quarta-feira, 29 de maio de 2019

Saneamento = igualdade, Delfim Netto, FSP

Provisão de água e esgoto tratado potencializa efeito da saúde e da educação

A Constituição de 1988, com os magníficos princípios e direitos fundamentais, contidos nos primeiros 11 (4,4%) dos seus longos 250 artigos, sugere a construção de instituições que, consolidadas, produzirão uma sociedade civilizada. 
Na sua construção havia, obviamente, diferenças ideológicas, mas o “espírito do tempo” que comandava a Assembleia exigia a contenção absoluta do poder do Estado. Foi isso que construiu os 11 artigos referidos acima, que são o primeiro vetor do tripé sobre o qual se apoia nossa sociedade civilizada.
O segundo vetor é a construção de uma substantiva “igualdade de oportunidades”, que se revela nos dispositivos constitucionais: educação e saúde básicas para todos, financiadas por todos. 
Esgoto a ceu aberto em meio a casas no município paraíbano de São José de Caiana
Esgoto a ceu aberto em meio a casas no município paraíbano de São José de Caiana - Bruno Santos - 23.nov.18/Folhapress
Essa igualdade envolve, também, o direito de toda gestante (independentemente do seu estrato social, cor ou credo) de ter acompanhamento no parto e, ao nascituro, de ter a atenção da sociedade até seus primeiros 7 ou 8 anos de vida, quando se formará a sua capacidade cognitiva, independentemente da história de seus genitores.
A “justiça social” se fará, assim, na partida da corrida para a vida, não na chegada. 
O terceiro vetor é uma organização das relações produtivas que garantam a subsistência material do cidadão de forma eficiente, e o homem até hoje não encontrou mecanismo mais eficiente do que os mercados competitivos. 
O pior arranjo produtivo é entregar o monopólio a agentes públicos que gozam da estabilidade e inamovibilidade no emprego e de aposentadorias privilegiadas, o que os leva a recusar qualquer inovação produtiva que possa ameaçar sua tranquilidade, como é visível na reação corporativista que se une contra a competição, como agora no saneamento.
É lamentável observar as dificuldades de aprovação na Câmara da medida provisória que regulará o saneamento. São produto do poder das corporações que sempre controlaram o setor sem controle para cumprir seus objetivos. Nos últimos 40 anos, não levaram a sério o gravíssimo problema, como é comum às tecnoburocracias cujo único objetivo é uma rica e precoce aposentadoria.
Para conquistar a “igualdade de oportunidades”, a prioridade é imprimir, na maior velocidade, a provisão de água e esgoto tratado para todos, o que potencializará o efeito da saúde e da educação. 
distribuição de água e esgoto tratados dentro da população reproduz e reforça fielmente as diferenças das capacidades cognitivas dos cidadãos marginalizados.
É inconcebível ver a esquerda “infantil” apoiar a corporação que é a favor da continuidade da redução da capacidade cognitiva dos estratos mais pobres da nossa sociedade.
Antonio Delfim Netto
Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

Consultores de investimentos, Ruy Castro, FSP


Bezerra, Eike, Queiroz e Flávio deviam ensinar suas técnicas para fazer dinheiro do nada


Certas notícias são de tirar o fôlego. Na semana passada, a Justiça bloqueou R$ 258 milhões da conta bancária do senador Fernando Bezerra Coelho, ex-PSB-PE, hoje MDB-PE, por suspeita de envolvimento nas aventuras da Petrobras com construtoras e refinarias durante os anos Dilma. Bezerra Coelho é o atual líder do governo Jair Bolsonaro no Senado. Apesar desse rombo nas suas economias, ele não parece estar perdendo o sono. Pelo menos, em foto tirada no mesmo dia ao lado do presidente, estava feliz da vida. 
Dias depois, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aplicou uma multa de R$ 536 milhões no empresário Eike Batista, por uso de informação privilegiada para negociar ações de suas antigas empresas de petróleo e gás. Você se lembra de Eike. Há poucos anos, chegou a ser um dos homens mais ricos do mundo —hoje, não pega nem quinta divisão. Mas não se queixa. Em seu apogeu, quando lhe perguntavam como podia ser tão rico, ele respondia: “Eu faço riquezas do nada”. Sabemos agora que não estava mentindo.
E esta é a chave para quem quiser ficar rico —fazer dinheiro do nada. Fabrício Queiroz, ex-motorista do então deputado estadual FlávioBolsonaro, também explicou como conseguia movimentar milhões com seu miserável salário na carteira: “Eu sei fazer dinheiro”. E como era isto? Segundo ele, comprando e vendendo carros com lucros fabulosos. Mas, para outras correntes filosóficas, seria recheando o gabinete do chefe com funcionários fantasmas e dando interessantes destinos ao dinheiro. 
O próprio Flávio Bolsonaro é outro que sabe fazer dinheiro. Por mais elásticos o salário e as verbas de gabinete de um deputado estadual, só mesmo a vocação para fazer dinheiro explica tantos imóveisnegociados em tão pouco tempo e com lucros de 400%.
Se não fossem tão ocupados, Bezerra, Eike, Queiroz e Flávio seriam insuperáveis como consultores de investimentos.
Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.