sábado, 23 de junho de 2018

Aos 91, morre ex-governador da Bahia Waldir Pires, FSP

João Pedro Pitombo
SALVADOR
O ex-governador da Bahia e ex-ministro Waldir Pires morreu na manhã desta sexta-feira (22) aos 91 anos em Salvador.
Ele havia dado entrada na noite de quinta-feira (21) no Hospital da Bahia com um quadro de pneumonia e, por volta de 10h desta sexta, teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. 
Waldir Pires gesticulando durante discurso
O então vereador Waldir Pires durante sessão do Senado destinada a lembrar os 50 anos do golpe civil e militar de 1964 - Beto Barata - 31.mar.2014/Folhapress
Waldir foi um dos quadros mais importantes da esquerda brasileira. Foi consultor geral da República no governo João Goulart, entre 1963 e 1964, e ministro da Previdência no governo José Sarney entre 1985 e 1986. Também foi ministro da Controladoria-Geral da União e da Defesa no governo Lula.
Após o golpe militar de 1964, ficou exilado por seis anos no Uruguai e na França. Retornou ao Brasil em 1970, mas só recuperou os direitos políticos com a anistia, em 1979.
Em 1986 foi eleito governador da Bahia pelo MDB, desbancando o jurista Josaphat Marinho, candidato apoiado pelo ex-governador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), seu principal adversário na política.
Ficou no cargo até 1989, quando descompatibilizou-se para tentar ser candidato a presidente da República. Acabou disputando as eleições como candidato a vice na chapa liderada por Ulisses Guimarães. A chapa ficou em sétimo lugar na disputa.
Foi deputado federal entre 1991 e 1994 e entre 1998 e 2002. Em 1994 e 2002 foi derrotado nas duas tentativas de chegar ao Senado. Neste período, passou por partidos como PDT e PSDB até filiar-se ao PT. 
No governo Lula, teve atuação destacada na CGU, sendo o idealizador de ferramentas de controle como o Portal da Transparência.
Já no ministério da Defesa, teve atuação criticada e foi demitido do ministério em julho de 2007 na esteira da crise dos aeroportos brasileiros, dias após o acidente com um voo da TAM que deixou 199 mortos. Em seu lugar, Lula nomeou o ministro aposentado do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim.
Em 2012, aos 85 anos, foi eleito vereador em Salvador, cumprindo mandato até 2016, quando saiu oficialmente da vida pública.
Com a saúde já debilitada, fez sua última aparição pública há uma semana, quando participou do lançamento da sua biografia escrita pelo jornalista e ex-deputado federal Emiliano José (PT).
O governador da Bahia, Rui Costa, decretou luto oficial de cinco dias. Em nota, o governador afirmou que Waldir foi ‘um exemplo de caráter e retidão, na vida pública e na vida privada” e disse que seu legado “serve de herança e inspiração”.
“Com temperança e honestidade, bem ao seu estilo, levaremos adiante seus ideais. Meus sentimentos, em especial à família e aos amigos, e que Deus conforte a todos nós”, disse o governador.
O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), também lamentou a morte do ex-governador: “Estivemos em lados opostos, mas Waldir nos lega o exemplo de homem público que exerceu com serenidade o seu papel na política. É um personagem de relevância que escreveu seu nome na história de nosso país”.
O corpo de Waldir Pires será velado neste sábado (23) a partir das 9h no Mosteiro de São Bento, em Salvador, onde será celebrada uma missa em sua homenagem, às 16h30.
A cerimônia de cremação será no domingo (24), às 11h, no Cemitério Jardim da Saudade.

É hora de agir para acabar com a farra do plástico descartável, FSP

Quando o assunto é lixo, há mudanças positivas ocorrendo no Brasil e no mundo

Há mudanças positivas ocorrendo no Brasil e no mundo quando o assunto é lixo, especialmente os plásticos descartáveis. 
O ano de 2018 começou com a decisão da China de não mais receber resíduos de vários países ricos. O que vinha sendo um negócio lucrativo desde a década de 1980 virou um problema, já que a classe média chinesa passou a consumir mais e gerar mais resíduos. Moral da história: entupida de lixo, a China interrompeu o fluxo de materiais, que agora precisam ter solução nos países de origem. Ponto para o bom senso.
Outra notícia surpreendente foi a decisão da Coca-Cola de anunciar no Fórum Econômico Mundial, em Davos, a intenção de reciclar até 2030 uma quantidade de embalagens equivalente a tudo o que for produzido pela empresa no mundo inteiro. 
Por convicção ou conveniência, a marca percebeu que precisava dar uma resposta à avalanche de plástico que vai parar no lugar errado, especialmente nos oceanos. 
Também neste ano, a Volvo Ocean Race, a prestigiada regata oceânica conhecida como a “Fórmula 1 dos mares”, aderiu à campanha “Mares Limpos: o mar não está para plástico”, promovida pelas Nações Unidas. 
A própria ONU participa da regata, coletando lixo plástico marinho ao longo das 45 mil milhas náuticas do circuito. Foi encontrado plásticoaté no “Ponto Nemo”, no oceano Pacífico, o lugar mais distante de qualquer continente ou ilha do planeta. 
No início deste mês foi realizado em Brasília o 1º Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, que promoveu uma intensa troca de experiências bem-sucedidas de redução drástica de resíduos em algumas cidades do mundo. 
Florianópolis aproveitou o encontro para se tornar a primeira cidade do Brasil a ter oficialmente um Programa Lixo Zero. 
De acordo com o Decreto Nº 18.646, a capital catarinense elegeu como meta reduzir em 60% o envio de resíduos secos (materiais recicláveis) e em 90% de resíduos orgânicos para aterros sanitários até 2030. 
Neste momento, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina discute um projeto que propõe a substituição dos canudos plásticos descartáveis por outros que sejam biodegradáveis em todo o Estado. Um projeto similar está sendo discutido pelos vereadores de São Paulo. 
A Câmara Municipal do Rio de Janeiro saiu na frente e aprovou na semana passada, em dois turnos, o banimento dos canudos plásticos descartáveis, que deverão ser substituídos por canudos de papel biodegradável e/ou reciclável
Por falta de espaço, fico com esses exemplos importantes na contramão do culto ao plástico descartável. 
A farra da plasticomania é crime de lesa-planeta. Basta de irresponsabilidade. É hora de agir. 
André Trigueiro
Especializado em gestão ambiental e sustentabilidade, é jornalista, professor, escritor e conferencista.

A desidratação da indústria, Celso Ming, OESP

Em todo o mundo, desde a década de 1980, a manufatura vem perdendo espaço para o setor de serviços, mas Brasil tem dificuldades próprias

Celso Ming, Raquel Brandão e Filipe Strazzer, O Estado de S.Paulo
23 Junho 2018 | 17h30
A indústria vinha passando por um processo de desidratação que não é fenômeno exclusivo do Brasil. E, mais recentemente, passou a enfrentar uma impressionante onda de tecnologia digital que tende a alijar do mercado a indústria que não estiver equipada para lidar com ela.
Em todo o mundo, desde a década de 1980, a manufatura vem perdendo espaço para o setor de serviços. É o que acontece por aqui, mas, também, nos Estados Unidos, no Reino Unido e até mesmo na China, tantas vezes vista como a nova fábrica do mundo. 
No Brasil, nem mesmo as políticas de isenção fiscal e de estímulos ao consumo de bens industrializados, tampouco os generosos empréstimos e investimentos do BNDES durante os governos do PT conseguiram conter o encolhimento do setor. A participação no PIB até cresceu, de 14,5%, em 2002, para 17,8%, em 2004. Mas, dez anos depois, em 2014, quando Dilma Rousseff foi eleita para seu segundo mandato, o setor já correspondia a apenas 12,0% do PIB. Em 2017, contribuiu com ainda menos, 11,8% do PIB. (Veja o gráfico.)
Com isso, o esperneio de empresários e de alguns economistas aumentou. A reação é, em parte, resultado da rarefação das bondades que o governo brasileiro sempre distribuiu à indústria. Ela cresceu por anos e anos sem enfrentar séria concorrência no mercado interno e, quando isso já não foi mais possível, foi privilegiada por políticas de isenção fiscal, empréstimos públicos a juros bem abaixo dos praticados pelas instituições privadas ou por desonerações nas folhas de pagamento.
Mas a participação da indústria de transformação brasileira na atividade econômica não se retrai apenas por falta de mimos. Há outras explicações para isso. Uma delas é a segmentação das atividades. Até 1980, por exemplo, entravam no PIB da indústria salários de recepcionistas, seguranças e faxineiros que trabalhavam nas fábricas. A partir de então, para reduzir custos, as empresas passaram a terceirizar funções não diretamente ligadas à atividade principal. A renda produzida por esses profissionais saiu da conta da indústria e engordou a dos serviços.
Outra razão é fenômeno analisado em outras edições por esta Coluna. A automação, a robotização e, mesmo, novos hábitos de consumo têm permitido a dispensa de pessoal pela manufatura. Trata-se de tecnologia altamente poupadora de mão de obra. Além disso, o mundo passou por movimento de internacionalização das cadeias produtivas. Países que pagavam salários mais altos perderam indústrias para países onde esse custo é mais baixo, em especial na Ásia. 
Não se podem ignorar, é claro, as dificuldades próprias do Brasil. O País é mau poupador e investe pouco, especialmente em infraestrutura. Para o economista Rafael Cagnin, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, esse comportamento é produzido por juros reais elevados demais no País e pelo complexo e custoso sistema tributário, fatores que tornaram a retração da indústria no PIB brasileiro especialmente precoce. “A indústria perde produtividade e competitividade ao longo do tempo. Há menos condições, tanto para agregar quanto para reter valor ao que produz.”
Renato Fragelli, professor da Escola de Economia da FGV do Rio de Janeiro, acrescenta outra razão: ausência de mão de obra qualificada. Por isso, prevê futuro pouco brilhante: “Não há poupança nem investimento em educação. Assim, a indústria não tem como deslanchar”. 
Enquanto a opção for apenas lamentar os privilégios que o governo não pode mais proporcionar, porque está bloqueado pelo rombo fiscal, a indústria brasileira tende a continuar a se apequenar. É que, além das razões acima apontadas, o mundo vive nova e impressionante revolução digital, diferentemente da anterior, com grande potencial disruptivo para a indústria que não se equipar para enfrentar a concorrência, a velha e a nova.
Para quem tiver sido alijado do mapa da produção não fará muita diferença se a eliminação for determinada por falta de política industrial ou se por falta de preparo para enfrentar os novos tempos.