A operação da Polícia Federal que prendeu na quinta (21) Laurence Casagrande Lourenço, ex-presidente da Dersa, deixou mais uma vez o ex-governador paulista Geraldo Alckmin em situação difícil.
O pré-candidato do PSDB à Presidência da República viu-se constrangido a dar declarações para defender sua gestão e apoiar as investigações, como já fizera outras vezes —assim se deu na prisão dePaulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da mesma Dersa, estatal que administra rodovias.
No caso deste último, Alckmin pôde dizer que não se tratava de personagem de seu círculo e que determinou apurações na empresa. Quanto a Lourenço, porém, a situação é mais complicada.
Este, afinal, vinha ocupando o comando da Companhia Energética de São Paulo (Cesp), depois de ter sido secretário estadual de Logística e Transportes de maio de 2017 a abril passado. Sua passagem pela Dersa, de janeiro de 2011 a maio de 2017, está longe de ter sido breve.
Tal currículo explicita ligações duradouras entre o ex-governador e o suspeito de ter se envolvido com operações fraudulentas na companhia, por meio de adendos contratuais irregulares nas obras do trecho norte do Rodoanel. Polícia e Ministério Público estimam prejuízos de cerca de R$ 600 milhões.
Além do ex-presidente da estatal, foram presos sete servidores e ex-funcionários. Na outra ponta do esquema, teriam sido beneficiadas as construtoras OAS e Mendes Júnior, ambas investigadas pela Operação Lava Jato.
As apurações sobre os desvios datam de 2016, quando um ex-empregado de uma empresa que participava da obra apresentou uma denúncia em depoimento à PF.
Ouvido posteriormente, Emílio Urbano Squarcina, ex-gerente do Rodoanel, confirmou que havia surgido na Dersa a estratégia de mudar o valor do contrato de modo irregular. Ele relatou ter resistido a pressões para elevar os valores e perdido o cargo.
De acordo com o Ministério Público, os aditivos foram mantidos mesmo depois de um laudo em contrário emitido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), órgão vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação.
Com dificuldades para conquistar percentuais mais expressivos nas pesquisas de intenção de voto, Alckmin e seu partido encontram embaraços óbvios para sustentar um discurso anticorrupção —não bastassem os episódios paulistas, há a tibieza no tratamento do senador Aécio Neves (MG), seu último candidato ao Planalto.
Para agravar os problemas, o trecho norte do Rodoanel não será entregue no prazo prometido. Marcada de início para 2014, a conclusão da obra ficará para 2019, na melhor hipótese. Nem se pode dizer, aliás, que atrasos do tipo sejam incomuns na administração tucana.