sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

EDSON VISMONA Contrabando rouba futuro dos brasileiros, FSP

 O contrabando causou prejuízo de R$ 288 bilhões ao Brasil só em 2020, somando as perdas registradas em 15 setores e a estimativa de impostos não recolhidos, segundo levantamento anual do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). O valor é mais que o dobro do orçamento para a educação no ano passado e 22 vezes o destinado à segurança pública. Essa situação não é sustentável e traz efeitos nefastos para o país. Por isso, é preciso conscientizar a sociedade e buscar soluções para que produtos não entrem de forma ilegal no Brasil.

Para criar um ambiente de diálogo sobre esse tema, o FNCP lança a campanha "O Contrabando Rouba o Futuro dos Brasileiros". O objetivo é refletir sobre os riscos do comércio ilícito. Estamos convidando a sociedade a se unir a nós com o propósito de criar soluções. Imagine o que seria possível fazer com esses R$ 288 bilhões que não chegaram a existir. Uma riqueza que poderia gerar empregos, ampliar a indústria, financiar a segurança e programas sociais, favorecer o consumo e melhorar as condições de vida. Com os impactos negativos da pandemia, agravados pela alta da inflação e perda arrecadatória, o combate ao contrabando se faz mais urgente para auxiliar na retomada do crescimento do Brasil.

A Receita Federal e as polícias registram, ano a ano, aumento nas apreensões de contrabando/descaminho e de produtos falsificados. Mesmo com as operações integradas, que resultaram em apreensões recordes recentes, temos na outra ponta o crime organizado criando estratégias para se fortalecer. Nos últimos sete anos, o valor que o país perdeu com o mercado ilegal quase triplicou: de R$ 100 bilhões em 2014 para R$ 288 bilhões em 2020, segundo balanço do FNCP. Apenas em 2020, foram mais de R$ 90 bilhões em impostos não recolhidos.

Índice de Economia Subterrânea (IES), que envolve todas as atividades exercidas sem o pagamento de impostos, confirma o tamanho da informalidade. Realizado em parceria entre o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o IES aponta que o mercado informal movimentou R$ 1,2 trilhão no ano passado, ou 17,1% do PIB brasileiro.

Há sinais de que o comércio ilegal vem se recuperando das restrições impostas pela Covid-19: as apreensões da Receita Federal no primeiro semestre deste ano aumentaram. O valor dos bens recolhidos teve alta de 54,93% em relação ao primeiro semestre de 2020, representando agora mais de R$ 2,142 bilhões.

A repressão constante e vigilância do poder público vem sangrando os cofres dos criminosos, mas a ameaça permanece. A ação do Estado sofre com a redução de recursos e com aspectos legais e jurídicos que favorecem a ação criminosa; afinal, as sanções e penas no Brasil para o contrabandista são baixas e há interpretações dúbias, estimulando a impunidade.

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O poder público conta com o apoio dos setores produtivos. Desde 2014, o Movimento em Defesa do Mercado Legal Brasileiro —com integrantes do Etco, do FNCP e de mais de 70 entidades— busca conscientizar a sociedade sobre esse grave problema. Afinal, as indústrias e o comércio, que atuam de maneira lícita, recolhendo impostos e gerando empregos, são diretamente impactados.

No site www.contrabandonao.com.br, apresentamos a campanha agora lançada. É possível entender o quanto o país perde com o mercado de produtos ilegais, quais os efeitos nocivos do contrabando para a sociedade e como cada cidadão pode colaborar para fortalecer o comércio legalizado, trazendo de volta o dinheiro perdido e movimentando a economia de forma sustentável e próspera. Queremos que a sociedade abrace essa luta conosco, assinando nossa petição, que demanda uma solução do Estado brasileiro para as causas do contrabando, em prol do desenvolvimento social e econômico do Brasil e de sua população.

Com informações transparentes, o cidadão colabora na construção de um país mais justo, com mais oportunidades e muito mais segurança para toda a sociedade.

Ômicron, ameaça ou presente de Natal? Hélio Schwartsman, FSP

 A ciência é uma ferramenta poderosa não porque nos mune com certezas, mas porque nos obriga a medir e confrontar nossa própria ignorância. E não há melhor exemplo de quão incertas podem ser as coisas do que as dúvidas que temos agora diante da variante ômicron do Sars-CoV-2.

A maioria dos cientistas recomenda que nos preparemos para uma nova onda de Covid-19, reforçando a vacinação e medidas de contenção e distanciamento. Alguns especialistas, entretanto, dizem que a chegada da variante poderá ser positiva, acelerando o fim da pandemia. Como entender essa disparidade?

Pelos dados até aqui disponíveis, a nova cepa parece ser bem mais transmissível que as anteriores. Há motivos também para acreditar que ela apresente algum escape a vacinas e à imunidade conferida por infecções prévias. A boa notícia é que, na África do Sul, onde a ômicron já se tornou prevalente, não se viu, até agora, alta nas mortes e nem nas internações hospitalares, o que constitui um indício de que a nova variante seja menos patogênica.

Vale lembrar que a Covid existe para humilhar os epidemiologistas e suas previsões. O fato de a nova cepa ter se tornado prevalente no sul da África não significa necessariamente que fará o mesmo no resto do mundo. A beta foi um fenômeno essencialmente africano. A gama, sul-americano. Já a delta venceu todas as outras cepas. A ômicron será local ou global? Ainda não sabemos.

Também não sabemos se a baixa letalidade verificada na África do Sul vai perdurar e se valerá para todas as faixas etárias e para outras populações. Mas, se tudo isso de fato ocorrer, aí poderemos vislumbrar o cenário em que uma variante benigna se multiplique tanto que desaloje as mais letais, transformando a Covid no resfriadinho de que Bolsonaro falava. Podemos desejar isso (o Natal, afinal, está chegando), mas o princípio da cautela exige que nos preparemos mesmo é para uma nova onda.