quinta-feira, 11 de maio de 2023

Vale do Jequitinhonha começa a produzir um dos metais mais valorizados do mundo, FSP

 

BELO HORIZONTE

Uma das regiões mais pobres do Brasil começou a produzir um dos metais mais valorizados e estratégicos do mundo.

Há menos de um mês, em 17 de abril, a mineradora Sigma Lithium iniciou a exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, em projeto com investimentos que já somam R$ 3 bilhões, sendo R$ 1 bilhão a ser aportado ao longo de 2023.

A foto mostra parte da unidade de beneficiamento de lítio no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais
Unidade de beneficiamento de lítio da empresa Sigma Lithium no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais - Sigma Lithium

Projeção da empresa aponta que a região vai receber US$ 500 milhões (R$ 2,5 bilhões) em royalties ao longo de 13 anos com a atividade. Há outras mineradoras com prospecções em municípios próximos como Salinas, na região norte do estado.

O lítio, um metal também chamado de "ouro branco", é utilizado na produção de baterias de automóveis elétricos, o que o torna estratégico em um momento em que a indústria automotiva busca abandonar os combustíveis fósseis.

O Vale do Jequitinhonha reúne 55 municípios, que se concentram ao longo de um rio de mesmo nome. É uma das regiões com o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do estado.

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A mina da Sigma, chamada Grota do Cirilo, fica entre os municípios de Itinga e Araçuaí e tem capacidade de produção inicial de 277 mil toneladas por ano. A segunda fase do empreendimento, em andamento e com conclusão prevista para 2024, aumenta essa capacidade para 440 mil toneladas por ano.

A reportagem tentou ao longo de dois dias contato com os prefeitos de Araçuaí e Itinga, sem sucesso.

O lítio retirado na região é em seguida processado em unidade da empresa próxima à mina, e vale aproximadamente US$ 5.000 (R$ 25.000) a tonelada no mercado mundial hoje. Em seu estado bruto, o metal é cotado a US$ 70 (R$ 350) a tonelada.

O escoamento da produção para o exterior ocorrerá pelo porto de Vitória (ES). Havia a possibilidade disso ocorrer pelo porto de Ilhéus (BA). A armazenagem do lítio, porém, exige armazéns secos e trancados, o que foi encontrado em melhores condições em Vitória.

A CEO da empresa, Ana Cabral-Gardner, não descartou a possibilidade da utilização da Ferrovia Bahia-Minas, que tem previsão para ser retomada, e passa próxima à região. A estrada chega a de Ponta de Areia, em Caravelas (BA). A estrutura portuária a ser implantada no município, no entanto, teria que passar por avaliação.

EMPRESA CONTRATA PROFISSIONAIS QUE HAVIAM DEIXADO A REGIÃO POR FALTA DE OPORTUNIDADES

A expectativa é que 1.000 empregos diretos e 6.000 indiretos sejam gerados na região com a instalação da planta.

A busca por funcionários passou por um programa criado pela mineradora chamado "Volta ao Lar", por meio do qual a empresa contatou e ofereceu postos a profissionais que nasceram e que têm parentes na região, mas que, por falta de oportunidades, saíram da área.

"Contratamos uma engenheira química que estava em Londres, uma geóloga que estava no Canadá e um motorista de caminhão de mina que estava no Rio Grande do Sul", afirma Gardner.

Segundo a CEO, 70% dos mil empregados da mineradora entraram neste programa. "Como os funcionários já têm relação, parentes na região, isso não gera inflação, por exemplo, nos aluguéis. É muito melhor do que trazer mil forasteiros", argumenta a executiva.

A foto mostra parte da linha de produção da mineradora Sigma no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, onde a empresa extrai lítio.
Mineradora investirá total de R$ 3 bilhões até o final de 2023 na planta para exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha - Sigma Lithium

LÍTIO NA TERRA DA CACHAÇA

A cerca de 100 quilômetros, da planta da Sigma, no município de Salinas, cidade famosa pela cachaça, já na região norte do estado, o lítio também é a próxima riqueza a ser explorada.

Segundo o prefeito Kinca Dias (PDT), a empresa australiana Latin Resources Limited prevê investimentos de R$ 600 milhões para extração do metal no município.

A mina de onde será retirado o insumo já passa por sondagens. "Será muito bom para a geração de empregos e desenvolvimento econômico da região", diz Dias.

O prefeito, porém, frisa que o ideal é a extração e beneficiamento do lítio, assim como está ocorrendo em Itinga e Araçuaí.

"Claro que a gente sonha não com a exploração, mas com a transformação da matéria-prima. É o que queremos. O mundo está de olho no lítio. Alguns países já não fabricam automóveis a combustão", afirma.

Um decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), publicado no Diário Oficial da União em 6 de julho de 2022, ajudou a impulsionar os investimentos para exploração do lítio no Vale do Jequitinhonha.

Reprodução de oito bordados em tecidos brancos retangulares pregados em uma parede
Trabalho de bordadeiras do Vale do Jequitinhonha, região carente e de presença marcante na cultura brasileira - Divulgação

As reservas já eram conhecidas, mas havia impedimentos para exportação do metal. Com o decreto, foi facilitado o comércio exterior de minerais e minérios de lítio e de seus derivados.

'LÍTIO VERDE' É REDENÇÃO DE HIDRELÉTRICA IRAPÉ

No início dos anos 2000 a construção de uma hidrelétrica no Vale do Jequitinhonha pela Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) prometia a "redenção" da região, com a atração de investimentos que ajudariam no crescimento econômico dos municípios.

A hidrelétrica, batizada de Irapé, saiu do papel durante a gestão de Itamar Franco como governador do estado (1999/2002).

A energia para a produção de lítio no Vale do Jequitinhonha sairá desta hidrelétrica. A planta foi inaugurada em 2006, mas não cumpriu o prometido. A expectativa é que, agora, isso ocorra. "Nunca houve grandes investimentos na região. Agora, sim", afirma o prefeito de Salinas.

O consultor com atuação no setor de energia Aloísio Vasconcelos, que foi diretor de geração e também de comercialização e distribuição da Cemig no governo Itamar Franco, afirma que a construção da hidrelétrica desbravou a região. "Irapé foi um projeto muito importante e significativo", diz.

O uso da energia hidrelétrica em sua linha de produção é uma das justificativas utilizadas pela empresa para afirmar que produz "lítio verde", ou seja, que a extração do metal tem baixo impacto no meio ambiente.

A mineradora argumenta ainda que todo o rejeito que resulta do processo de beneficiamento do lítio será vendido para fabricação de produtos de qualidade mais baixa.

A possibilidade de comprar energia limpa, como a eólica produzida no nordeste, em função do sistema nacional interligado, e a proximidade de Irapé, são citadas pela CEO da Sigma como importantes para o modo de operação da Sigma.

"Somos uma empresa verde. Não fosse a energia renovável brasileira, teríamos que construir uma planta para gerar a nossa própria energia renovável", afirma Gardner.

Na terça (9), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), lançou na Nasdaq, em Nova York, o projeto Lithium Valley Brazil (Vale do Lítio) para tentar atrair novos investidores para o Vale do Jequitinhonha e região norte do estado.

"Queremos que o Vale do Jequitinhonha se transforme no vale da tecnologia para a produção de baterias e demais produtos de valor agregado", disse Zema, em Nova York.

Do STF para a Suprema Corte americana, Conrado Hübner Mendes -FSP

 Dear Clarence,


Nunca te vimos, sempre te amamos. Sabemos de seu momento delicado na Suprema Corte americana, após carreira em defesa da família patriarcal e da corrosão constitucional. Lemos a carta da organização "Citizens for Ethics" pedindo sua renúncia.

Tudo porque você aceitou férias luxuosas e voos privados pagos pelo bilionário Harlan Crow. Que também pagou escola de sua sobrinha-neta. E comprou três propriedades suas. E ofereceu moradia à sua mãe, livre de aluguel. Os negócios de Crow têm interesses na corte. Antes de tudo, porém, ele é seu amigo. Nós temos muitos amigos.

Homem idoso negro calvo de óculos e batina preta
Clarence Thomas, juiz conservador da Suprema Corte dos EUA - Olivier Douliery - 7.out.22/AFP

A carta afirma que sua conduta "criou impressão de que acesso e influência sobre a corte estão à venda"; que você "não se declarou suspeito"; que "fica cada vez mais difícil pessoas acreditarem que a corte toma decisões baseadas no direito e na Justiça"; que o juiz Abe Fortas, em 1969, renunciou por receber U$ 15.000 por lecionar numa summer school.

E finalizou: "Não conhecemos outro juiz moderno que tenha se envolvido em má conduta tão extrema. Pelo bem de nosso Judiciário e pela fé das pessoas em sua legitimidade, você deve renunciar." Que exagerados. Você precisa nos conhecer.

Lamentamos o ataque às suas prerrogativas e independência. A desconfiança de sua integridade nos atordoa. Aqui, quando isso acontece, ameaçamos. Ou processamos criminalmente. E ainda pedimos indenização que leve o crítico à insolvência. E cale os outros. A falta de noção e argumento nós compensamos com nosso poder de influência e intimidação.

Nossa vida como ministros do STF oferece o que você não tem. Aceitamos honrarias militares assim que chegamos. Nem todos fazem, mas podemos palestrar em bancos sem dar satisfação. Podemos frequentar a Fiesp, trocar WhatsApp com empresários. Podemos ter empresa de educação, negociar patrocínios de bancos, empregar a elite jurídica. Mesmo que a Constituição proíba. Viajamos de graça para frequentar eventos de lobby financeiro pelo mundo.

Advogados podem nos emprestar jatinho para assistir Roland Garros. Podemos descansar em casa de veraneio de ministro de governo cujo pai tem caso criminal sob nossa relatoria. Participamos de festas com a advocacia nos jardins da babilônia brasiliense. Quase toda semana. Recebemos homenagens desses amigos.

Podemos obstruir casos monocraticamente. Podemos pressionar por nomeação de nossos filhos para vagas no sistema de Justiça. Nossos familiares podem advogar na corte. A advocacia remunera bem por sobrenome que abre portas. Não precisamos reconhecer suspeição quando julgamos amigos. Não somos moralistas.

No geral, o jornalismo nos corteja. Em vez das perguntas difíceis, oferece microfone livre e publica nossos recados em off. Se não obedecem, retaliamos. Podemos ser boquirrotos, negociar constitucionalidade, disfarçar aumento remuneratório pela via do auxílio-moradia. É nosso lawfare salarial. Todo ano recebemos prêmios do JusPorn Awards, a festa da pornografia judicial e do nudismo institucional. Lembre-se: não somos moralistas.

Nosso código de ética só se aplica a juízes inferiores. E olhe lá. Enquanto eles precisam produzir a "fumaça do bom juiz" e praticar o decoro, podemos incendiar o parquinho.

Lula está prestes a nomear para a cadeira vaga de ministro um habitué das folias magistocráticas. Para fomentar uma corte de amigos. Amizade é um valor para nós também. Mas tem um pessoal que insiste numa corte diversa, formada por gente independente dos circuitos de favores, jantares e sobremesas. Gente dotada de ideias constitucionais claras e respeitáveis, ciente das urgências constitucionais do país.

Ainda pedem que abandonemos a bonita tradição de homens brancos e ricos o suficiente para não depender de nosso magro salário. Assim ajudamos no combate à desigualdade. Sei que você se orgulha de uma corte que teve Wendell-Holmes e Warren. Mas aqui tivemos Pedro Lessa e Victor Nunes.

Quem sabe você não vem para cá. Somos livres para fazer lobby pela nomeação de nossos sucessores. Os seus problemas estarão resolvidos.

Estamos looking forward. Yours truly.

'Construí minha casa reciclando 35 mil sacolas plásticas', BBC FSP

 Gary Bencheghib é um ativista ambiental que se dedica à limpeza de rios e praias em Bali, na Indonésia.

Só em 2021, um milhão de toneladas de lixo foram recolhidas desse paraíso tropical, segundo dados oficiais compilados pela agência Reuters.

Gary Bencheghib é um ativista ambiental que se dedica à limpeza de rios e praias em Bali, na Indonésia - BBC News Brasil

Desse total, Bencheghib usou o equivalente a 35 mil sacolas plásticas recicladas, trituradas e transformadas em placas para construir sua própria casa.

A pequena construção é sustentável também em uso de energia, já que é abastecida por painéis solares.

Veja como é a casa por dentro neste vídeo: