segunda-feira, 8 de junho de 2020

O que podemos esperar de Alcântara (spoiler: não são voos como o da SpaceX), FSP

Salvador Nogueira

Em 25 de maio, a Agência Espacial Brasileira lançou um edital em busca de interessados em usar o Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão. Trata-se de uma boa iniciativa. Mas é impressionante como até mesmo as boas ações acabam contaminadas pela lente de distorção de fatos rotineiramente adotada pelo governo federal.

Na onda do lançamento comercial de tripulação da SpaceX, no sábado (30), o governo resolveu propagar a ideia de que voos como aquele poderiam em breve acontecer em Alcântara, talvez até em 2021.

Sabe quando teremos um lançamento comercial de tripulação no Brasil? Só depois que o George Soros concluir seus planos, feitos em parceria com a Ursal, para converter a Terra inteira (plana, claro) numa ditadura comunista globalista gayzista sob o comando da OMS e da China. É, você entendeu. Nunca.

Ou, sendo um pouco menos pessimista, dá para dizer que poderemos ter algo parecido depois que o governo brasileiro passar uns 20 anos levando a sério seu programa espacial. Até hoje, nunca aconteceu.

Então é tudo balela? Não, não é. Tem uma fagulha de verdade aí. Vamos encontrá-la. O que se pode esperar em tempo razoável para Alcântara é que atraia empresas que desejem realizar lançamentos comerciais de satélites a partir de lá, especialmente as que investem em foguetes de pequeno porte, capazes de lançar cargas úteis modestas.

São esses veículos que têm o maior benefício num voo a partir de Alcântara, que, por sua proximidade com a linha do equador, permite maior economia de combustível (ou, inversamente, maior capacidade de carga) para órbitas com baixa inclinação. De fato, há startups de foguetes de pequeno porte interessadas em, talvez, estabelecer base lá.

E o edital é só uma primeira etapa. É um documento de quatro páginas que basicamente pergunta às empresas interessadas como elas gostariam de usar o centro.

Daí a um contrato, vai algum tempo. E de um contrato à execução, vai mais tempo ainda. Tudo isso para lançar um foguete de pequeno porte, que talvez coloque uns 100-200 kg em uma órbita baixa ao redor da Terra.

De novo, é uma coisa boa? É sim. E teria sido ainda melhor se o Brasil tivesse concluído o ciclo de desenvolvimento de seu próprio lançador de pequeno porte, o VLM (derivado do defunto VLS), e pudesse ter a Avibras como primeira usuária comercial da Alcântara.

Mas não fique você pensando que a SpaceX vai vir correndo lançar em Alcântara. Com os foguetes cada vez mais potentes (hoje um Falcon Heavy coloca até 21 toneladas em uma órbita geoestacionária, a mais cobiçada comercialmente, o que em muito excede o satélite mais pesado por aí), a vantagem oferecida por Alcântara é pequena demais diante do custo envolvido na construção de infraestrutura local para lançamentos. Sem falar no custo de lidar com um governo ciclotímico como o brasileiro.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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