segunda-feira, 16 de maio de 2022

Doria versus Tebet: Terceira via faz seus últimos lances, Celso Rocha de Barros, FSP

 Nesta semana, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) tentará se consolidar como candidata da terceira via. No caso, terceira via na disputa altamente polarizada entre João Doria e o PSDB.

Na terça-feira haverá uma reunião em que o presidente do PSDB, Bruno Araújo, tentará convencer o partido a desistir da candidatura de Doria e apoiar Tebet. Os dois são os únicos candidatos da terceira via de pé no ringue. Na última pesquisa Ipespe eles tinham, respectivamente, 3% e 1% das intenções de voto.

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Em abril, partidos de centro e centro-direita que se autodenominaram terceira via –PSDB, MDB, Cidadania, União Brasil– haviam combinado uma candidatura comum para 2022. Até agora, não deu muito certo.

Os presidenciáveis João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB) durante encontro em SP, em dezembro de 2021
Os presidenciáveis João Doria (PSDB) e Simone Tebet (MDB) durante encontro em SP, em dezembro de 2021 - Crédito @Conjuntura Online no Twitter

A União Brasil retirou-se da frente. Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo publicou editorial reclamando de tucanos e emedebistas que pretendiam apoiar Bolsonaro. Sergio Moro, o candidato com mais intenção de voto na terceira via, desistiu da candidatura em 31 de março.

No mesmo dia, Doria também ameaçou desistir para evitar uma rasteira de seu vice-governador, Rodrigo Garcia. Doria também sofreu uma tentativa de virada de mesa liderada por Aécio Neves e Eduardo Leite. Agora Bruno Araújo quer que a escolha entre ele e Tebet se dê não só pela posição nas pesquisas quantitativas como também nas qualitativas, que sabe lá Deus como seriam realizadas.

Tebet, por sua vez, tenta uma manobra ousada: ganhar o MDB por ter ganho o PSDB. Parece complicado, mas pode dar certo. De qualquer forma, é difícil que o MDB entre unificado na eleição. No Nordeste, por exemplo, os emedebistas devem apoiar Lula. Onde Bolsonaro for forte, deve conquistar um grupo razoável de emedebistas.

Os emedebistas só não estão sabotando Tebet como os tucanos sabotam Doria porque no MDB ninguém presta muita atenção em quem o partido está apoiando oficialmente.

Enfim, seja lá quem vencer a disputa desta semana terá uma vida difícil.

Quem barrou a terceira via foi Bolsonaro. Como já disse aqui, a terceira via de 2022 é a centro-direita tentando recuperar a liderança da direita, que perdeu para os extremistas do Jair. Não é fácil, porque Bolsonaro tem a máquina de governo para pagar orçamento secreto e mandar o Sachsida liberar gasoduto bilionário para os amigos da rapaziada.

O núcleo duro da base social da direita brasileira, os empresários, o agronegócio, os pastores, ainda estão com Bolsonaro. Não é gente suficiente para vencer, mas é a base a partir da qual, normalmente, um candidato de centro-direita tenta ampliar seu alcance.

Nos últimos meses, Bolsonaro subiu nas pesquisas só o necessário para matar as candidaturas da terceira via. Depois foi soltar Daniel Silveira e planejar um golpe.

Imagino que isso seja o que ainda dá alguma esperança para a terceira via. Se Bolsonaro está preparando um golpe —e é óbvio que está— é porque acredita que vai perder. Se começar a cair nas pesquisas, sua base pode rachar. No momento, não parece provável.

Se Bolsonaro não fosse o que é, eu me divertiria com os partidos que fizeram o impeachment de Dilma patinando no 1%. Mas não dá. O Doria comprou vacina, Tebet teria comprado. É triste, para o Brasil, que Bolsonaro os vença. Se vencer, que seja sua última vitória.


Útil e inútil. Ruy Castro FSP

 Fui checar uma informação sobre Louis Armstrong e li que ele se chamava, de verdade, Daniel Louis Armstrong. A princípio, levei um susto —escutando, estudando e amando Louis quase que desde o meu próprio parto, como podia não saber disso? Então me lembrei de que sabia, sim. Só tinha me esquecido. E por que esquecera? Porque talvez essa informação não tivesse importância. Fui ensinado a acreditar que não existe informação desimportante, mas esta devia ser uma exceção —nem a mãe do bebê Louis, em New Orleans, o chamava de Daniel.

Guimarães Rosa, na expedição ao sertão de Minas Gerais, feita em 1952, que inspirou o autor a escrever "Grande Sertão Veredas" - Alexandre Rezende/Folhapress


Daí me ocorreu que várias pessoas são famosas por nomes que não constam do registro civil. A querida Fernanda Montenegro, por exemplo, se chama Arlete; Junior, ex-Flamengo, Leovigildo. Angela Maria era Abelim; Dolores Duran, Adiléa; Nora Ney, Iracema; Dick Farney, Farnésio; Tito Madi, Chauki; Cazuza, Agenor. Doris Monteiro é Adelina Doris. E Paulo Francis era Franz Paul; Vinicius de Moraes, Marcos Vinicius; Oswald de Andrade, José Oswald. Mas o que se ganha com saber isso?

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Conan Doyle, cujo imortal Sherlock Holmes era a lógica e a razão em pessoa, seguia qualquer charlatão que o convidasse a falar com os mortos. Franz Kafka, autor de "O Processo", dava gargalhadas ao ler o que escrevia. Dorival Caymmi, o poeta do mar e dos pescadores, não sabia nadar e nunca pescou na vida. Nelson Rodrigues, o anjo pornográfico, não dizia palavrões. Edgard Rice Burroughs, o criador de Tarzan, nunca foi à África. E Guimarães Rosa, autor de "Grande Sertão: Veredas", só foi ao sertão uma vez e, mesmo assim, por 15 dias e montado num burrico. Você sabia?


Tudo isso é cultura inútil e pode-se encher enciclopédias com ela. O problema é: para quê?
Carlos Heitor Cony, sempre cético, fazia-se essa exata pergunta, só que a respeito de qualquer cultura, útil ou inútil. E não tinha ilusões: "Ruy, já tentei jogar a cultura fora. Mas é impossível. Ela boia".

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Vou apoiar o Lula, segundo turno já começou, diz Aloysio Nunes, OESP

 O ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira está convencido de que não existe espaço para a terceira via nas eleições e vai apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno da disputa ao Planalto. Integrante da velha guarda do PSDB, Aloysio avalia que o ex-governador de São Paulo João Doria não tem como emplacar sua pré-candidatura e já foi rifado pelo partido.

Sob o argumento de que estamos diante de “uma situação catastrófica”, o ex-ministro das Relações Exteriores no governo de Michel Temer e da Justiça na gestão de Fernando Henrique Cardoso vai além: diz ser preciso criar um amplo movimento em torno de Lula, desde já, para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL).

“O segundo turno já começou e eu não só voto no Lula como vou fazer campanha para ele no primeiro turno”, disse Aloysio. “Não existe essa terceira via; só existem duas: a da democracia e do fascismo. Se quisermos salvar o Brasil da tragédia de Bolsonaro, teremos de discutir o que vamos fazer juntos”, emendou o ex-ministro. Diante do isolamento de Doria, a tendência de tucanos históricos, como José Aníbal e Arthur Virgílio, por exemplo, é aderir à campanha de Lula. A expectativa é em relação ao momento em que o ex-presidente Fernando Henrique seguirá a mesmo caminho.

Aloysio puxou a fila, mas FHC - que no ano passado se reuniu com Lula - tem repetido que só estará com o petista caso Doria não vá para o segundo turno. Até hoje, no entanto, após muitas brigas, idas e vindas, não se sabe nem mesmo se o ex-governador conseguirá ser candidato.

Em conversas reservadas, Lula já disse que, se for eleito, pretende chamar expoentes do PSDB para compor o governo e ocupar ministérios. O Estadão apurou que o nome de Aloysio está na lista, mas ele diz nunca ter tratado do assunto.

Na prática, o primeiro sinal de que o ex-presidente planeja atrair integrantes do PSDB foi dado quando ele convidou o ex-governador Geraldo Alckmin para vice. Depois de muitas críticas por se aliar a um antigo adversário, Alckmin se filiou ao PSB e, tirando proveito de seu apelido, até batizou a chapa de “Lula com Chuchu”.

Mesmo sem avançar casas no jogo, porém, Doria é o pré-candidato aprovado nas prévias do PSDB, que custaram R$ 12 milhões, em novembro. Venceu Virgílio e o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite. Está claro, no entanto, que o comando do partido não sabe o que fazer com ele.

Agora, o PSDB, o MDB e o Cidadania decidiram promover uma rodada de pesquisas para verificar quem tem mais viabilidade eleitoral, se Doria ou a senadora Simone Tebet (MDB-MS). O União Brasil deixou o grupo, que se autointitula “centro democrático”, e lançou a candidatura de Luciano Bivar. No mercado da política, a indicação é vista como chamariz para negociar vantagens à legenda, que tem o maior tempo de TV para oferecer como dote no horário eleitoral, além de R$ 1 bilhão em recursos públicos.

Ciro Gomes (PDT), por sua vez, corre em raia própria e faz acenos a Tebet para que ela seja vice em sua chapa. A proposta não tem eco. Ninguém nesse jogo aceita ser vice e tudo parece caminhar para Tebet, e não Doria, vencer o “paredão” que escolherá o desafiante da terceira via.

“Tenho muito carinho pela Simone, mas vamos fazer campanha para ela no primeiro turno para quê?”, provocou Aloysio, que foi do MDB por muitos anos. “O PSDB precisa parar de perder tempo com essas espertezas políticas”, completou, numa referência às últimas ações da cúpula tucana.

Na avaliação do ex-chanceler, hoje presidente da SP Negócios, a cúpula do partido fecha o cerco a Doria para fazê-lo desistir. Só que “João”, como o ex-governador é chamado na propaganda do PSDB, promete recorrer até mesmo à Justiça, se for impedido de concorrer.