sábado, 6 de outubro de 2018

A tarefa inadiável, Opinião FSP

Bolsonaro e Haddad não mostraram ideias claras para lidar com o déficit nas contas do Tesouro

Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), candidatos à Presidência da República
Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), candidatos à Presidência da República - Fotos de Adriano Machado e Rodolfo Buhrer/Reuters
Muito pouco se sabe sobre o que pretendem fazer os favoritos na disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), a fim de evitar que as contas públicas rumem ao estrangulamento.
Seus programas oficiais são de baixo nível técnico, prestando-se mais à propaganda e ao proselitismo. Além do mais, teses colocadas no papel têm sido relativizadas, e declarações de auxiliares, desautorizadas pelos candidatos.
Não se pode desculpar tal obscuridade como conveniência de campanha —a crise orçamentária é, de longe, o desafio mais imediato e decisivo do próximo governo.
Em termos simples, as receitas do Tesouro Nacional há quatro anos não bastam para cobrir as despesas, mesmo quando se desconsidera o pagamento de juros aos credores. Com o que se chama de déficit primário, é preciso fazer mais dívida diariamente para as ações essenciais e as obras públicas.
Há uma estratégia gradualista em curso para enfrentar o problema. Por meio de uma emenda constitucional, a alta dos gastos federais está limitada à variação inflacionária; assim, o esperado crescimento da economia e da arrecadação de impostos reequilibrará aos poucos as finanças públicas. O rombo, porém, deve permanecer até 2021.
A viabilidade desse programa de ajuste, entretanto, depende de uma reforma urgente para conter a expansão contínua dos desembolsos da Previdência Social. Do contrário, as demais áreas da administração —saúde, educação, infraestrutura, segurança— serão sacrificadas ano a ano. 
Calcula-se que, no ritmo corrente, compromissos obrigatórios como aposentadorias, salários e benefícios sociais representarão 98% da despesa total ao final do mandato do próximo presidente. 
O programa de Bolsonaro afirma, corretamente, que o país está em “rota fiscal explosiva”. No entanto fala em obter um superávit já em 2019, sem aumento da carga tributária, o que soa fantasioso.
Propõe a adoção do “Orçamento base zero”, pelo qual todas as previsões de gastos serão reavaliadas. Não fica claro se tal propósito abrange apenas os programas não obrigatórios, o que teria efeito modesto, ou se a intenção é promover uma ampla —e dificílima— mudança constitucional.
Ideias um tanto megalômanas, como uma privatização completa e imediata, ou uma espécie de nova CPMF para substituir outros tributos, acabaram desautorizadas pelo candidato do PSL.
De mais crível, o documento prevê redução de benefícios tributários, um quase consenso entre os presidenciáveis. Não se especifica, contudo, o que seria cortado.
Já no programa de Haddad nem ao menos há indicação de que a despesa vá ser contida. Medidas imediatas, afirma-se, incluiriam a derrubada do teto de gastos e um plano econômico emergencial com aumento do investimento público.
O texto menciona de passagem regras para o controle orçamentário, mas só se detalha que as obras a cargo do governo e das estatais não estariam sujeitas a restrições.
Dá-se a entender que o crescimento da economia geraria os recursos necessários, como se a retomada fosse questão de vontade do governante. Ademais, pode-se esperar uma crise geral de confiança em caso de sinais de novo impulso perdulário do Executivo federal.
Na oposição, o PT tem rejeitado de modo estridente mudanças na Previdência, e o programa refuta “postulados das reformas neoliberais”. O tom panfletário contradiz a experiência das próprias administrações do partido.
Haddad mostra mais moderação em entrevistas e debates, mas, tratando-se de uma candidatura amparada apenas no carisma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é incerta sua autonomia em relação às pressões das alas petistas.
A missão de consertar as contas do Tesouro exigirá, mais que capacidade técnica, engenho político. Trata-se de enfrentar interesses instalados na máquina estatal —legítimos, embora nem sempre razoáveis. Salários exagerados, aposentadorias precoces, subsídios e benefícios tributários contam com defensores poderosos.
A busca por um Estado mais justo e funcional demanda persistência por anos ou décadas. Entretanto, há providências emergenciais a serem tomadas nos primeiros dias de mandato, nenhuma delas indolor ou desprovida de riscos.
Aos eleitores devem ser apresentados desde já planos realistas e compreensíveis. Fazê-lo só depois da vitória nas urnas tornará ainda mais difícil a tarefa de governar.

Bolsonaro alcança 40% dos votos válidos no Datafolha; Haddad tem 25% e Ciro, 15%, FSP

Nas simulações para 2º turno, os dois estão empatados tecnicamente, Bolsonaro tem 45%, e Haddad, 43%

    Ricardo Balthazar
    SÃO PAULO
    O deputado Jair Bolsonaro (PSL) chegou à véspera do dia da eleição mantendo a liderança da corrida presidencial, mas sem votos suficientes para liquidar a disputa no primeiro turno, de acordo com pesquisa concluída pelo Datafolha neste sábado (6).
    Segundo o instituto, o capitão reformado tem 40% das intenções de votos válidos, sem contar eleitores dispostos a votar em branco ou nulo, ou que estão indecisos. Para vencer no primeiro turno, é necessário somar 50% dos votos válidos mais um.
    Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) iriam para um segundo turno, segundo Datafolha
    Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) iriam para um segundo turno, segundo Datafolha - Paulo Whitaker/Nacho Doce/Reuters
    Bolsonaro aparece com 15 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), que tem 25%. Se mantiverem essas posições nas urnas neste domingo (7), Bolsonaro e Haddad se enfrentarão no segundo turno, no dia 28.
    Em relação ao levantamento anterior, concluído pelo Datafolha na quinta (4), Bolsonaro oscilou um ponto percentual para cima e Haddad ficou estagnado. 
    Em terceiro lugar na corrida, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) oscilou dois pontos percentuais e alcançou 15% das preferências, encurtando a vantagem que Haddad tem sobre ele e distanciando-se do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que aparece com 8%, na quarta colocação.
    A ex-senadora Marina Silva (Rede) terminou empatada com o ex-banqueiro João Amoêdo (Novo), com 3%. Em agosto, ela disputava a segunda posição com Ciro e Alckmin, mas despencou desde então, assim como o tucano.
    O Datafolha entrevistou 19.552 eleitores de 382 municípios na sexta (5) e no sábado. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-01584/2018 e foi contratada pela Folha e pela TV Globo.
    Impulsionado por uma onda conservadora que parece tê-lo identificado como o candidato com mais força para impedir a volta do PT ao poder, Bolsonaro ganhou votos nos últimos dias até entre mulheres e no Nordeste, segmentos em que enfrenta alta rejeição.
    Segundo o Datafolha, ele alcançou 30% das preferências entre as mulheres, apesar das manifestações de repúdio que levaram milhares de pessoas às ruas há uma semana, lideradas por mulheres que julgam Bolsonaro ofensivo. Haddad tem 21% entre as mulheres.
    Indicado pelo PT como candidato no lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba e foi impedido pela Justiça de concorrer, Haddad aparece à frente de Bolsonaro entre os eleitores mais pobres, com renda familiar mensal de até dois salários mínimos.
    O candidato petista tem 29% das preferências nesse segmento, mas viu diminuir sua vantagem sobre Bolsonaro, que tem 25%. Haddad também está na frente no Nordeste, o mais fiel reduto lulista, mas Bolsonaro também ganhou pontos ali nos últimos dias.
    Nas simulações para o segundo turno da eleição, Bolsonaro e Haddad aparecem empatados tecnicamente, ou seja, dentro da margem de erro do estudo. O capitão reformado aparece com 45% das preferências e Haddad, com 43%.
    ​Bolsonaro e Haddad enfrentam taxas de rejeição elevadas, o que tende a transformar o confronto entre eles no segundo turno em uma disputa bastante acirrada. Segundo o Datafolha, 44% dos eleitores dizem que não votariam no capitão de jeito nenhum e 41% rejeitam o petista.
    Em outro cenário, num eventual confronto com Bolsonaro, Ciro Gomes aparece com 47% e seu adversário alcança 43%. A simulação sugere um empate técnico no limite da margem de erro, porque a distância é de quatro pontos.
     
    Ciro, que governou o Ceará no início da década de 90, ganhou apoio nos últimos dias no Nordeste e na região Sul.
    Como Alckmin, outros candidatos que se lançaram com apoio de partidos localizados no centro do espectro político chegaram ao fim da campanha estagnados, com baixa pontuação. 
    O ex-senador Alvaro Dias (Podemos) e o ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) têm 2% das intenções de votos válidos. À esquerda, o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, aparece com 1% --igual ao Cabo Daciolo, candidato do partido Patriota.
    Segundo o Datafolha, 22% dos eleitores ainda admitem a possibilidade de mudar o voto. Entre as mulheres, 26% dizem que podem mudar de ideia e 25% afirmam que ainda não conhecem o número do candidato que escolheram.