terça-feira, 9 de junho de 2020

Santander planeja demitir 20% dos funcionários no Brasil durante a pandemia de Covid, FSP

Banco pode cortar 9,4 mil funcionários apesar de ter se comprometido a não realizar cortes durante a crise

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SÃO PAULO

O Santander Brasil começou a demitir funcionários em um processo que pode cortar 20% do quadro de trabalhadores do banco.

As demissões ocorrem durante a pandemia do novo coronavírus mesmo após o banco ter assinado um compromisso público de que não demitiria enquanto perdurasse a crise.

O Santander tinha 47 mil funcionários no final de março. Com o corte de 20% do quadro, 9.438 pessoas podem perder o emprego. O percentual de redução da equipe foi confirmado à Folha por executivos do banco, que preferiram não se identificar.

Em nota, o Santander afirmou que o compromisso de não demissão de funcionários tinha validade de 60 dias, prazo que venceu no final de maio.

Logo do Santander
Santander descumpre acordo e começa processo de demissão de funcionários - Edgard Garrido - 3.abr.2020/Reuters

A ordem para demitir teria sido dada na semana passada e, segundo denúncias recebidas pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, os cortes estão ocorrendo sem justa causa.

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A entidade que representa os bancários afirma que pelo menos 15 demissões já foram registradas na sexta-feira (5).

Segundo executivos do banco afirmaram à Folha, as justificativas para os desligamentos seriam relacionadas à performance dos funcionários, que estaria aquém do esperado pelo banco.

Durante a crise, o presidente do banco, Sergio rial, se queixou da queda de produtividade e também pressionou funcionários a deixar o home office, mesmo com os casos de Covid-19 ainda em expansão. O Santander, que se enquadra na categoria de trabalho essencial do governo, havia afirmado que desde o início da quarentena manteve 20% dos funcionários em funções administrativas na sede, em São Paulo.

Um dos executivos afirmou que, por mais que o desempenho do funcionário fosse o argumento usado para a demissão, o banco já fez cortes no quadro de trabalhadores nos últimos anos e, agora, “sobra pouca gente pra demitir por performance”.

A entidade que representa os bancários afirma que pelo menos 15 demissões já foram registradas na sexta-feira (5).

“Em 23 de março o Santander assumiu um compromisso público de que não faria demissões durante o período mais crítico da pandemia. Já recebemos as primeiras denúncias de demissões sem justa causa na sede do banco e há relatos de desligamentos também na Aymoré, que pertence ao Santander”, afirma a dirigente sindical e funcionária do banco, Lucimara Malaquias.

Segundo Malaquias, do Sindicato dos Bancários, outra justificativa dada pelos executivos para demissão de funcionários seria o ajuste no orçamento do banco.

O Santander registrou um aumento de 10,5% no lucro do primeiro trimestre deste ano ante igual período de 2019, para R$ 3,9 bilhões.

O aumento de risco de crédito ante a crise do coronavírus, no entanto, já trouxe um aumento de 85% nas provisões dos quatro maiores bancos do país —Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander— e, segundo analistas, também tendem a refletir em uma queda de receita nessas instituições nos próximos trimestres.

Na última quarta-feira (3) o banco divulgou a abertura de 1.500 vagas destinada para áreas de tecnologia, riscos, dados, financeiro e jurídico. “Estamos nos preparando para lidar com uma nova realidade que, sem dúvida, exigirá profissionais de alta performance e capacidade de adaptação”, afirmou Vanessa Lobato, vice-presidente de recursos humanos do Santander, na época.

Em matéria publicada no domingo (7) pela Folha, consultores e advogados afirmaram à reportagem que receberam diversas consultas de empresários que, sem perspectiva de uma retomada rápida da economia no mercado interno, sem garantia de crédito e com o crescente risco de assumir custos ainda maiores para demitir lá na frente, desistiram de reduzir jornada e salário e começaram a demitir.

Segundo os advogados, a redução no número de funcionários já começou e, por orientação de assessores jurídicos, ocorre a conta-gotas, uma vez que mandar embora um grupo grande de trabalhadores pode levar a questionamentos judiciais.

OUTRO LADO

Em nota, o Santander afirmou que faz parte do abaixo-assinado do movimento Não Demita (rede de empresas que se comprometeram a não reduzir o quadro de funcionários por 60 dias) e que foi uma das primeiras empresas no Brasil a anunciar que não faria demissões até o final de maio.

“Nosso compromisso social segue inabalável. Anunciamos recentemente a busca de mais de 1.000 profissionais e iniciamos uma nova operação de atendimento no sul do Brasil que poderá gerar mais de 4.000 empregos ainda neste ano”, afirmou o banco.

O Santander disse ainda que a liderança do banco iniciou um processo de reavaliação do nível de produtividade de suas equipes.

“O movimento é necessário para fazer frente a um entorno muito mais desafiador, além da necessidade de navegar com eficácia em um ambiente de arquitetura aberta, trabalho em rede e busca incessante de níveis de automação ainda mais contundentes. Este quadro de mudanças inclui, por exemplo, o trabalho remoto de equipes de forma mais permanente, já a partir do segundo semestre. A meritocracia é um dos grandes valores da instituição e é o filtro que pauta qualquer medida na esfera de gestão do nosso capital humano”, disse o banco em nota.​

Rio de Janeiro - Fabricantes nacionais enfrentam falta de isonomia tributária frente aos produtos importados e esperam desoneração de insumos e equipamentos utilizados na produção

Rio de Janeiro - Há sete empresas credenciadas no BNDES Finame para fabricação local de painéis solares, equipamentos que correspondem a 39% do valor total de um projeto de geração fotovoltaica. São elas: Balfar Solar, BYD, Flextronics, Globo Brasil, Minasol, Premier Montagens e Pure Energy.

Essas empresas enfrentam um cenário desfavorável em relação aos importados. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), os importados têm isenção de IPI e de ICMS e podem usufruir de isenções de Pis/Cofins (com Reidi), e de II (com ex-tarifário). Já a indústria instalada no Brasil paga IPI, II, ICMS e Pis/Cofins sobre a grande maioria das matérias-primas e insumos.

A estimativa é que os módulos fabricados no Brasil são 35% mais caros que os importados, o que leva muitos desenvolvedores a optar pelos importados.

O setor solar pede há anos a inclusão de insumos e equipamentos usados na produção de células e módulos fotovoltaicos no Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays (Padis), para que esses sejam desonerados do imposto de importação. A fabricação nacional paga até 60% de impostos sobre seus insumos. Já o produto importado paga 0% (com Reidi) ou 11,76% (sem Reidi, mas com crédito tributário), segundo relatório do grupo de trabalho fotovoltaico do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

segunda-feira, 8 de junho de 2020

O que podemos esperar de Alcântara (spoiler: não são voos como o da SpaceX), FSP

Salvador Nogueira

Em 25 de maio, a Agência Espacial Brasileira lançou um edital em busca de interessados em usar o Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão. Trata-se de uma boa iniciativa. Mas é impressionante como até mesmo as boas ações acabam contaminadas pela lente de distorção de fatos rotineiramente adotada pelo governo federal.

Na onda do lançamento comercial de tripulação da SpaceX, no sábado (30), o governo resolveu propagar a ideia de que voos como aquele poderiam em breve acontecer em Alcântara, talvez até em 2021.

Sabe quando teremos um lançamento comercial de tripulação no Brasil? Só depois que o George Soros concluir seus planos, feitos em parceria com a Ursal, para converter a Terra inteira (plana, claro) numa ditadura comunista globalista gayzista sob o comando da OMS e da China. É, você entendeu. Nunca.

Ou, sendo um pouco menos pessimista, dá para dizer que poderemos ter algo parecido depois que o governo brasileiro passar uns 20 anos levando a sério seu programa espacial. Até hoje, nunca aconteceu.

Então é tudo balela? Não, não é. Tem uma fagulha de verdade aí. Vamos encontrá-la. O que se pode esperar em tempo razoável para Alcântara é que atraia empresas que desejem realizar lançamentos comerciais de satélites a partir de lá, especialmente as que investem em foguetes de pequeno porte, capazes de lançar cargas úteis modestas.

São esses veículos que têm o maior benefício num voo a partir de Alcântara, que, por sua proximidade com a linha do equador, permite maior economia de combustível (ou, inversamente, maior capacidade de carga) para órbitas com baixa inclinação. De fato, há startups de foguetes de pequeno porte interessadas em, talvez, estabelecer base lá.

E o edital é só uma primeira etapa. É um documento de quatro páginas que basicamente pergunta às empresas interessadas como elas gostariam de usar o centro.

Daí a um contrato, vai algum tempo. E de um contrato à execução, vai mais tempo ainda. Tudo isso para lançar um foguete de pequeno porte, que talvez coloque uns 100-200 kg em uma órbita baixa ao redor da Terra.

De novo, é uma coisa boa? É sim. E teria sido ainda melhor se o Brasil tivesse concluído o ciclo de desenvolvimento de seu próprio lançador de pequeno porte, o VLM (derivado do defunto VLS), e pudesse ter a Avibras como primeira usuária comercial da Alcântara.

Mas não fique você pensando que a SpaceX vai vir correndo lançar em Alcântara. Com os foguetes cada vez mais potentes (hoje um Falcon Heavy coloca até 21 toneladas em uma órbita geoestacionária, a mais cobiçada comercialmente, o que em muito excede o satélite mais pesado por aí), a vantagem oferecida por Alcântara é pequena demais diante do custo envolvido na construção de infraestrutura local para lançamentos. Sem falar no custo de lidar com um governo ciclotímico como o brasileiro.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.