Reinaldo José Lopes
SÃO CARLOS
A derrubada de florestas na mata atlântica durante o ano passado foi a menor registrada desde os anos 1980, quando começou a monitoração sistemática das ameaças ao bioma.
Em 2017, o ambiente que predominava em todo o litoral brasileiro quando os portugueses aportaram aqui perdeu 12,56 mil hectares de cobertura florestal. Três décadas atrás, a perda média anual da floresta era quase dez vezes maior.
Em dois terços dos estados brasileiros onde a mata atlântica ocorre, houve redução do desmatamento no último ano, inclusive nos quatro estados que ainda desmatam mais (Bahia, Minas Gerais, Paraná e Piauí). Outros sete estados atingiram um nível considerado de “desmatamento zero”, com perda de área florestal igual ou inferior a cem hectares. Entre eles está São Paulo.
O levantamento dos dados de satélite sobre o desmate foi coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, também responsável pelo monitoramento oficial do desflorestamento na Amazônia).
Apesar do registro comparativamente positivo, não se pode dizer que há uma tendência de queda consolidada do desmatamento no bioma, afirma Marcia Hirota, diretora-executiva da SOS Mata Atlântica. Os dados desta década por enquanto incluem várias oscilações – de 2015 a 2016, por exemplo, a taxa foi quase o triplo da do último período.
“De qualquer maneira, o dado serve para continuarmos cobrando o compromisso das autoridades para que ele se torne de fato uma tendência. A mata atlântica é o único bioma que tem uma lei específica para protegê-lo, então temos de exigir desmatamento ilegal zero”, diz ela. Uma hipótese natural para explicar a queda mais recente é a lentidão da economia brasileira, que diminuiria os atrativos de desmatar para a agricultura ou para a especulação imobiliária, mas esses mesmos fatores já estavam em ação alguns anos atrás.
Um conjunto de características faz com que a mata atlântica seja objeto de cuidado especial. Ela combina grande diversidade de animais e plantas, alto grau de endemismos (ou seja, espécies que só existem em suas matas, e em nenhum outro lugar do mundo) e impacto humano muito forte, já que 70% da população brasileira hoje vive em áreas em que predomina o bioma.
Estima-se que apenas 12,4% da cobertura florestal original da mata ainda esteja de pé, e boa parte desse total corresponde a áreas muito fragmentadas – pedaços de floresta com poucos hectares em propriedades particulares. Por isso, além da necessidade de zerar o desmatamento, muitos projetos buscam arquitetar corredores ecológicos que conectem os fragmentos de mata e permitam que animais possam transitar entre eles, em busca de parceiros, habitat e alimentos.
A medição periódica do desmate por satélite também tem mostrado que algumas áreas concentram de forma recorrente o grosso da devastação. São regiões como o sul da Bahia, o noroeste de Minas Gerais e o centro-sul do Paraná, por exemplo.
“Nesses estados mais críticos, a gente sabe há anos o que está acontecendo. Em Minas, por exemplo, a questão principal é a produção de carvão e a substituição da mata nativa pelo plantio de eucalipto”, explica Marcia. “Com isso, fica claro onde a Polícia Ambiental deve agir para controlar essa tendência.”
A proximidade dos remanescentes da mata atlântica em relação aos principais centros urbanos do país significa que os chamados serviços ambientais da floresta – seu papel na polinização de lavouras, purificação de água para consumo humano e qualidade do solo, por exemplo – são importantes para a maior parte da população brasileira. Por isso, governos estaduais e municipais têm começado a implantar sistemas de compensação ou pagamento de serviços ambientais, remunerando produtores rurais que preservam a mata.
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