domingo, 18 de outubro de 2015

Histórias mal contadas - ELIANE CANTANHÊDE


ESTADÃO - 18/10

O ex-presidente Lula entrou de cabeça na defesa do deputado Eduardo Cunha e da presidente Dilma Rousseff, mas ele deve estar tenso e preocupado mesmo com ele próprio e com a sua família. E, atenção, isso não tem a ver com um confronto entre esquerda e direita, é genuinamente uma questão de polícia e de justiça.

“A convite”, Lula já teve de dar explicações à Procuradoria-Geral da República, na sexta-feira, sobre suas intrincadas relações com as maiores empreiteiras do País, nas asas das quais voava pela África e pela América do Sul, esbanjando carisma e dando uma forcinha para os negócios.

Na Polícia Federal, há dúvidas se Lula funcionava como chefe das empreiteiras brasileiras com vultosos negócios no exterior ou se, na verdade, ele acabou virando uma espécie de alto funcionário a serviço delas ainda como presidente da República.

A dúvida é reforçada por mensagens e dados levantados na Operação Lava Jato, como um e-mail escrito por um executivo da Odebrecht às vésperas de um almoço de Lula com o presidente da Namíbia: “Seria importante eu enviar uma nota memória antes via Alexandrino com eventualmente algum pedido que Lula deve fazer por nós”. O “deve” soou como uma ordem. E o tal Alexandrino, que foi preso na Lava Jato, era o companheiro de viagem de Lula nos jatos da empreiteira.

Para os defensores incondicionais de Lula, o presidente interferia a favor das empreiteiras em defesa dos “interesses nacionais”. O problema é que as dúvidas sobre Lula não são isoladas. Ocorrem em meio a grandes suspeitas envolvendo o seu governo com histórias do arco da velha na Petrobrás e arrastando seus filhos e uma nora para o centro do noticiário que deveria ser político.

Segundo o Estado, Luiz Cláudio Lula da Silva abriu uma empresa na mesma época em que escritórios de lobby despejaram R$ 32 milhões para aprovar uma medida provisória que prorrogou isenções fiscais para montadoras de automóveis. Ato contínuo, a empresa do filho de Lula – que atua na área do “marketing esportivo” – recebeu a bolada de R$ 2,4 milhões de um desses escritórios – que não tem nada a ver com marketing esportivo. Nem quem pagou nem quem recebeu sabe explicar que negócio foi esse.

Segundo o O Globo, o delator Fernando Baiano, operador do PMDB na Petrobrás, disse em depoimento que pagou R$ 2 milhões de despesas pessoais de outro filho de Lula, Fábio Luiz (o “Ronaldinho” da Gamecorp), que também virou empresário de sucesso depois que o pai virou presidente. E, segundo a TV Globo, Baiano especificou aos procuradores que teria dado R$ 2 milhões para que uma nora de Lula quitasse parte (só parte...) de um imóvel. O intermediário teria sido o “irmão” de Lula José Carlos Bumlai, depois de uma negociação suspeita com a Petrobrás.

Na primeira vez, pode ser exagero ou simplesmente fofoca. Na segunda, começa a ficar esquisito. Na terceira, quando atinge o pai, um filho, outro filho e a nora, começa a assumir ares de verdade. É por isso que Lula gasta muita energia para salvar Dilma e Cunha – neste caso sem tanto sucesso, vide o racha na bancada do PT –, mas deveria guardar alguma para se defender e aos seus.

Esses delegados, procuradores e juízes que andam por aí azucrinando ricaços e poderosos têm uma formação impecável, sabem o que estão fazendo e têm fortes conexões com os Estados Unidos, a Itália, o Uruguai, a Suíça... Eles não são nem de direita nem de esquerda. E não estão aí para brincadeira.

Anuncia-se nos bastidores que Lula já está em campanha para voltar ao Planalto em 2018 e dizem que, quando o leão passa, mesmo ferido, os outros bichos se escondem. Lula é sem dúvida um leão da política, mas, para passar, precisa estar livre, leve, solto e sem ter de explicar o tempo todo mil e uma histórias mal contadas.

O grande jornalismo - SACHA CALMON


CORREIO BRAZILIENSE - 18/10

O Brasil sediou, há dias, grande encontro de jornalismo investigativo, o que atua com total independência dos governos e dos interesses das grandes corporações. Seymour Hersh esteve presente. O americano, com passagens pelo New York Times e pelo Washington Post, foi o primeiro a desmascarar a farsa espetaculosa do assassinato de Bin Laden, com fuzileiros navais descendo em cordas bambas, à noite, de barulhentos helicópteros estacionados a 20 metros acima da fortaleza do terrorista no Paquistão, sem encontrar resistência armada.

Desde quando Bin Laden não teria guarda de pelo menos 30 talibãs treinados e superarmados? O jornalista desmontou a farsa com vários argumentos, mas o mais convincente foi o do sumiço do corpo do terrorista mais procurado do mundo, morto havia tempos, segundo ele, sabe-se lá como, onde e por quê. Não exibiram o corpo em nenhum momento. Custava fazê-lo? E, para culminar, disseram que o jogaram no mar para a sua sepultura não virar lugar de peregrinação. Hoje é sabido ter sido uma filmagem que, aliás, catapultou a reeleição de Obama.

É desse jornalismo que os brasileiros precisam. Claro está que, no caso em apreço, se tratou de um lance propagandístico com fins eleitorais, mesmo assim reprovável por iludir os votantes, em nada parecido com a arapongagem de Nixon em Watergate para espionar os democratas. Aqui achamos à época ser fato pequeno. Os jornalistas do Washington Post, entretanto, desmascararam Nixon. Dissera não saber de nada. A pecha de mentiroso levou-o ao descrédito. A Procuradoria-Geral nomeou um membro independente para investigá-lo. Ele pediu ao Congresso o impeachment. Premido pela opinião pública, decepcionada em ter um presidente mentiroso, Nixon renunciou.

Aqui as mentiras de Lula e de Dilma são muitas, mas ninguém se importa. Nas eleições de 2014, Dilma "fez o diabo" e mentiu como nunca, enganando o povo e os eleitores. Ficou tudo por isso mesmo, fraco o nosso senso ético. Agora mesmo a OAB vem de constituir comissão para avaliar se os 13 ilícitos orçamentários da presidente são aptos a embasar pedido de impeachment. Comenta-se em Brasília que será comissão chapa-branca. A estranha atitude da OAB a põe em risco de partidarismo.

Se a comissão for de esquerdistas, cairá no ridículo. Somente se composta de juristas de alto coturno, desvinculados do governo, a opinião terá valor, assim mesmo relativamente. Juízes julgam, juristas emitem pareceres, advogados patrocinam. A OAB é órgão de classe, sem viés governista (quinta coluna). Pessoalmente, me nego a crer que Marcus Vinicius Coêlho, presidente da OAB, seja venal.

No Brasil, se o presidente não deixar a digital na cena do crime, é inocente. (Uma ova! Tem o domínio dos fatos.) A tese de que seus auxiliares foram os culpados pelos 13 desvios não passará. Se passar, o Congresso será vaiado. O PT nos faz retroceder em tudo, quer emplacar a ideia de que o governante eleito é irresponsável, juridicamente falando, contra a Constituição. O PT agora é monarquista, volta ao século 17 (the king do not wrong). O rei não pode errar. Aliás, pode, segundo Lula, para quem a transgressão das leis orçamentárias foi feita para pagar o Bolsa Família (confissão).

Mas as mentiras maiores ainda vão aparecer. O PT criou deficits nas contas para ajudar empreiteiras, cobrar comissão e fazer bonito nos países de esquerda. E a gente precisando tanto de obras urbanas e de infraestrutura. Vamos expor algumas, coligidas pelo movimento Consciência Patriótica: Barragem de Moamba Major (Moçambique), custo BNDES: US$ 350 milhões; BRT (corredores de ônibus) de Maputo (Moçambique), custo BNDES: US$ 180 milhões; Hidrelétrica de Tumarim (Nicarágua), custo BNDES: US$ 343 milhões; Projeto Hacia El Norte Rurrenabaque-El-Chorro (mais conhecida como entrada da cocaína - Bolívia), custo BNDES: US$ 199 milhões; Abastecimento de água em Lima (Peru), custo BNDES: não informado; Renovação da rede de gasoduto de Montevideo - Uruguai, custo BNDES: não informado.

Mais: Via Expressa Luanda - Kifangondo, custo BNDES: não informado; Segunda ponte sobre o rio Orinoco (Venezuela), custo BNDES: US$ 300 milhões; Linhas 3 e 4 - Metrô Caracas (Venezuela), custo BNDES: US$ 732 milhões; Soterramento do Ferrocarril Sarmiento (Argentina), custo BNDES: US$ 1,5 bilhão; Aqueoduto de Chaco (Argentina), custo BNDES: US$ 180 milhões; Autopista Madden-Colón (Panamá), custo BNDES: US$ 152,8 milhões; Metrô cidade do Panamá (Panamá), custo BNDES: US$ 1 bilhão; Hidrelétrica de Chaglla (Peru), custo BNDES: US$ 320 milhões; Hidrelétrica Mandariacu (Equador), custo BNDES: US$ 90 milhões; Porto Mariel (Cuba), custo BNDES: US$ 682 milhões; Aeroporto de Nagala (Moçambique), custo BNDES: US$ 125 milhões. Abrir a caixa-preta do BNDES é imperioso.

Em Carapicuíba, ministro entrega 300 casas e afirma que MCMV beneficiará 15% dos brasileiros nos próximos anos




O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, entregou nesta quinta-feira (15), 300 unidades habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida para famílias de Carapicuíba, região metropolitana de São Paulo. Com investimento de R$ 28,5 milhões, os apartamentos beneficiarão 1200 pessoas do município. Em seu discurso, Kassab disse que o Programa já ajudou milhares de famílias a conquistarem a sua casa própria. “Considerando que o Brasil tem 202 milhões de habitantes, em dez anos, 15% da população estará morando em unidades como essas”.

O ministro destacou também a informação que os imóveis não podem ser alugados ou vendidos, de acordo com o regulamento do MCMV. “É importante frisar que tem muita gente mal intencionada que pode vir a aproveitar de qualquer dificuldade das famílias para comprar ou alugar o imóvel. Não deixem isso acontecer”, explicou.
De acordo com Kassab, em todo o Brasil, já foram contratadas mais de 4 milhões de unidades habitacionais. “Daqui a duas semanas vamos começar a contratação da Fase 3 que ao final deverão estar contratadas mais 3 milhões de unidades. Com isso, serão no total 7 milhões de imóveis, beneficiando 28 milhões de pessoas no país. Famílias que moravam numa favela, na beira de um córrego ou de aluguel, por exemplo, vão passar a morar numa casa própria com dignidade. É o maior programa habitacional no mundo”, completou.

Os 300 apartamentos entregues em Carapicuíba fazem parte do Residencial Azaleias – Condomínio Jardim das Flores B. Cada unidade possui área privativa de 48,97 m² e infraestrutura completa, com rede de água, esgoto, drenagem, energia elétrica, iluminação pública, pavimentação e urbanização. Todas as unidades são adaptadas para pessoas com deficiência.
 Desde 2003, o governo federal investe, por meio do Ministério das Cidades, R$ 3,6 bilhões nas áreas de habitação, saneamento ambiental, mobilidade urbana e infraestrutura somente em Carapicuíba. Desse total, foram investidos R$ 403 milhões para a contratação de 4.555 unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida. No Estado de São Paulo, o montante é de R$ 120,1 bilhões. Em todo o país, o investimento total é de R$ 562,3 bilhões.