de cada propriedade, conforme um dos fundadores da Cowmed, Leonardo Guedes. "É uma média. Depende muito do desafio de cada fazenda, pois uma fazenda que tem problemas sanitários graves vai ter um impacto muito maior que uma que não tem tantos problemas."

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O objetivo do monitoramento é, basicamente, melhorar a qualidade de vida das vacas, fazendo a produtividade crescer. "Costumamos falar que o monitoramento traduz a opinião da vaca. É como se o produtor tivesse um funcionário por vaca relatando tudo que o animal faz. Isso quer dizer que esse mesmo produtor vai perder muito menos vacas porque ele vai saber precocemente que ela vai ficar doente. É uma vaca que muitas vezes poderia ficar pior, não iria dar leite e ele consegue antecipar o tratamento para que essa vaca produza mais", diz Guedes.

Em Tuparendi (RS), na propriedade de Ghellar, o sistema de monitoramento foi adquirido em 2017, com o objetivo de antecipar problemas antes que eles se traudzam em prejuízo. "Tivemos problemas de tristeza parasitária bovina na fazenda e demorava para detectar a doença. Quando a gente via, já estava bem complexo e acabamos perdendo algumas vacas", conta.

O doutor em produção animal e professor da Faculdade de Agronomia e Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo César de Faccio Carvalho, diz que esse tipo de tecnologia integra o que hoje se chama de pecuária de precisão. "Ajudam no objetivo de fazer uma produção animal de excelência e permitem acompanhar os animais de uma forma mais efetiva e com bem mais riqueza de informações dos rebanhos."

Carvalho acredita que o impacto é diferente para a pecuária de leite, a depender da escala e do volume de leite produzido. Assim, a aquisição e a operacionalidade acabam sendo mais difíceis para o pequeno produtor, até por uma questão de preço —cada coleira da Cowmed custa em torno de R$ 20/mês por animal. "Sempre tem os que conseguem se adaptar muito bem e que já estão usando essa tecnologia. Acredito que são impactos diferentes e que o pequeno produtor pode sentir mais no bolso."

Contudo, o especialista observa que tecnologias como a das coleiras são equipamentos e não o processo de produção. "É importante a boa alimentação, a genética, a sanidade, esses são os processos pelos quais podemos atingir uma produção de alta qualidade."

O secretário executivo do Sindilat-RS (Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul), Darlan Palharini, diz que a tecnologia dos colares é importante para a cadeia produtiva. "Além de verificar o período fértil, um aspecto que auxilia muito é o calórico. Principalmente aqui na região Sul, que o gado é basicamente europeu, e no verão, quando o animal ultrapassa 37 graus, ele já tem uma perda de produção e de fertilidade. Toda essa carga tecnológica que hoje está sendo disponibilizada na atividade leiteira vem no sentido de ganho de produtividade, mas o principal é conseguir ofertar aos animais um bem-estar."

A Cowmed começou com capital próprio e, em 2016, foi realizado o primeiro investimento pelo Criatec3 do BNDES. Depois, houve uma segunda rodada em 2019 com investidores locais. Por último, em 2022, a empresa fez uma oferta pública de ações em bolsa secundária via Captable (plataforma de investimentos em startups), onde foram ofertadas ações preferenciais, isto é, qualquer usuário poderia comprar ações sem direito a voto, podendo comprar e vender a qualquer momento.

A empresa foi a primeira do Brasil a inaugurar essa fase no país. Essa última captação foi de aproximadamente R$ 6 milhões. Os fundadores projetam, agora, aumentar a participação no mercado, chegando a 70 mil animais monitorados até o final deste ano.

Além disso, a tecnologia pode impactar a cadeia como um todo, fazendo com que os benefícios cheguem até o consumidor final. "A partir do momento que tem mais leite no mercado, há uma oferta e demanda mais estável, e o comprador vai pagar um preço cada vez mais justo, é uma cadeia virtuosa", completa o fundador.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

ESTADÃO / ECONOMIA / NEGÓCIOS ‘Fusca do Itamar’ custaria hoje R$ 80 mil em valores corrigidos; governo quer carro a R$ 50 mil, OESP

Ressuscitar o chamado carro popular, que ajudou a expandir o mercado brasileiro nos anos 1990, não é tarefa fácil, mesmo que a medida venha com redução de impostos, como ocorreu naquele período. Para incentivar o segmento, o governo da época reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para 0,1%.

O preço para a categoria também foi limitado a R$ 7,2 mil, em valores da época. Hoje, atualizado pelo IGP-M, os modelos apelidados de “pé de boi” e “pelados”, por serem despojados de itens de conforto, segurança e matéria-prima de qualidade, custaria R$ 80 mil, segundo cálculo da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

“E estamos falando de um tipo de veículo que, na época, não tinha nem retrovisor do lado direito, só o do motorista”, disse o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite. Hoje, ressaltou ele, os carros têm airbag e freios ABS - que passaram a ser obrigatórios a partir de 2014. Também há elevado número de semicondutores para atender sistemas de navegação, conectividade e de controle de emissões.

Montadoras, revendedores e governo estudam uma forma de baratear os preços de modelos que já estão no mercado, em especial os chamados “de entrada”, os mais baratos de cada marca, hoje na casa de R$ 70 mil a R$ 80 mil. Os mais em conta à venda, atualmente, são o Fiat Mobi e o Renault Kwid, ambos a R$ 69 mil.

Um valor citado inicialmente pelo governo é o de R$ 50 mil, a ser atingido com redução de impostos, retirada de itens de conforto e design, redução de margem de lucro dos fabricantes e dos revendedores e linhas especiais de crédito com juros subsidiados. Segundo Leite, está em avaliação se a proposta é factível ou não, mas fabricantes como a General Motors já se pronunciaram contrárias ao tema.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou recentemente os preços dos automóveis no Brasil, citando modelos de R$ 70 mil e R$ 90 mil que, em sua avaliação, “não são populares, são para a classe média”.

Os carros mais em conta à venda, atualmente, são o Fiat Mobi e o Renault Kwid, ambos a R$ 69 mil
Os carros mais em conta à venda, atualmente, são o Fiat Mobi e o Renault Kwid, ambos a R$ 69 mil Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Preço alto

O carro brasileiro está caro por uma série de fatores, segundo os fabricantes. Os motivos vão dos altos impostos (antiga queixa do setor) às mudanças tecnológicas que seguem as tendências do mercado global e as novas regulamentações de segurança e emissões internas.

O projeto dos carros populares foi aprovado em 1992, pelo então presidente Itamar Franco. Contemplava modelos com até 1.0 cilindrada, e o primeiro beneficiado foi o Uno Mille, da Fiat, que só precisou fazer pequenas alterações no modelo que já estava em linha dois anos antes.

As outra três montadoras que atuavam no mercado de automóveis na época se apressaram em adaptar seus modelos para usufruir do benefício fiscal. Surgiram então o Gol 1000, da Volkswagen, o Chevrolet Junior, da GM, e o Escort Hobby, da Ford. O Fusca só entrou na categoria por um capricho de Itamar, que sugeriu seu retorno à Volkswagen porque achava que era o verdadeiro carro popular.

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O modelo tinha deixado de ser fabricado em 1986 e foi ressuscitado com o mesmo motor 1.6. Itamar deu um jeito de alterar a regra e incluiu o Fusca. A retomada da produção em 1993 contou com visita do então presidente à fábrica do ABC paulista, com direito a desfilar em uma versão conversível, nunca foi fabricada. Conhecido como “Fusca Itamar”, teve pouco mais de 40 mil unidades vendidas e saiu de linha três anos depois.

Em 1995 o presidente Fernando Henrique Cardoso aumentou o IPI dos “populares” para 7%, e os preços saltaram para cerca e R$ 12 mil, em valores da época. Na sequência de Fusca, Gol, Mille, Junior e Hobby, vários outros modelos marcaram o segmento, e o motor 1.0 permanece no mercado até hoje, com imposto menor que os demais, e equipa desde modelos simples, “de entrada”, até carros com motor turbo, sedãs e SUVs. 

Nunes aposta em recapeamento recorde como bandeira para reeleição, FSP

 A campanha à reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), pretende destacar o recapeamento na cidade como um dos carros-chefes de sua lista de realizações.

Trecho recapeado pela Prefeitura de SP na marginal Tietê - Eduardo Knapp/Folhapress

Segundo dados da prefeitura, foram 5,89 milhões de m² de asfalto colocados na cidade nos últimos 11 meses, contra 3,86 milhões de m² em toda a gestão Fernando Haddad (PT), entre 2013 e 2016, acréscimo de 52%.

Já a gestão de João Doria e Bruno Covas (2017 a 2021) recapeou 9,87 milhões de m², média anual de 2,46 milhões, ou 40% do ritmo de Nunes.

Uma das comparações que aliados de Nunes têm feito é que a metragem do recapeamento na cidade é equivalente à distância entre São Paulo e Montevidéu, capital do Uruguai (1.950 km).

Criticado por problemas de zeladoria e pelo fato de sua administração não ter uma marca definida, Nunes decidiu apostar em obras de cobertura asfáltica como uma vitrine. A avaliação é que elas são de execução relativamente simples e com impacto imediato no dia a dia dos cidadãos.