Aumentou o temor de que a economia global mergulhe novamente numa recessão
Fábio Alves*, O Estado de S.Paulo
12 de junho de 2019 | 04h00
Com as taxas dos contratos futuros embutindo a aposta de três cortes de juros nos Estados Unidos até o fim deste ano – sendo o primeiro na reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed) em julho –, muitos investidores se perguntam se bancos centrais de outros países, incluindo o Brasil, serão forçados a seguir o mesmo caminho.
O raciocínio é o seguinte: com o Fed e outros importantes bancos centrais reduzindo juros, se o BC brasileiro mantiver a taxa Selic inalterada em 6,50%, haveria um aperto monetário relativamente ao resto do mundo. Esse cenário – de um aperto monetário passivo em relação aos juros mundiais, especialmente os de bancos centrais de países desenvolvidos – levaria a uma apreciação da moeda brasileira, puxando para baixo as expectativas para a inflação.
É interessante notar que uma disparada do dólar tem hoje menos efeito sobre os preços do que no passado, em razão da fraqueza da economia, mas já a apreciação do real geraria um impacto psicológico maior sobre as expectativas.
Nas últimas semanas, intensificaram-se as apostas para cortes de juros pelo Fed neste ano. E não foram somente por parte dos investidores: analistas e economistas de instituições financeiras internacionais também mudaram suas projeções quanto à trajetória dos juros americanos, prevendo agora cortes, após a divulgação de indicadores de atividade econômica nos EUA mais fracos do que o esperado.
Nas últimas semanas, aumentou o temor de que a economia global mergulhe novamente numa recessão. Com o maior PIB do planeta e, portanto, intrinsecamente ligados ao que acontece com a economia de outros parceiros comerciais, os EUA devem também sofrer a consequência de uma desaceleração global. E a economia mundial vem se desacelerando a um ritmo muito mais pronunciado do que se imaginava, especialmente a zona do euro.
Esse cenário poderá se agravar se os Estados Unidos e a China não chegarem a um acordo para colocar fim à guerra comercial, elevando ainda mais as tarifas de importação sobre os produtos de ambos os países.
Nesse contexto, muitos bancos centrais estão reduzindo os juros para mitigar um estrago maior às suas economias, movimento que analistas estão chamando de “insurance cut”, ou corte de juros preventivo como uma apólice de seguros contra uma recessão global.
Além disso, autoridades monetárias de vários países já estão se antecipando ao esperado ciclo de corte de juros americanos pelo Fed.
Na semana passada, o BC da Austrália reduziu os juros em 0,25 ponto para 1,25%, o menor patamar da sua história, a fim de estimular a economia australiana. Na sexta-feira, o BC do Chile anunciou uma redução de 0,50 ponto da sua taxa de juros, pegando de surpresa todos os analistas, pois ninguém previu tal decisão. A última vez que o Chile cortou juros nessa magnitude foi há exatamente dez anos.
Vários analistas classificaram a decisão do Chile como um “insurance cut”. Assim, poderia o Copom fazer um movimento preventivo com a taxa Selic semelhante ao do BC chileno, ainda mais que a economia brasileira já vem perdendo fôlego desde o fim do ano passado?
É preciso fazer duas ressalvas nesse sentido. A primeira é que a economia brasileira não é tão aberta ao comércio internacional como a do Chile, a qual sofre um impacto direto e imediato da guerra comercial entre EUA e China. A segunda ressalva é que um fator determinante para o Copom reduzir os juros é o que vai acontecer com a taxa de câmbio, pois a cotação do dólar tem um peso grande não só na inflação corrente como também nas expectativas inflacionárias.
O que aconteceria com o câmbio se o Congresso não aprovar uma reforma da Previdência?
Provavelmente, o dólar subiria fortemente ante o real se essa reforma não passar ou, caso venha a ser aprovada, a sua potência fiscal seja muito diluída por eventuais mudanças no texto pelos parlamentares.
Corte de juros pelo Fed e outros bancos centrais mundiais poderia dar, de fato, maior conforto para o Copom reduzir a Selic. Mas enquanto a incerteza sobre a aprovação da reforma da Previdência existir, o efeito externo sobre o câmbio de um ciclo de corte de juros mundo afora seria limitado, especialmente se a economia global derrapar mais.
*JORNALISTA DO BROADCAST