terça-feira, 18 de setembro de 2018

Ao fechar loja da Paulista, Cultura está prestes a eliminar a marca Fnac no País, OESP

Grupo brasileiro recebeu R$ 130 milhões para ficar com os ativos da rede francesa no Brasil e agora só mantém a unidade de Goiânia em funcionamento; meta da Cultura, que enfrenta dificuldades financeiras, é encerrar Fnac no País, inclusive no e-commerce

Maria Fernanda Rodrigues e Fernando Scheller, O Estado de S.Paulo
18 Setembro 2018 | 04h00
Livraria Cultura está a um passo de terminar o processo de encerramento da marca Fnac após quase 20 anos de Brasil. Com o fechamento da megaloja da Avenida Paulista, no fim de semana, a brasileira está prestes a cumprir a missão que recebeu dos franceses há 14 meses: acabar com a operação da Fnac em troca de um pagamento de R$ 130 milhões. Segundo fonte próxima à empresa, a estratégia da Cultura é aproveitar a plataforma de venda online de eletrônicos da Fnac, sem manter a marca. Em breve, inclusive este braço do e-commerce deve ser incorporado pela Cultura.
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Loja da Fnac, na Paulista: bilhete para clientes comprarem no site. Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO
Com o fechamento da loja da Paulista – um dos ícones da Fnac no País –, a única unidade da marca ainda em operação é a de Goiânia. A Cultura usou os R$ 130 milhões que recebeu da Fnac para custear fechamentos de lojas – não só da Fnac, mas também da própria Cultura –, para reforçar o fluxo de caixa e para a aquisição do site Estante Virtual, de livros usados.
Segundo fontes do setor de livros, a empresa vem atrasando pagamentos às editoras. Uma fonte de mercado definiu a estratégia como um “refinanciamento por meio dos fornecedores”. Até o ano passado, diz outra fonte, a rede da família Herz tentava fazer alguns acertos pontuais com editoras. Hoje, nem isso.
A origem da Fnac no Brasil tem exatamente duas décadas: em 1998, foi aberto no bairro de Pinheiros, em São Paulo, o Ática Shopping Cultural, um projeto de R$ 25 milhões que não deu o resultado esperado. A Fnac assumiu a empreitada e trouxe a operação de eletrônicos ao País. Os livros, inicialmente o carro-chefe da unidade, foram aos poucos perdendo espaço. Recentemente, muitas editoras chegaram a deixar de negociar títulos com a rede francesa, o que deixou a empresa bem atrás das líderes no setor: Saraiva (30%) e Cultura (8%), que também enfrentam dificuldades.
A Fnac também jamais conseguiu cumprir os planos que tinha para o País, lembra Gerson Ramos, ex-funcionário da Ática e da Fnac, hoje diretor comercial da editora Planeta. “Seu modelo dependia de grande volume para se sustentar. Ela queria 20 lojas em 5 anos, mas só conseguiu abrir 11 em 15 anos.”
“Nunca vi coisa tão complexa quanto a situação que vivem as grandes redes. Estamos falando de 40% do mercado”, afirma Luiz Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro, referindo-se ao efeito da crise do setor, encabeçada por Fnac, Cultura e Saraiva.
O livreiro Alexandre Martins Fontes diz “estar preocupado” com o futuro das livrarias físicas. “A Fnac é mais uma vítima. Essa crise sem precedentes tem várias origens. É macroeconômica, política, mas também de responsabilidade do mercado, que tomou decisões erradas, como priorizar outros produtos em detrimento do livro.”
Procurada, a Cultura disse que não comentaria ou divulgaria resultados de suas operações. Em nota, afirmou que “segue seu planejamento estratégico para os próximos anos: manter unidades com boa performance (...) e reforçar a presença em e-commerce”.
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Amor e ódio na eleição, OESP

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
18 Setembro 2018 | 03h00

Jair Bolsonaro (PSL) é campeão de intenções de votos, mas também de rejeição. Fernando Haddad (PT) é quem mais cresce nas pesquisas, mas isso tem preço: quanto mais é conhecido e mais cresce, mais sua rejeição aumenta, praticamente na mesma rapidez e proporção.
Assim como encanta eleitores homens e de alta escolaridade, Bolsonaro é rechaçado por jovens, metade das mulheres e boa parte do eleitorado de baixa renda. E Haddad, assim como colhe os votos do ex-presidente Lula, herda a rejeição ao PT, que é muito forte, consolidada.
É nesse clima de “amor e ódio” aos dois líderes das pesquisas que o primeiro turno vai chegando ao fim, com os candidatos nervosos, suas equipes batendo cabeça e todos cometendo erros gritantes. A ansiedade bate à porta de uns e o desespero, à porta dos demais. O risco é o vale-tudo.
No hospital, Bolsonaro se livra de debates e sabatinas em que exibia todo o seu desconhecimento de economia, crise fiscal, investimentos, educação... Ao se preservar, porém, também sai do foco e deixa de fazer campanha numa hora decisiva e abre o flanco para o seu vice, general Hamilton Mourão, que está botando as asinhas de fora e acaba de produzir uma das pérolas da eleição: segundo ele, casa só com mãe e avó é “fábrica de desajustados” para o tráfico. O que é isso, minha gente?
Ao gravar um vídeo no leito hospitalar, Bolsonaro demonstrou duas fragilidades: a física e o medo do crescimento de Fernando Haddad. Acusou o golpe e saiu falando em “fraude” nas urnas, o que soa assim: “As urnas só são legítimas se eu vencer. Se eu perder, é fraude”. Bem democrático...
Haddad, que tem a campanha mais calculada e estratégica, ficou entre a cruz e a espada e optou. Para atrair os fiéis seguidores de Lula, ele se assume como pau-mandado do padrinho, diz que, se eleito, vai sempre pedir a bênção a ele na cela de Curitiba e deixa no ar a intenção de, no Planalto, conceder indulto para tirá-lo da cadeia. Mas, se isso aumenta a intenção de votos de Haddad, igualmente infla a rejeição a ele. Atiça o antipetismo, que não se esquece de que Lula, Dirceu, Palocci e todos os tesoureiros petistas foram presos pelo desmanche da Petrobrás.
Ciro Gomes continua sendo Ciro Gomes, expondo enfaticamente suas virtudes, mas incapaz de dissimular seus defeitos. E não é que o cabra macho cearense foi xingar, ameaçar e pedir a prisão de um repórter em Roraima?! Por uma pergunta mais do que legítima?! Mas o pior erro da campanha de Ciro é a estratégia errática. 
Ele tentou Lula, que bateu com a porta na cara dele. Tentou o PT e as esquerdas, que lhe surrupiaram o PSB. Concentrou baterias contra Geraldo Alckmin e jogou todas as culpas das mazelas do País no PSDB, defendendo Lula contra a prisão e Dilma contra o “golpe”. Só que seu “inimigo” não era Alckmin, eram o PT e Haddad, como fica claríssimo agora.
Já a campanha de Alckmin é bombardeada inclusive por tucanos, mas também por aliados, adversários, à direita e à esquerda. Um bom conselho seria o PSDB fazer fila, à frente Fernando Henrique Cardoso e Tasso Jereissati, para aprender todos um pouco de política com... o economista Persio Arida.
Enquanto o PSDB, o PP, o MDB, etc. só abrem a boca para puxar Alckmin para baixo, Arida deu ao Estado a entrevista mais política, contundente e eficaz da campanha tucana, dizendo que Bolsonaro é um “engodo liberal”, como Hugo Chávez foi na Venezuela, e lembrando a esquizofrenia da campanha do capitão: o candidato é “estatizante e corporativo”, já o seu “Posto Ipiranga”, o economista liberal Paulo Guedes, é “mitômano” e não vai mandar nada.
E Marina Silva? O problema da campanha dela não é estratégia errada, mas a total falta de estratégia. 

Instinto selvagem, FSP


Nas urnas, eleitor pode ser generoso, tribalista, vingativo e até racional



Urna eletrônica utilizada em votações no Brasil - Diego Herculano - 26.set.16/Folhapress
Vai se desenhando um quadro em que o Brasil poderá ter de escolher entre Jair Bolsonaro(PSL) e Fernando Haddad (PT).
primeiro já defendeu a tortura, o fuzilamento de adversários e apresenta um programa econômico ortodoxo, mas inexequível. Pior, a agenda oportunisticamente abraçada pelo candidato contraria todo seu histórico de 27 anos de votações como deputado federal.
Já o segundo representa um partido cujas políticas econômicas levaram o Brasil a uma das piores recessões da história e cujo programa de governo não traz nenhum indício de que a legenda tenha aprendido com seus erros. 
Como chegamos a esse ponto? Bryan Caplan, autor de “The Myth of the Rational Voter” (o mito do eleitor racional), tem uma explicação. Embora adoremos classificar aqueles que não partilham de nossas preferências políticas como seres egoístas que votam de olho no próprio bolso, ignorando o bem comum, essa não é uma boa descrição.
Como o peso de um sufrágio individual tende a zero num pleito com milhões de eleitores, nem o mais insensato dos cidadãos acha que é o seu voto que vai definir a política econômica. Já de saída, sustenta Caplan, não faria sentido fazer escolhas tendo em vista interesses materiais próprios. 
Ocorre que a virtual irrelevância de cada cédula singular também torna quase nulo o custo individual de votar “errado”. O seu sufrágio, por mais maluco que seja, não basta para prejudicá-lo. Com isso, a urna se torna o lugar onde o eleitor dá rédeas aos seus instintos mais básicos. Ele pode ser generoso, tribalista, vingativo e até racional. O sujeito vota de forma que o faça sentir-se bem consigo mesmo, sem pesar consequências. Mas, como ocorre com a poluição, o fato de o custo de erros individuais ser irrisório não significa que o custo coletivo também o seja.
O problema da democracia, diz Caplan, é que ela dá aos eleitores exatamente aquilo que eles querem.