sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Ômicron, ameaça ou presente de Natal? Hélio Schwartsman, FSP

 A ciência é uma ferramenta poderosa não porque nos mune com certezas, mas porque nos obriga a medir e confrontar nossa própria ignorância. E não há melhor exemplo de quão incertas podem ser as coisas do que as dúvidas que temos agora diante da variante ômicron do Sars-CoV-2.

A maioria dos cientistas recomenda que nos preparemos para uma nova onda de Covid-19, reforçando a vacinação e medidas de contenção e distanciamento. Alguns especialistas, entretanto, dizem que a chegada da variante poderá ser positiva, acelerando o fim da pandemia. Como entender essa disparidade?

Pelos dados até aqui disponíveis, a nova cepa parece ser bem mais transmissível que as anteriores. Há motivos também para acreditar que ela apresente algum escape a vacinas e à imunidade conferida por infecções prévias. A boa notícia é que, na África do Sul, onde a ômicron já se tornou prevalente, não se viu, até agora, alta nas mortes e nem nas internações hospitalares, o que constitui um indício de que a nova variante seja menos patogênica.

Vale lembrar que a Covid existe para humilhar os epidemiologistas e suas previsões. O fato de a nova cepa ter se tornado prevalente no sul da África não significa necessariamente que fará o mesmo no resto do mundo. A beta foi um fenômeno essencialmente africano. A gama, sul-americano. Já a delta venceu todas as outras cepas. A ômicron será local ou global? Ainda não sabemos.

Também não sabemos se a baixa letalidade verificada na África do Sul vai perdurar e se valerá para todas as faixas etárias e para outras populações. Mas, se tudo isso de fato ocorrer, aí poderemos vislumbrar o cenário em que uma variante benigna se multiplique tanto que desaloje as mais letais, transformando a Covid no resfriadinho de que Bolsonaro falava. Podemos desejar isso (o Natal, afinal, está chegando), mas o princípio da cautela exige que nos preparemos mesmo é para uma nova onda.


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