quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Siderurgia: Indústrias pressionam Haddad para mais uso de estruturas pré-fabricadas no MCMV, OESP

 A indústria do aço pediu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que a Caixa, principal agente financeiro do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), acelere a homologação dos sistemas de construção que utilizam estruturas pré-fabricadas.

Os sistemas de construção industrializados, que usam estruturas metálicas, permitem prazos de obras mais curtos comparados à construção convencional baseada em alvenaria de blocos e concreto armado. As siderúrgicas sustentaram que a solução possibilitaria a redução mais rápida do déficit habitacional do País.

Ministro da Fazenda Fernando Haddad teve encontro com dirigentes das siderúrgicas.
Ministro da Fazenda Fernando Haddad teve encontro com dirigentes das siderúrgicas.  Foto: Adriano Machado/Reuters

Segundo o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, o ministro pediu uma apresentação da proposta. Na reunião com Haddad, o setor defendeu que no Brasil não falta oferta, mas demanda por aço. Assim, além do programa habitacional, foi reforçada a importância da execução de projetos de infraestrutura. “Ele (Haddad) se mostrou interessado, fazendo várias perguntas”, diz Marco Polo.

Fortalecimento da indústria

Na discussão sobre fortalecer a indústria local, as lideranças do setor observaram que os países que adensaram as cadeias produtivas do petróleo, ao invés de apenas produzir o óleo bruto, são os que apresentam melhores índices de desenvolvimento humano. Canadá, Noruega e Reino Unido, além dos Estados Unidos, foram citados como exemplos.

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Os empresários também manifestaram o entendimento de que o gás brasileiro do pré-sal deveria ser prioridade em relação ao do campo argentino de Vaca Muerta. “Ele ouviu e não fez contestação”, relatou Marco Polo.

Participaram da reunião na sexta-feira dirigentes de siderúrgicas como Usiminas, Gerdau e ArcelorMittal.

Qual o custo dos ‘nepo babies’ para a política e para a economia?, Pedro Fernando Nery, OESP

 Obrigado por abrir o noticiário de Economia na terça de carnaval – ainda que tenha vindo pela chamada. Luiza Brunet voltou a desfilar pela Portela na última noite, por ocasião do centenário da escola. No domingo, foi a vez de sua filha, Yasmin Brunet, que estreou como musa da atual campeã – Grande Rio. Internautas consideram Yasmin um exemplo de nepo baby. Os “bebês do nepotismo” fazem mal para a sociedade? Sempre?

A expressão nepo baby tem sido usada para celebridades parentes de celebridades, importando uma crítica dos EUA. Denuncia as supostas vantagens de quem ocupa um posto de destaque que seria decorrente não de dedicação e vocação, mas dos relacionamentos de seus pais – profissionais estabelecidos no mesmo meio.

É o que na política se chamava de “filhotismo”, mas vamos usar o termo da moda. Qual o custo dos nepo babies? A sociedade perde quando colocações são feitas por indicação de familiares poderosos?

Filha de Luiza Brunet (foto), Yasmin, desfila em escola de samba por influência da mãe?
Filha de Luiza Brunet (foto), Yasmin, desfila em escola de samba por influência da mãe? Foto: Miguel Sá/Divulgação

Por exemplo, alguém pode alegar que Brunet, a filha, tira oportunidade de uma moça da comunidade brilhar, privando ainda os espectadores da alegria de um samba no pé mais autêntico. Respectivamente, no economês, um problema de desigualdade e de produtividade é criado com cada nepo baby.

Nessa ótica, um arranjo que pretere os talentosos e prioriza os bem conectados. Seriam como herdeiros, mas de capital social. Para além de nossa alegoria, podemos pensar no impacto para a economia da promoção a gerente da sobrinha do CEO, ou da nomeação como secretário do parente do influente intelectual.

Levantamentos em outros países mostram que trabalhar na mesma empresa dos pais não é incomum; está associado a uma remuneração maior; e acontece mais com os mais ricos. Mas há como dizer que Fernanda, a Torres, é menos brilhante por ser filha da Montenegro?

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E se os sentenciados como nepo babies não forem frutos do privilégio, mas da especialização? O pai/mãe pode ser uma referência para a escolha de carreira, passando ainda suas habilidades com interações cotidianas.

Há famílias destacadas em áreas competitivas cujo desempenho pode ser bem aferido – descartando a importância dos contatos. Seguiram o caminho dos pais estrelas como Stephen Curry, cestinha da NBA, e o treinador José Mourinho, várias vezes campeão europeu. Existem ainda famílias que concentram acadêmicos produtivos de diferentes áreas e chegam a colecionar prêmios Nobel.

Seriam exemplos de “transmissão intergeracional de capital humano” – o jargão técnico que pode absolver os nepo babies.

Jimmy Carter quer morrer em casa, Elio Gaspari, FSP

 Aos 98 anos, o ex-presidente americano Jimmy Carter (1977-1981) resolveu morrer no rancho onde sua família plantava amendoim. Deixou o hospital e recebe apenas cuidados paliativos. Como George Bush 1 (1989-1993) e Donald Trump (2017-2021), Carter perdeu a reeleição e esse fracasso marcou-o. Apesar disso, foi um presidente que recolocou os valores democráticos na agenda da política externa americana. A redemocratização brasileira deve-lhe muito.

Numa trapaça dos tempos, são muitas as cidades brasileiras com avenidas John Kennedy. Ele irradiava juventude, foi assassinado e tornou-se um ícone. Para o Brasil, foi um arquiteto subsidiário da deposição de João Goulart. Em março de 1964, quando o presidente Lyndon Johnson mobilizou uma força naval para um eventual socorro aos militares revoltosos, ele apenas seguiu um roteiro deixado por Kennedy.

O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter durante evento em Jerusalém
O ex-presidente dos EUA Jimmy Carter durante evento em Jerusalém - Thomas Coex - 2.mar.15/AFP

ditadura brasileira teve nos presidentes Johnson (1963-1969) e Richard Nixon (1969-1974) dois aliados de fé. Em dezembro de 1971, quando o general Emílio Garrastazu Médici foi a Washington, Nixon foi profético: "Nós sabemos que, para onde for o Brasil, irá o continente latino-americano". Em 1973 foram à breca os regimes democráticos do Uruguai e do Chile. Em 1976 foi a vez da Argentina.

Jimmy Carter era um inexpressivo governador da Geórgia. Elegeu-se defendendo os valores da democracia americana, abalada pelos escândalos de Richard Nixon. Durante a campanha, com uma breve referência ao Brasil, ele anunciou que daria prioridade aos direitos humanos na sua diplomacia. Provocou algum nervosismo, mas parecia coisa de candidato. (Tomou uma carta desaforada do ex- adido militar americano em Brasília.)

Eleito, encrencou com o Acordo Nuclear que o Brasil havia assinado com a Alemanha. Na sua delegação nas Nações Unidas foi incluído um professor que havia sido expulso do Brasil. Pior: Um general brasileiro que servia em Washington informava que o novo embaixador na ONU era Andrew Young, "negro". Outro general temia "uma infiltração de elementos comunistas, ou pelo menos esquerdistas, nas altas esferas do governo".

Estabeleceu-se um clima de cordial antipatia entre o governo de Carter e o do general Ernesto Geisel. Um relatório sobre a violência política no Brasil abriu uma crise com os Estados Unidos, e Geisel rompeu o acordo de cooperação militar com Washington.

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Em 1977, Carter mandou sua mulher, Rosalynn, ao Brasil. Ela teve dois encontros com Geisel (incluindo um breve bate-boca). Além disso, entrevistou-se publicamente com dois missionários americanos que viviam entre os pobres do Recife e haviam sido maltratados pela polícia.

Carter nunca subiu o tom no clima de cordial antipatia. Veio ao Brasil como presidente, reuniu-se com Geisel e, no dia seguinte, encontrou-se no Rio com representantes da sociedade civil. Entre eles, o presidente da OAB, Raymundo Faoro, e o cardeal de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns. Malandramente, pediu a d. Paulo que o acompanhasse no carro até ao aeroporto.

(Geisel não perdoou Carter por ter mandado a mulher e, anos depois, quando ambos estavam fora do poder, recusou-se a recebê-lo e não o atendeu ao telefone quando ele ligou.)