sexta-feira, 9 de junho de 2017

O apoio à produção do campo, OESP


Um recorde mensal de exportação foi batido em maio, com receita de US$ 19,79 bilhões. As vendas do agronegócio renderam pelo menos US$ 9,25 bilhões, 46,7% de todo o faturamento

O Estado de S.Paulo
09 Junho 2017 | 03h04
Um recorde mensal de exportação foi batido em maio, com receita de US$ 19,79 bilhões. As vendas do agronegócio renderam pelo menos US$ 9,25 bilhões, 46,7% de todo o faturamento. O setor tem garantido números positivos no comércio exterior, compensando com folga o déficit de outros segmentos da economia. Pelo último balanço detalhado, até abril o agronegócio acumulou um excedente de US$ 24,34 bilhões, bem maior que o saldo total do comércio, de US$ 21,37 bilhões. A diferença é o resultado em vermelho dos outros itens. A importância do setor como fonte de dólares seria suficiente para justificar a solenidade, repetida na quarta-feira no Palácio do Planalto, de anúncio do plano de financiamento à produção agropecuária, desta vez com um total previsto de R$ 190,25 bilhões.
O setor dá uma injeção de otimismo no País, disse o presidente Michel Temer ao apresentar o Plano Agrícola e Pecuário de 2017/18. Ele se referiu principalmente ao crescimento da produção registrado no primeiro trimestre, o mais poderoso motor da economia nesse período. O Produto Interno Bruto (PIB) contabilizado entre janeiro e março foi 1% maior que o registrado nos três meses finais de 2016 e isso se deveu basicamente à atividade rural. Um dia depois da cerimônia, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) publicou a nova estimativa da safra de grãos e oleaginosa do ano agrícola 2016/17. O levantamento de junho apontou 234,32 milhões de toneladas, um total 25,6% maior que o da temporada anterior.
O volume estimado em maio havia chegado a 232,02 milhões de toneladas. A maior parte da diferença, de 2,3 milhões de toneladas, provém de uma reestimativa da safra de verão, de 225,63 milhões para 227,94 milhões de toneladas. O resto se refere às culturas de inverno, como trigo, aveia e cevada, com colheita prevista para o segundo semestre.
O aumento da produção de grãos e oleaginosas neste ano é explicável, em parte, pela quebra da safra anterior, consequência das más condições de tempo. Mas o vigor das principais lavouras tem sido, há algumas décadas, garantido essencialmente pelos ganhos de eficiência resultantes da modernização de processos e insumos.
O aumento das colheitas tem dependido essencialmente da maior produção por hectare e muito menos da expansão da área cultivada. Além de ser uma das mais eficientes do mundo, a agricultura brasileira é também poupadora de terras e, portanto, conduzida de forma favorável à preservação da natureza. Esse detalhe tem sido com frequência ignorado, por incompetência ou má-fé, por barulhentos porta-vozes de movimentos ecologistas.
No Brasil, a importância da agropecuária ultrapassa amplamente a contribuição do setor para as exportações e o abastecimento do mercado interno. Essas duas funções são centrais, mas, além disso, a produção rural movimenta uma importante indústria fornecedora de insumos e de equipamentos e supre um poderoso setor de processamento de alimentos e de matérias-primas destinadas a outras finalidades.
O valor total de financiamentos para a temporada 2017/18 é apenas 3,5% maior que o do ano agrícola anterior. Nem chega a compensar a inflação medida pelo índice oficial, mas foi o possível, nesta fase de aperto, como indicou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Representantes da agropecuária reclamaram dos juros, mais baixos que os da safra 2016/17, mas com redução menor que a da Selic, definida pelo Banco Central. Taxas inferiores às do mercado dependem de subsídios oficiais, mais escassos, naturalmente, numa fase de contenção das despesas públicas.
Créditos para custeio e comercialização terão taxas de 7,5% e 8,5%, um ponto inferiores às da safra anterior. Uma redução de dois pontos valerá para os empréstimos destinados a armazenamento e inovação tecnológica. O governo também dará uma grande contribuição se revitalizar os investimentos em rodovias e ferrovias. Boa parte da eficiência produtiva é anulada quando se trata de levar a produção ao mercado interno e aos portos.
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quarta-feira, 7 de junho de 2017

SP amplia estação de tratamento de esgoto para aliviar poluição do Tietê, FSP



A Grande São Paulo ganhou, nesta quarta-feira (7), um reforço para combater um de seus maiores gargalos ambientais: a cobertura de sua rede de tratamento de esgoto.
Para se ter uma ideia, em 2016 a Sabesp (companhia paulista de saneamento) tratou apenas 69% do esgoto gerado pelas cidades da Grande São Paulo em que atua. Há cinco anos, a empresa estimava que em 2016 atingiria o patamar de 75%.
Com investimento na casa dos R$ 390 milhões, a estação de tratamento de Barueri terá capacidade para tratar os dejetos produzidos por 1,2 milhão de pessoas —o equivalente gerado por Campinas, por exemplo.
O empreendimento saltou de uma capacidade de 9.500 litros por segundo de esgoto processado para 12 mil litros por segundo.
De acordo com a Sabesp, ao longo da Grande São Paulo foram instalados 230 quilômetros de tubulações, que têm a função de transportar os dejetos das casas até a estação de tratamento.
A nova estrutura passa a coletar e a tratar o esgoto oriundo do centro, das zonas sul, norte e oeste da capital paulista, além de cidades como Barueri, Carapicuíba, Cotia, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Itapevi, Jandira, Osasco, e Taboão da Serra.
Pelos cálculos da companhia, a estação terá a capacidade de retirar 216 milhões de litros de esgoto por dia dos mananciais paulistas, incluindo um dos mais castigados pela poluição: o rio Tietê.
A obra que passou a operar nesta quarta faz parte do primeiro pacote de intervenções da companhia na estrutura de Barueri. Ainda está prevista mais uma segunda obra que vai elevar a até 561 milhões de litros de esgoto tratado por dia —mais que o dobro da capacidade atual da estação. A segunda fase da obra deve ser concluída até o final deste ano.
As obras começaram em 2013 e, segundo a Sabesp, a primeira fase só foi entregue agora porque a empresa precisou ajustar o serviço de ampliação simultaneamente às operações da estação. A obra continuou sendo tocada, apesar da forte crise hídrica que castigou o Estado entre 2014 e 2016 e que derrubou o caixa da Sabesp para investimentos. No período, diversas obras de saneamento tiveram que ser suspensas.
Para o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a obra faz parte de um conjunto de esforços para recuperar o Tietê. "Com a ampliação, [a estação] passa a tratar 12 m³ por segundo de esgoto. Cada metro cúbico equivale ao atendimento de 470 mil pessoas. Estamos tirando esgoto do rio Tietê e de seus afluentes", disse.
Os investimentos foram contraídos junto ao BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) com apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Segundo Édison Carlos, do Instituto Trata Brasil, a ampliação é louvável e pode ser um sinal de que a companhia pretende avançar sobre o maior gargalo do saneamento na região metropolitana. "Dos indicadores de saneamento, o tratamento de esgoto é disparadamente o mais atrasado e avança de maneira muito lenta em São Paulo, por isso a ampliação é bem vinda", disse.
"Tratar mais esgoto significa menos poluição indo para os rios Tietê e Pinheiros. Mas o esforço pelo saneamento na região metropolitana tem que passar também por uma negociação com outros municípios da Grande São Paulo que não sejam operados pela Sabesp. Só assim, a bacia onde está São Paulo será finalmente despoluída", conclui Édison Carlos. 

Genealogia da distopia brasileira, Marcelo Rubens Paiva, O Estado de S. Paulo



As delações e os vazamentos trouxeram horror e ninguém vê uma saída







03 Junho 2017 | 03h00
Tentei listar alguns momentos que, como entorpecente, nos deram a sensação de euforia, em que acreditamos num futuro melhor. República e Abolição foram o começo do sonho brasileiro. Uma nação federativa de homens livres se formava sob a mesma bandeira, hino, língua, fronteiras, embevecida pelo positivismo de Comte.
Ganhamos uma Constituição democrática. A literatura ganhou academia. Jornais se multiplicaram. Cidades foram reurbanizadas. O telégrafo e as ferrovias aproximaram o Brasil. O progresso chegou? Surgiram as primeiras favelas. A polícia perseguia manifestações de cultura afro. Mulheres não votavam.
Começamos com militares que derrubaram a monarquia, traindo republicanos civis. Depois, uma elite do café com leite deu ar de aprimoramento à democracia da Primeira República. 
O progresso anunciado seduziu uma massa de imigrantes, que trazia cultura, tecnologia, diversidade, tradição e modernidade, pensamentos revolucionários, numa sociedade que ainda se mostrava racista, porém multirracial. O rádio uniu. O samba virou academia.
A cultura encontrava o trilho. Somos antropofágicos, definiu Oswald de Andrade. Folclore é erudição, provou para o mundo Villa-Lobos. Lévi-Strauss montou a USP e reabilitou nossa mitologia.
A ascensão de uma elite urbana, das indústrias e de um operariado organizado, exigiu um governo provisório, que criou um discutível Estado Novo, que, indiscutivelmente, regulamentou as leis trabalhistas, em que começou a se desenhar uma classe média. Caímos numa ditadura.
Derrubá-la virou utopia. Os anos dourados chegaram. O projeto de uma capital que integraria o País foi tocado. A arquitetura pegou Corbusier e acrescentou a paisagem brasileira de Burle Marx. O cinema novo inventou um novo cinema, exclusivamente brasileiro. Chega de imitações. 
O samba engoliu o jazz e regurgitou bossa nova. Escritores descobriram as regiões, veredas, o contraditório, exotismo baiano, seca, pampas, e se empenharam em denunciar as injustiças sociais. Arte é política. 
Uma poesia brasileira, Concreta, nasceu. Brasil exportava ideias renovadas, cultura. O Brasil cresceu 50 anos em cinco. Virava potência.
Juscelino prometeu construir dez mil quilômetros de rodovias. Fez 18 mil. A fabricação de alumínio subiu de 2.500 toneladas por ano em 1955 para 20 mil em 1960. O País produzia dois milhões de barris de petróleo. Quando deixou o governo, produzia 28 milhões.
Duplicou a produção de aço em cinco anos. Criou a indústria automobilística. Construiu 1.234 escolas, seis novas universidades, 14 institutos de pesquisa, três centros de estudos no setor de energia nuclear. 
O Brasil provocava extremos, incomodava. Ganhamos copas do mundo de futebol. Maria Esther, sete Grand Slam na categoria simples. O Brasil causava admiração. Oscar Niemeyer, Darcy Ribeiro, Sérgio Buarque, Celso Furtado, Paulo Freire, Florestan Fernandes e outros renovavam a ideia de país.
A turbulência política deu noutra ditadura. A utopia foi adiada: “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. O Brasil ganhava três novos estilos musicais, MPB, tropicalismo, jovem guarda. As ferrovias viraram entulho. A Amazônia passou a ser ameaçada. Cubatão não respirava. 
O ideal do Brasil Grande criou um progresso desordenado, corrupto, promíscuo. O Estado passou a ser um negócio secreto e a intervir em toda economia. A máquina chegou ao campo, o homem do campo, nas novas favelas e periferias, com índios sem terras. 
A aldeia global alienou. A novela tirou as pessoas das ruas, dos teatros, livros. A cultura entrou em colapso.
Utopia virou de novo derrubar a ditadura. Depois dela, tudo seria um paraíso, a renda seria distribuída. Alguns tentaram as armas. Foram massacrados. Veio o pacto e a redemocratização em 1985.
Uma informática Made in Brazil, com industriais acomodados, cresceu, mas não se desenvolveu uma tecnologia nacional. Apenas no álcool e como fabricantes de armas e aviões de pequeno porte viramos referência. O melhor café do mundo passou a ser o colombiano. A saúde e educação foram pro brejo.
A utopia só se desenharia com uma nova Constituição. Chegou em 1988. A censura, enfim, acabou, quilombolas e terras indígenas, demarcadas, e os direitos das minorias, respeitados. A democracia é ampla. O debate está liberado. 
Em 1990, o Brasil abriu as portas do comércio exterior, acabando com décadas de isolamento. Em 1994, a moeda se estabilizou. Setores foram privatizados. Serviços de telefonia melhoraram. Os Correios e a desigualdade social pioraram. A violência urbana virou epidemia. O tráfico ganhou comandos.
Ascendeu uma nova burguesia: o novo-rico do carro importado. O desencanto viu uma cultura superficial, ruim, vingar. Está desenhado o começo da distopia. As ideologias morreram de overdose. A esquerda se uniu ao que havia de mais corruptor do mercado. Rasgou manuais e fez do Estado seu Banco Imobiliário. Os fins justificavam os meios, que faliram o País.
Distribuiu a renda, criando um consumo insano, falindo com as contas públicas e maquiando o déficit. Foi pego com dólar na cueca e conta no exterior.
O País continua dependente da agricultura, minério e carne. Não criou a própria ciência, a própria tecnologia. Passou a ser dependente dos preços das commodities. Nunca deixou de ser.
Podíamos virar uma Austrália, sonho brizolista, ou uma Coreia do Sul, sonho do BNDES com a política das Campeãs Nacionais. Viramos um país sem leme, com quase nenhum político confiável, numa democracia comandada por partidos que seguem o organograma do crime organizado. A esperança comprou com caixa 2 o medo. As delações e os vazamentos trouxeram horror.
Ninguém vê uma saída. Denegriram um projeto de Nação. Qualquer coisa é melhor do que o que temos. Errou Tiririca, palhaço eleito deputado federal em 2010, com votação recorde: “Vote no Tiririca. Pior do que tá não fica”. Ficou.