terça-feira, 6 de outubro de 2015

Mais gente deixa o carro em casa. E você?, FSP

O leitor do guia "Como Viver em São Paulo Sem Carro" não se surpreendeu com a notícia de que cada dia mais paulistanos que têm carro se deslocam sem ele. Por isso mesmo, desconfiou do argumento dos "especialistas" que disseram que essa mudança de hábitos se deve à crise econômica, cujos efeitos começaram a ser sentidos este ano. O leitor atento também não se deixou levar pelo discurso oportunista dos técnicos da prefeitura paulistana, que dizem que tudo se deve às medidas de redução da velocidade dos carros e às faixas exclusivas de ônibus e bicicletas.
As duas coisas podem ter contribuído, mas o fenômeno teve início muito antes. Ao contrário do que dizem os especialistas, começou exatamente no auge da expansão econômica; e portanto, antes também do atual prefeito acordar para os benefícios de uma gestão zeladora, em lugar de construir arcos, como prometeu na campanha eleitoral.
No guia publicado em 2012, o congestionamento já era apontado como a principal causa de estresse na cidade; na edição de 2013, 58% dos paulistanos diziam ter reduzido de alguma forma o uso do carro; o índice de redução se manteve praticamente igual em 2014 (os dados são de pesquisas exclusivas do Ipespe, dirigido pelo sociólogo Antônio Lavareda).
Em verdade, os governos Lula e Dilma 1 (2003-2014) espalharam uma epidemia de congestionamentos pelo Brasil com a combinação perversa de redução de impostos para a produção de carros, financiamento para sua compra e a gasolina mantida com preços baixos. Todas as capitais do país passaram a sofrer congestionamentos até então típicos de São Paulo. E os paulistanos já em 2008 viam engarrafamentos atingirem níveis surreais como no filme "Week-end a Francesa" (1967), de Jean-Luc Godard, baseado no conto "A Auto-estrada do Sul", do argentino Júlio Cortázar.
Engenheiros costumam analisar o trânsito conforme as regras de dinâmica dos fluidos. Por isso usam termos típicos de encanamento de água, como fluidez, engarrafamento, gargalo e turbulência. Mas trânsito é também um fenômeno econômico: ao se movimentar por uma cidade, os motoristas fazem cálculos de custo-benefício, do tempo perdido no deslocamento, do combustível e do estacionamento. Ao calcular o meio mais barato para chegar de casa ao trabalho, o viajante considera também o preço de ficar horas parado no trânsito.
Os carros que se deslocam no trânsito de SP levam em média 1,2 pessoa (ou seja, a cada cinco carros, quatro levam só o motorista e o quinto carrega um passageiro também). Esses motoristas gastam para atingir o destino, querem chegar o mais rápido possível para começar a produzir ou estudar. Nos últimos anos, a velocidade de deslocamento dos carros particulares caiu (hoje é inferior a 8 km/h), aumentando os custos em combustível e horas de trabalho perdidas. Enquanto isso, a velocidade dos transportes públicos cresceu, mais linhas de trem e metrô surgiram, faixas exclusivas melhoraram o desempenho dos ônibus, que já tinham se tornado mais baratos com o Bilhete Único e depois com a extensão de sua validade a três horas.
A produtividade de quem não guia, que já era maior, ficou ainda mais evidente com a melhoria da telefonia móvel que permite falar ou trocar mensagens ao celular com o trabalho, ler relatórios, ter reuniões durante o deslocamento ou dedicar-se ao lazer.
Todos esses cálculos são feitos ainda que intuitivamente pelos milhões de moradores das grandes cidades congestionadas de todo o mundo. E não é diferente para o paulistano. É isso que fez por exemplo com que dobrasse o número de usuários de trem e metrô a partir de 2006, muito antes da crise econômica.
A análise dos dados em prazo mais longo permite ver como o carro é um produto decadente. Só a burrice explicaria os incentivos fiscais federais para a indústria automobilística que cada vez emprega menos gente e mais robôs.
Nos últimos dias surgiu a informação de que esses incentivos fiscais desde 2009 teriam sidocomprados por fábricas de automóveis por meios ilícitos (lobby). Bem, então teremos que considerar que não foi burrice, mas esperteza. Uma coisa ou outra, no entanto, não levaram em consideração a mobilidade urbana, o interesse público ou a qualidade de vida do brasileiro.

domingo, 4 de outubro de 2015

LED rompendo barreiras, por Gilberto Grosso, do Procel


02.10.15
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Fonte: SEGS - 01.10.2015
Brasil - Se até o momento o grande senão das lâmpadas de LED é o preço, tendo a dizer – e tenho me certificado disso cada vez mais – que não demorará muito e esta questão estará superada. Alguns acontecimentos importantes me levam a acreditar no que estou afirmando. Um em especial: a crise de energia acendeu a luz de LED no Brasil. A partir dessa demanda compulsória, as pessoas precisaram parar, de verdade, e fazer as contas. Quando o impacto está apenas e tão somente na seara dos números, no “ah, é melhor, mas é mais caro”, realmente fica difícil mudar. Mas, na hora do aperto, tudo muda de figura. Ao mesmo tempo, com a mídia divulgando LED para os quatro cantos por conta da questão energética, virou status ter LED em casa. E esse sentimento cresceu muito rápido. Até nas escolas os professores já estão falando em LED para crianças.

Obviamente que outros fatores também vêm contribuindo para esta nova realidade do LED por aqui, como o fim da comercialização das lâmpadas incandescentes. A substituição deste tipo de lâmpada está sendo feita de forma gradativa e acabará em 2017. As de 60W, as mais usadas, já não podem mais ser fabricadas ou importadas e, desde junho, têm sua venda proibida no país. O certo é que o tempo que se levou desde que o LED chegou - quase no anonimato - ao mercado brasileiro, no início dos anos 2000, para conhecê-lo, entendê-lo e aceitá-lo, será infinitamente menor daqui para frente. É preciso estar preparado. Especialistas estimam que, em 2017, pelo menos 50% do mercado brasileiro de iluminação seja dominado pelos produtos de LED.

O alto custo sozinho não tem mesmo como se sustentar quando comparado com tantas vantagens e benefícios. E este movimento está muito latente agora. Mais econômicas e com um tempo de vida bem mais longo, as lâmpadas de LED estão transformando o mercado mundial e estimulando o surgimento de uma nova indústria de iluminação no Brasil. Estão, ainda, revolucionando a forma como usamos a luz, permitindo fontes de iluminação controláveis, ajustáveis, inteligentes e comunicativas. E, para acelerar a demanda, existe uma grande aposta nos desdobramentos das políticas de eficiência energética que preveem a modernização da iluminação pública.

Troca que vale a pena

Lembram-se sobre parar e fazer as contas? Depois de perceber que há uma redução real nos custos energéticos, as pessoas começaram a mudar para as lâmpadas de LED. Mesmo com o investimento inicial bastante alto, os benefícios no seu uso fazem a troca valer a pena. São muito mais eficientes do que as comuns, pois produzem a mesma quantidade de luz (ou lúmem), utilizando bem menos energia. Além disso, a geração de calor durante esse processo é bem menor do que as lâmpadas tradicionais, o que ajuda na economia energética: enquanto uma incandescente gasta certa de 60W para produzir uma determinada quantia de lúmem, uma lâmpada de LED precisa de apenas 9W. Outra grande vantagem é que elas são muito mais resistentes do que as incandescentes e fluorescentes.

Por essas e por outras, por toda essa movimentação que vem acontecendo – e de maneira mais intensa – o segmento precisa se preparar para a crescente demanda dos próximos tempos. Vejo que este mercado está entrando em uma nova etapa, a de garantir o abastecimento para o que está por vir. Existem no mercado muitos produtos de LED, mas já começam a faltar os básicos que substituem as lâmpadas incandescentes...

Prêmio Nobel ataca elite alienada e propõe mais impostos para os ricos


Eric Piermont/AFP
O economista norte-americano Joseph Stiglitz, ganhador do prêmio Nobel e autor de "The Great Divide"
O economista norte-americano Joseph Stiglitz, ganhador do prêmio Nobel e autor de "The Great Divide"
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Começou com a eleição de Ronald Reagan. Os mais ricos passaram a pagar menos impostos, a economia foi desregulada e o setor financeiro tornou-se central. A memória da Segunda Guerra Mundial, e da solidariedade que engendrou, foi desaparecendo.
O rápido crescimento com avanço da indústria e ascensão das classes médias ficou para trás. O fim da União Soviética, eliminando a competição ideológica, frustrou planos de inclusão para a maioria da população.
O bem-estar das corporações foi engordando ao mesmo tempo que encolhiam os projetos de ajuda aos mais pobres. Um norte-americano típico ganha hoje menos do que ganhava há 45 anos –feitas todas as correções. Uma em cada quatro crianças vive na pobreza (na Grécia é uma em seis).
O 1% mais rico abocanha um quarto da renda e 40% da riqueza dos EUA. Há 25 anos, essas percentagens eram de 12% e 33% respectivamente. Políticos e parlamentares fazem dessa superelite e atuam em função dela.
Essa crescente desigualdade destrói o mito dos EUA como a terra de oportunidades, sabota a eficiência da economia e, principalmente, abala os pilares da democracia. O lema de "um homem um voto" está sendo convertido em "um dólar um voto".
É com esse pano de fundo que o prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz desenvolve "The Great Divide" [a grande divisão], obra que disseca os movimentos que levaram a rupturas e desagregações na sociedade norte-americana nas últimas décadas.
Seu ponto central: a desigualdade galopante é fruto de políticas deliberadas e poderia ter sido evitada. Stiglitz ressalta que o fosso social fabricado nos Estados Unidos –e replicado pelo mundo– impede uma recuperação mais robusta da economia, reforçando iniquidades e mais concentração de riqueza.
Com uma linguagem contundente e didática, o autor extrapola em muito o estrito mundo econômico. Sua reflexão passa pelo comportamento da elite, cada vez mais divorciada das necessidades da população.
Alienada das condições sociais gerais, da saúde, da educação, da segurança e da infraestrutura, essa fração dos superricos vive numa bolha, não liga para o que acontece com a maioria e gera efeitos perversos para o país. Nas palavras do Nobel:
"De todos os custos impostos pelo 1% para a nossa sociedade talvez o maior seja a erosão de nosso senso de identidade, no qual o jogo justo, a igualdade de oportunidade e o senso de comunidade são tão importantes".
Stiglitz, 72, lembra que Alexis de Tocqueville (1805-1859) identificou nos norte-americanos a existência de um "interesse próprio bem compreendido", ou seja: para o próprio bem-estar individual é preciso prestar atenção nas condições dos outros.
Segundo o Nobel, os americanos aprenderam que "ajudar os outros não é apenas bom para a alma, mas é bom para os negócios". No entanto, agora a elite não entende que o seu destino está interconectado com o da maioria da população –os 99%.
"A história mostra que isso é algo que, no final, o 1% mais rico pode aprender _muito tarde", diz. O alerta está em "Do 1%, pelo 1%, para o 1%", famoso ensaio publicado originalmente pela revista "Vanity Fair", em 2011, e que serviu de inspiração para protestos como o Occupy Wall Street.
O texto é um dos mais esclarecedores do livro, que recupera discussões de outras obras de Stiglitz, como "The Price of Inequality" (2012) e "Freefall" (2010). Ex-executivo do Banco Mundial e do conselho econômico da administração Bill Clinton, Stiglitz reforça, também nesta obra, seu ataque contra os bancos.
Condena, especialmente, as práticas anti-competitivas na área de cartão de crédito. Recomenda uma forte legislação antitruste –o que impulsionaria pequenos negócios. No conjunto, defende uma maior taxação para os mais ricos, demolindo argumentos contrários.
Ainda que repetitivo em alguns pontos, "The Great Divide" é essencial para entender os dias que correm –não só nos EUA.
The Great Divide
AUTOR Joseph Stiglitz
EDITORA W.W. Norton & Company
QUANTO US$ 17,40 (e-book)