sábado, 5 de novembro de 2022

O Brasil e o mundo na COP-27, Celso Ming OESP

 


O Brasil e o mundo chegam à Cúpula do Clima (COP-27) cercados por mais e maiores incertezas do que as existentes na edição anterior, realizada na Escócia, em novembro de 2021.

grave crise energética enfrentada pela Europa, em consequência das sanções à Rússia, ameaça a observância dos prazos estabelecidos para realizar a transição da matriz energética global para fontes limpas e renováveis. Isso, por si só, exige a revisão dos acordos anteriores.

Será preciso, também, aumentar a transparência do processo de implementação dos dispositivos firmados no Acordo de Paris, em 2015. A proposta de criação do Fundo Climático, de US$ 100 bilhões por ano, a ser subscrito pelos países ricos para ajudar os países em desenvolvimento a diminuir suas emissões nunca saiu do papel. Como observa Guarany Osóriocoordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), esse assunto deve voltar com mais força neste ano, porque a Cúpula será em um país africano.

Outro tema relevante à espera de definições da comunidade internacional é o do funcionamento do mercado global de crédito de carbono, o sistema que permite a transferência de “pontos” de um país que conseguiu combater agentes do efeito estufa para outros que obtiveram menos sucesso. Há muitas pontas soltas no modelo de funcionamento dos negócios de créditos entre os países, de como serão fiscalizadas as emissões e de como serão contabilizadas, a fim de evitar, por exemplo, episódios de greenwashing.

“Além da operacionalização internacional dessas regras de funcionamento, os países mais competentes terão também que ter uma estrutura de monitoramento bem definida para saber quantos créditos estão sendo gerados e utilizados pelas instituições internamente, e ter transparência não só entre os créditos transacionados e o quanto isso vai impactar na sua emissão, mas qualidade nos dados sobre as emissões, porque isso será fundamental para gerar integridade ambiental no sistema”, explica Osório.

Emissões de gases do efeito estufa no Brasil aumentam com a escalada do desmatamento na Amazônia.
Emissões de gases do efeito estufa no Brasil aumentam com a escalada do desmatamento na Amazônia.  Foto: Ricardo Moraes/Reuters

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Governança e transparência também estão entre os principais desafios do Brasil. O desprezo do governo Bolsonaro pela política ambiental trouxe enormes prejuízos – que não se resumem à perda de imagem no cenário internacional.

As emissões líquidas de gases de efeito estufa do Brasil atingiram em 2021 o maior nível em 15 anos, como apontam dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima. No governo Bolsonaro, as emissões avançaram em mais de 30%, impulsionadas pelo aumento dos desmatamentos e das queimadas na Amazônia.

O próximo governo já se comprometeu a restabelecer as obrigações ambientais anteriormente assumidas, a recuperar o protagonismo do País e, assim, voltar a firmar acordos econômicos. O pronunciamento do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na COP-27 deverá reafirmar essas posições.

Para Marina Marçalcoordenadora de Política Climática do Instituto Clima e Sociedade (iCS), isso deve ser consolidado em políticas que reestruturem a governança climática orientada pela justiça climática, com ações que ampliem os canais de diálogo entre o governo e a sociedade civil e diminuam o impacto das mudanças climáticas em populações vulneráveis e na distribuição de renda alinhada à sustentabilidade.

“Restaurando esses canais e estruturando a academia para que ela produza dados significativos que aumentem a transparência e o monitoramento das emissões brasileiras, nós conseguiremos criar uma estrutura de governança climática adequada para, a partir daí, escrevermos uma NDC (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas, correspondente aos compromissos criados por cada país para a redução de emissões) em colaboração com toda a sociedade e que não seja reconhecida internacionalmente como insuficiente, como ela é agora no governo Bolsonaro”, afirma Marina. /COM PABLO SANTANA

Uma causa para unir o Brasil, João Gabriel Lima OESP


“É brasileiro?”, pergunta o funcionário do aeroporto egípcio, ao olhar meu passaporte. “Que bom! É o país da Amazônia.” É a primeira vez que me saúdam como alguém que vem de um lugar que tem uma floresta. Não deve ser por acaso. Estou em Sharm El-Sheikh, cidade que abrigará a COP-27, a conferência do clima. Os oficiais da imigração devem ter recebido informações para conversar com os visitantes. Gostei do rótulo, melhor que ser identificado como um conterrâneo de Neymar. Mas não sei se mereço.

Venho, é verdade, de um dos países dos quais depende o futuro do planeta, por abrigar o maior pedaço de mata tropical do mundo. Acabamos de completar, no entanto, quatro anos de desmatamento crescente da Amazônia. Não fazemos jus ao tesouro que guardamos.

Nunca houve tantos estudos sobre como preservar a Amazônia, garantindo uma boa qualidade de vida a seus habitantes – e, ao mesmo tempo, a continuidade do planeta.
Nunca houve tantos estudos sobre como preservar a Amazônia, garantindo uma boa qualidade de vida a seus habitantes – e, ao mesmo tempo, a continuidade do planeta. Foto: Yver Herman/Reuters

Temos a chance de mudar esse destino em Sharm El-Sheikh, cidade encravada entre as dunas secas do Sinai e um mar transparentíssimo, propício ao mergulho. Nunca houve tantos estudos sobre como preservar a Amazônia, garantindo uma boa qualidade de vida a seus habitantes – e, ao mesmo tempo, a continuidade do planeta.

“Listamos várias providências para os primeiros cem dias de governo que podem nos colocar no caminho certo”, diz Renata Piazzon, diretora do Instituto Arapyaú. Na entrevista que deu ao minipodcast da semana, ela fala do documento da Concertação Pela Amazônia – reunião de ideias de vários grupos de estudiosos, entre eles o Arapyaú – que será lançado na COP-27.

A preservação e o desenvolvimento da Amazônia são a causa que une o Brasil. Há um grande consenso político a respeito, da direita de Simone Tebet à esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva – os programas políticos dos dois candidatos traziam boas ideias na área, muitas delas vindas dos cientistas da Concertação. A exceção, claro, é o bolsonarismo derrotado nas urnas.

Temos uma sociedade civil mobilizada, que, mais uma vez, montará um pavilhão para discussão de ideias dentro da COP. Nossos sistemas de fiscalização de desmatamento são excelentes, e a legislação é boa. Precisamos recuperar as instâncias de comando e controle, como Ibama e ICMBio – que, como lembra o governador do Pará, Helder Barbalho, foram desmontadas na atual gestão federal.

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Barbalho é um dos líderes do Consórcio dos Governos da Amazônia. Ele virá à COP junto com Lula. Pode ser um bom sinal, externa e internamente. Talvez chegue o dia em que todos seremos recebidos nas alfândegas como habitantes do “país da Amazônia” – e teremos orgulho disso. 

Já que vamos continuar nos xingando, aumentemos o vocabulário, Marcelo Duarte, FSP

 Quem imaginava que os ânimos ficariam menos exaltados depois do segundo turno da eleição errou feio. A troca de insultos só piorou.

Então, já que vamos continuar nos xingando nos próximos quatro anos (ou mais), o melhor é aumentar um pouco o vocabulário, conhecendo xingamentos diferentes. De quebra, eu explico a origem das palavras para você não se enganar na hora de ofender alguém!

Bolsonaristas discutem com estudantes e militantes do PT durante visita de Lula à Universidade Federal de Santa Maria, em março de 2020 - Marlene Bergamo/Folhapress

Beócio


A antiga Grécia tinha uma região chamada Beócia, onde todos os habitantes eram agricultores e não sabiam ler. Por causa disso, os intelectuais de Atenas criaram o termo "beócio" para se referir a uma pessoa inculta.

Bocó

Em francês, "boucaut" é o nome de um saco feito de pele de bode para o transporte de líquidos. Os brasileiros criaram um saco parecido, mas com couro de tatu, que ganhou o nome de bocó. O bocó não tem tampa, está sempre aberto. Isso deu origem à palavra que significa um sujeito bobo, sempre de boca aberta.

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Fedelho


Palavra usada para se referir a rapazes que ainda têm comportamento infantil. Vem do latim "foetere", que é "soltar mau cheiro". É uma alusão ao cheiro ruim que os bebês deixam em suas fraldas. "Fedido" e "fétido" vêm daí também.

Idiota

"Idíos" em grego significa "próprio, particular". Daí veio a palavra "idiótes", um homem que só tem conhecimento de suas coisas e que desconhece o mundo à sua volta.

Histrião

No teatro da Roma Antiga, histrião era o ator que fazia o papel cômico em espetáculos populares. A partir daí, o substantivo histrião passou a ser o mesmo que farsante, charlatão, ridículo.

Ignorante

Vem do latim "ignorantia", que significa "desconhecimento". Era usada para pessoas simples, sem cultura, mas não tinha conotação ofensiva. Até que, em 1665, o escritor inglês George Ruggie escreveu a peça "Ignoramus" (em tradução livre, "nós não sabemos"), em que satirizava advogados que opinavam sobre tudo sem ter conhecimento de nada.

Imbecil

Mais um xingamento vindo do latim (o latim deu origem a diversas línguas, como português, espanhol, francês, catalão, romeno e italiano). "Imbecillu" queria dizer alguém fracote, sem força. Com o tempo, passou a ser também fraco das ideias.

Pária

O nome que se dá a um grupo de pessoas rejeitadas vem da palavra "paraiyar", classe social hindu de 2.000 antes de Cristo, que era obrigada por outros grupos indianos a fazer os piores serviços. Seus integrantes eram tratados como escravos e viviam à margem da sociedade.

Pusilânime

Do latim (nada como o bom e velho latim para deixar nossa boca bem suja!) "pusilanimis", que significa "de alma pequena". O que é isso? É o sujeito que tem medo de tomar decisões, covarde, medroso.

Sacripanta

É um dos meus preferidos! Era o nome de um personagem muito malvado que apareceu em dois livros de autores italianos, "Orlando Enamorado" (1495), de Matteo Maria Boiardo, e "Orlando Furioso" (1516), de Ludovico Ariosto. O personagem era tão mau caráter que seu nome virou xingamento.