quinta-feira, 31 de maio de 2018

Do Facebook do Gilberto Nascimento

Audálio Dantas - 30/05/18
Em uma semana, perdemos três grandes jornalistas: Alberto Dines, Ramiro Alves e, agora, Audálio Dantas.





Gabriel Priolli
ADEUS, PRESIDENTE
O grande, essencial Audálio Dantas nos deixou hoje.
Nós, jornalistas, perdemos o nosso maior líder sindical, uma referência de coragem e decência, e um colega adorável, carinhoso, solidário, leal, tudo que se possa querer de um amigo fraterno.
O Brasil perde um repórter e escritor magnífico, autor de trabalhos que marcaram história da nossa imprensa.
Perde também um valoroso ator político, que enfrentou a ditadura militar com altivez e firmeza, num período em que muitos se omitiram ou acovardaram, e que seguia no lado justo da luta, contra o golpe em curso desde 2016.
O mundo fica menor com essa partida. A eternidade se agiganta.
(Meus sentimentos a Vanira Kunc , a toda família e aos amigos)





SÃO PAULO
Morreu nesta quarta-feira (30) o jornalista e escritor Audálio Dantas, aos 88 anos, no Hospital Premiê, em São Paulo, onde estava internado desde abril. Ele tratava um câncer de intestino desde 2015, quando foi operado, mas a doença acabou por atingir o fígado e os pulmões depois disso. 
O repórter era conhecido por seu olhar humanitário sobre os temas do cotidiano e sua atuação em prol da defesa de direitos durante a ditadura militar, característica que lhe rendeu, em 1981, o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).
Nascido em Tanque D'Arca, pequeno município do agreste alagoano, Audálio iniciou a carreira no jornalismo aos 17 anos. Vindo do Nordeste para a capital paulista, o filho de um comerciante e uma dona de casa revelava imagens do fotógrafo Luigi Mamprin, no jornal Folha da Manhã, um dos títulos que dariam origem à Folha
Uma das reportagens que marcaram sua história se deu numa apuração sobre a favela do Canindé, às margens do Tietê, em São Paulo. Lá, o repórter conheceu Carolina de Jesus, moradora local que registrava um diário do seu cotidiano de fome, violência e dificuldade em criar os três filhos pequenos trabalhando como catadora de papel.
Os escritos de Audálio revelaram Carolina, que mais tarde se tornaria best seller, publicando livros no Brasil e no exterior, o mais famoso deles "Quarto de Despejo", de 1960.
Sua personalidade também ficou evidente quando assumiu a presidência do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, à época do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975. Audálio denunciou que Herzog havia sido torturado e morto no DOI-CODI, contrariando a versão oficial do governo, que falava em suicídio.
No enterro de Vlado, Audálio declamou a poesia "'Navio Negreiro", de Castro Alves, para as 600 pessoas presentes. "Senhor Deus dos desgraçados, Dizei-me Vós, Senhor Deus, Se é mentira, se é verdade, Tanto horror perante os céus", dizia parte do texto.
Após isso, em 1978, sua atividade sindical lhe rendeu um mandato como deputado federal por São Paulo, pelo antigo MDB (1979-1983). Audálio também foi o primeiro presidente eleito por voto direto da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). Até esta quinta, integrava o conselho consultivo da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).
A carreira de Audálio também registra passagens como redator e chefe de reportagem na revista O Cruzeiro, publicação que deixou para ser editor de turismo na revista Quatro Rodas.
Ele foi correspondente de guerra em Honduras pela Veja e trabalhou na revista Realidade, onde produzia reportagens sobre as mudanças econômicas e sociais por que passava Minas Gerais. Foi chefe de Redação da revista Manchete e editor da Nova.
Escritor, Audálio lançou livros, dentre eles "As Duas Guerras de Vlado Herzog" (Record), pelo qual recebeu o prêmio Jabuti e o prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, em 2013.
O jornalista completaria 89 anos no próximo dia 08 de julho. Deixa a mulher Vanira Kunc, quatro filhos e netos. O velório ocorre no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, a partir das 10h (rua Rego Freitas, 530, Vila Buarque). 

AUTORIDADES E AMIGOS LAMENTAM MORTE

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) lamentou a morte de Audálio Dantas. "Foi um batalhador. Sua ação no combate à ditadura foi constante e firme. A voz jamais calou e a presença fez-se notar sempre. Deixa um nome íntegro e saudades.”
O governador do estado de São Paulo Márcio França falou do jornalista em nota. "O interesse pela política nacional e os direitos humanos marcaram a atuação profissional de Audálio Dantas. O Brasil estava no centro de suas preocupações. Ele deixa seu nome gravado na história da imprensa paulista e brasileira."
O jornalista Ricardo Kotscho também recebeu com tristeza a notícia da morte do seu amigo, a quem visitou no hospital há poucos dias.
"Nas nossas últimas conversas, ele já estava desesperançado de que a nossa geração ainda conseguisse ver o Brasil com que sonhamos a vida toda, mais justo, mais humano, mais decente", escreveu em seu blog. 
Ele descreve Audálio como um "sertanejo valente dos sertões das Alagoas, um brasileiro de muito talento e firmeza, um dos protagonistas da passagem da ditadura para a democracia quando falar a verdade era correr risco de vida".
Chico Pinheiro, apresentador e jornalista da TV Globo, também lamentou a morte do colega de profissão. "Audálio, grande amigo e mestre. Daqui de Portugal, lamento profundamente perder você, meu presidente e amigo", escreveu no Twitter. 
Em nota, o Instituto Vladimir Herzog comentou a morte do repórter alagoano. "Sob a direção dele, o Sindicato dos Jornalistas se tornou uma das principais trincheiras, uma referência para a sociedade na luta contra a repressão."
"Em defesa do Estado de Direito, da verdade, da justiça e da memória do amigo que acabara de ter a vida interrompida, Audálio enfrentou os poderosos do momento e exigiu que a morte de Herzog fosse esclarecida", diz a nota. "Audálio foi testemunha e protagonista, escreveu a história e nela foi inscrito."
O escritor Laurentino Gomes, autor de "1808" (Planeta) e "1822" (Globo Livros), também lamentou a morte em rede social.
"Triste pela morte do meu amigo pessoal, exemplo de coragem e de lucidez para todos os jornalistas de nossa geração. Era inteligente, divertido, generoso. Lutou pela democracia como poucos. Fará muito falta neste Brasil tão carente de luz e de esperança", escreveu no Twitter.
O jornalista e professor da USP Eugênio Bucci disse que Audálio foi uma liderança para a categoria no início dos anos 1970 e se projetou rapidamente no cenário nacional. "Por um lado, essa projeção que ele alcançou mostra o talento pessoal que ele tinha, o carisma. De outro, mostra que o sindicato dos jornalistas, naqueles tempos, tinha um peso relativo superior ao que teria uns poucos anos depois", afirmou à Folha.
"Ele m anteve uma linha de coerência até o final da vida. É um nome que orgulha a nossa categoria profissional, e uma influência que ilumina a função pública da imprensa", disse Bucci.

Ciro dá show de marketing de campanha, mas sua visão tem perna bamba, FSP

Você pode admirá-lo ou desprezá-lo, mas Ciro Gomes (PDT) deu show de marketing de campanha. No Roda Viva desta semana, enquanto o governo afundava sob o peso dos caminhoneiros, o pré-candidato que pretende liderar as forças de oposição mostrou disciplina ferrenha para apresentar-se como porta-voz da mudança. 
Cada mensagem —mesmo quando falsa ou incorreta— foi talhada com cuidado para conquistar o voto do eleitor que está “cansado disso tudo que está aí”. Se alguém descartava a possibilidade de Ciro virar um candidato formidável à Presidência em outubro, precisa pensar de novo. 
O trunfo, porém, não foi resultado de ideias e propostas de governo (que só vão aparecer para valer durante o horário eleitoral gratuito). 
Ciro saiu vitorioso da jornada no Roda Viva porque encontrou um tom que atende a uma demanda popular e, de quebra, lhe cai bem: o de candidato mais bem qualificado para restaurar a autoridade presidencial num momento em que a população se encontra atordoada pelo desgoverno de seus líderes e à mercê de forças radicais. 
Se faltam alimentos nas prateleiras dos supermercados e autoridades veem-se obrigadas a explicar por que seria impossível e indesejável o Brasil assistir a uma “intervenção militar constitucional”, Ciro achou mensagem certeira. 
Só que aí começam os problemas. A visão do pré-candidato tem perna bamba. Ciro prometeu restaurar a ordem jogando pelas velhas regras do jogo. Afirmou não ter problema algum em pular na cama com o atraso para formar sua base aliada, usando para isso os instrumentos tradicionais do presidencialismo de coalizão. 
Em sua visão, tais regras só trazem problemas quando o presidente em função não sabe usá-las direito. Nada em sua fala denotou assombro com a natureza das regras ou indicou algum tipo de ambição de modificá-las.
De quebra, Ciro fez promessas irrealistas para a economia, requentando teses econômicas que repetidas vezes levaram o país à falência e, no processo, deram força a oligarquias empresariais. Ele demonizou a “ditadura do mercado”, mas suas promessas fariam esse mercado funcionar ainda pior para a maioria dos brasileiros. 
Como os congressistas respondem às demandas do eleitor por uma economia arrumada com menor intensidade do que respondem aos pedidos de criação de privilégios por parte de grupos de interesse particularistas, a tarefa de um presidente incapaz de mexer com as regras do jogo e ansioso por aumentar o tamanho da máquina pública já nasce difícil. 
A julgar pelo Roda Viva, Ciro tem tudo para competir com força pelo Planalto. Mas sua chance de produzir ordem no processo —ao invés de desordem— é questionável.  
Matias Spektor
Ensina relações internacionais na FGV. Trabalhou para a ONU antes de completar o doutorado em Oxford.

O juiz da foto, Opinião FSP

Questionado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após posar para fotografias ao lado do ex-prefeito João Doria (PSDB), o juiz Sergio Moro recorreu a um argumento questionável para reafirmar sua isenção.
Em despacho publicado na sexta (25), o magistrado comparou sua situação à do próprio Lula, apontando fotos antigas na internet em que o líder petista aparece ao lado do senador tucano Aécio Neves e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), que hoje são investigados por suspeita de corrupção.
Moro confraternizou com Doria há duas semanas em Nova York, quando recebeu uma homenagem da Brazilian-American Chamber of Commerce e participou de evento organizado por uma associação empresarial criada pelo ex-prefeito.
Para os advogados de Lula, a presença do juiz nesses encontros põe em dúvida sua imparcialidade. Bancos, empresas e escritórios de advocacia com clientes na mira da Lava Jato ajudaram a financiar a homenagem a Moro. Doria é pré-candidato do PSDB ao governo de São Paulo nas eleições de outubro.
Com razão, o magistrado de Curitiba sustenta que o giro por Nova York não revela nada que o desabone. “Uma fotografia em evento social ou público nada significa além de que as pessoas ali presentes tiraram uma fotografia”, escreveu Moro no despacho.
Ao apontar as fotos que registram encontros de Lula com o tucano e o emedebista, o juiz observou que o primeiro fazia oposição ao seu governo e ambos são alvo de suspeitas como o petista, acrescentando que isso não significa terem sido eles aliados nem cúmplices.
A comparação sugerida por Moro não cabe porque confunde seu papel profissional com aquele desempenhado por um presidente da República durante seu mandato.
As imagens recolhidas na internet mostram Lula dialogando com líderes políticos, ou seja, exercendo atividade que é parte essencial das obrigações de todo governante numa democracia.
A participação nos eventos de Nova York, ao contrário, foi uma escolha do magistrado. Ela pode ter servido a um gosto pessoal pela exposição, ou a um desejo de reforçar o apoio da opinião pública às ações da Lava Jato, mas é difícil justificá-la como algo necessário.
Num país em que ministros do Supremo Tribunal Federal e procuradores da República opinam diariamente sobre política e outros temas, Moro até se mostra comedido. Mas seria mais prudente se evitasse os riscos que o excesso de exposição pública pode criar para sua atuação profissional.