segunda-feira, 28 de maio de 2018

Novo ministro elogia reformismo de Temer, mas votou contra reforma trabalhista,FSP

Ronaldo Fonseca foi nomeado discretamente pelo presidente para a vaga de Moreira Franco

Talita FernandesGustavo Uribe
BRASÍLIA
Responsável por um dos votos contra a aprovação da reforma trabalhista, o novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Ronaldo Fonseca, disse ao tomar posse nesta segunda-feira (28) que o governo do presidente Michel Temer será conhecido por ser o mais reformista "desde o advento da nova República".
Presidente Michel Temer dá posse a Ronaldo Fonseca como ministro da Secretaria-Geral da Presidência
Presidente Michel Temer dá posse a Ronaldo Fonseca como ministro da Secretaria-Geral da Presidência - Adriano Machado/Reuters
Fonseca foi nomeado discretamente por Temer depois de mais um mês de vacância da pasta, que era comandada pelo ministro Moreira Franco (Minas e Energia) até o início de abril.
Sua escolha foi publicada no Diário Oficial na última sexta-feira (25), enquanto o governo concretava todos os esforços para conter a crise de abastecimento provocada pela paralisação de caminhoneiros no país.
[ x ]
O novo ministro é deputado federal e comandava a bancada da Assembleia de Deus na Câmara até se tornar membro do Executivo.
Depois da posse, Fonseca concedeu entrevista na qual afirmou que dará destaque ao desenvolvimento de ferrovias em sua gestão. Segundo ele, essa será uma prioridade nos próximos seis meses.
"O segundo semestre será o momento das ferrovias no Brasil. A Secretaria-Geral da Presidência já tem estudos prontos, estamos com leilões para sair [...] com certeza vamos avançar nesse tema", disse, sem entrar em detalhes.
Segundo ele, esse é um pedido de Temer, que solicitou que ele "olhasse com carinho" para a área.
"Entendo que esse é um momento em que o Brasil está querendo discutir esse tema. Esse é um tema que vai, com certeza, pautar esses próximos dias", afirmou.
A declaração de Fonseca ocorre em meio a uma crise de abastecimento provocada pela paralisação de caminhoneiros em todo o país, que já se estende pelo oitavo dia, apesar de o governo já ter cedido a diversos pontos da pauta de reivindicações da categoria.
O novo ministro fez um discurso elogioso ao governo Temer. "Vossa Excelência, com certeza, passará para a história como presidente reformista que trouxe o Brasil de volta para os trilhos", completou.
Sobre sua pasta, a definiu como uma das mais importantes da Esplanada. "Se a Casa Civil da Presidência é o coração do governo, certamente a Secretaria-Geral da Presidência é o pulmão."
Ficam sob o comando da Secretaria-Geral o PPI, que cuida de privatizações, e a Secretaria de Comunicação, responsável pela estrutura de publicidade e comunicação do governo.

Estado de SP inclui planejamento ferroviário entre prioridades para 2019

rojeto acolhe sugestão do deputado Edmir Chedid e prevê reserva de recursos para estudos e criação de corpo técnico
SÃO PAULO – Ações para expansão e melhoria de sua malha ferroviária entrarão finalmente na lista de prioridades do Estado de São Paulo.
É o que prevê o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2019, encaminhado pelo governo à Assembleia Legislativa.

O texto acolhe sugestão do deputado estadual Edmir Chedid (DEM), membro da Comissão de Transportes da Casa, e projeta uma reserva com recursos específicos para planejamento ferroviário no Estado. Essas políticas serão subordinhadas à Secretaria de Logística e Transportes.

"Ainda não existe na secretaria um departamento exclusivamente voltado para o modal ferroviário, como há para outros modais", disse o parlamentar. "O transporte ferroviário apresenta uma série de vantagens sobre outros modais, especialmente o impacto ambiental reduzido e o custo de manutenção baixo. Em um momento em que se discute a excessiva dependência que o país tem do transporte rodoviário, é animador saber que o governo passará a dedicar mais atenção às ferrovias."

Hoje, o país depende fortemente do transporte rodoviário para transportar bens, pessoas e produtos, inclusive matérias-primas e insumos, como os combustíveis.
Diferentemente de outros países com território de tamanho parecido, o Brasil tem poucas linhas de trens para escoar a produção: são 29 mil quilômetros de ferrovias, contra 86 mil na China, 87 mil na Rússia e 225 mil nos EUA, segundo a consultoria de logística Ilos. O Estado de São Paulo concentra 1.375 quilômetros de linhas de trem ativas atualmente.

"Embora o governo já tenha discutido projetos como o do Trem Intercidades [sistema de transporte de passageiros entre as regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas, Vale do Paraíba, Sorocaba e Baixada Santista], nunca houve a preocupação de criar um corpo técnico para planejar ações nessa área. Por isso, a decisão do governo de incluir essa proposta na LDO deve ser celebrada", afirmou Edmir Chedid.

Os valores destinados ao planejamento ferroviário deverão ser definidos em uma segunda fase, durante a votação do Orçamento de 2019.

Ensaio sobre a cegueira, Vera Magalhães, O Estado de S.Paulo


27 Maio 2018 | 05h00
As cenas vividas no Brasil de 2018, com desabastecimento de combustíveis e toda sorte de produtos, filas em postos de gasolina, estradas paradas por caminhoneiros e pessoas indo aos supermercados para estocar víveres cada vez mais caros e a concessão do governo na forma de lautos subsídios lembra em tudo crises anteriores do Brasil, da superinflação de José Sarney à greve dos caminhoneiros do governo FHC.
A escalada de um movimento que começa como uma reivindicação setorial e se alastra por outras categorias, pegando de surpresa governos, imprensa e analistas também leva a um paralelo com junho de 2013.
Mas a soma de tudo isso, a reação entre incompetente e covarde de governantes e candidatos e um apoio histérico da esquerda e da direita radicais a um movimento que parou o País me remetem ao magistral romance Ensaio sobre a Cegueira, do Nobel de Literatura português José Saramago.
O livro narra o avanço da chamada “epidemia branca”, que começa no dia em que um único homem é acometido de uma cegueira que o faz deixar de enxergar. O mal aos poucos se alastra para praticamente toda a população, gerando a perda paulatina da humanidade e da civilidade.
No Brasil de 2018, a cegueira branca que levou esquerda e direita radicais a apoiarem um movimento baseado na chantagem com o conjunto da sociedade é o ódio ao governo zumbi de Temer.
Como na escalada da irracionalidade construída por Saramago à medida que avançava o desespero dos cegos com sua nova condição, pessoas que estão sendo coagidas por grevistas movidos por interesses sectários defendem a greve como se fosse uma reação à corrupção, aos privilégios dos políticos, aos altos salários do Judiciário e aos impostos abusivos.
Como se dá, na cabeça das pessoas, a relação entre o combate a esses problemas (reais) e concessões a uma só categoria que custarão pelo menos R$ 13 bilhões aos cofres públicos é algo que nem o engenho narrativo de um Saramago seria capaz de explicar.
Jair Bolsonaro se pôs a fazer matemática: se o petróleo é quase todo produzido aqui, por que o Brasil segue o preço internacional? O PT se pôs a saudar a mandioca passadista: nos tempos de Dilma é que era bom, pois a Petrobrás controlava preços. São dois lados da mesma moeda que num passado recentíssimo levou o País à bancarrota: o populismo.
Os cegos de ódio por Temer saem repetindo que os impostos sobre os combustíveis são escorchantes. E são. Mas o governo não vai reduzir a carga tributária por decreto. Diante da situação fiscal do País, o que for retirado do diesel será compensado: se não for por aumento de impostos em outra área, pelo corte de gastos em investimentos ou programas sociais ou rolagem da dívida (que leva a alta de juros). 
Mudar essa situação não passa pelo apoio instrumentalizado a uma greve ilegal e injusta. Mas sim pelo voto em uma proposta consistente em outubro. Que inclua reformas estruturais nos impostos, nos gastos públicos (e, portanto, na Previdência), nos altos salários do funcionalismo e na relação com empresas públicas e de economia mista, como a Petrobrás. Nada disso é pauta dos que pararam o País. O mais assustador é que quem bateu palmas para eles e para os imensos prejuízos que causaram parece longe de se recuperar da cegueira.
No livro de Saramago ela passa, mas dá lugar ao desalento. Reproduzo o diálogo final entre a mulher do médico e o marido (tomo a liberdade de mexer na pontuação característica de Saramago para facilitar o entendimento, algo difícil ultimamente): “Por que foi que cegamos? Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso? Diz. Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que veem. Cegos que, vendo, não veem”