sábado, 22 de maio de 2021

Marcos Mendes - A causa da estagnação está no excesso de erros de política econômica, FSP

 A soltura e a reabilitação política dos presos por corrupção desencadearam movimento para reescrever a história, negando a existência dos crimes. Agora tenta-se, também, apagar os erros de política econômica, sugerindo-se que a recessão iniciada em 2014 seria fruto de choque externo negativo, excessos da Lava Jato e pautas-bomba da oposição.

Esse argumento ignora que crescimento econômico requer aumento de produtividade, competição, qualidade da regulação, previsibilidade e consistência das políticas fiscal e monetária. Por anos, a política econômica atentou contra esses pilares, tornando inevitável o tombo de 2014.

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É curioso que se coloque a culpa em choque externo, pois o longo superciclo de commodities foi um bilhete premiado para o Brasil, que foi desperdiçado. Acreditando que o ganho de renda era permanente e que, por mágica, havíamos definitivamente mudado de patamar de renda, a política econômica se enredou em equívocos. Seguem alguns exemplos.

De 2009 a 2012, quando o preço médio do barril de petróleo estava acima de US$ 90, foram interrompidas as licitações de novos campos. Quando retomadas, o preço já caminhava para US$ 50 e tínhamos um novo marco regulatório que desestimulava a competição, com contratos preferenciais para a Petrobras.

Em vez de receber os royalties em dinheiro, o governo passou a ser pago em petróleo. Precisou criar uma nova estatal para armazenar e vender o óleo, acumulando custos e prejuízos. A perda de royalties, investimentos e empregos está na casa das centenas de bilhões de dólares.

O novo marco regulatório do setor elétrico derrubou os investimentos e elevou o custo da energia. Leilões de rodovias e aeroportos baseados em populismo tarifário atraíram investidores oportunistas, gerando custo fiscal e serviços ruins.

Petrobras e Eletrobras foram induzidas a investir em setores de baixa rentabilidade, acumulando obras paradas e ativos inúteis. Fundos de pensão de diversas estatais foram compelidos a financiar projetos ruinosos e tiveram suas reservas corroídas.

A economia foi fechada à concorrência e aos investimentos estrangeiros, por meio de requerimentos de conteúdo local, medidas antidumping e regime automotivo. Os oligopólios nacionais ficaram livres para subir preços e relaxar na inovação tecnológica. Veneno para o crescimento.

Mais de R$ 500 bilhões foram despejados no BNDES para financiar investimentos a juros subsidiados. O dinheiro foi absorvido, em boa parte, por grandes empresas que não precisavam de subsídios.

Criaram-se distorções, como o financiamento de caminhões a juros negativos, o que levou ao excesso na oferta e à queda no valor dos fretes, fazendo a sociedade refém das greves de caminhoneiros.

Os benefícios tributários, financeiros e creditícios pularam de 3% para 6,7% do PIB entre 2003 e 2015. Quem pedisse levava.

A interferência na definição da taxa Selic desancorou a inflação, que passou de 10% ao ano no fim de 2015. O custo de desinflação e retomada da credibilidade do Banco Central se fez sentir posteriormente. Também se tentou inutilmente baixar os juros forçando os bancos públicos a reduzir suas taxas, o que resultou em prejuízos a essas instituições.

O governo acaba de reconhecer a perda de R$ 46 bilhões em créditos incobráveis do Fies, que decorreu de desenho equivocado do programa. Não faltaram iniciativas caras e de baixa eficácia, como Ciência sem Fronteiras e Pronatec.

Em 2014, a folha de pagamento da União havia crescido 66% em termos reais, na comparação com 2003. Foram corriqueiros os aumentos excessivos de salário e as contratações sem critério. Afrouxou-se o controle do endividamento dos estados, que quebraram e repassaram a conta para a União.

Os passivos se acumularam e desembocaram na dívida pública, que pulou de 52% para 68% do PIB entre maio de 2014 e maio de 2016. Um salto de 16 pontos do PIB em apenas dois anos, sem que o país tenha passado por guerra ou pandemia.

Muitas das políticas erradas persistem, defendidas pelo lobby dos beneficiários, e vão dificultar a retomada do crescimento por muitos anos. Esquecer ou negar os erros não nos fará um país melhor.


Consumo de carne no Brasil cai ao menor nível em 25 anos, FSP

 Ana Mano

SÃO PAULO | REUTERS

A pandemia da Covid-19 provocou mudanças à mesa dos brasileiros, que cortaram o consumo de carne bovina para o menor nível em 25 anos, de acordo com dados do governo, que calcula a disponibilidade interna do produto subtraindo o volume exportado da produção nacional.

Não bastasse a perda de renda da população, os preços de cortes bovinos dispararam, na esteira de valores recordes da arroba do boi gordo, limitando o consumo interno, enquanto a China importa como nunca carnes do Brasil.

Agora, cada brasileiro consome 26,4 quilos desta proteína ao ano, queda de quase 14% em relação a 2019 —quando ainda não havia crise sanitária. Este é o menor nível desde 1996, início da série histórica da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Carnes à venda em açougue no bairro Jardins, em São Paulo (SP) - Eduardo Knapp - 28.nov.10/Folhapress

Só nos primeiros quatro meses do ano, o consumo per capita de carne bovina caiu mais de 4% em relação a 2020, estima a Conab.

"A questão da pandemia trouxe desemprego e perda de renda", disse à Reuters Guilherme Malafaia, pesquisador do setor de bovinos da Embrapa. "Isto empobreceu a população e também gerou perda de poder aquisitivo, enfraquecendo o consumo interno da proteína."

A alta da carne bovina levou o brasileiro a procurar opções mais baratas, incluindo frangos e suínos. Além disso, o consumo de ovos, que o Brasil quase não exporta, chegou ao maior nível em 20 anos.

Enquanto o Brasil fica mais pobre, uma doença que dizimou boa parte do rebanho suíno da China diminuiu a oferta de carne naquele país, levando-o a importar mais proteína de outros lugares.

Isto ajudou a fomentar uma inflação global dos alimentos, que também assola o Brasil.

Sergio de Zen, diretor de política agrícola da Conab, disse à Reuters que o mundo todo está pagando mais por comida. Ele acrescentou que a moeda fraca castiga o Brasil em especial, pois o câmbio desvalorizado aumenta os custos de produção aqui.

De acordo com o IBGE, o preço das carnes em geral subiu 35% no país nos 12 meses até abril, mais que cinco vezes o próprio IPCA no período.

No caso da arroba do boi, o preço subiu mais de 50% na comparação com o mesmo período de 2020, operando atualmente em cerca de 305 reais, um pouco abaixo da máxima história registrada em 2021, segundo dados do Cepea.

Os frigoríficos lidam ainda com uma cíclica diminuição da oferta de animais para abate.

CONSUMO DE OVOS

Com a alta das carnes, algumas famílias agora comem mais ovos.

De olho na nova clientela, há maior procura por material genético para produzir ovos em pequena escala e vendê-los nas grandes cidades, diz Marcelo Miele, pesquisador para aves e suínos da Embrapa.

O preço do ovo não subiu como o do frango, cuja alta ficou em linha com a inflação de alimentos; e muito menos que o do suíno, que subiu bem acima dos alimentos por causa de um aumento da exportação para China, disse Miele.

No lado da oferta, a alta do preço das carnes no Brasil também reflete maiores custos de produção.

Consumo de ovos aumentou durante a pandemia - Gabriel Cabral - 1.mar.21/Folhapress

Para as empresas, a escassez de bovinos para abate causa uma ociosidade na indústria que seria entre 35% e 40%, estima Malafaia, com reflexos no suprimento doméstico. Se a empresa tem autorização para exportar, a preferência é abater e vender a clientes como a China, que pagam em dólares e cobrem os custos, disse.

Já do lado das aves e suínos, o vilão é o milho, que dobrou de preço no último ano e é o mais importante componente da ração. Mas mesmo com custos mais altos, os produtores de frango e suínos conseguiram aumentar a disponibilidade interna dos dois tipos de proteína.

Houve alta de 5% no consumo per capita de suínos e 6% no de frango em 2020, parte disso impulsionado pelo auxílio emergencial, disse Miele, citando dados da indústria e do IBGE.

"Com a pandemia, pensamos que haveria problemas de ruptura da cadeia", disse Miele referindo-se a frangos e suínos. "Mas pelo que aparece na estatística de consumo per capita, não foi isto que aconteceu."

Mônica Bergamo - Mauro Ricardo Costa anuncia saída do governo Doria, FSP

 O secretário de Projetos, Orçamento e Gestão de São Paulo, Mauro Ricardo Costa, anunciou nesta sexta (21) que está deixando o governo João Doria (PSDB). Em mensagem enviada a um grupo de secretários no WhatsApp, ele diz que sai "com o sentimento de dever cumprido".

A interlocutores, Costa disse que sua saída da gestão Doria se deve a "incompatibilidade de estilo gerencial".

"Aceleramos o programa de desestatização, com impactos significativos na redução de despesas, ampliação de receitas e melhorias na prestação dos serviços à população, além de vários outros projetos de extrema relevância", afirma o agora ex-secretário na mensagem enviada ao grupo.

O secretário de Projetos, Orçamento e Gestão do estado de São Paulo, Mauro Ricardo Costa, na entrada de seu gabinete - Eduardo Knapp - 7.jan.2021/Folhapress
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"Foram cerca de 12 meses de intenso trabalho de estruturação do Programa de Metas 2020/22 e de um rigoroso ajuste fiscal no estado, ambos concluídos."

Seu nome se tornou tradicional em gestões do PSDB para executar ajustes fiscais, por exemplo nas prefeituras de São Paulo e Salvador e no governo do Paraná.