quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Análise atual de risco: ‘terrorismo’ volta ao poder, Ney Lopes OESP


19 de agosto de 2021 | 10h20

Cabul. FOTO: RAHMAT GUL/AP

Não é apenas a preocupante crise política brasileira, que cresce dia a dia, com gravíssimos riscos iminentes.

Nos últimos dias, o mundo assiste perplexo, após 20 anos, ao retorno ao poder do terrível grupo terroristas e fundamentalista Talibãs, ao comando do governo do Afeganistão.

A permissão foi do atual presidente Joe Biden, que vem sendo acusado por áreas de política internacional.

Vale lembrar, a própria opinião pública americana era largamente a favor da saída dos USA do Afeganistão.

Em julho, uma sondagem mostrava 70% de apoio à retirada dessas tropas.

Ainda candidato em 2019, Joe Biden lembrava aos americanos, que se vencesse as eleições seria o primeiro presidente dos EUA desde Dwight Eisenhower, nos anos 50, a ter tido um filho que servira num cenário de guerra.

O filho era Beau Biden, que serviu no Iraque, onde recebeu a Estrela de Bronze por bravura.

Beau morreu em 2015, o que sempre reforçou a sua disposição em retirar as tropas americanas do Afeganistão.

Idêntica posição, ele manteve desde os tempos de vice-presidente de Barack Obama, mesmo se em 2001, como senador, votar a favor da invasão do país para derrubar o regime dos talibãs, na sequência do atentado de 11 de setembro.

A ideia de sair do Afeganistão não era uma obsessão só de Biden.

Já Obama prometera retirar do país que Bush filho mandara invadir com apoio unânime da comunidade internacional e Donald Trump, denunciando a “guerra sem fim”.

Ambos traçaram maio deste ano, como data da retirada, inclusive da OTAN, exatamente o dia 1 de maio.

Vinte anos depois de terem sido corridos do Afeganistão, os talibãs regressam ao poder e já existem certas previsões, de que o país poderá voltar a discriminar as mulheres, tal como aconteceu entre 1996 e 2001 quando os fundamentalistas religiosos dominaram o país.

Sem saída para o oceano e caracterizado por regiões montanhosas, o Afeganistão é um país historicamente importante nas rotas comerciais e disputas políticas da Ásia.

Os homens eram obrigados a deixar a barba crescer e as mulheres a usar a burca, uma vestimenta que cobre o corpo todo.

O Talibã proibiu a televisão, a música e o cinema, e não permitia que meninas de 10 anos ou mais frequentassem a escola.

Eles foram acusados ​​de vários abusos contra os direitos humanos e culturais.

Um exemplo foi em 2001, quando o Talibã destruiu as famosas estátuas do Buda Bamiyan no centro do país, gerando indignação internacional.

Outro ataque do Talibã, conhecido e condenado internacionalmente, foi em outubro de 2012, quando a estudante Malala Yousafzai foi baleada a caminho de casa, na cidade de Mingora.

Mas, agora, a partir do último domingo os Talibãs voltaram a dominar o país, depois da retirada das tropas americanas.

Felizmente, nas últimas horas têm surgido informações de otimismo, em relação ao novo tratamento dos rebeldes ao sexo feminino.

As mulheres não terão de estar cobertas da cabeça aos pés; sem permissão para trabalhar, exceto em circunstâncias muito limitadas; proibidas de frequentar escolas.

Poderão usar autocarros especiais e utilizar táxi, além de poderem estar com homens na rua que não sejam da sua família.

Dessa forma, as mulheres têm razões de otimismo, de que não perder os seus direitos e liberdades, nem receios de represálias, se não cumprirem as regras.

O comando Talibã prometeu que respeitará os direitos das mulheres, que podem trabalhar e estudar se quiserem, mas desde que o façam “dentro da lei islâmica”.

“Não queremos inimigos dentro ou fora do país. Nossas mulheres são muçulmanas e ficarão felizes em seguir as regras da sharia”, disse ele.

Ele também garantiu que não haverá retaliação contra soldados afegãos ou membros do Governo. “Ninguém vai te machucar, ninguém vai bater em suas portas”, acrescentou.

Do ponto de vista econômico, estima-se que o grupo Talibã arrecade até US$ 1,5 bilhão, por ano.

Parte desse dinheiro vem do tráfico de drogas.

O Afeganistão é o maior produtor de ópio do mundo e o Talibã domina a maioria das áreas onde estão as plantações de heroína.

O país abriga reservas de matérias-primas como cobre, ferro, mercúrio, cobalto e lítio, úteis para a indústria da alta tecnologia.

Mas, quase nenhuma mina é explorada devido à insegurança e falta de investimento.

A retirada dos Estados Unidos abre caminho para que países como China, Rússia e Irã explorem o mercado e os seus recursos, agora governado pelo Talibã.

O diálogo comercial já começou.

O Afeganistão tem um tesouro ainda inexplorado, que chama a atenção da China, que é o cobre.

A China tem um grande interesse no setor de minérios do Afeganistão, que vale muitos bilhões de dólares.

Com isso, poderão influenciar na Ásia Central.

A correta decisão de Biden

Na última segunda, 16, Biden cumpriu o que prometera juntamente com Obama e Trump e se afastou do Afeganistão.

O Presidente agiu corretamente.

À primeira vista pareceu abandono de antigos parceiros.

Mas, não foi, assim.

Agora, ele chegando à Casa Branca Biden, manteve-se coerente.

A tomada da cidade de Cabul concluiu a mais longa guerra americana, que deixa uma “fatura” de mais de 2,26 bilhões de dólares (perto de 1,92 biliões de euros) ao país.

Biden recentemente, antes de decidir-se, cientificou previamente o governo do Afeganistão para que assumisse a defesa da nação.

Numa época de gastos astronômicos com a pandemia, o desembolso financeiro dos Estados Unidos, ao longo dos anos, supera em muito o chamado Plano Marshall, através do qual os EUA deram uma nova vida à Europa, após a Segunda Guerra Mundial.

O que Biden não esperou foi a facilidade com que o governo Afeganistão abriu as portas do país, sem qualquer tipo de resistência ao inimigo.

O presidente Ashraf Ghani fugiu, levando bilhões de euros, facilitado pela inércia do exército afegão.

Não tinha sido isso o combinado com o presidente americano.

Biden alega, que os EUA já haviam feito a sua parte treinando soldados afegãos, garantindo armas e financiamento para o regime civil, treinando e equipando quase 300 mil membros ativos da Força Nacional de Segurança Afegã, e muitos outros que não estão mais na ativa.

“Já tivemos gastos e mortes demais”.

Por fim justificou Biden:

“Os líderes do país fugiram. Isso comprovou que não devemos estar lá. Não devemos lutar e morrer em uma guerra que os afegãos não querem lutar”.

Concluiu: “Demos a eles todas as chances que podíamos, mas não podíamos dar a vontade de lutar”.

O presidente americano agiu dentro do pensamento do sábio Rabino Hilel, o Ancião, que viveu de 60 a.C à 10 d.C., grande estudioso e pensador:

“Se não por mim, quem por mim? Se eu for só por mim, quem sou eu? Se não for agora, quando?”

A indagação que surge é sobre o que virá depois?

De agora por diante, os Talibãs irão montar uma forte república terrorista global, ou o mundo despertará para encontrar soluções que não onerem apenas o poder bélico americano, evitem mais uma crise migratória e preservem a paz?

Essa é a grande dúvida e a questão que Joe Biden acaba de deixar em aberto, diante do mundo livre.

O peso dessa responsabilidade, não poderia ser apenas dos Estados Unidos.

*Ney Lopes, jornalista, ex-deputado federal, ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da CF. Presidente do Parlamento Latino Americano, professor de Direito Constitucional da UFRN e advogado

Ruy Castro - As cores esfregadas no nosso nariz, FSP

 Ouço dizer que, num covil da internet, lê-se: “Abaixo o Supremo Tribunal Federal! Não passarão!”. Ouvi direito? A lendária palavra de ordem da Guerra Civil Espanhola (1936-39), consagrada pela ativista Dolores Ibárruri, La Pasionaria, comunista de 400 anos, terá sido adotada pelos seguidores de Jair Bolsonaro? Se sim, seria mais uma prova da ciclópica ignorância dessa gente. Mas não é só isso. Se os bolsonaristas são broncos ou ingênuos, há uma minoria que pensa por eles, teleguia-os e os abastece de slogans. E sabe o que faz.

A estratégia consiste em se apropriar das bandeiras, verbais ou simbólicas, do adversário. Começa pelo sequestro do conceito de democracia, que passa a ser de seu uso exclusivo. Qualquer tentativa de enquadrá-los na lei maior, a Constituição, é chamada de tentativa de ditadura —embora esta lhes sirva muito bem para definir os governos torturadores que defendem. Como a democracia é, por definição, um regime que assiste com notável tolerância a que se trame a sua própria destruição, eles dispõem de tempo e espaço para trabalhar.

A corrupção conceitual se estende à liberdade de expressão. Abusam do direito de exercê-la, mas processam e ameaçam quem faz o mesmo com eles e, se chamados a responder por seus excessos, correm cinicamente para trás do biombo jurídico. Essa é a mais perigosa das apropriações: a da Justiça —porque costurada por dentro, em silêncio, e, quando se torna evidente, como agora, já pode ser tarde demais.

Conceitos como “Deus”, “pátria”, “família”, “povo” e “homem de bem” também se tornam de sua propriedade, para maquiar práticas sabidamente canalhas.

E há o mais simbólico e ostensivo dos sequestros: o das cores nacionais. Elas se tornam seu monopólio e são esfregadas no nosso nariz. O Brasil precisa retomar o verde-amarelo. Mas, antes, terá de purgá-lo com o preto e o cinza, cores do luto. Por acaso, vem aí um 7 de Setembro.


Doria terá Rodrigo Maia no governo de SP e na busca por candidatura, OESP

 Alberto Bombig, O Estado de S.Paulo

19 de agosto de 2021 | 05h00

Rodrigo Maia assumirá um cargo no primeiro escalão no governo de São Paulo. Após ter sido convidado diretamente por João Doria (PSDB), o deputado federal pelo Rio de Janeiro será secretário de Projetos e Ações Estratégicas, responsável pelas iniciativas  de desestatização, parcerias público-privadas (PPPs) e concessões em andamento no Estado. 

Atualmente abrigada sob Planejamento e Gestão, a subsecretaria de Projetos e Ações Estratégicas subirá de prateleira na hierarquia do Palácio dos Bandeirantes para conferir status de secretário a Rodrigo Maia. 

Porém, para além do caráter administrativo da função, Maia, adversário de Jair Bolsonaro, assim como Doria, facilitará a interlocução do governador de São Paulo com políticos de outros Estados, afinal, sua longa experiência como presidente da Câmara dos Deputados o cacifa para tal missão. Juntos, ambos buscam se fortalecer na tentativa de construir uma alternativa de “terceira via” para as eleições de 2022

Doria e Maia
O governador João Doria (PSDB) e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, no Palácio dos Bandeirantes Foto: Coluna do Estadão

Outra interface do cargo será com o setor produtivo e o mercado financeiro, dos quais Maia se aproximou por ter conduzido reformas importantes no Legislativo. “A experiência do Rodrigo Maia à frente da Câmara fortaleceu nele a capacidade de dialogar com governos, sociedade civil e setor produtivo, com eficiência e credibilidade”, afirmou Doria. 

Após ter deixado a presidência da Câmara, em fevereiro deste ano, Maia tem dividido seus esforços entre fazer oposição a Bolsonaro e buscar um novo partido, pois, após rompimento, foi expulso do DEM, onde construiu sua carreira política. 

O candidato de Maia a presidente da Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP), foi derrotado por Arthur Lira (Progressistas-AL), apoiado por Bolsonaro. Maia foi traído por membros do DEM, inclusive por deputados ligados ao ex-prefeito ACM Neto, presidente do partido. 

Em mais de uma oportunidade, Maia declarou que não medirá esforços para derrotar Bolsonaro nas urnas em 2022. Por isso, é natural que ele passe a integrar o núcleo político de João Doria. O governador tucano disputa o processo de prévias do PSDB em busca da candidatura presidencial no ano que vem. 

A ideia de ambos é romper com a polarização entre Lula, à esquerda, e Bolsonaro, à direita. Doria destaca a importância da gestão Maia na Câmara. Segundo governador, essencial para manter o equilíbrio do estado democrático de direito e evitar rupturas institucionais. 

Ao deixar o cargo, porém, Maia foi criticado por adversários do presidente porque não aceitou pedidos de impeachment contra Bolsonaro. 

Biografia

Filho do ex-prefeito Cesar Maia, Rodrigo Maia também mantém boas relações com o MDB do ex-presidente Michel Temer e com o atual prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD). 

O deputado presidiu a Câmara durante o governo Temer (2016-2018) e nos dois primeiros anos de Bolsonaro. Teto de gastos, reforma da Previdência, reforma trabalhista, Marco do Saneamento, Lei da Terceirização e mudanças no Ensino Médio no Fundeb são iniciativas do Congresso creditadas ao empenho direto de Maia. “Todas as reformas que passaram sob sua liderança só foram possíveis por causa do diálogo, do senso de urgência e do olhar estratégico de quem sabe o que é verdadeiramente importante para o País”, disse Doria. 

Aos 51 anos, o deputado está em seu sexto mandato na Câmara. No Executivo, ele foi secretário de Governo da prefeitura do Rio, de 1997 a 1998.