terça-feira, 13 de junho de 2017

Mais de mil para cada um, Roberto Rodrigues, O Estado de S. Paulo




Hoje somos cerca de 207 milhões de brasileiros. Portanto, produzimos mais de 1,1 tonelada de grãos para cada brasileiro.







11 Junho 2017 | 05h00
De acordo com dados do IBGE, no primeiro trimestre deste ano o PIB brasileiro cresceu cerca de 1%, depois de vários meses e trimestres em recessão. Ufa, até que enfim!
E ficou claro que o crescimento se deveu ao setor agropecuário. De fato, este segmento fundamental da economia nacional teve uma expansão de 13,4% em relação ao trimestre anterior, enquanto a indústria cresceu 0,9% e o setor de serviços ficou estagnado. Feitas as contas subjacentes, verifica-se que o agronegócio contribuiu com mais de 75% do crescimento da economia no período. E, de acordo com os estudiosos, esta deverá ser a participação porcentual mínima do agro no avanço do PIB anual em 2017. Não chega a ser uma novidade, embora os números atuais tenham uma explicação: tivemos um ano com bastante chuva em quase todas as áreas agrícolas, salvo uma ou outra região que sofreu com veranicos (períodos de 10 a 15 dias sem chuva e com muito calor, o que prejudicou o desenvolvimento das plantações) em janeiro. Isso permitiu um aumento na safra de grãos da ordem de 47,7 milhões de toneladas em relação ao ano passado. Saltamos de 186,6 milhões de toneladas em 2016 para 234,3 milhões em 2017, 25,5% mais, enquanto a área plantada cresceu apenas 3,7%! Vale uma reflexão: apenas 8 países do mundo todo (EUA, China, Índia, Rússia, Argentina, Ucrânia, Canadá e Austrália) e mais a UE conseguem produzir uma safra de grãos superior ao acréscimo do Brasil neste ano. Ao acréscimo, somente!
Entre os diversos fatores responsáveis por esse salto incrível está a tecnologia tropical sustentável aqui desenvolvida, admirada internacionalmente, que estava pronta, e bastou um bom ano de chuvas para isto ser demonstrado tão claramente.
Mas o que tudo isso tem a ver com o título do artigo? É que hoje somos cerca de 207 milhões de brasileiros. Portanto, produzimos mais de 1,1 tonelada de grãos para cada brasileiro. Os números da FAO dizem que há segurança alimentar para a população cujo país produzir mais de 250 quilos por habitante/ano. Ora, nossos agricultores alimentam tranquilamente 4 vezes mais gente que a demanda dos nossos consumidores. Daí os excedentes para exportação que nos colocam em grande destaque no cenário global: primeiro exportador de café, suco de laranja, açúcar, carne de frango, farelo de soja, soja em grãos, segundo de milho e de óleo de soja, terceiro de carne bovina e quarto de carne suína. E crescendo em algodão e frutas. Somos também o maior exportador mundial de tabaco.
Tudo isso é notável, especialmente se nos lembrarmos de que há 50 anos éramos importadores de alimentos, e hoje ajudamos na segurança alimentar de mais de 150 países, exportando 90 milhões de toneladas de grãos, 6,3 milhões de toneladas de carnes, 28,9 milhões de toneladas de açúcar.
Pena que nem todos os produtores se beneficiem de tanta fartura: com ela, os preços caíram este ano, e as contas não estão fechando para muita gente. Na pecuária de corte, especialmente, os episódios da carne fraca e da JBS derrubaram o valor da arroba no país inteiro. É por isso que precisamos tanto de um seguro rural digno do nosso agro, como os países desenvolvidos já têm.
Mas não foi ainda neste Plano Safra que o seguro foi contemplado como deveria, infelizmente. E vale a pena uma palavra sobre o Plano: diante da crise política que vivemos e seus inevitáveis reflexos na economia, havia o temor de que faltaria crédito para o financiamento da nova safra. Mas isso não aconteceu. A oferta de recursos aumentou 2,5% em relação ao ano passado, chegando a R$ 190 bilhões. Os juros diminuíram 1% para a maioria dos programas. Poderiam ser menores, já que a inflação estimada para o exercício deverá ficar em torno de 4%. Positivo foi o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns, com juros de 6,5%, mesma taxa para Incentivo à Inovação Tecnológica. Enfim, diante do cenário atual, foi um bom Plano Safra, não fosse o Seguro. Como disse o ministro da Agricultura, temos de olhar a floresta, e não apenas a árvore. Vamos tratar de plantar outra grande safra este ano, outros mil quilos para cada brasileiro.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Ibope, internet e voto, José Roberto de Toledo, O Estado de S.Paulo



Web virou maior influência para eleger um presidente




12 Junho 2017 | 05h00
Pela primeira vez, uma pesquisa extraiu da boca do eleitor o que urnas e ruas sugeriam mas faltavam elementos para provar: a internet virou o maior influenciador para eleger um presidente. Sondagem inédita do Ibope revela que 56% dos brasileiros aptos a votar confirmam que as mídias sociais terão algum grau de influência na escolha de seu candidato presidencial na próxima eleição. Para 36%, as redes terão muita influência.
Nenhum dos outros influenciadores testados pelo Ibope obteve taxas maiores que essas. Nem a mídia tradicional, nem a família, ou os amigos - o trio que sempre aparecia primeiro em pesquisas semelhantes. Muito menos movimentos sociais, partidos, políticos e igrejas. Artistas e celebridades ficaram por último.
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TV, rádio, revistas e jornais atingiram 35% de "muita influência" e 21% de "pouca influência", somando os mesmos 56% de peso da internet. A diferença é que seus concorrentes virtuais estão em ascensão - especialmente junto aos jovens: no eleitorado de 16 a 24 anos, as mídias sociais têm 48% de "muita influência" eleitoral, contra 41% da mídia tradicional. 
No total, conversa com amigos chega a 29% de "muita influência" para escolha do candidato a presidente, contra 27% das conversas com parentes. Movimentos sociais alcançaram 28%. A seguir aparecem partidos (24%), políticos influentes (23%), líderes religiosos (21%) e artistas e celebridades somados (16%).
Por que a internet tem um peso tão grande na eleição? A constatação do Ibope é importante por levantar essa questão, mas, sozinha, não é suficiente para respondê-la. Outras pesquisas baseadas em resultados eleitorais e estudos empíricos ajudam a entender o fenômeno, mesmo que indiretamente.
Lançado em 2016 nos EUA, o livro "Democracy for Realists" vem provocando polêmica por contestar o conceito popular de que, na democracia, o eleitor tem preferências claras sobre o que o governo deve fazer e elege governantes que vão transformá-las em políticas públicas. Para os autores, e dezenas de fontes que eles compilam, não é bem assim. O "do povo, pelo povo, para o povo" funciona na boca dos políticos, mas não na prática.
No mundo real, pessoas elegem representantes mesmo cujas ideias e propostas estão em desacordo com o que elas pensam. Não fosse assim, os congressistas brasileiros deveriam sepultar em vez de aprovar as reformas da Previdência e trabalhista, rejeitadas pela maioria dos que os enviaram para Brasília.
Segundo Achens e Bartel, o eleitor não vota em ideias, mas em identidades. Elege quem ele imagina que representa o seu lado contra o outro - sejam quais forem os lados. É aquela piada irlandesa. "Você é católico ou protestante? Ateu. Mas você é ateu católico ou ateu protestante?". Ou seja: de que lado está?
Nos EUA, essa linha é mais fácil de traçar porque as identidades se resumem, eleitoralmente, a duas legendas. Mesmo na disruptiva eleição de Trump, 95% tanto de republicanos quanto de democratas votaram nos candidatos de seus partidos. E no Brasil, onde dois em cada três eleitores dizem não ter preferência partidária?
Nas eleições de 2004 a 2014, a geografia separou petistas de antipetistas. Bairros, cidades e Estados mais pobres ficaram majoritariamente de um lado; enquanto moradores dos locais mais ricos, em geral, ficaram do outro. Em 2016, não mais. A internet misturou e segue confundindo essas fronteiras. A construção de identidades virtuais via Facebook e Twitter aproxima forasteiros e afasta vizinhos. Proximidade física importa, mas menos.
Quanto mais tempo ele passar online, mais a internet influenciará o eleitor. O celular bateu a TV também na urna.

Falhou 1ª fase da conspiração golpista; aguardam-se as próximas da dupla Janot-Fachin - REINALDO AZEVEDO


REINALDO AZEVEDO - 10/06

Todos viram a “Blitzkrieg” Janot-Fachin-PF para derrubar Temer. Deveria ter sido uma coisa fulminante. E, no entanto, não foi. O governo se segurou, inclusive fazendo avançar a reforma trabalhista no Congresso. Esses que chamo “conspiradores” não contavam com a resiliência de Temer



Por quatro a três, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou a cassação da chapa que elegeu Dilma-Temer. Esse resultado, em si, para ela, é irrelevante. Foi impichada por motivos alheios a essa conversa. Caiu porque cometeu crime de responsabilidade e porque tinha como aliados menos de um terço da Câmara e menos de um terço do Senado. Adicionalmente, havia conduzido o país à maior crise econômica da história. Para Temer, o resultado é relevantíssimo: a cassação também lhe tiraria o mandato.

Votaram contra a punição os ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Admar Gonzaga, Tarcísio Vieira e Gilmar Mendes. Propugnaram pela punição o relator, Herman Benjamin, Rosa Weber e Luiz Fux — estes dois últimos são ministros do STF,

O julgamento no TSE havia se transformado numa etapa da sanha golpista. Ela saiu derrotada. Mas não está conformada. Uma explicação rápida e necessária: o julgamento no TSE nasceu de uma iniciativa legítima do PSDB e nada tinha a ver, originalmente, com o que considero uma conspiração para derrubar o presidente, que une de maneira explícita Rodrigo Janot e Edson Fachin. Procurador-geral da República e ministro do Supremo receberam as bênçãos de Cármen Lúcia, presidente do Supremo.

Todos viram a “Blitzkrieg” Janot-Fachin-PF para derrubar Temer. Deveria ter sido uma coisa fulminante. E, no entanto, não foi. O governo se segurou, inclusive fazendo avançar a reforma trabalhista no Congresso. Esses que chamo “conspiradores” não contavam com a resiliência de Temer.

Então se armou o cerco que pretendeu tornar reféns também os ministros, a saber:

1: prisão preventiva de Rocha Loures três dias antes do início do julgamento. Junto com o fato, o boato: “Ele vai delatar Temer”;
2: no dia 5, véspera do início do julgamento, a PF manda 82 perguntas ao presidente — com autorização de Fachin, é claro! — que valem por um libelo acusatório. A falta de rigor técnico é vergonhosa;
3: prisão do ex-ministro Henrique Eduardo Alves no dia em que começou o julgamento. A alegação da preventiva é frouxa. A razão: é considerado um aliado de Temer;
4: vazamento da informação, também no dia 6, de que o presidente, então vice, viajara, em 2011, num avião que pertence a Joesley. Há nisso algum crime? Não. O que se queria era evidenciar a intimidade entre os dois;
5: vazamento, no dia 7, da falácia segundo a qual Temer teria repassado R$ 500 mil de propina da OAS a Alves. Isso é o que se noticiou, não o que aconteceu. A campanha do então candidato a vice recebeu doação registrada da OAS e fez transferência, também legal, para o diretório do PMDB do Rio Grande do Norte;
6: no dia 8, fontes da PGR afirmam que Janot pretende denunciar Temer por chefiar organização criminosa!

Para lembrar: Janot é aquele que garantiu avida folgazã a Joesley, o homem que admite ter cometido 245 crimes e comprado quase 2 mil políticos. Mas o chefe, ora vejam!, é Temer.

Apesar de tanto planejamento, falhou. E vem, sim, mais coisa por aí.