terça-feira, 18 de outubro de 2022

EPE mais otimista com demanda por combustíveis, EPBR

 

Você vai ver aqui:  EPE  aumenta projeções de consumo de gasolina e diesel; gasolina sobe após 15 semanas; São Paulo proíbe novos ônibus a diesel. E mais:
 
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) aumentou suas projeções de consumo de diesel  e gasolina para 2022. A revisão reflete um otimismo maior com a economia e os efeitos da desoneração dos combustíveis. 

– O crescimento nas vendas de diesel é estimado em 2,4% este ano e em 3,6% para 2023. Cenário melhor que o desenhado em agosto, quando a EPE projetava uma alta de 1,2% para 2022 e 1,1% para 2023. 

– O estudo Perspectivas para o Mercado Brasileiro de Combustíveis para o Curto Prazo, publicado a cada dois meses, cita alguns sinais de melhora na economia para 2022: o crescimento do PIB acima do esperado e a queda na taxa de desemprego, que refletem nas perspectivas de demanda por diesel para este ano. Veja a íntegra (.pdf).

– Para 2023, a expectativa é que haja uma desaceleração econômica. A projeção é de aumento da demanda pela previsão de safra recorde, recuperação do transporte coletivo e a entrada de novos projetos de infraestrutura aquaviária e ferroviária.Para gasolina, a previsão de aumento em 2022 subiu de 1,6% para 3,1%, refletindo a desoneração do combustível. Para o ano que vem, contudo, a EPE projeta uma retração de 6,1% nas vendas, ante a previsão de queda de 4,7% em agosto.

– É a gasolina ganhando mercado no Ciclo Otto, onde concorre com o etanol hidratado. A previsão de demanda total dos combustíveis permaneceu inalterada: crescimento de 1,5% em 2022 e de 0,4% em 2023. 

– A queda na renda da população e mudanças no hábito de consumo (como o trabalho remoto) contribuem para manter a demanda abaixo dos patamares pré-pandemia.
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Gasolina sobe após 15 semanas de queda. Alta foi de 1,4% nos postos, para R$ 4,86, segundo levantamento da ANP. Ficou mais caro em 15 estados e no Distrito Federal, em parte pelo aumento do custo com etanol anidro – que compõe 27% da gasolina comum.

-- O etanol subiu 1,7% nas bombas na semana passada, com valor médio de R$ 3,46 por litro. Já o diesel ficou estável, vendido a R$ 6,51 o litro, em média. Folha de S. Paulo

Bolsonaro já tentou reduzir. O efeito do anidro no preço na bomba entrou no radar do presidente, que chegou a promover a redução da mistura obrigatória. Mas Arthur Lira (PP/AL) não deixou: o presidente da Câmara foi contra e, em outubro do ano passado, o assunto acabou enterrado. 

O aumento mais expressivo (+10%) foi na Bahia. A refinaria de Mataripe, controlada pela Acelen, aumentou seus preços em 8 de outubro, acompanhando o mercado internacional. 

-- A Petrobras mantém os mesmos valores em suas refinarias desde 2 de setembro na gasolina e desde 20 de setembro no diesel. 

– A Abicom (importadores) calcula que há déficit entre os preços internos e os internacionais há 14 dias. Nessa segunda (17/10), era de 30 centavos (8%) na gasolina e de 70 centavos (12%) no diesel, na média nacional (varia conforme os portos).

Brent abre o dia praticamente estável, a US$ 91,68. Temores de que a inflação alta e os custos de energia possam parar a economia global compensaram a continuação da política monetária frouxa da China. Reuters

Chega de diesel. A prefeitura de São Paulo determinou que concessionárias da capital deixem de comprar ônibus a diesel para o transporte público. A expectativa é que 20% da frota seja formada por elétricos até 2024 (Estadão).

Raízen compra Payly por R$ 78 milhões A plataforma de serviços financeiros pertencia à sua controladora, Cosan. A aquisição marca a criação da unidade de serviços financeiros da Raízen, com oferta de conveniência e fidelidade de clientes, inteligência de dados e fomento mercantil para captação de recursos. Valor

Brasil Biofuels contrata Topsoe para biorrefinaria de Manaus Empresa vai fornecer equipamentos de hidroprocessamento e também será responsável pela etapa de hidrogenação. O investimento da BBF na biorrefinaria é de R$ 2,2 bilhões, e o início das obras está previsto para 2023. A unidade deve produzir 500 milhões de litros por ano. Valor

Parceria entre Caixa e ABSolar amplia linhas de crédito para geração fotovoltaica Acordo pretende beneficiar consumidores residenciais, pequenos negócios, produtores rurais e gestores públicos. Valor

bp compra produtora de biogás nos EUA Aquisição da Archaea Energy vai custar cerca de US$ 4,1 bilhões à petroleira. Com sede em Houston, a Archaea produz gás natural renovável a partir de resíduos de aterros e fazendas. Bloomberg

P-71 sai do estaleiro Jurong Aracruz para Itapu A unidade é capaz de produzir até 150 mil barris/dia de óleo e 6 milhões de m3/dia de gás natural, bem como armazenar 1,6 milhão de barris de óleo. A partida em Itapu, no pré-sal da Bacia de Santos, está prevista para ocorrer em dezembro, com pico de produção até o final de 2023. É a última plataforma da série de replicantes da Petrobras, composta por P-66, P-67, P-68, P-69 e P-70. ExxonMobil acusa Rússia de expropriação em Sakhalin-1 Petroleira disse que governo russo “encerrou de forma unilateral” sua participação no projeto de óleo e gás no extremo leste russo e que o campo foi transferido para um operador doméstico. A Exxon detinha 30% de Sakhalin-1, tendo como sócias Rosneft, ONGC Videsh (Índia) e Sodeco (Japão). Valor 

Reino Unido limita subsídios à energia Ministro das finanças, Jeremy Hunt, reverteu quase todo o orçamento da primeira-ministra britânica, Liz Truss. Nomeado na sexta (14/10) após o plano de Truss prejudicar o valor dos ativos britânicos, Hunt disse que o país precisa gerar confiança e estabilidade antes de buscar o crescimento econômico. Reuters

China quer produzir mais carvão até 2025 para evitar apagões Informação foi dada por Ren Jingdong, diretor do Gabinete Nacional de Administração Energética, durante o Congresso do Partido Comunista. Com a medida, o país se distancia de cumprir suas metas de redução das emissões de carbono até 2030. Associated Press

-- A geração a carvão bateu recorde em 2021, 9.600 TWh. China, Índia e EUA responderam por 72% do total:  Eólica e solar avançam em novas adições globais – carvão também

Emissões brasileiras de metano Novo relatório do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima, mostra que Brasil pode reduzir em 36% suas emissões de metano até 2030 combatendo o desmatamento ilegal, erradicando lixões e ampliando boas práticas na agropecuária. Mas, se tudo continuar como está, o país vai emitir 7% a mais de metano do que em 2020, diz o documento. Valor

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Depravação eleitoral, editorial OESP

 A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, está empenhada na campanha para a reeleição do presidente Jair Bolsonaro. No último sábado, falando a fiéis de uma igreja evangélica em Goiânia (GO), Damares não hesitou em fazer uso, com fins unicamente eleitorais, de supostas violências e perversidades sexuais de que crianças brasileiras teriam sido vítimas. No afã de conquistar votos para o presidente, a futura senadora demonstrou que a cruzada eleitoral bolsonarista não tem limites morais nem resquícios de civilidade e respeito pelas crianças que diz defender.

Em sua fala a fiéis evangélicos, a ex-ministra citou supostos casos de tráfico internacional de crianças, a partir da Ilha de Marajó, no Pará, que envolveriam mutilações corporais para a exploração sexual. O uso do termo “supostos” para tratar das violências e perversidades relatadas por Damares deve-se ao fato de que, até o momento, não houve confirmação de que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos tenha, de fato, recebido as referidas denúncias, o que levanta suspeitas sobre a veracidade das declarações da senadora eleita. 

Se tais informações ainda carecem de confirmação, a imoralidade do gesto de Damares está plenamente verificada. A senadora eleita trouxe para o calor da campanha eleitoral um tema que mesmo o mais despudorado ou obtuso agente público deveria saber que deve ser tratado com a máxima discrição e com muita responsabilidade. 

Sendo verdadeiras as denúncias, o Ministério que Damares dirigiu deveria ter feito o possível para mitigar o sofrimento das vítimas e encaminhar os casos para investigação e punição. No entanto, não há como saber se isso foi feito. Procurada pelo Estadão, a assessoria da senadora eleita indicou três documentos − relatórios de Comissões Parlamentares de Inquérito na Câmara, no Senado e na Assembleia Legislativa do Pará − nos quais as denúncias estariam registradas. A reportagem procurou, mas não localizou os casos citados. No Pará, o Ministério Público e a Polícia Civil já pediram informações ao governo federal, pois igualmente não as tinham. O mesmo fez a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, em Brasília. Se as denúncias existem, esses órgãos obviamente querem ter acesso a elas para poder agir. 

Diante da crescente desconfiança de que teria inventado as denúncias, Damares afirmou, em entrevista à Rádio Bandeirantes, que se baseou em conversas com moradores da Ilha de Marajó. “Eu não estou denunciando, eu estou trazendo à luz o que já estava denunciado”, disse ela, que foi alvo de uma notícia-crime por parte de advogados que cobram punição, caso se confirme a mentira.

Por ora, o que se sabe é que Damares não viu problema em usar situações de extremo sofrimento e crueldade envolvendo crianças de 3 ou 4 anos para fazer campanha. No sábado, o templo da Assembleia de Deus Ministério Fama estava cheio e havia crianças no local. Foi na frente delas que Damares descreveu os supostos crimes, com detalhes tão abjetos que evitaremos reproduzir aqui, em respeito ao leitor. 

Há quem, diante disso, atribua à senadora eleita algum tipo de perturbação mental, mas que ninguém se iluda: o que um observador incauto poderia tomar por loucura não passa de método. Damares disse que “o inferno se levantou” contra Bolsonaro depois que o presidente mandou tomar providências para proteger as crianças. “A guerra contra Bolsonaro que a imprensa levantou, que o Supremo Tribunal Federal levantou, que o Congresso levantou não é uma guerra política, é uma guerra espiritual”, bradou ela. Parece insanidade, mas não é: a mensagem depravada do bolsonarismo afinal se disseminou, resistente a qualquer contraprova, e agora não são poucos os eleitores que passaram a acreditar que não têm alternativa senão votar no “mito” para impedir nada menos que o estupro de bebês.

Sim, não há limites para a imoralidade bolsonarista. Valer-se da violência contra crianças, mesmo que imaginária, para evocar teses grotescas e conquistar votos é prática repulsiva de quem não tem apego moral de qualquer espécie. Nada de bom se constrói sobre essa base degenerada. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

O paradoxo da educação, Rodrigo Zeidan, FSP

 "Professor?", perguntou o policial quando viu o cartão da universidade depois de ter me parado por estar andando de bicicleta na calçada, algo passível de multa. "Sim", respondi no meu chinês macarrônico. "Humm...Por favor, não faça mais isso, mas pode ir embora". Na China, ser professor dá privilégios, pois nenhuma outra profissão é tão respeitada; afinal, é uma honra seguir a carreira de Confúcio.

O respeito se traduz em desenvolvimento econômico. Não é à toa que Coreia do Sul, Japão e China, todos países mais pobres que o Brasil na década de 1950, hoje são mais ricos, seguros e desenvolvidos. Os sistemas educacionais desses países são muito melhores que a média mundial, professores são relativamente bem remunerados, e as famílias se dedicam fervorosamente para garantir que seus filhos entrem nas melhores escolas.

No Brasil, vivemos um paradoxo. No país onde estudar dá mais dinheiro, nenhuma camada da sociedade briga por um sistema educacional de primeiro mundo. E sim, no Brasil, o retorno da educação é altíssimo, resultado de décadas de estrangulamento do acesso ao sistema.

imagem aérea dos prédios da universidade
Escola de Direito Translacional da Universidade de Pequim, na China, classificada como a melhor universidade dos BRICs - Divulgação

A renda de um brasileiro que termina o ensino médio é 148% (ou seja, 48% maior) que a média daqueles que não o completam. Pior, esse percentual para quem se forma no ensino superior chega a 394%. Para efeito de comparação, na Europa, esses percentuais são de 126% e 192%, respectivamente. Mesmo no México, educação não paga tanto. Lá, terminar o ensino médio resulta, em média, em 133% da renda de quem não termina e, para quem completa a universidade, os valores chegam a 217%. No relatório da OCDE sobre o sistema educacional dos principais países do mundo, em nenhum dos outros 36 países estudados há tal expectativa de ganho.

É comum reclamarmos do sistema educacional brasileiro. Falta tudo: de respeito aos profissionais até estrutura básica para o ensino; e isso mesmo quando os políticos não roubam a merenda. Mas nossos problemas começam em casa. Valorizamos pouco a educação, seja nas camadas mais ricas ou mais pobres. Na verdade, uma família pobre não valorizar o ensino é racional, embora não a melhor escolha: como investimentos em educação demoram décadas para gerar retorno, a pressão do dia a dia é uma barreira para que os mais pobres se concentrem nos estudos.

O mesmo não pode ser dito das famílias mais ricas. Para muitas, educação em si não tem valor e só importa o diploma. Instrumentalmente, a razão é clara: a histórica dificuldade de acesso aumenta o ganho relativo dos poucos que conseguem se formar. No Brasil, também temos uma situação sui generis: faculdades que querem vender diplomas, alunos que querem comprá-los, e professores que se esforçam para atrapalhar a negociação. No Brasil, também é ilegal a venda de diplomas; à vista. Já a prazo?

Nesse dia dos professores, precisamos nos perguntar: qual dos dois candidatos pode nos tirar desse péssimo equilíbrio, no qual as condições dos professores são ruins e as famílias não valorizam o ensino? Sistemas educacionais não mudam da noite pro dia, mas a resposta é clara. Entre um governo que tentou expandir sobremaneira o sistema, mesmo com várias medidas que desperdiçaram recursos, e outro que considera professores doutrinadores e cujo MEC está sendo desmontado, a resposta é clara: Lula, por mais que tenha defeitos, levou a sério a educação brasileira. E sem educação, não teremos futuro.