quarta-feira, 14 de julho de 2021

Candidatos da lista tríplice da PGR pedem que Bolsonaro seja investigado por abuso de poder ao atacar o sistema eleitoral, OESP

 Cinco dos onze integrantes do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF), dentre eles os três subprocuradores-gerais que compõem a lista tríplice de indicados da instituição ao cargo de procurador-geral da República, encaminharam um documento a Augusto Aras, atual PGR, acionando-o na condição de Procurador-Geral Eleitoral para que investigue o presidente Jair Bolsonaro pelo crime de abuso de poder de autoridade nos recentes ataques ao sistema eleitoral. Na petição, é mencionada a possibilidade de o MPF solicitar a inelegibilidade e a cassação do registro de candidatura do presidente, caso seja confirmado o crime eleitoral.

“Daí a necessidade do olhar do Ministério Público Eleitoral, numa perspectiva preventiva, a fim de detectar, nos fatos ora noticiados, elementos potencialmente caracterizadores de ilícito eleitoral, tendo em conta a proteção do regime democrático e seus instrumentos de realização, a fim de municiar-se para eventual arguição de inelegibilidade e cassação de registro de candidatura”, diz o documento.

Em outro trecho é mencionado: “se há ameaça à própria realização do processo eleitoral por parte de quem exerce um cargo público de elevada envergadura constitucional, urge a atuação investigatória do Ministério Público Eleitoral”.

A petição enfatiza o caráter preventivo da legislação eleitoral, cujo poder não se restringe a apenas corrigir as condutas perigosas à regularidade das eleições. Segundo os membros do MPF, o abuso de poder ocorre de forma multifacetada, podendo o presidente incorrer no crime ao tentar subverter as instituições,” por meio da supressão das regras do jogo democrático”.

“As declarações do sr. Presidente da República parecem ultrapassar os limites do mero [e intangível] exercício do direito constitucional à liberdade de expressão. Exatamente por isso, têm-se aí indicativos da necessidade de pronta atuação do Procurador-Geral da República, na condição de Procurador-Geral Eleitoral, ante seu papel constitucional de defesa do regime democrático e do livre exercício do direito de sufrágio”, escrevem os subprocuradores-gerais em outro trecho da petição.

No documento, são citados momentos em que Bolsonaro teria utilizado a alegação de fraude nas eleições para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a atender a demanda do governo de utilização do voto impresso no pleito do ano que vem.

Os subprocuradores-gerais da República argumentam na representação encaminhada a Aras que as declarações do presidente contra o atual sistema eleitoral põem em risco a estabilidade das eleições no país e geram um estado de insegurança. No texto é citada a Lei Complementar nº 64/1990 que define que o “abuso do poder econômico ou político, em detrimento da liberdade de voto, serão apuradas mediante investigações jurisdicionais realizadas pelo Corregedor-Geral e Corregedores Regionais Eleitorais.”

O documento assinado por membros do CSMPF pressiona o procurador-geral da República a tomar as providências exigidas. No início do ano passado, Augusto Aras solicitou a abertura de inquérito para apurar a falta de oxigênio em Manaus depois de ser cobrado pelo Conselho Superior.

Ignorados há dois anos, os candidatos de lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) – e assinantes do documento – defendem que Bolsonaro considere as indicações da categoria como forma de dar mais lisura ao processo de escolha do próximo PGR.

Apesar de recorrerem a Aras hoje, os três candidatos já expuseram que ele se furtou do protagonismo exigido da PGR, especialmente, no contexto de combate à pandemia de Covid-19.

A boa geringonça, Rosângela Bittar, O Estado de S.Paulo


14 de julho de 2021 | 05h00

O impeachment de Jair Bolsonaro é perfeitamente possível. Há tempo para cumprir os prazos. Motivos, uma longa lista de crimes de responsabilidade. Há apoio popular. Mas não haverá impeachment enquanto Arthur Lira for a única pessoa que pode abrir o processo, um poder extraordinário reservado ao presidente da Câmara. Que o deputado alagoano não usará. Não matará sua galinha dos ovos de ouro.

Mais. Não se aplica, aqui, a preocupação de evitar o impeachment só para não banalizar o instrumento radical. Os afastamentos anteriores, já sob a Constituição de 88, foram muito bem sucedidos. Itamar Franco substituiu Fernando Collor e fez, simplesmente, o plano Real. Michel Temer substituiu Dilma Rousseff e deixou, de uma curta gestão, reformas importantes na economia e na educação.

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Não haverá impeachment enquanto Arthur Lira for a única pessoa que pode abrir o processo, um poder extraordinário reservado ao presidente da Câmara. Foto: PABLO VALADARES/AGENCIA CAMARA

Restará, portanto, a crise política permanente e o clima de incerteza e insatisfação que dominarão o país até as eleições de 2022. Percamos as ilusões quanto ao impeachment, neste momento.

Não se pode impedir, porém, que políticos, constitucionalistas, advogados, magistrados, cientistas sociais, historiadores e até empresários procurem saídas para um sistema político que se tornou refém de alguém como o presidente Jair Bolsonaro.

Veio exatamente do presidente da Câmara a principal novidade no desfecho da tensa semana que passou. E que foi precariamente encerrada com a inútil agenda de uma reunião entre os presidentes dos três poderes para repassarem seus limites constitucionais.

Para esvaziar a cobrança sobre o impeachment, Lira anunciou que pode ser discutido um tema substituto. Exatamente a proposta que reúne mais consenso entre as hipóteses de solução. A instituição do semipresidencialismo.

O presidencialismo atual é considerado o vilão das crises que o país vive desde os anos 50. O parlamentarismo já foi afastado até em plebiscito.

Arranjos possíveis cabem, sim, no arcabouço de um semipresidencialismo, sistema que evita a polarização e permite mil formas de composição. O modelo mais cobiçado é o praticado em Portugal. O semipresidencialismo lusitano tem o apelido de Geringonça e vigora com sucesso.

Outras vantagens são citadas na argumentação. Resolve as crises com mudanças simples e rápidas. O presidente da República mantém muitos dos poderes representativos, como a ascendência sobre as Forças Armadas e a concepção da política externa. E o primeiro ministro conduz o Executivo, sob o comando do Congresso.

As lideranças brasileiras estão diluídas, sem condições de apresentar candidaturas arrebatadoras, no presidencialismo autoritário do atual regime. Também não estão presentes na cena líderes políticos que desempenhem o papel de denominador comum para as tendências ideológicas conflitantes.

Como é o caso dos exemplares presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, e primeiro ministro Antonio Costa. Acredita-se que, criado o modelo, os quadros políticos brasileiros revelarão líderes com equilíbrio para ocupar as posições e exercitar a democracia plena, sem as frequentes intimidações, ameaças e risco de golpe.

Para não assustar os filhos de Jair Bolsonaro, verdadeiros titulares do poder do pai, o novo regime proposto por Arthur Lira seria instalado somente a partir de 2026. Uma data que, embora distante, não deixa de trazer esperança. Isto, no entanto, a maioria vê depois.

O presidente da Câmara prometeu convocar reunião de líderes para amadurecer a ideia. Mesmo que seja um desvio de atenção do problema principal, terá efeitos sobre o nervosismo imposto a todos. Inclusive sobre os empenhados na montagem da fraude eleitoral que se esconde no excesso de paixão pelo voto impresso, pretexto para devassar a urna eletrônica e melar a eleição.

COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’ E ANALISTA DE ASSUNTOS POLÍTICOS

Senado aprova projeto que prevê prisão para quem discriminar mulheres em campanhas eleitorais, FSP

 Washington Luiz

BRASÍLIA

O plenário do Senado aprovou nesta terça-feira (13) projeto de lei que proíbe a propaganda eleitoral que estimule a discriminação contra a mulher e prevê o crime de assédio contra candidatas. Para entrar em vigor, o texto agora depende apenas da sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A proposta, de autoria da deputada Rosangela Gomes (Republicanos-RJ) e relatada pela senadora Daniela Ribeiro (PP-PB), faz mudanças no Código Eleitoral e caracteriza a violência política contra a mulher como toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos de mulheres.

De acordo com as regras do projeto, quem depreciar ou estimular a discriminação em razão do sexo feminino, ou em relação à sua cor, raça ou etnia durante a propaganda eleitoral poderá cumprir pena de prisão de dois meses a um ano ou pagar multa.

A condenação poderá ser aumentada em um terço até a metade se a divulgação de fatos inverídicos durante o período eleitoral envolver o menosprezo ou discriminar mulheres.

O texto também prevê prisão de um a quatro anos para quem assediar, constranger, humilhar, perseguir ou ameaçar, por qualquer meio, candidata a cargo eletivo ou detentora de mandato eletivo.

O tempo de detenção aumentará em um terço se a mulher for gestante, tiver mais de 60 anos ou alguma deficiência ou se o crime for cometido por meio da internet ou de redes sociais.

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“Esse crime vem ocorrendo nas mais diferentes formas e meios, especialmente em mídias sociais, como o Facebook, Instagram e Twitter, inclusive por cidadãos que não são candidatos a cargo eletivos. A norma pretende proteger o interesse coletivo e garantir eleições justas e livres”, disse Ribeiro.

Em outro ponto, o texto estabelece que em eleições proporcionais os debates poderão ocorrer em mais de um dia e deverão ser organizados de modo que assegurem a presença de número equivalente de candidatos de todos os partidos que concorrem a um mesmo cargo eletivo, respeitada a proporção de homens e mulheres.

A senadora Nilda Godin (MDB-PB) comemorou a aprovação e disse que as mudanças vão permitir que as candidatas possam exercer os mandatos com dignidade e respeito.

“Sofri na pele ao longo da semana passada e desta semana vários tipos de agressões, como xingamentos, ameaças, toda sorte de palavrões de pessoas que não concordam com o projeto que apresentei que permite aos empregadores que possam demitir sem justa causa aquelas trabalhadores que recusarem a vacinação em tempo de pandemia e epidemia. Achei excelente esse projeto. Ele realmente precisa ser adotado”, disse.

REPÚDIO

Na sessão desta terça, os senadores também aprovaram um voto de repúdio ao DJ Ivis pelas agressões praticadas contra a sua ex-mulher Pamella Holanda e reveladas em vídeos pela vítima.

O pedido foi apresentado pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES). “Não podemos parar de lutar no Congresso e em todas as instituições. As mulheres precisam do nosso apoio. Apresento minha solidariedade às vítimas de violência doméstica por meio do nome de Pamella Holanda. Ao agressor, apresento meu total repúdio. Espero que as autoridades ajam com celeridade para puni-lo em conformidade com a legislação brasileira”, afirmou.