quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Ruy Castro é eleito imortal da Academia Brasileira de Letras, FSP

 Bruna Fantti

SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO

O escritor e jornalista Ruy Castro, colunista da Folha, foi eleito para a vaga deixada por Sérgio Paulo Rouanet na Academia Brasileira de Letras. Ele obteve 32 votos entre 35 imortais que compareceram à cerimônia.

O presidente da Academia, Merval Pereira, queimou os votos em uma pira como é tradição. O ato simboliza que há consenso entre os acadêmicos na escolha.

Ruy Castro ao microfone
Ruy Castro durante mesa na Casa Folha, em Paraty, há três anos - Mathilde Missioneiro/Folhapress

"Ele é um grande escritor, um biógrafo excepcional, só vai acrescentar à Academia", disse Pereira. Indagado se o fato de Castro ser um campeão de vendas influenciou na escolha, o presidente refutou e disse que a qualidade do trabalho foi determinante.

Também concorriam à vaga Jackeson dos Santos Lacerda, Rodrigo Cabrera Gonzales, Elói Angelos G. D 'Arachosia, André Amado e Raquel Naveira.

Castro é um dos principais biógrafos do Brasil, tendo realizado obras seminais sobre figuras de sua admiração como Carmen Miranda ("Carmen, uma Biografia", de 2005), Garrincha ("Estrela Solitária", de 1995) e Nelson Rodrigues ("O Anjo Pornográfico", de 1992).

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Jornalista que começou profissionalmente aos 19 anos, em 1967, no carioca Correio da Manhã, Castro também registrou em livro a história de movimentos como a bossa nova —destrinchado em "Chega de Saudade" e "A Onda que se Ergueu no Mar – Novíssimos Mergulhos na Bossa Nova"— e sobre sua cidade do coração, o Rio de Janeiro, apesar de ter nascido em Caratinga, Minas Gerais, o que ele considera meramente circunstancial.

São de sua autoria "Ela É Carioca", uma enciclopédia sobre Ipanema, "O Vermelho e o Negro", sobre o Flamengo, e "Metrópole à Beira-Mar – O Rio Moderno dos Anos 20", com o qual a partir de uma esmiuçada reconstituição da história do período ajudou a reposicionar personagens da época e a famigerada Semana de Arte Moderna de 1922. Com posições polêmicas, sobretudo aos paulistas, recebeu série de ataques ofensivos, que chegaram a afetar a repercussão de seu último romance publicado, "Os Perigos do Imperador", sobre dom Pedro 2º.

Isso porque o autor que recebeu prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, neste ano também enveredou pela ficção —ainda que sempre com sólida pesquisas e bases factuais. O primeiro foi "Bilac Vê Estrelas", sobre o poeta e cronista carioca, seguido de "Era no Tempo do Rei: Um Romance da Chegada da corte", que descreve o Rio de Janeiro em 1810.

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Lula prepara carta para o agronegócio e leva Tebet a palanque para reconquistar setor, FSP

 Alexa Salomão

BRASÍLIA

O candidato do PT à presidência a República, Luiz Inácio Lula da Silva, prepara uma carta ao agronegócio. A redação do texto está na fase final.

Segundo a Folha apurou, a carta vai reforçar o compromisso do PT em garantir segurança institucional e financiamentos ao agro, para que o setor amplie o seu peso na economia, não apenas com uma produção sustentável, em sintonia com as demandas ambientais internacionais, mas também com o aumento das exportações, consolidando o Brasil como potência global na área.

Colheitadeira trabalha em canavial próximo à cidade de Luiz Antônio (SP); interior de São Paulo é prioridade para a campanha petista no segundo turno da eleição - 05.12.17 - Joel Silva/Folhapress

A proposta é que o agro seja um aliado em outra agenda de Lula, o resgate da imagem do Brasil como um país que cresce respeitando o meio ambiente. Essa posição foi colocada em xeque pelo aumento das queimadas, dos desmatamentos, da mineração ilegal e da invasão de terras indígenas durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

O acordo entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, travou por causa dos problemas ambientais registrados no Brasil nos últimos quatro anos.

A carta deve ser divulgada nos próximos dias.

A expectativa é que o gesto reproduza para eleitores ligados à agropecuária neste 2022 a mesma sinalização conseguida com a carta ao povo brasileiro, uma manifestação feita pelo mesmo Lula durante a campanha de 2002. Há 20 anos, a carta era um compromisso do PT de que, em caso de sua vitória, respeitaria normas institucionais.

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Na época, havia um grande temor que um governo de esquerda não respeitaria contratos privados, nem faria uma gestão responsável das contas públicas, por exemplo. O compromisso assumido com aquela carta quebrou resistências e mudou a trajetória da eleição em favor de Lula.

A ofensiva por votos junto ao agronegócio neste segundo turno inclui também a participação de Simone Tebet (MDB) na campanha. Sua presença é considerada um novo elemento no processo de escolha dos candidatos.

Segundo um interlocutor que não deseja ter o nome revelado, enquanto Bolsonaro apresenta o apoio de governadores com os quais já estava alinhado e terão pouco efeito prático nas urnas, Tebet é um trunfo novo na campanha petista.

Ela obteve quase 5 milhões de votos –pouco mais de 4% dos votos válidos. Pode angariar votos de progressistas mais ao centro em qualquer região do Brasil, mas tem especial interlocução com o agronegócio. É senadora pelo Mato Grosso do Sul, e circula bem entre representantes tanto da agropecuária e quanto da agroindústria.

Tebet vai subir no palanque com Lula e Alckmin para ajudar a deter o avanço bolsonarista nesse segmento. A campanha do PT está organizando a agenda de viagens para Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pará e estados do Nordeste.

O interior de São Paulo é considerado área vital e sensível. Ali também Alckmin tem a missão de conter o avanço do voto bolsonarista.

Não está prevista viagem ao Mato Grosso, onde há muita hostilidade.

O PT quer combater o que chama de retórica ultrapassada em relação aos riscos de Lula para o agro, lembrando que os seus oito anos como presidente da república foram marcados por avanços no agronegócio.

Na lista de feitos da gestão de Lula que deverão ser destacados está a regulamentação do plantio de transgênicos, em 2005, pondo fim um mercado irregular que crescia à margem do controle sanitário.

A disputa pelo eleitor no campo neste segundo turno é muito acirrada, com a balança pendendo para Bolsonaro, mas o PT acredita ter muitos votos envergonhados nas áreas rurais, que podem contar a favor de Lula com uma abordagem mais eficiente.

Bolsonaro venceu nos estados que são referência em agropecuária, como Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Nessas áreas, o presidente nem precisa fazer campanha quando mira o voto agro e tem especialmente o apoio de grandes produtores.

Lula por sua vez, ficou na frente em Minas Gerais, e áreas que integram as chamadas novas fronteiras agrícola, como Matopiba, que inclui Maranhão, Tocantins e Bahia. O petista conseguiu apoio de alguns grandes produtores, mas tem ao seu lado especialmente os agricultores familiares e os trabalhadores.