terça-feira, 16 de abril de 2019

Dodge enfrenta STF e diz que arquivou inquérito sobre fake news, FSP

Para PGR, que não participou da apuração, cabe ao órgão decidir pela continuidade ou não do caso

Reynaldo Turollo Jr.Fábio Fabrini
BRASÍLIA
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou ofício nesta terça (16) ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmando ter arquivado o inquérito aberto em março pelo presidente da corte, Dias Toffoli, para apurar fake news, ameaças e ofensas aos ministros.
Apesar de o Ministério Público não participar da investigação, a Procuradoria-Geral da República entendeu que, por ser titular da ação penal —o único órgão com legitimidade para levar adiante uma acusação—, caberia a ela decidir pelo arquivamento ou continuidade do caso.
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, durante sessão do STF em março
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, durante sessão do STF em março - Pedro Ladeira - 21.mar.19/Folhapress
“Registro [...] que nenhum elemento de convicção ou prova de natureza cautelar produzida [nesse inquérito] será considerada pelo titular da ação penal ao formar sua 'opinio delicti' [opinião sobre o delito]. Também como consequência do arquivamento, todas as decisões proferidas estão automaticamente prejudicadas”, afirmou Dodge no documento.
No âmbito desse inquérito, aberto de ofício (sem provocação de outro órgão) por Toffoli, o relator, Moraes, determinou a retirada do ar reportagens em sites e buscas e apreensões realizadas na manhã desta terça. Para Dodge, essas ações devem ser desconsideradas.
Ainda não há manifestação do ministro Moraes sobre o ofício de Dodge.
“A situação é de arquivamento deste inquérito penal. No sistema penal acusatório estabelecido na Constituição de 1988, o Ministério Público é o titular exclusivo da ação penal, exerce funções penais indelegáveis, e esta exclusividade provoca efeitos diretos na forma e na condução da investigação criminal”, escreveu Dodge.
“O sistema penal acusatório estabelece a intransponível separação de funções na persecução criminal: um órgão acusa, outro defende e outro julga. Não admite que o órgão que julgue seja o mesmo que investigue e acuse”, continuou a procuradora-geral.
Para Dodge, a forma como o caso está sendo conduzido “transformou a investigação em um ato com concentração de funções penais no juiz, que põe em risco o próprio sistema penal acusatório e a garantia do investigado quanto à isenção do órgão julgador”.
A procuradora-geral também apontou que o objeto do inquérito não foi bem delimitado, o que contraria o devido processo legal, dificultando o controle da atividade policial pelo Ministério Público e o exercício do direito à ampla defesa e ao contraditório.
A abertura do inquérito ocorreu em uma semana marcada por derrotas da operação Lava Jato no STF e troca de farpas entre magistrados, congressistas e membros da força-tarefa em Curitiba.
Um dia depois do anúncio, Dodge pediu esclarecimentos sobre a investigação e sugeriu que o STF extrapolou suas atribuições.
Moraes foi escolhido por Toffoli para presidir o inquérito sem sorteio —o que motivou críticas de outros membros do tribunal.

CENSURA BASEADA EM NOTA DA PGR

Na sexta (12), Moraes determinou a retirada do ar de uma reportagem e de notas publicadas na semana passada pelos sites da revista Crusoé e O Antagonista —que foram notificados nesta segunda (15).
Os textos noticiavam a existência de um email do empresário e delator Marcelo Odebrecht em que, conforme um esclarecimento dele, havia uma menção a Toffoli.O email era de julho de 2007, época em que Toffoli era advogado-geral da União no governo Lula (PT). A mensagem de Marcelo Odebrecht a dois executivos da empreiteira dizia: “Afinal vocês fecharam com o amigo do amigo de meu pai?”. Não há qualquer citação a pagamentos. A PF perguntou a Odebrecht quem era a pessoa mencionada, e ele respondeu, no início deste mês, que era Toffoli.
Moraes considerou que a reportagem de Crusoé era inverídica porque relatava que o esclarecimento prestado por Odebrecht havia sido remetido à PGR. Para sustentar esse entendimento, o ministro utilizou uma nota divulgada pela PGR após a publicação da matéria. Na nota, o órgão informava que não havia recebido esse material —que era parte de um dos inquéritos da Lava Jato em Curitiba.
O diretor de Redação da revista Crusoé, Rodrigo Rangel, classificou a decisão do STF como censura e afirmou que “reitera o teor da reportagem, baseada em documento, e registra que a decisão [de Moraes] se apega a uma nota da Procuradoria-Geral da República sobre um detalhe lateral e utiliza tal manifestação para tratar como fake news uma informação absolutamente verídica, que consta dos autos da Lava Jato”.
 

O desenho da morte, FSP


O desenho da morte

Na Alerj, deputados querem andar armados. Como os milicianos da Muzema



Sessão na Alerj na última quarta-feira (10)
Sessão na Alerj na última quarta-feira (10) - Thiago Lontra/Alerj
Era uma sexta-feira, 13. Setembro de 1957. Cerca de 1.200 tiros foram disparados, durante dez minutos, no plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas, durante a votação do impeachment do governador Muniz Falcão, que era acusado de comunista por grandes proprietários rurais. O tiroteio matou um deputado e feriu oito pessoas, entre as quais o jovem repórter Márcio Moreira Alves, enviado especial do jornal Correio da Manhã.
O cineasta e jornalista Jorge Oliveira, que reproduziu o dia de fúria e intolerância no livro “O Curral da Morte” (Record, 2010), nota que, se olharmos com atenção o mapa de Alagoas, veremos que ele tem o formato de um pistola: a coronha ao norte, o cano aponta para o sertão pernambucano e o gatilho fica em Palmeiras dos Índios, cidade da qual o escritor Graciliano Ramos foi prefeito entre 1928 e 1930.
Pois agora é o Brasil, e em especial o Rio de Janeiro, que quer assumir o desenho e a ação das armas. Lembrei o episódio do bangue-bangue alagoano —como também o senador Arnon de Mello, pai do ex-presidente Fernando Collor, que em 1963 disparou contra um adversário, errou o alvo e matou um colega, dentro do Congresso— ao saber que a Assembleia Legislativa do Rio aprovou o porte de armas para deputados.
O projeto de lei precisa ser aprovado pelo governador Wilson Witzel —e ele parece simpático à ideia. Na atual legislatura, a Alerj, entre outros despautérios, criou uma verba de gabinete para os 70 parlamentares no valor de R$ 26,8 mil, pagos além dos salários, e conseguiu dar posse a cinco deputados que estão presos por suspeita de corrupção (será que eles terão direito a portar armas na cadeia?).
Foi no Palácio Tiradentes que o ex-PM Adriano da Nóbrega foi homenageado pelo então deputado Flávio Bolsonaro. Chamado de “Patrãozão”, Nóbrega comanda, com o poder das armas, a milíciaresponsável pela tragédia da Muzema.
Alvaro Costa e Silva
Jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro".

Educação e longevidade puxam IDH municipal do País para cima, mas renda piora , FSP


Radar IDHM pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em conjunto com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro (FJP); indicador reúne informações compostas por dados relacionados a longevidade, educação e renda dos brasileiros

Daniel Weterman  , O Estado de S.Paulo
16 de abril de 2019 | 11h05
BRASÍLIA - O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil teve uma leve alta de 2016 para 2017, puxado por melhora nos indicadores de Educação e Longevidade, mas não cresceu mais por causa de uma queda no valor da renda per capita nesse período. 
O chamado Radar IDHM foi publicado nesta terça-feira, 16, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em conjunto com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro (FJP). O indicador reúne informações compostas por dados relacionados a longevidade, educação e renda dos brasileiros. 
Pelo indicador, o IDHM do Brasil cresceu de 0,776 para 0,778 entre 2016 e 2017, mantendo-se na faixa classificada como de "alto" desenvolvimento humano. O crescimento da esperança de vida, de 75,72 anos para 75,99 anos, foi o principal índice que elevou o IDHM Longevidade no período. A frequência escolar, por sua vez, fez subir o IDHM Educação, de 0,739 para 0,742, complementando a composição do dado geral. 
Uma leve queda de 0,92% foi observada no valor da renda per capita entre 2016 e 2017, que passou de R$ 842,04 para R$ 834,31. Esse resultado, medido em período de crise econômica no País, gerou uma redução do IDHM Renda, de 0,748 para 0,747, diminuindo o fôlego de crescimento do desenvolvimento humano dos municípios. 
A redução está dentro de um contexto de manutenção da desigualdade de renda no País, medida pelo índice de Gini, explica o relatório do IDHM do Brasil. O Gini, de acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, permanceu em 0,55 nos dois anos, em uma escala que mede a disparidade de renda e que varia de 0 a 1. 
Diferenças. Nos dados desagregados, é possível observar que o IDHM da população branca caiu de 0,819 para 0,817, e o da população negra subiu de 0,728 para 0,732. Apesar da variação, a desigualdade ainda é um pouco negativo nos indicadores brasileiros. Na renda, por exemplo, brancos chegam a ganhar cerca de duas vezes mais que os negros: R$ 1.144,76, contra R$ 580,79 mensais, aponta o estudo. 
Disparidades também são verificaras entre as Regiões do Brasil. Enquanto que o IDHM atingiu 0,850 no Distrito Federal e 0,837 em São Paulo no ano de 2017, ficou em 0,687 no Maranhão e 0,683 em Alagoas. Quando o quesito considerado é a renda, os Estados do Norte e do Nordeste - com exceção de Roraima - apresentaram os menores índices e foram classificados como "médio" desenvolvimento humano.
A diferença entre homens e mulheres caiu no indicador, mas elas continuam ganhando menos do que eles no índice de renda per capita. O IDHM dos homens subiu ligeiramente de 0,772 para 0,773 de 2016 a 2017, enquanto o das mulheres passou de 0,769 para 0,772 de um ano para outro, praticamente se equiparando. O índice de renda deles caiu de 0,818 para 0,814 e os das mulheres subiu de 0,658 para 0,660, permanecendo a disparidade de gênero. 
Educação e longevidade. Entre os dados totais, o de Educação foi o que apresentou o maior destaque positivo. De 2012 a 2017, o IDHM Educação subiu de 0,686 para 0,742. A variação para cima foi puxada por um aumento na frequência escolar de crianças e adolescentes. O dado não foi melhor porque o porcentual da população adulta permaneceu praticamente o mesmo, variando de 64,41% para 64,31%.Apesar do leve aumento no subíndice de Educação, o relatório observa que, “em alguns Estados, nota-se uma diminuição de alguns indicadores de Educação, como a escolaridade de adultos e a frequência de adolescentes no ensino fundamental. Além disso, ainda é notável a persistência da lacuna existente entre os resultados para brancos e negros". Por um lado, 70,29% da população branca com mais de 18 anos tinha ensino fundamental completo em 2017. O porcentual cai 58,24% considerando apenas a população negra nessa faixa etária.
No quesito Longevidade, houve uma leve alta no IDHM do Brasil entre 2016 e 2017, de 0,845 para 0,850. No período, a esperança de vida ao nascer passou de 75,72 anos para 75,99 anos. Desde 2012, o indicador vem crescendo, porém, lentamente: era de 0,825 naquele ano, quando a população brasileira tinha uma expectativa de viver 74,52 anos. A mortalidade infantil, por sua vez, passou de 15,69 óbitos por 1 mil nascidos vivos em 2012 para 12,81 em 2017.
No último ano da pesquisa, mulheres tinham uma esperança de vida maior do que homens: 79,56 contra 72,46 anos. Brancos apresentavam expectativa de 76,62 anos, enquanto os negros, 73,69 anos. Entre os Estados da Federação, o Distrito Federal ficou com o maior índice da dimensão Longevidade, com esperança de vida de 78,37 anos em 2017. O menor resultado foi para o Maranhão, que registrou uma expectativa de vida de 70,85 anos ao nascer.