quinta-feira, 20 de julho de 2017

Por que a Unicamp tomou da USP o 1º lugar em ranking de melhores universidades da América Latina, BBC


Vista aérea do campus da Unicamp em Barão GeraldoDireito de imagemPERRI | UNICAMP
Image captionNo último ano, pesquisas da Unicamp foram mais citadas internacionalmente e instituição teve mais renda de parcerias com indústrias
A Universidade de Campinas (Unicamp) ultrapassou a Universidade de São Paulo (USP) e agora está no topo do ranking de melhores universidades da América Latina da revista britânica Times Higher Education (THE), uma das principais publicações dedicadas ao ensino superior no mundo.
A instituição, que aparecia em segundo lugar no ranking do ano passado, conseguiu, ao longo do último ano, melhores resultados do que a USP em dois dos principais critérios para a avaliação - a influência e a colaboração com o mercado.
Além destes dois critérios, são avaliados ainda ensino, pesquisa e perfil internacional.
"A USP lidera na qualidade de seu ambiente de pesquisa, mas Campinas a supera em quantidade de citações em outros trabalhos internacionais e em transferência de conhecimento para a indústria", disse Phil Baty, editor do ranking.
"Uma delas é a maior e mais estabelecida das duas instituições, e a outra é menor e mais conhecida como especializada em pesquisa médica e científica. Essas duas qualidades diferentes representam tanto a diversidade quanto a excelência do setor de ensino superior no Brasil."
Além da Unicamp, a USP, a Unifesp, a UFRJ e a Puc-Rio estão entre as 10 primeiras da lista, juntamente com duas universidades chilenas, duas mexicanas e uma colombiana. No total, 32 instituições brasileiras aparecem no ranking, que tem, ao todo, 81 universidades de oito países.
O país que mais ameaça a liderança brasileira é o Chile, que tem 15 universidades entre as 50 melhores do ranking - 11 a mais que em 2016.

Fuga de cérebros

Apesar de ainda ser o país latino-americano com mais representantes no ranking, o Brasil perdeu espaço na lista, segundo Baty. Atualmente, só 18 universidades brasileiras estão entre as 50 melhores - em 2016, eram 23.
"De um modo geral, 20 universidades brasileiras caíram de suas posições. Muitas delas melhoraram seu resultado geral, mas perderam terreno por causa do aumento da competição e de melhorias rápidas em outros países."
"O Brasil gasta mais em pesquisa e desenvolvimento do que outros países na região, mas seu investimento é baixo para os padrões mundiais. Apesar dos níveis de produtividade de pesquisa serem muito altos, a proporção que o país gasta especificamente em ensino superior é mais baixa do que a de Argentina, Chile, Colômbia, México e Uruguai. Os salários dos pesquisadores também são muito baixos para os padrões mundiais e estão entre os menores na região", afirma.
Pesquisadora da USPDireito de imagemROVENA ROSA | ABR
Image captionPesquisadores brasileiros têm produtividade alta, mas salários baixos para os padrões mundiais, segundo levantamento
A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), que desde 2015 enfrenta uma de suas piores crises financeiras, caiu quatro posições no ranking da THE entre 2016 e 2017, e agora aparece em 24º lugar.
A Federal do Rio, que ocupava a 5ª posição no ano passado, caiu para a 8ª, ficando atrás de instituições da Colômbia e do México, que subiram, e da Federal de São Paulo (Unifesp), que entrou na lista pela primeira fez.
Nos últimos anos, a queda do investimento do governo federal em pesquisa científica foi alvo de protestos por parte de pesquisadores, causou a paralisação de grandes projetos e estimulou a ida de profissionais para outros países.
De acordo com o levantamento, a fuga de cérebros é um problema em toda a região, alimentado, segundo Baty, por "baixos salários, pouco investimento em ciência, excesso de burocracia e políticas de pesquisa pouco definidas".
Bandeira do Brasil em livroDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionBrasil domina ranking latino de universidades, mas não é considerado um dos países que serão 'estrelas do futuro' no ensino superior

Reputação

O ranking da revista Times Higher Education compara universidades nas suas principais missões: ensino, pesquisa, transferência de conhecimento e perspectiva internacional. O peso de cada item, no entanto, é diferente para a América Latina do que para outras regiões, para "refletir as características de universidades de economias emergentes".
Não participam do ranking universidades que não possuem cursos de graduação, que não tiverem publicado pelo menos 200 trabalhos de pesquisa entre 2011 e 2015 ou se 80% ou mais de sua atividade se concentrar em apenas uma das missões consideradas pelo levantamento.
O ranking latino-americano foi publicado pela primeira vez em 2016 e os rankings mundiais começaram a ser divulgados anualmente em 2010.
No atual ranking mundial, as universidades brasileiras começam a aparecer apenas após a posição 251.

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quarta-feira, 19 de julho de 2017

O golpe do Parlamentarismo, Bernardo Mello Franco FSP


BRASÍLIA - Os políticos que defendem a adoção do parlamentarismo querem dar um golpe para continuar no poder sem votos. É o que afirma o historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor emérito da Universidade Paris-Sorbonne.
"É surpreendente que esta ideia volte sempre de modo oportunista, em momentos de crise e na véspera de eleições presidenciais", critica.
"Os brasileiros já rejeitaram o parlamentarismo em dois plebiscitos, em 1963 e 1993. Adotá-lo agora seria um golpe, uma forma de subtração da soberania popular", acrescenta Alencastro, que hoje leciona na Escola de Economia da FGV-SP.
Nesta terça, a Folha noticiou uma articulação do senador José Serra e do ministro Gilmar Mendes para mudar o sistema de governo do país. A ideia é apoiada pelo presidente Michel Temer, que já defendeu a adoção do parlamentarismo a partir de 2022.
Com a mudança, o Brasil deixaria de ser governado por um presidente eleito pelo voto direto. A chefia do governo caberia a um primeiro-ministro escolhido de forma indireta.
Para Alencastro, a proposta está sendo ressuscitada porque a centro-direita ainda não encontrou um candidato viável ao Planalto. "O motivo é o medo da eleição direta", afirma.
"Os tucanos perderam as últimas quatro disputas no sistema atual. O próprio Serra foi derrotado duas vezes", lembra o historiador. Ele observa que o PSDB nasceu parlamentarista, mas deixou a bandeira de lado após a primeira eleição de FHC.
Em artigo publicado na "Ilustríssima" em 2015, Alencastro criticou os deputados e senadores que descrevem o parlamentarismo como uma panaceia capaz de resolver todas as crises. Ele argumentou que o sistema atual precisa ser aperfeiçoado, mas garantiu ao país o mais longo período democrático de sua história.
Dois anos depois, o professor encerra a conversa com uma provocação: "Quem iria escolher o nosso primeiro-ministro, este Congresso? Está louco..." 


terça-feira, 18 de julho de 2017

Uso de etanol em veículos reduz a emissão de nanopartículas em SP, OESP /USP



Escolha do combustível afeta a emissão de partículas que causam problemas pulmonares e cardiorespiratórios
Por  - Editorias: Ciências Ambientais

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São Paulo é um laboratório do mundo real para estudo do comportamento humano na bomba de combustíveis e poluição do ar urbana. Na foto, mirante da capital paulista – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Estudo publicado na revista Nature Communications de 17 de julho mostrou que existe uma correlação entre a escolha do combustível veicular (etanol ou gasolina) e o número de nanopartículas no ar de São Paulo. Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após medirem a concentração de partículas menores que 50 nanômetros (nm) de diâmetro, na cidade de São Paulo, e constatarem um aumento de 30% das concentrações dessas nanopartículas em função do uso da gasolina em vez de etanol em veículos do tipo flex.
De acordo com o estudo, a opção pela gasolina se deu em razão da alta do preço do etanol. O problema é que essas nanopartículas menores que 50 nm penetram facilmente nos alvéolos pulmonares, causando problemas respiratórios e cardiovasculares. “Os milhões de motoristas em São Paulo usam gasolina ou etanol de acordo com o preço. Nosso estudo mostrou que quando se usa mais etanol do que gasolina temos menos nanopartículas”, diz o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP e um dos autores do trabalho.

A opção por veículos elétricos ou movidos a biocombustíveis nas cidades pode resultar na redução das partículas ultrafinas. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

O economista brasileiro Alberto Salvo, pesquisador da Universidade Nacional de Singapura, liderou o estudo, que contou ainda com um químico da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, além dos físicos da USP. A partir dos resultados obtidos na estação do Instituto de Física na Cidade Universitária, coletados pelo grupo de Artaxo, a equipe multidisciplinar utilizou modelos estatísticos de econometria levando em conta tráfego, comportamento do consumidor, tamanho de partícula e dados meteorológicos de janeiro a maio de 2011. “Estes dados foram estudados antes, durante e depois de uma flutuação forte no preço de etanol, que ocasionou uma troca de combustíveis consumidos em São Paulo”, ressaltou Artaxo, acrescentando que órgãos ambientais, como Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), não regulam ou medem essas partículas muito pequenas. “Mas trabalhos recentes mostram que as nanopartículas têm um forte efeito negativo na saúde humana, o que confere mais uma vantagem no uso de etanol na redução da poluição do ar.”

Uma questão global


As nanopartículas menores que 50 nanômetros penetram facilmente nos alvéolos pulmonares, causando problemas respiratórios e cardiovasculares. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Franz Geiger, químico da Northwest University, também coautor do estudo, salienta que o uso de biocombustíveis é agora uma questão global, sobretudo depois que Europa e Estados Unidos adotaram uso de biocombustíveis em larga escala. “A opção por veículos elétricos ou movidos a biocombustíveis nas cidades pode resultar na redução desta partículas ultrafinas”, complementa Salvo.
Para ele, São Paulo é um “laboratório do mundo real para estudo do comportamento humano na bomba de combustíveis e poluição do ar urbana”. Por esta razão, os pesquisadores pretendem estudar o que acontece com a saúde da população quando a troca de combustíveis etanol/gasolina é feita.
Vale ressaltar que São Paulo tem a maior frota urbana de veículos Flex no mundo, e é possível observar como a mudança da composição do combustível utilizado possui um impacto forte no que é emitido pelo escapamento e, consequentemente, na qualidade do ar. O efeito de redução de emissão de nanopartículas com utilização de biocombustível já foi observado em laboratório anteriormente, mas é a primeira quantificação deste efeito no mundo real, coloca Joel Ferreira de Brito, pesquisador da USP, também autor do trabalho.

Monitorar somente partículas maiores e gases pode não ser suficiente para proteger a saúde da população. É preciso monitorar as partículas ultrafinas. Foto: Renato Stockler/Folhapress

“Esperamos que com estudos como este incentivem o monitoramento destas partículas ultrafinas que tem acesso direto aos alvéolos pulmonares, e fortes efeitos na saúde”, diz Paulo Artaxo. Monitorar somente partículas maiores e gases pode não ser suficiente para proteger a saúde da população”, complementa.
O estudo observou também que não houve alterações na concentração de partículas maiores, com concentrações regulamentadas atualmente, mas com menor efeito negativo na saúde. Estas partículas incluem o chamado particulado fino, com diâmetro menor que 2,5 mícron (PM2.5) e partículas menores que 10 mícron (PM10).
A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O artigo Reduced ultrafine particle levels in São Paulo’s atmosphere during shifts from gasoline to ethanol use está disponível no site da revista Nature Communications.
Com informações do professor Paulo Artaxo e da Assessoria de Imprensa do IF
Mais informações: e-mail artaxo@if.usp.br, com o professor Paulo Artaxo